Caliente escrita por shussan


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

estamos chegando ao fim, e as peças que faltam começam a se encaixar
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– Eu devo andar na direção da luz? – pergunto, sem saber se aquela é a minha voz ou não. Se sou eu quem está falando ou não. Minha cabeça parece girar e eu sinto como se não estivesse dentro de meu corpo.

A luz que estava em cima de meus olhos sai, e eu demoro alguns segundos para me acostumar. Pisco os olhos algumas vezes, as imagens finalmente começando a se formar.

– Ela está em perfeitas condições – alguém diz. Viro a cabeça em direção à voz, e ali encontro um homem com um bigode enorme e um jaleco branco que segurava uma prancheta. – Só precisa de repouso, mas pode ir para casa. Agora, se me dão licença...

Ele sorri e sai da sala. Tento me levantar, mas minha cabeça continua girando. Alguém segura minhas mãos e me puxa com cuidado, até que estou sentada olhando para uma pessoa com olhos azuis incrivelmente bonitos.

– Você está bem? Está se sentindo bem? – ele pergunta, e eu não tenho certeza de quem é ele, mas não sei se conseguiria negar alguma coisa para alguém que tem um olhar tão preocupado como esse.

– Claro que estou, Draco – respondo, rindo.

O quê? – ele pergunta, parecendo assustado.

– Eu estou me sentindo completamente bem, Draco Malfoy. Muito melhor agora que você está aqui, é claro. Mas eu sou da Grifinória, desculpe.

– Sakura, quantos dedos têm aqui? – ele balança alguma coisa na minha cara.

– Quem é Sakura?

Quantos dedos têm aqui? – ele pergunta outra vez e eu suponho que aquilo que ele balança na minha cara é uma mão. Tento fixar os olhos naquilo e conto cada uma das pequenas cenouras que enxergo.

– Dezessete? – digo, o fazendo revirar os olhos.

– Certo, vamos para casa – ele coloca uma mão na minha nuca e eu passo os braços pelos seus ombros. Ele coloca a outra mão embaixo dos meus joelhos e eu rio quando meu corpo está no ar.

– Caaaaaara, isso é muito legal! Parece que eu estou andando de cavalo – eu falo, rindo. Ele não me responde, começando a andar mais suavemente. O movimento que ele faz a cada passo é bastante confortável e eu me sinto em uma rede de praia.

Eu apoio a cabeça no peito forte dele e fecho os olhos durante um segundo.

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– Você não parece com o Draco Malfoy – uma voz aguda fala, mais alto que o necessário. Franzo o cenho, querendo acordar para manda-la calar a boca, mas ao mesmo tempo querendo apenas continuar dormindo. – Nem um pouco. Por que ela te confundiria com ele?

– Deve ter sido efeito daquela coisa que estava na agulha – outra pessoa responde. – Eu falei que não gostei da cara daquela enfermeira. Ela estava querendo dar um fim à Sakura e ficar comigo só para ela.

– Cara, já pensou se ela nunca mais se lembrar de nada? Se ela esquecer de quem ela é, tudo que passou, ou pior, que vocês estão juntos? – outro homem fala, e eu ouço um barulho indescritível e um palavrão.

– Não cara, isso não pode acontecer! Eu não tenho mais geleia para outro passeio na praia! Ela não pode esquecer de tudo!

– Eu vou esquecer que tenho educação e te mandar para aquele lugar se você não me deixar dormir, Naruto – eu falo, me virando para o outro lado e puxando a coberta mais para cima.

Ino e Gaara riem, muito felizes por terem conseguido colocar medo em Naruto. O colchão pula, e quando eu menos percebo Naruto está por cima de mim, beijando minha bochecha, minha testa, meu nariz e depois me abraçando apertado.

– Ah, você não sabe como eu fiquei preocupado! – ele diz, me balançando de um lado para o outro. – Você não se lembrava de mim, me chamou de Draco Malfoy e disse que eu tinha dezessete dedos quando eu te mostrei um coelho laranja de pelúcia.

– Quem é Draco Malfoy? – pergunto, coçando os olhos quando ele finalmente me solta para poder se sentar na minha cama e me colocar entre suas pernas enquanto me abraça. Eu sofro demais, gente.

– É o carinha malvado de Harry Potter – Ino responde.

– Mas eu gosto do Rony, não do Draco, o Rony é ruivo – digo, e Gaara sorri para mim, piscando. – Fazer o que se os ruivos são os melhores?

Sério isso? – Naruto pergunta, cabisbaixo.

– Depois do meu Naruto, é claro – digo sorrindo. Ele ri e beija meu pescoço, me fazendo cócegas. – Não, não, cócegas não é uma coisa legal!

Eu me desvencilho dele e me levanto. Ele alarga ainda mais o sorriso, como se fosse meu irmão mais novo, e vem na minha direção. Corro porta afora e desço as escadas, de repente sentindo uma lufada de ânimo.

Quando chego à sala, Naruto olha para mim da escada, travesso. Nego com a cabeça e caminho lentamente até a porta. A campainha toca, me tirando qualquer tipo de concentração, e Naruto me pega desprevenida, vindo até mim e me fazendo cócegas.

– Não, para, para! – eu dizia, rindo, enquanto tentava ir até a porta. – A campainha, Naruto!

Ele gargalha alto, divertido, e me abraça por trás, encaixando seu queixo no topo de minha cabeça e suas mãos abraçando a minha cintura. Coloco as minhas sob as dele, um sorriso no rosto. Caminhamos juntos, passo a passo até a porta, tentando não nos separarmos. Colocamos as mãos na maçaneta, uma por cima da outra, e a giramos.

Meu sangue gela ao ver Sasuke parado em frente à porta.

Ele usa um terno cinza e uma gravata listrada, mas não carrega nenhuma mala e nem mexe no celular. Ele apenas continuava ali, nos olhando, parecendo um pouco assustado. Finalmente minha sanidade volta e eu jogo a porta contra seu rosto, mas ele a prende com o pé.

– Não, por favor, espere – ele pede. Pela primeira vez ele pede. Coloca a cabeça para dentro da porta, os olhos negros preocupados com alguma coisa.

– Vá embora enquanto ainda pode sair inteiro – Naruto diz, cerrando os punhos.

– Eu só quero conversar, por favor – Sasuke fala, olhando para mim e depois para Naruto, então para mim outra vez.

Suspiro, dando um passo para trás e obrigando Naruto a se afastar também. O loiro me olha, acusador, como se perguntasse qual é o seu problema? Encaro o chão, enquanto Sasuke entra e olha em volta, os olhos com alguma coisa diferente.

Não tento explicar para Naruto, sei que estaria perdendo meu tempo. Não sei como explicar. Só sei que tem alguma coisa diferente agora. Pela primeira vez em anos eu vejo Sasuke pedir alguma coisa, vejo ele ter a mínima humildade para admitir que a vida não depende apenas dele, e que às vezes ele precisa da permissão de outras pessoas para fazer certas coisas.

Não, Sasuke nunca pedia por favor.

E os olhos dele... Não sei, não sei dizer o que há de diferente. Mas estão diferentes.

Ele caminha pela sala, receoso, e finalmente se senta no sofá. Gaara e Ino me olham, como se perguntassem o que está havendo, enquanto Naruto cruza os braços e se apoia na porta, como se fosse um segurança. Ignoro todos eles e caminho para perto de onde Sasuke está, me sentando perto dele, mas não perto demais.

– O que faz aqui? – pergunto. Ele olha para meus amigos e depois para mim.

– Eu preciso conversar com você. A sós – suspiro, olhando para Ino. Ela balança a cabeça e carrega Naruto para longe com uma mão e tenta puxar Gaara com a outra, mas ele se mantém firme no mesmo lugar.

– Não vou deixar esse covarde sozinho com ela – o ruivo diz, cruzando os braços. – Pode ir, querida. Eu cuido deles.

Ino balança a cabeça outra vez e suspira, carregando Naruto, que de repente parece incrivelmente cansado. Gaara se aproxima de nós ruidosamente e se senta entre mim e Sasuke.

– É sério isso? – Sasuke pergunta, olhando Gaara.

– Você não é bem-vindo aqui – Gaara responde, ainda mais educado que o normal. – Se quiser conversar com ela, eu vou estar aqui, goste você ou não.

Sasuke suspira e passa as mãos pelos cabelos, nervoso.

– Eu vim até aqui para te pedir desculpas – ele diz, olhando para as marcas roxas que estavam quase sumindo em meus pulsos. Desvia os olhos dali rapidamente. – Eu sei que não deveria ter feito aquilo, que fui um completo idiota e... Eu não sei o que me deu, me desculpe.

– Se você veio aqui só para isso, já pode ir – respondo, usando com ele a mesma frieza que ele usou comigo durante tantos anos.

– Não, você não está entendendo! – ele diz, me olhando. – Imagine se fosse com você, se você chega em casa e não encontra a pessoa com quem se casou. Eu fiquei completamente maluco, quase liguei para a polícia! – ele suspira e passa a mão pelos cabelos outra vez. – Mas então aquela garota ligou e...

– Espera, que garota te ligou? – eu o interrompo. Ele volta a me olhar.

– Ela se apresentou como Hina-alguma-coisa e disse que você estava aqui – cerro os punhos, querendo socar a cara daquela garota -, me deu seu endereço e disse que você veio para encontrar a Ino. Mas disse que poderia saber de suas intenções com alguns contatos que ela tinha.

– Como assim “saber de minhas intenções”?

– Saber se você pretendia me trair ou não. – ele explicou, pacientemente, me mostrando que havia alguma coisa realmente estranha. – Ela contratou um cara e depois me disse que você tinha “dado em cima dele”, e então eu liguei para você. Um tal de... Acho que o nome dele era Sasori.

Eu tenho certeza que raiva ou ódio são palavras que não conseguem definir o que eu estou sentindo por aquela garota agora. Ela não merece morrer, não, morrer seria bom demais para ela. Uma criatura tão peçonhenta quanto ela merecia muito mais, tanto mais quanto nem ao menos eu seria capaz de fazê-la pagar.

– Eu combinei que viria em sete dias, enquanto isso seria como se estivéssemos de férias, lembra? Eu queria que você sentisse falta de mim, esperava que fosse voltar antes. – ele olha na direção da escada. – Mas você não voltou. Então aquela garota me ligou outra vez e disse que você estava me traindo com um cara que estava te enganando, disse que ele tinha te prometido uma vida eterna e feliz apenas para poder pegar o seu dinheiro, e então te abandonar.

Sasuke abaixa a cabeça, observando os próprios dedos.

– Eu vim o mais rápido que pude e te encontrei com aquele loiro. Você parecia tão apaixonada... – ele cerra os punhos. – Eu queria que você percebesse o que estava acontecendo. Eu fiquei maluco pela possibilidade de você se perder. De você ser abandonada por alguém. Você é boa demais para isso. Eu não sabia o que fazer, eu estava muito nervoso e então...

Ele respira fundo e fixa os olhos nos meus. Seus olhos realmente tristes.

– E então eu te machuquei. Me desculpe por isso. Eu não sabia o que fazer e acabei fazendo tudo errado, eu só queria que você... Você não pode quebrar.

Foi você quem me quebrou, eu penso em dizer, mas não quero interrompê-lo. Ele mexe os dedos nervosamente e olha outra vez para mim.

– Quando cheguei no hotel, eu percebi que você não pode quebrar, mas era exatamente o que eu estava fazendo com você. Eu tirei todo o seu ânimo e todos os motivos dos seus sorrisos, seus amigos, sua família... Eu te afastei de tudo que era bom para você. Tirei a sua felicidade. Mas agora, quando eu te vi com ele...

Ele suspira.

– Eu não me lembro de te ver sorrir daquele jeito quando estávamos juntos. Eu não me lembro de te ver tão feliz. E não me lembro de te ver tão assustada por me ver.

Ele pega as minhas mãos, seus dedos frios afagando os meus com carinho.

– Sakura, por favor, me desculpe por tudo o que eu te fiz passar. Me desculpe por não te tratar como você merece e por ser um completo idiota. Me desculpe por desperdiçar os melhores anos da sua vida. Me desculpe por tirar a sua felicidade. Me desculpe por te quebrar.

Eu sorrio, concordando. Ele finalmente abre um sorriso fraco e abre o paletó, tirando do bolso um pedaço de papel dobrado muitas vezes e uma caneta.

– Quando eu te vi com ele, percebi que a nossa história acabou há muito tempo – ele diz enquanto desdobra os papéis e me entrega alguns deles junto com a caneta. – O que acha de dar logo um ponto final nisso tudo?

Pego o papel e minhas mãos tremem ao ler o titulo.

Contrato de divórcio? – leio em voz alta, ainda sem acreditar.

– Sim – ele responde calmamente. – Tudo certinho e conforme a lei, você vai receber metade das ações da empresa Uchiha, além de alguns carros e terrenos. Só alguns, é claro – ele faz graça, sabendo que mesmo divididos pela metade, os carros e terrenos com que ficarei não são apenas alguns.

Rio sozinha enquanto leio cada linha daquele contrato, percebendo que está realmente tudo dentro da lei, e eu recebo tudo que tenho direito, e ganho meu nome de volta, e meu direito de viver, e principalmente minha dignidade. Assino tudo aquilo o mais rápido possível e entrego a ele, que o dobra algumas vezes e coloca de volta no bolso.

Ele se levanta e eu faço o mesmo. Sasuke parece meio sem jeito e não sabe como agir, então eu mesma tenho a iniciativa e o abraço.

Você não sabe como isso é bom. Um abraço, um simples abraço sem nenhuma mágoa, sem nenhum segredo escondido, sem a sensação de não estar sendo correspondida. Pela primeira vez, um abraço é apenas um abraço.

– Eu espero que você seja muito feliz, Sakura – ele diz, o sorriso fraco.

Gaara se levanta e caminha até a porta, a abrindo para Sasuke. O moreno sorri e caminha lentamente até a porta, parando quando estava quase do lado de fora. Ele se vira para a escada outra vez.

– Se você a machucar, eu juro que acabo com a sua vida – ele diz, e só então eu percebo que Naruto estava escondido na escada o tempo todo. Junto com Ino, é claro.

Já do lado de fora, Sasuke entrega o contrato de divorcio para um homem de terno preto que carimba algumas coisas e tira alguns papéis de sua pasta e parece tornar tudo oficial bem ali, no jardim de casa. O homem então devolve dois papéis a Sasuke, que deixa um deles nas mãos de Gaara.

– Boa sorte – Sasuke diz para mim, indo embora. – E não deixe que mais ninguém faça com você o que eu fiz. Você é boa demais para quebrar.


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Notas finais do capítulo

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