Caliente escrita por shussan


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

I'm back bitches



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– É óbvio que você precisa – Ino falou, tirando todas as minhas roupas do armário. – Isso aqui está tão fora de moda quanto seu cabelo rosa.

– Você sabe que eu nasci com ele assim – argumentei.

– E com esse senso de moda sem noção também, mas não significa que não possa mudar! – Ela jogou as roupas em uma enorme caixa de papelão.

– Está querendo dizer que eu preciso pintar meu cabelo?

– Estou querendo dizer que você precisa inovar. Vem comigo. – Ela deixou a caixa ali mesmo e me puxou pela mão.

Sabe, eu detesto quando Ino tem esses acessos de amiguice e decide que eu preciso de sua ajuda para alguma coisa. Como para me vestir, por exemplo. Assim que terminou o café da manhã ela “se deu conta” que eu estava ali faziam dois dias e ainda não estava apresentável para poder ser vista ao seu lado na rua. Preciso dizer o quanto eu detesto quando isso acontece? E o pior de tudo é que isso acontece muito.

Descemos as escadas e ela finalmente me solta. Massageio meu pulso, onde estão marcas vermelhas de dedos. Gaara-gostosão está sentado no sofá jogando videogame com Naruto-mais-gostosão, enquanto Hinata lê um livro em outra poltrona. Ino para na mesa e pega uma carteira, a guarda no bolso e volta a segurar meu pulso.

– Anda logo Hinata – ela berra, mais alto que o necessário. – Larga esse livro e vem com a gente!

– Isso não é só um livro – a morena fala, sem tirar os olhos das paginas manchadas pelo tempo. – Isso aqui é Romeu e Julieta, um dos romances mais marcantes de todos os tempos. E obrigada pelo convite, mas eu dispenso.

– Está dizendo que prefere ficar aí lendo do que vir conosco? – Ino se faz de ofendida.

– Basicamente, sim.

A Yamanaka revira os olhos.

– Depois você me pergunta por que não consegue namorar um certo loiro por aí – ela retruca em voz alta, fazendo Hinata ficar vermelha e esconder o rosto atrás do livro. Passamos pela porta. – Depois reclama por não conseguir nenhum namorado.

Caminhamos cada vez mais rápido, e ouço o barulho de passos atrás de nós. Vejo Hinata subir as escadas correndo enquanto entramos no carro.

– O que foi aquilo? – pergunto, um pouco assustada, enquanto coloco o cinto.

– Sempre funciona, não sei o que aconteceu de diferente essa vez – ela responde enquanto pensa, colocando a chave na ignição. O motor liga e saímos da casa.

Passamos por muitas casas parecidas com a nossa, todas cheias de gente em festa. Não consigo tirar um sorriso do rosto ao pensar nessas pessoas, e melhor, em pensar que eu estou junto com elas, e se tudo der certo posso ser igual a elas. Imaginem só, uma vida inteira só de festa, gente legal, amigos sempre por perto. Sem preocupações, problemas ou qualquer coisa desse tipo.

O celular em meu bolso se torna mais pesado.

Tento mudar o rumo dos meus pensamentos.

– A qual loiro você se referia? – volto a falar, mordendo o lábio de nervoso. – Quero dizer... Do jeito que você falou até parecia que Hinata era afim do...

– Sim, Hinata é completamente apaixonada por seu Naruto-kun – perco o fôlego na mesma hora. Ino tira as mãos do volante e toca o próprio rosto, com um olhar sonhador. – Ah, o Naruto-kun é tããããão legal, com aqueles olhos lindos e aqueles braços fortes, ai como eu queria que ele fosse só meeeu, então nós iriamos...

– OLHA PRA FRENTE, GAROTA! – berro quando quase batemos em um poste e ela faz uma curva fechada para a esquerda, estacionando em frente a um shopping enorme.

– Não fique tão nervosa, você ainda tem muitos garotos para namorar antes de morrer – ela diz, com um sorriso nervoso no rosto. – E um deles pode ter olhos lindos e braços fortes.

– Yamanaka... – digo, mas não consigo completar a frase, então acabo apenas abrindo a porta do carro e caminhando o mais rápido que posso para dentro do shopping.

Isso não pode estar acontecendo... Como assim a Hinata gosta do Naruto? Sinto como se alguma coisa estivesse fora do lugar, como se alguma parte de alguma coisa estivesse faltando. Eu pensei... Eu pensei tantas coisas, mas nenhuma delas envolvia Hinata. Ela era minha amiga, não era? Eu não podia simplesmente... Não podia.

Mas e se...

Caio no chão após bater em alguma coisa dura, e papéis caem em cima de mim.

– Ah, me desculpe, desculpe! – Alguém diz acima de mim e eu o olho. – Eu não te vi, me desculpe por isso. – Ele me oferece uma mão, mas eu não me mexo.

Como pude passar vinte e cinco anos da minha vida longe desse lugar? Longe desses homens?

Ele tem cabelos vermelhos e pele cor de mel, seus ombros são largos e os braços fortes, ele é mais alto do que eu e tem olhos castanho-claros, e a cada segundo que olha para mim eu sinto o folego fugir de meus pulmões. Ele se abaixa ao meu lado, colocando o rosto perto do meu. Ele tem cheiro de hortelã e alecrim. Muito perto.

– Você está bem? Eu te machuquei? – ele pergunta, sua voz doce ecoa durante alguns segundos na minha cabeça e eu só consigo sorrir.

Até que me dou conta que estou olhando para ele tempo demais e desvio os olhos. Sinto minhas bochechas esquentarem e tento fixar os olhos em qualquer outra coisa que não seja nele.

– N-não, eu estou bem – digo, começando a juntar os papéis dele que continuavam espalhados ao meu redor. – Me desculpe por tê-lo atrapalhado, eu não te vi quando passei, não queria ter te atrapalhado, eu só...

– Pode parar um pouco para respirar, se quiser – ele diz, com um pequeno sorriso no rosto.

Suspiro, mas logo estou rindo. Não, não é só uma risada, eu estou desconfortável. Não, é pior. Eu estou sem graça por estar tão perto de um cara. Me sinto uma idiota por isso e finalmente me dou conta que ainda estou no chão, e então aceito a mão dele para levantar. Devolvo a ele seus papéis.

– Me desculpe, mais uma vez – digo. Ofereço uma mão. – Me chamo Sakura, e você?

– Sasori, ao seu dispor – ele sorri outra vez, e estende para mim um papel e uma caneta.

– Hm, isso é para quê mesmo?

– Achei que você quisesse me dar seu telefone – suas bochechas ficam levemente rosadas quando ele diz isso, mas não volta atrás. Sorrio para ele. Pego o papel e anoto ali meu celular.

– NOSSA SAKURA – alguém berra atrás de mim, e eu me seguro para não assassinar minha amiga com minhas próprias mãos. – Já está dando o bote de novo? Primeiro o Naruto, depois o meu namorado na minha frente e agora esse aí? E ainda teve a coragem de dar uma de santa mulher casada...

– Você é casada? Ah – ele olhou para minha mão e deu um passo para trás -, me desculpe, eu não tinha visto... Eu não teria feito isso, me desculpe.

Ele devolveu o papel com o meu numero, mas eu fiz questão que ficasse com ele.

– Eu estou separada – respondo, sem jeito, dando o melhor e mais autentico sorriso amarelo de toda a minha vida. – Fique com o meu telefone e me ligue um dia desses, podemos... Não sei, não encontrar?

– Hm, eu não... – ele começou a dizer, mas Ino me empurrou para longe dele, em direção à entrada do shopping.

– Desculpe gostosão, mas temos coisas muito importantes para fazer, precisamos de roupas para uma festa bombáááástica que vamos hoje, então você entende, né? Não? Não importa, vamos – ela dizia, enquanto me empurrava, sem se importar com qualquer coisa que eu dissesse.

Assim que entramos no lugar eu tive vontade de estrangular aquela garota com fio dental. Depois cortar seu corpo todo em pedacinhos e espalhar por toda a cidade. E então, só depois disso, mata-la bem lentamente.

– O que diabos você tem nessa cabeça, garota? – pergunto, tentando manter o máximo de controle que consigo. As pessoas em volta olham para nós. Ino cruza os braços e nem se altera.

– Muito mais do que você, pelo visto. Estava mesmo dando em cima daquele cara?

– O quê? É claro que não – digo, mas logo me arrependo e abro um sorriso falso e cruzo os braços como ela. – Estava sim, por quê? Tem medo da concorrência?

Ela balança a cabeça e suspira, como se eu fosse uma criança que ela estivesse cansada demais para ensinar com todo cuidado.

– Você não sabe do que está falando. Mas isso não importa agora. – ela segura no meu braço e começa a me puxar outra vez. – Sem mais discussões, ainda temos muitas lojas para olhar antes de ir e temos apenas oito horas e meia.

Puxo meu braço de volta e ela me olha, sem expressão.

– Não, vá sozinha. Não quero comprar nada. Estou bem como estou.

– Você sabe o que isso significa, não sabe? – concordo com a cabeça, me virando e caminhando para longe. – Tem certeza que quer mesmo fazer isso?

– E eu precisei da sua ajuda antes para alguma coisa? – respondo, assim que paro.

– Claro que não, e olhe onde você está. Fugindo de casa como uma menininha assustada.

Cerro os punhos, minha mente já formou todos os xingamentos possíveis, todas as injurias e mentiras que a magoariam tanto que nunca mais nos falaríamos. Escolho ficar em silencio, e tudo o que faço é continuar a caminhar para longe.

Encontro um táxi vazio do lado de fora do shopping e dou sinal, entrando e dando o endereço do destino. Uso o tempo da viagem para tentar me acalmar, mas tudo o que consigo é ficar ainda mais irritada.

Como aquela criaturinha peçonhenta pôde fazer aquilo? Não me refiro ao fato de ter me interrompido, não me importo se ela me interrompe ou não enquanto eu converso com um cara lindo de matar que eu acabei de conhecer, não faz a menor diferença, ela sempre fez isso.

Mas ela disse que eu tinha dado em cima de três caras nos últimos dois dias, sendo um deles o namorado dos sonhos de Hinata, o outro um cara que eu acabei de conhecer, e o outro o namorado dela. E sendo casada. Do jeito que ela falou, eu parecia uma completa vadia.

E para melhorar, ela ainda disse que eu era casada, quando ela mesma sabe que esse casamento está por menos que um fio. Ela falou que eu fugi “feito uma menininha assustada” quando o que eu fiz foi... Exatamente isso.

O motorista parou e me disse o preço da corrida. O paguei e entrei na casa. Vi Hinata fingindo ler na varanda enquanto observava Naruto jogar xadrez com um garoto moreno que usava rabo de cavalo. Os olhos dela brilhavam enquanto ela observava o loiro, gravando em sua mente cada centímetro do corpo dele, como se para poder relembrar dos menores detalhes mais tarde.

Me sinto uma assassina por ter sequer cogitado qualquer possibilidade com Naruto.

Abaixo a cabeça e, ali mesmo , na porta, pego meu celular. Minhas mãos tremem enquanto eu ligo o aparelho pela primeira vez nesse país. Nenhuma chamada perdida. Nenhuma mensagem. Nem um sinal de que algum dia Sasuke notou minha falta.

Suspiro pesadamente e olho para o céu, tentando impedir que as lágrimas caiam. Não posso chorar, não posso chorar, não por ele...

– Sakura? – quando percebo Naruto está na minha frente. Os olhos dele estão sérios. Parecem até mesmo preocupados. – Você está bem?

– Eu... – o celular em meu bolso vibra, me fazendo esquecer o que eu ia dizer.

É Sasori penso, ele ligou, vou poder esclarecer as coisas e tudo ficará bem outra vez.

Pego o celular no mesmo segundo, nem me dando ao trabalho de olhar no visor quem é.

– Eu sabia que você iria ligar... – atendo, me desculpando com os olhos com Naruto, que continua parado ao meu lado com os mesmos olhos preocupados.

– É claro que eu iria – ele responde, mas não é Sasori. – Despois de você fazer uma palhaçada dessas, o mínimo que eu posso fazer é te ligar.

– S-sasuke? – gaguejo, conseguindo me segurar dessa vez e não falar o maldito “kun”.

Naruto não tira os olhos de mim.

– Estava esperando outra ligação? De quem? Sasori? – Ele suspira consigo mesmo. – Olhe, não quero discutir, não tenho tempo para isso. Só estou te ligando para...

Não tem tempo? – explodo, me virando de costas para Naruto. – Como assim não tem tempo? Eu passo dois dias em outro país e você não tem tempo para discutir isso? E afinal, como você sabe sobre Sasori?

– Por favor, Sakura, não é hora para brigas. Em cinco minutos eu tenho uma reunião importantíssima na empresa e...

– Então por que me ligou? Por que perdeu seu precioso tempo comigo?

– Porque você é minha esposa e eu me preocupo com você.

– Não acha que é um pouco tarde para isso?

Ele não respondeu durante alguns segundos. Um silencio incomodo que só mostrava o quanto estávamos distantes. Não apenas fisicamente, mas em todos os sentidos. Mas a voz dele... Mordo o lábio, me segurando para não admitir o quanto eu queria que tudo voltasse a ser como era antes, que a voz dele voltasse a me dizer o que dizia, que ele se preocupasse de novo comigo, que...

– Faça as malas – ele cortou o silencio abruptamente -, eu consegui por um milagre reservar uma poltrona em um avião para o voo das duas para você. Logo estaremos juntos outra vez e tudo será como antes.

Tudo será como antes...

Era tudo o que eu queria, tudo o que eu ansiava, era por causa disso que eu tinha ido embora, por causa disso tinha decidido deixa-lo para trás, para ele perceber o quanto me amava e o quanto sentia falta de como éramos antes.

Mas nada seria como era antes.

– Não – respondo, e ele fica mais uma vez em silencio.

– Desculpe, o quê?

– Não, eu não vou voltar.

– Deixe de ser infantil, Sakura! Você não é nada sem mim.

Não respondo, percebendo agora o que eu estava fazendo. Eu estava realmente o irritando, e quando ele ficava irritado, coisas ruins aconteciam. Eu o estava abandonando.

Ele suspira.

– Certo, vamos considerar isso como umas férias, certo? Nada mais que férias. Você está tirando umas férias enquanto eu cuido de tudo por aqui. Fique, fique aí e se divirta muito. Vou comprar sua passagem para daqui a uma semana, certo?

Ele aceitou? Ele ainda me ama...

– Mas...

Eu não posso abandoná-lo, não posso deixa-lo ir...

– Você tem uma semana para voltar para casa, e então tudo será como antes, certo?

Tudo será como antes, tudo será como antes...

Desligo o celular sem dar uma resposta, com medo do que os meus sentimentos me façam responder. Segundos depois chega uma mensagem de Sasuke:

Uma semana e tudo será como antes.

Meu coração dispara. Uma semana.


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Notas finais do capítulo

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