The Only One escrita por Tabs, Mellodye


Capítulo 2
Rapunzel — A Foto


Notas iniciais do capítulo

Rapunzel, that's my girl
E cara, esse capítulo ficou tão maior que o da Elsa que acho que vou reescrever :s



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Quando acordei, meus sonhos continuavam gravados em minha mente. Eu havia sonhado com ele. Jackson Frost, o garoto-príncipe, com seus grandes olhos azul-elétricos, o sorriso branco e o cabelo liso, platinado e macio. Suspirei, me revirando na cama. A casa estava silenciosa, então conclui que minha mãe ainda estava dormindo, ou pelo menos, eu poderia dormir mais um pouco. Obviamente, estava enganada, muito enganada.

Segundos após eu me aconchegar na cama, mamãe entrou no meu quarto como um furacão, seus cabelos cacheados como uma juba, balançando a cada passinho apressado que ela dava. Parou na frente da minha cama, colocando as mãos na cintura.

— Ainda não está acordada, Rapunzel? — disse, de forma dramática. Era uma pergunta retórica, é claro — Vamos, levante-se!

Abri os olhos lentamente, desejando poder dormir mais. Eu prezava muito a arte de dormir, ainda mais por passar meus dias pintando. Por mais que eu amasse, era cansativo. Ontem não pintei nada, aliás. Fora uma exceção consedida após eu muito implorar.

Deslizei a coberta, sentando-me. Meus longos cabelos loiros estavam emaranhados. Por sorte, eram lisos, então penteá-los não era muito trabalhoso. Mamãe colocou a mão em meu ombro e me abraçou.

— Bom dia, mamãe — eu disse, a abraçando também. Suas mãos seguiram instintivamente para meus cabelos, desfazendo nós de forma agressiva, que me fez soltar um ou dois protestos.

— Céus, Rapunzel, como você consegue fazer isso com seu cabelo todas as noites? — perguntou, desfazendo o abraço e sentando-se na cama ao meu lado, para continuar o trabalho com uma escova de cabelos que eu mantinha ao lado da cama. Eu ri, pois também era um mistério para mim. Coloquei algumas mechas do cabelo atrás da orelha enquanto pensava numa resposta. Ela não veio, então dei de ombros.

— Mãe, eu acho que vou tomar banho — disse, me virando. O trabalho com meus cabelos estava concluído o bastante para eu não precisar gastar todo o pote de condicionador que tínhamos em casa ao desfazer os nós que restavam.

Desvencilhei-me dela, que prontamente se pôs a arrumar minha cama, que por sinal estava bagunçadíssima. Saí direto correndo para o único banheiro que havia em nossa casa. Como cidadãos da Casta 5, nós éramos relativamente pobres. Minha mãe cantava e tinha mesmo uma voz excelente. Grave, cheia de entusiasmo e levemente dramática. Além de ser bonita, é claro. E ela dizia que eu também, mas somos muito diferentes. Enquanto mamãe tem cabelos cacheados pretos, olhos acinzentados e é baixa, eu tenho cabelos lisos, cacheados e olhos verdes, além de ser quase alta para minha idade. Mamãe disse que sou o reflexo de meu pai, se ele ainda estivesse vivo. Não temos nenhuma foto com ele e eu não tenho ao menos uma lembrança, mas posso até imaginar como ele é.

Pensei nisso durante o banho e depois dele. Ao me secar, demorei-me em meus cabelos. Apesar do corte reto - mamãe fazia o possível para cortá-lo, mas não era nenhuma artista com a tesoura - ele era lindo. Comprido, batendo quase na cintura. Era uma pena que eu tivesse que prendê-lo toda hora, por conta da tinta e do calor, mas mesmo assim, eu o amava, muito. Era a melhor coisa em mim, acho, por mais que todos dissessem que eu era linda. Não que eu fosse feia, mas eu parecia ofuscada por qualquer outra pessoa.

Suspirei, enrolando-me na toalha puída e indo para o quarto, meus pés úmidos deixando pegadas no corredor. Quando cheguei no quarto, ele estava organizado e sem sinal algum de minha mãe, o que me deixou quase aliviada. Depois de tanto entusiasmo para com A Seleção, ela estava ainda mais ansiosa para deixar tudo perfeito.
Abri o guarda-roupa, olhando para ele quase que com raiva. Eu não tinha nada ao menos bonitinho para vestir e como mamãe já havia dito milhares de vezes, hoje vamos entregar o formulário e consequentemente, tirar uma foto. Não quero ir de qualquer jeito. Não tenho muitas fotos para comprovar, mas não me acho mais fotogênica que a média. E havia um rumor sobre o dito sorteio. Não seria um sorteio, seria mais uma escolha. As mais bonitas e talentosas seriam escolhidas. E é claro que eu queria ser.

Digo, sou Casta 5. Mesmo se eu não for a escolhida pelo príncipe Jackson, viraria Casta 3. Seria uma grande avanço para mim e para mamãe. Além de eu poder conhecer o Jackson. O lindo Jackson das covinhas, da postura perfeita e da voz levemente rouca.
Não é como se eu estivesse apaixonada, mas falando sério, ele é encantador.

Por fim, peguei meu vestido preferido. Geralmente usado quando eu fazia exposições de meus quadros na rua, ou quando ia entregar minhas pinturas na casa de pessoas importantes.
Ela era de um lilás suave, de corte simples, mas com tecido macio que ajustava-se a minha cintura. Calcei uma sapatilha de um roxo escuro que contrastava muito com minha pele clara.

Quando desci para tomar café, mamãe pareceu aprovar, mas não aparentava estar muito surpresa. Eu não soltava aquele vestido de jeito nenhum, ainda que usasse minhas roupas normais para pintar. Era de longe a melhor e mais cara roupa que tinhámos. Assim como o café da manhã, que provavelmente era o melhor que tomávamos em semanas.

O chá era abundante, a torta de limão estava ótima e eu pude até comer algumas frutas. Mamãe comeu pouco. Estava cismada que engordou muito, mas para mim ela parecia a mesma de sempre. A roupa que escolheu era um jeans justo e uma camiseta vermelho-escura. Achei uma espécie de exagero, digo, quem iria tirar a foto era eu. Mas não disse nada. Mamãe é competitiva até nas menores coisas e provavelmente queria intimidar.

Eu havia preenchido o formulário na carta no dia que a recebemos, é claro. Minha empolgação estava refletida nas letras, grandes e subindo levemente acima da linha impressa naquele papel chique. E foi tudo tão simples.

Preenchi nome, imaginando um Frost depois dele. A casta, a idade e as informações de contato não foram tão empolgantes assim, mas preenchi com um sorriso aberto no rosto. Também havia peso, altura, cor dos olhos, cor dos cabelos e pele. Colocamos peso e altura aproximados. Havia passado muito tempo desde que eu fora pesada em uma balança confiável e a fita métrica de casa estava perdida há meses, se não anos.

E ainda havia habilidades especiais. Pensei um pouco antes de escrever. Eu podia pintar, desenhar, esculpir e improvisava algumas coisas no violão, além de cozinhar bem. Com apenas duas pessoas na casa, revisávamos as semanas em que cada uma cozinhava. No geral, eu fazia coisas simples, como macarrão ou frango, mas pratos mais elaborados eram feitos em tempos de fartura.

E eu também sabia ler e escrever em francês. O idioma ainda era usado em algumas partes de Illéa, principalmente nas províncias do norte, onde vivemos.

Ainda sobrava escolaridade, que eu já havia completado. Uma parte em casa e a outra quando conseguimos pagar um ano de escola para mim, quando recebi uma meia-bolsa de estudos por prestar serviços a escola. Basicamente pintei uns quadros.

Depois de tomar café, fomos escovar os dentes. Demorei um pouco mais pois quis trançar meus cabelos. No fim, acabei soltando-os. Queria que ficassem bem brilhantes e ficaram mesmo. Aparentemente era meu dia de sorte.

Estava enganada de novo. Ao sair de casa e andar pelas ruas, já notamos a circulação exagerada de carros na cidade. Todas as garotas de Illéa pareciam ter decidido ir ás ruas no mesmo dia. Isso deixou-me insegura. Pela primeira vez, fiquei com medo de não ser escolhida. Com tantas garotas assim, a coisa seria quase impossível. E pelo jeito, muitas eram bonitas.

Pude ver algumas garotas da Casta 2 saindo de seus carros, quando chegamos na rua da fila. Maquiadísimas, de cabelo perfeito e olhar julgador, elas caminhavam lentamente. Algumas mais humildes que outras, mas sempre mantinham o sorrisinho malicioso na cara.

Desejei ser como elas, mas como não podia, fiquei no meu canto. Mamãe tagarelava com uma amiga qualquer, furando a fila e rindo em altos brados por isso, me deixando com vergonha.

Sorri e acenei. Como passava a maior parte dos meus dias em casa, não conhecia muita gente. Na escola fiz amigos, mas nenhuma das garotas estava lá. Mesmo assim, as procurei pela multidão.

Acho que mesmo se alguma delas estivesse lá, não as reconheceria. Todas as garotas estavam incrivelmente produzidas, em contraste com algumas que iriam entregar o formulário vestidas com as roupas de trabalho. Mas a maioria estava estonteante. Coques perfeitos, cabelos que caíam em cachos largos, tranças. Arrependida de ter tirado a minha, então fiquei brincando com alguns fios de cabelo, esperando minha vez.

Por mais incrível que pareça, a fila andou até que rápido. Cheguei ao guichê no máximo meia hora depois de ter entrado na fila. Certo, roubamos o lugar, mas mesmo assim era muito rápido.

Assinei os papéis confirmando a autenticidade das informações do formulário e sentei-me no banquinho para tirar a foto.

Suspirei, balancei meus cabelos e tentei sorrir. Não deu muito certo e pude ver isso na cara do funcionário que tirava a foto.

— Quer tirar outra? — sugeriu, com um sorriso sem-graça. Assenti com a cabeça, me obrigando a lembrar do sonho que tive mais cedo como 'inspiração'.

Nenhuma garota estava sorrindo mais do que eu.


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Notas finais do capítulo

E então? Fui bem? Eu comecei a reler A Seleção para escrever a fic, então tem fortes influências da America e etc. Mas eu estou tentando deixar transparecer muito, já que as duas são personagens muito diferentes.
E o próximo capítulo vai ser da Merida