— Por um momento eu pensei que o Sasuke-san não fosse deixar eu te ver – foi a primeira coisa que Hideo disse ao entrar no quarto da namorada.

— Ele nunca gosta que você entre aqui – retrucou Saori, bufando irritada. Fazia quatro dias que não saia de casa a não ser para ir ao colégio. Estava se sentindo presa e ela não aguentava mais.

— Eu sei, mas… se não fosse a sua mãe, dessa vez acho que não ia conseguir te ver – e se aproximou da namorada, que estava sentada na cama – Pensei até que tivesse feito alguma besteira para ele agir assim.

Saori refletiu por um momento as palavras do loiro. Seu pai realmente estava estranho esses dias. Muito nervoso e estressado, apenas Sakura conseguia acalmá-lo. Perguntou-se se era pela notícia que havia vazado sobre ela e o incidente na escola. Será que Sasuke estava irritado consigo e por isso estava a prendendo? Era a única justificativa que encontrava para ele se comportar dessa maneira e ser tão inflexível quanto a não deixá-la sair. Seria uma punição? Mas ele disse que a entendia, em nenhum momento ele a repreendeu por ter batido no Seiji. Estava confusa e irritada, mas, principalmente, sentia-se responsável por isso.

— Hey! Não fique assim – Hideo chamou a sua atenção e Saori deu de ombros.

— Só não entendo o porquê de ele estar agindo dessa forma, mas é mais provável que a culpa seja minha – disse e sentiu a mão do namorado puxar o seu rosto para cima.

— Não é. Você não tem culpa de nada, não pense nisso. Vim aqui para te distrair e não te deixar pior – sorriu para a menina que correspondeu ao gesto.

— Bom, acho que não está fazendo um bom trabalho – e corou levemente ao ver o sorriso do loiro aumentar.

— Tem razão, devo me redimir imediatamente – falou antes de capturar os lábios da namorada.

Sorriu entre os beijos de Hideo e ficou feliz dele estar ali. Não havia o visto desde a sua visita à casa dos avós e pensava que ele ainda estaria irritado consigo por insistir na ideia de conhecê-los sem que Sasuke ou Sakura soubessem, mas pelo jeito o loiro estava com tantas saudades quanto ela e estava disposto a esquecer qualquer desentendimento bobo.

Puxou os cabelos dele para mais perto e Hideo apoiou as mãos na cama, fazendo com que seu corpo se aproximasse ainda mais do dela até que estivesse com ela embaixo de si. Passou a distribuir beijos no pescoço alvo de Saori, e sorriu ao vê-la se arrepiar. Gostava do modo como ela reagia consigo e como ele estava com saudades de ficar ao seu lado. Sabia que devia parar, mas queria aproveitar aquele momento, ele só precisava se controlar.

— H-Hideo… – a ouviu murmurar e encarou os orbes negros como a noite que pareciam brilhar. Linda. Era isso que pensava ao vê-la corada, com os lábios inchados de tanto beijar. Sentiu um fisgar perto da virilha e soube que estava indo longe demais.

— Desculpe – e fez menção de afastar, mas Saori não permitiu. Ela aproximou seu rosto do dele e, lentamente, o beijou, sugando o lábio inferior dele que gemeu baixinho. “Por Kami, desse jeito ela vai me enlouquecer”, pensou. – Saori…

— É-É melhor pararmos agora – disse nervosa, interrompendo o loiro que se sentiu frustrado – Alguém pode entrar a qualquer momento – e virou o rosto para a porta que estava aberta.

— Eu posso fechar a porta – tentou convencê-la, mas ela apenas revirou os olhos e o empurrou levemente para que saísse de cima de si.

— Otou-san te mataria se visse que a porta estava fechada – foi mais firme dessa vez e Hideo suspirou, levantando-se ainda inconformado, bagunçando os cabelos.

— Tudo bem, você está certa – disse mais para convencer a si mesmo e sentou-se em uma cadeira mais afastado.

Saori apenas olhou o namorado e sorriu minimamente. Sabia que não era fácil para ele aceitar uma recusa, mas ele sempre a ouvia e saber disso era muito importante para si.

— Que tal saírmos? – indagou do nada e o loiro a olhou confuso.

— Pensei que não pudesse sair por esses tempos – e Saori revirou os olhos.

— Não é isso! – disse como se fosse óbvio – Estou falando de saírmos como no natal.

— Está me convidando para um encontro? – questionou com um sorriso de lado e Saori desviou o olhar um pouco corada.

— Apenas pensei que fosse ser divertido, mas se não quiser… – foi interrompida ao sentir Hideo virar seu rosto e tomar seus lábios mais uma vez.

— Baka – disse roçando os lábios no dela – Eu adoraria ter outro encontro com você – e Saori sorriu de forma radiante para si.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? – ouviram uma terceira voz se pronunciar e como se tivesse levado um choque, Hideo se afastou prontamente de Saori para encarar Sasuke que mantinha uma carranca no rosto.

— S-Sasuke-san! – exclamou surpreso o loiro que sentia o coração martelar dentro de si.

— Não estávamos fazendo nada de mais, otou-san – Saori respondeu com o rosto quente por seu pai ter visto Hideo a beijando, mas também aliviada por ele não ter entrado minutos antes quando o loiro estava em cima de si, em uma posição muito mais constrangedora.

— Já disse que quero essa porta escancarada quando estiver acompanhada – frisou Sasuke e Saori apenas aquiesceu, enquanto o namorado sorria de forma forçada, provavelmente tinha se dado conta da sorte que teve.

— Otou-san, posso falar com o senhor? – mudou de assunto rapidamente, desviando a atenção do mais velho que encarava Hideo – Quanto tempo mais eu tenho que ficar trancada aqui?

— Você não está trancada, se estivesse não receberia visitas – disse como se fosse óbvio e a menina revirou os olhos.

— Não é disso que estou falando! – retrucou com um bico.

— Então do que se trata? – indagou para a filha que olhou de Hideo para o pai. E o namorado apenas esperava que Saori não o colocasse em algum problema com o Uchiha mais velho.

— No final de semana que vem vai ter um show na cidade e o Hideo me convidou para ir, e eu já aceitei! – disse para a surpresa do loiro que não tinha feito esse convite, muito menos sabia de qual show ela falava.

Sasuke apenas franziu o cenho ao ouvir aquilo e olhou para o Uzumaki que parecia confuso com o que fora dito. Ele não confiava mais no garoto para garantir que a filha estaria segura desde que descobriu que ela havia mentido e Hideo a acobertara, eram dois adolescentes afinal. E até que descobrisse o que Saori e Daisuke estavam escondendo não os queria fora de sua vista, por causa disso havia praticamente proibido a filha de sair de casa com a desculpa de evitar mais escândalos com os repórteres. Sabia que não podia fazer o mesmo com Daisuke, não tinha um motivo para tal, mas facilitaria se tivesse que se preocupar apenas com um e não com os dois filhos indo para longe de si.

— Não – decretou e Saori bufou irritada.

— Por quê? O senhor disse que eu não estava trancada! – retrucou e Hideo tentou apaziguar os ânimos.

— Saori, nós podemos fazer outra coisa e...

— Não! Eu quero ir nesse show! – bateu o pé, teimosa, e encarou o pai que cruzava os braços – Por acaso eu estou de castigo e não sei?

                Sasuke franziu o cenho enquanto reunia toda a paciência que possuía para não piorar as coisas com a filha. Ela não sabia o motivo de estar trancada, era óbvio que iria ficar dessa forma, mais cedo ou mais tarde. E o que ele poderia falar? Se dissesse a verdade, ela voltaria a mentir para si, mas se não falasse nada... Saori poderia entender tudo errado. Bagunçou os cabelos, suspirando.

— Se eu a deixar ir nesse show, irá se comportar? Não quero brigas, fofocas ou qualquer outra coisa. Pode fazer isso? – indagou para a filha que sorriu, concordando.

— Obrigada, otou-san! – disse mais aliviada, talvez ela estivesse apenas paranoica com tudo o que estava acontecendo, quando, na verdade, o pai apenas tentava protegê-la.

Ainda estava em dúvida se estava fazendo o certo permitindo que a filha saísse de casa sem saber o que ela e Daisuke aprontavam, mas também sabia que se não desse oportunidade para eles, nunca saberia o que escondiam de si. Aquela era a sua melhor chance, bastava ele ficar a espreita e aguardar o momento certo.

—*-

— Então, qual é esse show que nós vamos? – Hideo indagou quando Sasuke saiu do quarto e deixou a porta bem aberta em um claro aviso para não desobedecê-lo – Não acha que devia ter perguntado se eu queria ir? – cruzou os braços, fingindo estar chateado.

— Eu convidei, então eu decidi escolher o programa também  - retrucou com um sorriso e Hideo apenas arqueou uma sobrancelha – Você vai gostar, afinal foi você que me apresentou a banda – explicou e o loiro sorriu, confiava no seu próprio gosto musical.

— Certo, acho que posso desculpá-la então por me meter em uma encrenca com o Sasuke-san se for assim – brincou e Saori revirou os olhos antes de se aproximar.

— E se eu te colocar em mais uma encrenca? – olhou fixamente para o Uzumaki que se arrepiou ao sentir a mão da namorada deslizar pelo seu braço.

— Nem tente fazer isso, porque… – observou por cima da namorada, com receio de que alguém passasse por ali, mas foi interrompido pela garota ao senti-la roubar um beijo seu.

— O que dizia? – indagou risonha ao se afastar e viu o loiro bufar antes de puxá-la para mais perto.

— Eu realmente vou ficar encrencado com você aqui – e em seguida voltou a beijar a morena.

—*-

Durante o jantar, Saori comentou com Daisuke sobre o que acontecera no quarto e que iria em um show com Hideo. Ele indagou se o pai estava sabendo sobre isso e quando a mais nova anuiu, estranhou. Seu pai não a deixaria ir a um show com Hideo tão facilmente, porém nada falou. Olhou para o mais velho que parecia tranquilo e franziu o cenho. Ultimamente, Sasuke estava estranho com ele também. Ficava mais vigilante, questionava onde estava e com quem, algo que era um comportamento que ele tinha, principalmente, durante a época em que perderam Saori.

— Algum problema, filho? – Sasuke indagou ao primogênito que negou com a cabeça. Talvez fosse apenas coisa da sua cabeça, afinal os únicos que escondiam algo ali, eram eles.

— Apenas pensando se vou ter prova na universidade, talvez eu vá nesse show também – mentiu e sentiu-se mal por isso, mas se queriam saber sobre a família do seu pai, essa parecia ser a única opção, já que o próprio pai nunca mencionava nada sobre os outros Uchiha’s. E foi pensando nisso que chamou Saori quando o jantar terminou para conversar com ela em seu quarto.

— Qual o problema? – ela perguntou sentada na cama dele, enquanto Daisuke fechava a porta.

— Você falou com o Itachi depois daquele dia? – foi direto e a mais nova encolheu os ombros, antes de responder.

— Não… ele não me ligou mais. – e ficou pensativa sobre qual seria o motivo daquele comportamento e, se talvez, os avós não queriam mais vê-los depois da forma como saíram de lá.

— E você?

— Eu o quê? – perguntou confusa sem entender aonde o irmão queria chegar.

— Entrou em contato com ele? – e revirou os olhos por ter que se explicar.

— Claro que não! – bufou, cruzando os braços em frente ao peito.

— Certo, então vamos aproveitar essa chance e marcamos um encontro no dia desse show – Daisuke declarou, convicto, e Saori arregalou os olhos.

— O quê? Não! – negou abruptamente e Daisuke arqueou uma sobrancelha.

— Como não? Não foi por isso que inventou esse show? Para que fossemos até os nossos avós? – Saori desviou o olhar, encarando o chão e sentiu o rosto esquentar. Não era nisso que estava pensando.

— Não… eu apenas queria sair de casa um pouco e… ficar um pouco com o Hideo – murmurou a última parte, mas, por sorte, Daisuke não conseguiu ouvir.

— Saori, essa seria a oportunidade perfeita! – tentou convencer a irmã, estava estranhando o comportamento dela, normalmente ela seria a primeira a dar essa ideia ou a concordar com tudo.

— Eu sei, mas… – suspirou sem ter realmente algo para retrucar, apenas queria poder esquecer qualquer problema e ficar com Hideo, como um casal normal. Queria apenas sentir as mesmas sensações do dia em que foram pegos no sofá da sala por sua mãe. Sentiu o rosto esquentar com o pensamento. Era isso então? Será que estava pronta para dar esse passo?

— Saori! – ouviu seu irmão lhe chamar e ao encará-lo, notou que ele estava irritado consigo – Qual o seu problema?

— Nada! Será que uma vez na vida eu não posso simplesmente esquecer todos esses problemas e aproveitar alguma coisa? – estourou também – Droga, eu nunca fui em um show! – falou franzindo o cenho, odiava ter que apelar, mas era a verdade e sabia que o irmão não a irritaria assim.

Dito e certo. Daisuke encolheu brevemente os ombros e a olhou como se pedisse desculpas, dizendo que eles poderiam esperar um pouco mais. Ela suspirou, aliviada, até ouvir que ele também iria com Sasame para se divertir no show.

—*-

No final o que era para ser um encontro com o namorado, transformou-se em uma saída com os amigos, pois Hana também comentou que iria com Ryuu, assim como Akane e Ichiro. Restou, então, apenas se conformar com a situação, ela teria outras oportunidades de ficar a sós com Hideo, ela não precisava se incomodar com isso agora, pois adorava estar na companhia dos amigos também.

E durante a semana, o show que iriam era o assunto do momento, Hana estava eufórica, pois estava difícil de ver Ryuu com os horários da universidade e Saori concordou com a amiga, sentia-se da mesma forma com Hideo, tanto que agora só se veriam no dia show devido ele ter muita matéria para estudar. Mas repetia para si mesma que não podia reclamar, pois se tratava da formação acadêmica dele. Voltou a observar Hana que falava com entusiasmo o quanto queria que o dia do show chegasse logo para ver Ryuu e não pode deixar de sorrir, feliz pela amiga estar de volta.

Desde quando teve o incidente na escola com Seiji, Hana sentia-se triste e culpava-se pelo o que poderia ter acontecido e foi preciso que Saori explicasse mais de dez vezes que não fora culpa dela para que a Uzumaki parasse de agir de forma tão depressiva. E parece que havia dado certo, a loira voltara totalmente a ativa.

— Akane, e o Ichiro? Ele vai realmente poder ir para o show? – ouviu Hana perguntar, chamando a atenção de Saori.

— Por mim, nós não iríamos, mas ele é um teimoso! – bufou Akane para a surpresa das amigas, era difícil vê-la irritada.

— Ele está dando trabalho? – arriscou Saori enquanto comia um sanduíche. Estavam no intervalo conversando em uma das mesas do lado de fora do prédio, apenas as três. Agora era sempre assim, desde a saída dos amigos do colégio, somente elas e Ichiro ficavam juntos na hora do intervalo, mas como o ruivo ainda estava se recuperando, sobraram somente elas.

— Um pouco – e suspirou cansada – A tia Ino não o deixa vir para a escola pois ele precisa descansar, e acho que ele não aguenta mais ficar em casa, por isso botou na cabeça que iria nesse show quando contei para ele.

— E a tia Ino? Não acredito que ela concordou dele ir – Hana falou e Akane negou.

— É claro que ela não concordou, mas ele está irredutível. De acordo com ele, a tia Ino está exagerando, novamente. – e revirou os olhos ao lembrar do namorado reclamando da mãe dele.

— Mas, afinal, ele fraturou a perna?

— Mais ou menos, ele trincou a perna, o que é uma fratura parcial, só que menos grave. Por causa disso ele precisa ficar em casa e descansar por um tempo – disse recordando do que o médico havia explicado para todos no dia em que foram para o hospital.

— Eu realmente sei como ele se sente – Saori comentou com a perolada – O otou-san só me deixava sair para vir para a escola e eu pensei que fosse ficar louca, imagina no caso do cabeça de fósforo, ele deve estar realmente entediado.

— Mas eu fico preocupada, e se ele piorar? – Akane disse triste e foi inevitável não dizer as próximas palavras, já que era isso que sentia, na verdade – Afinal, a culpa dele ter se machucado foi minha…

— Oe, você também não! – exclamou Saori bufando, irritada, chamando a atenção da Hyuuga. – Não foi culpa sua!

— Mas, Saori-chan… ele só entrou no time por minha causa – murmurou ressentida.

— Se pensar assim a culpa seria minha por ter obrigado você a entrar para as líderes, Akane-chan – Hana falou com um sorriso triste e a Hyuuga arregalou os olhos.

— Não! A culpa não é sua, Hana-chan! – negou veemente a perolada para a prima.

— Não começa de novo, Hana! – brigou Saori – Nós já conversamos sobre isso! Parem de tentar arranjar um culpado para o que aconteceu naquela noite, mas se quiserem culpar alguém, culpem o Seiji, foi ele quem bateu no Ichiro e ele quem tentou estuprar a Mizuki! – e levantou-se de forma abrupta, estava cansada de ter que falar disso, de ter que se lembrar daquela noite.

Já não bastava o que havia acontecido e que todos no colégio não paravam de fofocar nas suas costas? Não bastava os olhares de pena e de desconfiança que recebia ou o fato de ter fotos suas estampadas em todos os jornais? Ela não queria que mais ninguém se martirizasse pelo o que aconteceu, pois Saori sempre pensava que alguém estava assumindo o seu lugar, como se, na verdade, a culpa fosse realmente dela, mas para aliviá-la da dor estivessem a tomando de si. Só que ninguém ali era culpado! Ela era a vítima, assim como Mizuki, e Ichiro que acabara se machucando durante o jogo.

Hana e Akane ficaram surpresas com a explosão da amiga e pediram desculpas pelo comportamento. Saori devia estar cansada de ouvir falar sobre Seiji e do que aconteceu naquela noite, e elas continuavam a falar, empurrando memórias que não deviam ser agradáveis para ela.

— Desculpe, não foi nossa intenção, Saori – Hana falou em um suspiro – Como estão as coisas para você? – falou se referindo as reportagens que mostravam uma foto dela agredindo Seiji.

— Bem – e deu de ombros sem querer falar sobre o assunto, voltando-se a sentar.

— Certo, agora pode ser sincera conosco – Akane disse com um sorriso e Saori correspondeu ao gesto.

Era cada vez mais difícil esconder algo das amigas, que percebiam cada mudança dela. Nesse momento, sentiu-se mal por não poder contar sobre os avós ou sobre o fato do cordão que encontrara recentemente, mas aquilo deveria permanecer em segredo, por enquanto.

— Não sei ao certo… – murmurou, incerta – Tem acontecido muita coisa ao mesmo tempo, estou irritada por estarem falando de mim, estou… – hesitou antes de continuar, era difícil se expor daquela forma – ...estou com medo e preocupada com o que isso pode acarretar e o que vão pensar de mim, principalmente a minha família – disse recordando das atitudes do pai e dos avós.

— A gente ama você Saori, e estaremos te apoiando em tudo – Hana disse de forma tão simples e natural que foi impossível não arregalar os olhos com a confissão – Somos amigas e você pode contar conosco!

— Nós só queremos o seu bem, nunca pense que vamos julgá-la – Akane finalizou apertando a mão da morena que se forçou a engolir o nó preso na garganta. Não era hora de chorar.

Ficara tocada pela amizade das duas, tinha medo de que achassem que o melhor seria se afastar dela para evitar problemas ou recordar desses momentos, pois desde que entrara para o Gaiken e tinha conhecido as duas, só havia as colocado em risco e foi impossível não recordar de Hikari e das ameaças que fez as duas.

— Vocês... realmente são amigas incríveis... – disse admiradas para as duas peroladas que se surpreenderam ao ver Saori sorrir enquanto lutava contra as lágrimas que insistiam em se acumular nos olhos e, imediatamente, ambas a abraçaram, com Akane e Hana, principalmente, fazendo escândalo no colégio.

—*-

                A semana havia passado rápido e já era o dia do show que todos combinaram de ir. A banda, Slayers, fora apresentada à Saori por Hideo e, mesmo a contragosto, tinha que admitir que o loiro tinha um bom gosto para música. As letras continham uma mensagem e o arranjo, assim como a melodia formavam um par perfeito, fazendo todas as canções, sejam as com uma batida rápida ou lenta, serem contagiosas. E ela estava ansiosa para vê-los ao vivo, para ver como seria um show de verdade, não apenas para ouvir o que tocavam ao longe, como aconteceu diversas vezes.

Imediatamente recordou-se do lugar onde seria realizado o show, seria perto do parque onde Hideo lhe levara no Natal, consequentemente, perto também de um lugar muito conhecido por ela. Ainda estava surpresa de terem decidido ter um show perto daquela área, já que era considerada mal frequentada, mas também entendia que o espaço necessário para um grande contingente de gente era fácil de achar ali. Foi tirada de seus pensamentos ao ouvir o celular tocar e correu para atender, mas ao ver o número na tela uma parte sua ficou nervosa, sem saber o que dizer.

— Alô? – falou incerta, sentando-se na cama.

— Saori?— ouviu a voz do moreno e fechou os olhos. De todos os dias que ele poderia ter ligado, tinha que ser justamente hoje? – Tudo bem?

— Sim… – e ficou a espera para saber o que ele queria. Ouviu um riso baixo do outro lado e em seguida ouviu novamente a voz grave.

— Eu também estou bem, já que quer saber — disse divertido e Saori sentiu o rosto esquentar por ter sido mal educada e não ter questionado nada, mas para que ele não percebesse resolveu ir direto ao ponto.

— O que você quer Itachi? – não entendia o motivo dele lhe procurar somente agora. Ela deveria estar com raiva depois da forma como ela e seu irmão foram tratados, não devia se preocupar com ele e fazer esses questionamentos que seriam puramente superficiais.

— Sempre difícil — brincou mais uma pouco antes de falar sério – Quero marcar outro encontro de vocês com os meus pais.

— Por que? – foi sincera. Já achava que ele e nem ninguém mais dos Uchiha’s iria querer se aproximar dela ou de Daisuke depois daquele escândalo.

— Eles sabem que a primeira impressão que vocês tiveram deles não foi das melhores, então querem tentar remediar as coisas.

— Dizem que a primeira impressão é a que fica.

— Mas também não podemos julgar um livro pela capa. Dê mais uma chance a eles, estavam nervosos e não esperavam que toda aquela reportagem aparecesse, aquilo os pegou de surpresa.

— Eu… – parou de falar ao lembrar-se de Daisuke, ele queria conhecer mais os avós e, mesmo não querendo admitir ela também, então não podia estragar tudo – Certo, quando?

— Poderia ser depois da escola, na segunda?

— Vou precisar confirmar com Daisuke, mas acho que pode ser na segunda.

— Certo, então deixamos marcado. Qualquer imprevisto me ligue.

— Dessa vez você estará lá? – não resistiu à pergunta, afinal também queria saber mais sobre ele.

— Sim, também quero conhecer os meus sobrinhos.— e desligou, deixando Saori com um pequeno sorriso no rosto. Era a primeira vez que ele os chamava dessa forma. Sobrinhos.

Ficou repassando a conversa na sua mente enquanto se arrumava para o show e não percebeu que mais alguém a escutava do lado de fora.    

—*-

Observava o grande palco com os olhos brilhando, uma multidão já se reunia no local, querendo o melhor lugar para ver com mais clareza a banda. Hideo estava atrás de si, falando com a irmã, sobre ela estar se agarrando muito com Ryuu, enquanto o Nara revirava os olhos, sem se abalar com as provocações, ao contrário de Hana que retrucava fervorosamente. Do outro lado estava Daisuke e Sasame que bebiam algo de forma descontraída, rindo animados. Akane e Ichiro não vieram no final e isso apenas a fez pensar que deveria fazer uma visita ao ruivo, ou era bem capaz dele deixar a pobre Akane louca com aquele mau humor dele.

— Oe, vocês vão continuar brigando até quando? – indagou Saori, cansada de ouvir aquilo tudo. Ela estava ali para curtir com o namorado, e não ouvi-lo brigar com os outros.

— A culpa é dele, Saori-chan! Ele fica no meu pé – Hana disse, fazendo um bico infantil ao reclamar.

— Não esqueça que o otou-san disse que era para eu ficar de olho em você – retrucou convencido com a autoridade de irmão mais velho. Saori revirou os olhos e observou Hana que já parecia se desesperar.

Ela sabia que a Uzumaki desejava ter um momento a sós com o namorado, já que eles quase não se viam por causa da universidade, por isso, quando a loira olhou para si, praticamente suplicando para ajudá-la, não pode negar. E mesmo sem saber ao certo o que dizer, improvisou:

— Hideo, vamos mais para frente – disse puxando a manga da camisa branca do loiro.

— Aqui está bom, Saori. Vai ficar muito apertado lá – tentou dissuadir a namorada e voltou a brigar com a irmã em seguida.

Bufou irritada, desse jeito o show dela também ia ser um fiasco se Hideo nem ao menos lhe desse um pouco de atenção.

— Eu vou lá pra frente! – decidiu e começou a caminhar e como sabia que aconteceria Hideo a seguiu.

— Não ande sozinha por aí! – brigou consigo – Pode se perder nessa multidão!

— Desculpe, papai – ironizou, continuando a andar e o Uzumaki revirou os olhos, enlaçando a cintura da morena e trazendo-a para mais perto, que corou com o gesto.

— Daisuke vai ficar uma fera quando ver que nos afastamos – disse desviando das pessoas e abrindo espaço para se aproximarem mais do palco.

— Ele está bem ocupado com a Sasame, aposto que não vai ligar – Saori rebateu com um sorriso ao lembrar o jeito que os dois se olhavam e se divertiam juntos. Parecia que Daisuke tinha conseguido se acertar com a loira.

Acharam um lugar mais a frente que não estava tão lotado e pararam ali. Saori virou-se para trás e notou que os outros ainda estavam no seu campo de visão, mas longe o suficiente para que Hideo não estragasse mais a noite de Hana que juntou as mãos em um agradecimento mudo para si. Sorriu com aquilo e voltou-se para o namorado, talvez tivesse sido uma ótima ideia se afastar de todos, afinal também conseguiria ter um momento com o namorado, ou foi o que pensou até vê-lo acenando para alguém. Abriu a boca para questionar com quem ele falava quando viu dois vultos se jogarem em Hideo com tanta força que por pouco não se desequilibrou.

— Hideo-kun! – o coro de vozes foi ouvido e Saori fechou a cara ao ver as duas garotas abraçadas ao namorado.

— Oe! – o loiro disse constrangido pelo comportamento indevido delas na frente da namorada e, rapidamente, afastou-se das duas garotas que sorriam radiantes para si.

— Que surpresa nos encontrarmos aqui! – a loira de cabelos curtos e olhos castanhos exclamou.

— Se tivéssemos combinado, não teria dado tão certo! – riu a morena de castanhos ondulado e olhos verdes.

— Sim, onde estão os rapazes, Shiemi? – Hideo indagou enquanto olhava sobre o ombro da morena.

— Kazuo e Hayato devem estar chegando, marcamos de nos encontrar aqui – a loira, que deveria ser a Shiemi, respondeu.

— Por que não ficamos todos juntos para ver o show? – a morena indagou contente com a ideia – Você está sozinho? – e colocou a mão no braço de Hideo. Saori que apenas olhava a conversa se desenrolar, começou a contar até dez para não fazer cena ali.

— Não, vim com uns amigos e a minha namorada – Hideo afastou-se e, em seguida, puxou Saori para junto de si – Esta é Uchiha Saori, a minha namorada. Lembram que falei dela para vocês? – e voltou-se para a morena – Saori, estas são Shiemi e Aiko, elas estudam comigo na universidade.

— Prazer – Saori forçou-se a sorrir para as duas.

Não havia gostado das duas somente pela forma como elas se aproximaram de Hideo. Mas ela tinha que aprender a conter o seu ciúme. Ele certamente iria conhecer outras garotas, outras garotas bonitas, na universidade e ela não poderia impedir isso. No entanto, estava, por um lado, até feliz com o fato de ele ter lhe apresentado e falado de si, cheio de orgulho. Claro que isso acabou ao ouvir a resposta das duas garotas.

— Nossa, então você é a famosa Saori? – a loira, Shiemi, arregalou os olhos, antes de rir baixinho – Do jeito que o Hideo fala de você eu pensei que… – parou de falar sem saber ao certo como continuar, mas Aiko a ajudou:

— Pensávamos que você era mais velha, mas pelo jeito o Hideo curte colegiais – brincou, porém Saori não achou graça nenhuma. Estavam a menosprezando?

— Saori e eu não temos tanta diferença de idade – Hideo interveio ao ver o modo como a morena havia ficado.

— Eu sei, eu sei… gomen – disse Aiko ainda rindo, mas Saori não achou que aquelas desculpas fossem sinceras.

— Ele fala muito de você sabia? – Shiemi tentou mudar o foco da conversa ao ver que a garota não parecia estar gostando da brincadeira.

— É mesmo? – Saori sorriu de forma cínica – Pois de vocês ele nunca falou – alfinetou e logo o clima pareceu pesar.

Hideo suspirou ao ver o comportamento arredio de Saori. Ela não devia ficar zangada por uma bobagem dessas, eram as colegas dele ali. E ele não queria ficar com uma imagem errada perante elas, que estavam o ajudando a conseguir uma bolsa de estudos em uma das ligas de medicina por serem veteranas.

— Saori e suas piadinhas – balançou a cabeça, dando um sorriso para descontrair, e olhou para a namorada – Claro que falei delas! Lembra? São as duas veteranas que estão me ajudando na universidade – tentou explicar para a morena que o olhou da forma mais inocente e confusa que conseguiu.

— Não, acho que não falou não – e estava sendo sincera. Ele realmente não lhe falara nada e aquilo tinha a magoado.

Hideo apenas franziu o cenho, sem entender a birra da mais nova e voltou-se para as duas outras garotas a sua frente. Era melhor ignorar Saori por um momento e tratar de distrair Aiko e Shiemi, não podia deixar aquela oportunidade passar por causa de uma crise de ciúmes da namorada. Ele nem ao menos tinha lembrado que não falara nada para ela, como Saori tentou dizer.

Decidiu, então, ficar em silêncio ao ver o olhar de Hideo para ela. Parecia ser importante para ele, e sentiu-se envergonhada por ter atrapalhado algo, então apenas o assistiu conduzir a conversa com maestria. Era incrível como ele conseguia desviar o assunto para algo que fosse do seu agrado e se tornar o centro da conversa sem fazer o mínimo esforço para isso. Ele não só contornou o clima pesado que Saori havia instalado com meia dúzia de palavras, como fez as duas garotas ficarem encantadas com o jeito extrovertido e bem humorado dele, esquecendo-se da pequena Uchiha ao seu lado.

Saori sentiu-se excluída ali e perguntou-se se elas demorariam muito tempo para irem embora. E quase comemorou ao ver dois rapazes se aproximando quando Aiko acenou para eles. Era agora. Eles se despediriam e ela poderia ficar com Hideo e esquecer aquele momento vergonhoso que passou na frente de todos.

Uma pena que isso não aconteceu.

Quando Kazuo e Hayato, dois morenos barulhentos, chegaram tudo pareceu ficar ainda pior. Os quatro conversavam e riam animadamente e nem quando a banda começou a tocar, eles se importaram com aquilo. Conversavam como se fossem amigos de longas datas que não se viam há anos. E ela parecia cada vez mais com uma intrusa ali. Aquele era para ser um momento a dois, um momento dos dois! Afinal, ela tinha a dado a ideia do encontro e ele havia lhe apresentado a banda. Abraçou-se e olhou ao redor, querendo ir para outro lugar, quando viu Hana se aproximar de si com cara de poucos amigos.

— Saori-chan, vamos conversar um pouquinho? – disse já puxando a amiga pelo braço, sem dar oportunidade para ela responder.

— O que houve? Você e Ryuu brigaram de novo? – indagou mais aliviada de não ter que ficar perto dos amigos de Hideo.

— Não! Eu vim aqui saber o que está acontecendo com você? – e cruzou os braços, irritada ao parar um pouco mais atrás de onde estavam – Eu estava curtindo a música com o Ryuu-kun, quando olhei para ver onde estavam e vi você toda deslocada lá. – explicou vendo a morena arregalar minimamente os olhos – O que houve?

— Nada – tentou desconversar, mas ela não tinha a mesma habilidade de Hideo e ela estava conversando com Hana. E a loira não costumava desistir de uma ideia tão fácil.

Resolveu, então, contar o que acontecera à Hana, como se sentiu sem graça pela forma como Hideo a encarou e por ter falado besteira quando não devia e para quem não devia. Falou também que se sentiu deslocada lá, eles falavam de assuntos da universidade que ela nem fazia ideia do que se tratava, e ela parecia ter sido esquecida por Hideo. Ao falar aquilo foi quando notou que o que realmente estava lhe incomodando era o fato do loiro ter lhe deixado de lado pelos amigos.

— Você também não tem jeito… – murmurou inconformada e Saori arqueou a sobrancelha, sem entender.

— Mas eu não fiz nada! – retrucou e a Hana sorriu de forma debochada.

— Exatamente! – afirmou e em seguida apontou o dedo para a morena como se ela fosse uma criança de três anos que tivesse feito uma bagunça – Você não fez nada! Simplesmente se permitiu ficar no canto e reclamar porque não lhe davam atenção!

— Não é desse jeito! Eu só não sei o que falar com os amigos do Hideo… – tentou argumentar, mas a loira a interrompeu:

— Isso é desculpa! Você nem ao menos tentou se aproximar deles, você sempre faz isso! – brigou e Saori teve vontade de se encolher.

— Eu… – A loira não estava totalmente errada, ela não costumava ser muito aberta a novas amizades, tão pouco conseguia conversar animadamente com estranhos.

Hana vendo a aflição que tomava conta do rosto da amiga, colocou as mãos no ombro de Saori e a encarou de forma intensa a fim de passar algum apoio.

— Dê uma chance para eles, mostre que você faz parte do mundo do Hideo-nii... – falou com um sorriso tranquilizante, antes dos olhos faíscarem irritados – ...e que é tão legal que nenhuma daquelas idiotas tem chance com ele! – praticamente ordenou, assustando Saori, antes de ser empurrada novamente para o grupo.

Saori estava um pouco dividida entre ficar assustada com Hana ou rir do jeito da loira, mas logo esqueceu o assunto ao ver-se novamente ao lado de Hideo e este parecia nem ter notado que havia saído dali. Suspirou olhando para os amigos dele e, em seguida, para o palco. Gostava daquela música que tocava.

— Hideo, está ouvindo? – resolveu se manifestar e interrompeu a conversa dos outros. O loiro piscou para ela duas vezes antes de conseguir processar o que ela dissera – A música! – falou mais alto para ser ouvida e viu o vislumbre de um sorriso nele. Era óbvio que reconheceria essa música, essa foi a primeira letra que o loiro cantara para ela.

— Agora você já sabe a letra? – brincou com a morena que sorriu para ele.

— Claro! Acho que sou capaz de cantar todas as músicas hoje! – e era verdade, ela estava tão animada para esse show que ficou ouvindo várias e várias vezes as músicas da banda.

— Essa banda é o máximo mesmo, não é? – Shiemi cortou a conversa entre os dois – A Aiko e eu adoramos todas as músicas deles! Até matamos a aula do Hizou-sensei para comprarmos os ingressos – contou aos risos conseguindo a atenção de Hideo que arregalou os olhos ao saber da pequena aventura.

— Vocês são loucas! Se eu que vou para todas as aulas dele, sei que vou ter que me matar para conseguir passar no teste dele, imagina se faltasse! – falou impressionado e as garotas riram.

— O Hizou-sensei tem realmente uma má fama por lá – Hayato comentou antes de beber algo.

— E com razão, né? – Kazuo riu – O cara é um maníaco! Tive que refazer a matéria toda por causa de um mísero ponto! – e fechou a cara ao lembrar-se da tirania do velho.

Saori até tentou falar algo mais, porém aquilo não fazia parte do seu cotidiano. Ela não sabia quem era o Hizou-sensei, nem tampouco da fama dele. Franziu o cenho, ela havia comentado sobre a música, como o assunto havia sido modificado de tal forma? Tentou mais uma vez iniciar uma conversa, como Hana sugerira, porém as coisas não foram da forma como queria e, novamente, a conversa foi desviada para algo desconhecido por ela.

— ...E na aula de anatomia nós demos o nome de Jack para o esqueleto! Ele foi o nosso bom companheiro nas tarde de estudo, lembra Shiemi? – Aiko falou sorridente sobre outro assunto qualquer e Saori finalmente viu ali uma forma de entrar na conversa.

— Na escola também temos um esqueleto desses – falou de forma abrupta, chamando atenção para si.

— É verdade, pensei que já tivessem aposentado aquele monte de ossos – Hideo sorriu ao recordar-se – Já que não usávamos para nada.

— Mas qual a finalidade de um esqueleto no ensino médio? – Shiemi debochou e Hayato riu antes de dizer:

— Quando estava no colégio usávamos no Halloween para assustar os outros.

— Essa deve ser a única função no ensino médio – Aiko retrucou risonha.

A conversa tomou outro rumo e passou a ser como no colégio eles eram imaturos e como a universidade havia sido um marco. Saori apertava os punhos com força e forçava um sorriso, eles não percebiam que estavam a insultando ao dizer aquelas coisas? Olhou de canto para Hideo que ria e continuava a concordar com os amigos, irritando-a ainda mais. Ele tinha acabado de sair do colégio, não era possível que houvesse mudado tanto em tão pouco tempo. Responsável? Maduro? Ela queria falar algumas poucas e boas sobre isso. Por que ele estava sendo tão…

— Idiota! – murmurou, virando o rosto para o lado e desistindo da conversa. Preferia focar-se na música e assim o fez.

Mas logo nem isso era o suficiente para lhe deixar quieta e quando o loiro colocou o braço ao redor dos seus ombros, como se estivesse tudo bem, afastou-se bruscamente.

— Algum problema, Saori? – ele indagou despreocupado e ela sentiu o rosto esquentar de raiva, mas não respondeu o que queria, pois viu que era observada pelos outros.

— Vou comprar algo para beber – informou já se afastando e impedindo Hideo de falar algo mais.

Começou a caminhar a esmo, irritada demais para ver por onde estava indo. Passava pelas pessoas como um furacão ensandecido. Hideo era um idiota e ela sabia disso, mas às vezes, ele passava dos limites. Ele não percebia que ao exaltar a universidade, acabava por diminui-la? Ele não notava que ao falar somente sobre medicina, acabava por deixá-la de lado na conversa por não saber nada do assunto? Ele não via o quão deslocada estava? E o pior era ela não parar de pensar que não o conhecia direito. Por que ele nunca lhe contava sobre essas coisas que aconteciam com ele nas aulas de medicina? Ou das pessoas que ele conhecia? Será que realmente a achava uma criança que não tinha capacidade de entender? E ela ainda havia sido boba ao ter se esforçado para tentar conversar com os amigos dele. Sentiu um nó se formar na garganta, mas forçou-se a engolir, não iria chorar, principalmente ali!

Continuou a andar a passos rápidos quando sentiu alguém segurar seu braço, pensou se tratar de Hideo e deu um puxão forte para livrar-se do agarre, mas não conseguiu. Irritada e sem conseguir mais se segurar, virou-se para brigar com ele, mas percebeu que não era Hideo quem lhe segurava. Arregalou os olhos com a visão que pensara nunca mais ver na vida.

— S-Sasori?