Caliente escrita por shussan


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

TÁ MUITO CALOR EU VOU DERRETER



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– Esse foi o dia que nós chegamos aqui – Kushina fala, apontando uma foto onde todos estão abraçados, com uma barraca de acampamento de um lado e uma pilha de pedaços de madeira do outro. – Quando chegamos aqui, não tinha absolutamente nada nesse lugar. Nagato, Jiraya, Naruto, Itachi e Minato construíram esse lugar com as próprias mãos.

Eu estava sentada no sofá com o enorme álbum da família Uzumaki no colo enquanto Kushina me explicava o que acontecia em cada foto, Minato fazia alguns comentários e Naruto o corrigia, enquanto tentava impedir que eu chegasse na parte onde estavam as fotos de quando ele era bebê.

– Na verdade, Kushina e Tsunade ajudaram muito – Minato diz, apontando para outra foto, onde a ruiva tentava pegar um pedaço de madeira grande demais para ela, enquanto Tsunade pregava um prego na lancheira de alguém. – Apesar de que elas não sabiam quase nada sobre marcenaria.

– Quem foi que sugeriu que a casa fosse toda feita apenas com madeira, mesmo? – Kushina o alfinetou, fazendo o marido rir enquanto coçava a nuca, fazendo uma pose bastante familiar. Eu ainda não me acostumei com o quanto ele é parecido com Naruto.

– Aquilo foi apenas um erro de comunicação – ele se justifica, virando uma pagina no álbum. Naruto se intromete, passando muitas outras páginas, provavelmente por ter encontrado algo que não gostou.

– Você disse que queria fazer a primeira lareira do mundo feita de madeira.

– Querida, por favor.

Me seguro para não rir. Kushina revira os olhos e passa outra página, chegando a uma foto bastante antiga de Naruto, que não passava de um adolescente. Ele tinha o mesmo sorriso brincalhão que tem hoje estampado no rosto e os braços ao redor do pescoço de dois outros adolescentes. Um era Karin, que parecia ainda mais boba, olhando fixamente para o moreno que estava preso ao outro braço de Naruto. Um garoto de cabelos castanhos estava ao lado de Karin, muito menor do que ela, se agarrando à sua perna.

– Ah, sim – Kushina solta o ar lentamente, colocando uma mão sobre o peito, seus lábios repuxados em um sorriso diferente do normal. Seus olhos marejados. – Eu me lembro desse dia. Foi você quem tirou essa foto, não foi, amor? Ah, claro... Uma das únicas que sobrou desse tempo. Estávamos voltando da escola com Naruto e Konohamaru, até que...

Ela deixa a frase no ar e abaixa o rosto, colocando uma mão sobre olhos. Minato se levanta de seu lugar no sofá e o contorna, mais rápido do que eu pensei que fosse possível. Ele pousa as mãos sobre os ombros da esposa e a puxa para seu peito, a envolvendo com seus braços.

– Acho que já chega, não acha? – Naruto fala, fechando o álbum e o colocando de volta no lugar, embaixo da televisão e me puxando para fora da sala. – Nós vamos dar uma volta, certo? Certo.

Observo os dois o máximo que posso. Observo o modo como Minato sussurra palavras de consolo para ela e passa os dedos suavemente por seu rosto, secando suas lagrimas, enquanto a nina em um abraço apertado, deixando tudo o que havia de ruim do lado de fora, os protegendo do mundo exterior.

Aquela cena parece tanto com o que aconteceu ontem em casa que eu fico realmente preocupada. Sinto um aperto no peito quando Naruto aperta minha mão, me puxando para fora da casa como se aquilo não devesse ser visto. Ouço os soluços baixos de Kushina enquanto me afasto, sem saber ao certo o que fazer, mas sabendo que quero ajudar de algum jeito.

– Já conheceu todos? – Naruto pergunta, parando em frente à horta. Tenta sorrir, mas não é o mesmo sorriso.

– Por que me trouxe aqui fora? Poderíamos ter ficado lá! Não sei... ter tentado ajudar de alguma forma. – digo, cerrando os punhos ao perceber o quão incrivelmente inútil sou. Caminho até os fundos da casa, meus pés querendo se movimentar para espantar essa sensação de completa inutilidade.

Naruto me segue, as mãos nos bolsos. Olha para os próprios pés enquanto chuta uma pequena pedra, os pensamentos o levando para longe.

– Não precisa se preocupar com isso, ela não precisa de ajuda. Meu pai está cuidando dela. Mas não foi nada demais, ela chora muito fácil. – ele diz. – Você já conversou com Nagato? Você se daria bem com ele.

– Ela não parece ser alguém que chora muito fácil – respondo, parando na entrada dos fundos, onde tinha apenas um cesto vazio e duas cadeiras.

Me sento em uma, sentindo alguma coisa nos atrapalhando. Não, nos atrapalhando não, atrapalhando ele. É como se tivesse uma enorme pedra, alguma coisa grande e impenetrável, algo que não pode ser mudado de lugar e nem destruído, algo impedindo Naruto de seguir em frente.

Observo a paisagem à nossa frente enquanto balanço os pés da cadeira. O horizonte é composto apenas por um campo aberto e montanhas ao fundo, um lugar extremamente monótono, para quem gosta de viver na rotina.

– Na verdade – ele responde -, ela chora bem mais que o necessário, mas não deixa ninguém perceber. É orgulhosa como você. – ele ri, mas não parece sincero.

Itachi abre a porta de repente, interrompendo nossa conversa tão interessante. Ele parece surpreso por nos ver ali. Meus dedos formigam, pedindo para serem estalados, mas eu consigo aguentar ao impulso.

– Hm, desculpe, não sabia que estavam aqui – ele diz, educado como sempre, se virando para ir embora outra vez. Naruto segura seu braço.

– Não, eu preciso ir... hm... ver meu quarto, mas... Por que não fica aqui com Sakura? – ele diz, se atrapalhando com as palavras. Outra vez não espera resposta e apenas puxa Itachi sem a menor cerimonia e o coloca no lugar onde ele estava segundos antes. – Cuide dela enquanto isso, se não ela pode... Se perder no campo.

Ele sorri outra vez e entra na casa o mais rápido que pode, sabendo que se demorar mais dois segundos vai ser bombardeado por perguntas. Então apenas nos deixa para trás sem saber o que dizer.

Ele realmente acha que eu posso me perder no campo?, me pergunto por um segundo. Tsc, claro que não, isso foi apenas uma desculpa para fugir e ainda assim não me deixar sozinha. Muito melhor, me deixou sozinha com a pessoa da qual eu estava tentando fugir.

– Por que ele está fugindo de você? – Itachi pergunta, com um pequeno sorriso no rosto. Sua voz é tão diferente da de seu irmão... Me viro outra vez para o campo, me convencendo que se eu apenas o ouvir, seus traços tão parecidos não vão me fazer lembrar Sasuke.

– Eu não faço ideia... – respondo, suspirando. Pássaros voam na direção da montanha, enquanto o sol se aproxima do horizonte. – Estávamos vendo algumas fotos e a Kushina começou a chorar depois de ver uma foto do Naruto voltando da escola com um tal de Komonaru, e o Naruto ficou todo sem graça e agora fugiu de mim.

Itachi suspira também, me fazendo olhá-lo. Ele perdeu o brilho que tinha nos olhos. Eu me surpreendo ao ver aquilo. Ele mexe nos dedos nervosamente e parece pensar em alguma coisa, o que me surpreende outra vez.

Ele é tão parecido fisicamente com Sasuke. Se não fossem as marcas abaixo de seus olhos e os cabelos mais compridos, eles seriam completamente iguais. Itachi é basicamente uma versão mais velha de Sasuke, à primeira vista.

Mas seus gestos e sua postura e todo o resto é tão diferente do Sasuke. Itachi é sempre calmo, não tenta chamar muito a atenção e aparenta nervosismo não como Sasuke, que ataca os outros, mas como pessoas normais. Isso é tão estranho.

– Isso é um assunto delicado por aqui – Itachi fala, fixando os olhos nos meus, como se pedisse para que eu não perguntasse detalhes. – Kushina sempre chora quando fala sobre isso, então... Por favor, não pergunte nada a eles. Nem a Naruto.

– Como você sabe que ele não me disse nada? – pergunto, deixando bem claro que Naruto realmente não me disse nada. Eu só quero saber como ele sabe que Naruto não me disse nada.

– Naruto sofreu demais com isso – ele responde, sério. – Não conseguiria dizer nada nem para você e nem para ninguém. Ele nunca fala sobre o assunto, nem comenta, nem toca no assunto, seja qual for a ocasião. Nem quando aconteceu. Ele nunca falou com ninguém. E nunca deixou ninguém vê-lo chorar.

Tento lembrar da foto que fez Kushina chorar. Naruto sorria, abraçado à prima Karin, que babava pelo garoto que estava colado ao outro braço de Naruto, com o tal Komonaru, um garotinho bem mais novo que todos eles grudado à perna de Karin e com um sorriso enorme no rosto.

Tento juntar as peças desse quebra-cabeça o mais rápido possível, antes que Naruto volte, sabendo que quando ele chegar, a chance de eu descobrir qualquer coisa vai passar.

– Ah, sim – Kushina solta o ar lentamente, colocando uma mão sobre o peito, seus lábios repuxados em um sorriso diferente do normal. Seus olhos marejados. – Eu me lembro desse dia. Foi você quem tirou essa foto, não foi, amor? Ah, claro... Uma das únicas que sobrou desse tempo. Estávamos voltando da escola com Naruto e Konohamaru, até que...

E então ela começou a chorar. Por que ela não falou sobre Karin? Ou sobre o outro garoto moreno? Por que falou apenas sobre Naruto e Konohamaru?

– Itachi – eu o chamo. – Você sabe quem é Konohamaru?

– Eu sei que era Konohamaru – ele responde, frisando bastante a palavra era, e não desviando os olhos dos meus, como se quisesse me dizer alguma coisa. Como se quisesse que eu entendesse alguma coisa, sabendo que não poderia dizer muito mais do que aquilo. – Mas eu acho que você precisa esquecer essa história.

Seus olhos parecem estar me dizendo alguma coisa, me dando alguma dica. Dizendo que eu preciso esquecer no sentido de não perguntar nada para Naruto. Mas ao mesmo tempo que posso descobrir algo sobre aquilo.

Alguma coisa dentro de mim se agita. Eu preciso descobrir mais sobre isso. Preciso juntar todos esses acontecimentos desconexos que aparentemente não levam a lugar nenhum, mas eu sei que são as respostas para as minhas perguntas.

Lembro de Naruto, não muito tempo atrás, querendo me contar algo. Algo sobre ele, sua família e a família Uchiha. Algo que naquela ocasião eu me recusei a saber, mas agora eu entendo a real gravidade do assunto, e sei que ele não conseguiria realmente me dizer nada naquele dia e nem nunca.

Lembro de hoje, de como me senti ao lado de Naruto com esse assunto parado entre nós como uma pedra nos separando, e percebo que preciso saber disso. Eu realmente preciso.

Itachi se levanta e coloca as mãos nos bolsos, observando o campo aberto à sua frente. Uma brisa fresca passa, fazendo seu rabo de cavalo baixo voar e ele sorri consigo mesmo.

– Por que deixou sua família e veio para cá? – pergunto a ele, enquanto me levanto e coloco a mão na maçaneta da porta, ansiosa para comprovar minha teoria, mas não conseguindo tirar essa questão da minha cabeça.

– Eles escolheram o caminho errado – Itachi responde simplesmente, o pequeno sorriso no rosto me dizendo muitas coisas.

Sorrio comigo mesma, entendendo exatamente o que ele quis dizer com aquilo. Ou achando que entendi.

Entro na casa e vou direto para a sala onde víamos fotos minutos atrás. O lugar estava completamente vazio e silencioso, mas com um silencio diferente. Um silencio pesado. Aquele tipo de silencio que só há em um lugar abandonado.

Pego o álbum pesado e me sento no sofá, afagando a capa macia que tem uma foto de Kushina com Minato quando eram crianças. Abro o álbum e passo a maioria das paginas, encontrando a foto que eu procurava e comprovando o que eu pensava.

Naruto continuava com o mesmo sorriso, mas depois de alguns segundos o observando, qualquer um perceberia que aquele sorriso não era legitimo. Ele abraçava Karin e Sasuke como se tentasse separá-los, e sorria daquele modo como se tentasse chamar atenção. Konohamaru tinha o mesmo sorriso e a mesma expressão.

Procuro pagina por pagina, uma após a outra, mas não encontro nenhuma outra foto do tal garoto, nem mais velho e nem mais novo.

– Se eu sou, você também é – falo, vendo os nós de seus dedos ficarem brancos enquanto ele segura o volante com mais força que o necessário.

– Não se atreva a falar isso.

– Do jeito que você está falando, significa que alguma coisa muito ruim aconteceu no seu passado, e essa coisa tem a ver com os Uchiha. O que significa que a sua historia também não pode ser contada sem falarmos deles.

– Eu passei a minha vida inteira esquecendo isso. Não tenho nada a ver com esses assassinos.

Assassinos. Sinto um calafrio percorrendo minha espinha enquanto fecho o álbum, o colocando de volta no rack, embaixo da TV. Estalo os dedos, andando em círculos, tentando amadurecer o que tinha acabado de pensar.

Seria possível? Seria possível que isso fosse realmente verdade?

– Eles escolheram o caminho errado – Itachi responde simplesmente, o pequeno sorriso no rosto me dizendo muitas coisas.

Então eles eram... Assassinos?

– Eu ainda morava com os meus pais no Japão quando isso aconteceu – ele começou de repente, me tirando de meus pensamentos. – Vivíamos em uma cidade pequena e as pessoas não gostavam muito de mim, mas admiravam os meus pais. Eu não sei dizer se era por eles serem pessoas legais ou por me aguentarem o dia inteiro.

“Mas tinha uma família que nunca gostou dos meus pais, nem por eles serem legais e nem por me aguentarem o dia inteiro. Eles detestavam meus pais por não venderem para eles o único pedaço de terra em toda a cidade que não os pertencia. Meus pais pensavam que era tudo uma questão de negócios, que eles só não gostavam de nós quando se tratava de papéis e coisa do tipo, mas eu sabia que era algo maior. Ou então...”.

Assassinos. Só poderia ser isso. Mas causa de um pedaço de terra? Um motivo tão banal...

– Ou então...? – pergunto, o incentivando a falar, e sinto vergonha no mesmo instante. Quem sou eu para incentivar ele a falar alguma coisa? Quem sou eu para continuar o pressionando?

– Ou então eles são simplesmente frios. Simplesmente não se importam com nada mais além de dinheiro. – ele responde, dando um sorriso sem humor.

– Você não quer conhecer meu quarto? – Naruto fala, em tom de piada, me assustando. Ele tem o sorriso genuíno de volta e está a meio caminho de onde estou, parado na escada, olhando para mim. – Eu tenho uma cama enorme que não é usada faz muito tempo, o que acha de me ajudar com isso?

– Acho que não estou me sentindo muito bem... – eu digo, me sentando no sofá e tentando segurar minha própria cabeça enquanto sinto tudo girar.

– Itachi - eu o chamo. - Você sabe quem é Konohamaru?

– Eu sei quem era Konohamaru.

Naruto coloca a mão em minhas costas, me apoiando, no mesmo momento que tudo escurece e eu me sinto cair no vazio, uma palavra presa em minha garganta.

Assassinos.


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Notas finais do capítulo

19/24
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