Brooke Dunst escrita por Poliliana


Capítulo 6
Vivendo uma mentira




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Durante seis meses nada aconteceu, eu não perguntava nada, não fazia nada, não falava nada. Ficava sempre pensando na vida que eu perdi e ficava querendo saber quando iria poder sair dali, mas ainda era perigoso, segundo Anita, ela dizia que pelo meu próprio bem era melhor eu ficar longe dos humanos.

Eu senti tanta falta da minha família, sentia falta da minha mãe, do meu pai e de James. Eu ainda sonhava com todo o meu futuro, o que eu mais queria era poder envelhecer, fazer uma faculdade, me formar, casar, comprar minha própria casa, trabalhar, ter filhos. Parecem sonhos bobos, mas acho que só porque eu nunca poderia ter, eu o que eu mais queria.

Como eu queria voltar atrás e nunca ter ficado com Aaron, minha vida seria tão diferente, talvez eu tivesse me apaixonado por outro, talvez alguém do colégio, ou até na faculdade. Minha faculdade de jornalismo, o jornal do papai que eu iria herdar. A dança também havia ficado pra trás, o convite de Polina, eu poderia virar uma grande dançarina.

Quantas oportunidades ele havia me tirado, porque eu ainda estava ali com ele, deitada na mesma cama, fingindo que estava tudo bem, fingindo que o amava.

Ele havia saído da casa e pelo jeito ele iria passar o final de semana fora, eu não me importava, por mim ele poderia nem voltar mais. Era tão bom quando ele não estava lá, ficávamos apenas eu e Anita, e ela ficava me contando tudo que já havia acontecido com ela.

- É cada uma Anita, você não existe. – eu disse enquanto ria da loucura dela.

- Esse é o bom de não morrer, você pode fazer qualquer loucura, em qualquer lugar, e o melhor, sem medo.

- Ai, ai. Anita, me veio uma coisa a cabeça agora que eu nunca tinha pensado.

- Desabafa garota.

- Onde nós estamos?

- Inglaterra, meu anjo, norte da Inglaterra.

- Uau! Quem diria que um dia eu moraria na Inglaterra. Não foi do jeito que eu queria, mas estou aqui.

- Ai garota, você tem que se conformar, não tem mais volta.

- Anita, se eu te contar uma coisa, você promete que nunca vai contar para o Aaron?

- Se isso não for matar ninguém, prometo.

- Não vai matar ninguém. – eu disse rindo, mas logo fiquei séria. – Eu não vejo a hora de conseguir me virar sozinha, eu queria sair logo daqui. Eu te adoro Anita, muito mesmo, mas não suporto mais viver com Aaron.

- Eu sei, eu já percebi.

- Está tão na cara assim?

- Na verdade eu acho que só Aaron não vê, ele esta preocupado em te impressionar ou tentando te ver feliz. Mas logo você vai sair daqui, logo você vai achar outra pessoa que te ajude a ser feliz de verdade.

- Me sinto tão culpada, ele sempre fez tudo por mim.

- A culpa não é sua se você não o ama, sem contar que você é muito generosa em fingir por tanto tempo.

- Queria tanto que tivesse sido diferente, se ele tivesse me preparado antes nós poderíamos estar mais felizes agora.

- Talvez...

- Como eu queria voltar a dançar, me relaxava.

- E por que não volta? Ser vampira não te impede de fazer coisas como essas, dançar está na lista do que você pode fazer. – ela olhou pra mim sorrindo.

- É... acho que ando me importando tanto com o que eu perdi que me esqueci que tem coisas que eu ainda posso fazer. – olhei em volta da sala, procurando o que fazer. – Odeio esse tédio, quando eu era humana eu sempre tinha meus dias cheios.

- É insuportável mesmo, mas olha só, eu tenho uma idéia. Eu acho que já vou começar a te treinar para conviver com os humanos, assim podemos ir para a faculdade juntas. – ela disse saltitando.

- Faculdade? Podemos ir pra faculdade?

- Lógico, que pergunta. – ela revirou os olhos como se minha pergunta tivesse sido absolutamente absurda. – Então você topa?

- Claro. Uau. Faculdade é tudo que eu mais quero. – eu estava quase pulando de alegria.

- Ok então. – ela disse rindo. – Vamos começar no final de semana que vem, pois Aaron não pode saber, acho que ele não vai gostar que eu tire a gatinha dele da gaiola.

- Gatinha é? – eu disse rindo. – Mas por que não hoje, ainda é sábado?

- É, eu sei. Mas ele quer fazer uma surpresa pra você hoje.

- Que surpresa? – ai meu Deus, agora eu estava com medo.

- Daqui a pouco ele chega e você vai ver.

Ficamos sentadas ali somente mais alguns minutos, logo eu senti o cheiro de Aaron aparecer fraco em minhas narinas, ele estava chegando. Eu tinha era medo dessa tal surpresa, ele que não tentasse fazer aquilo de novo, não sei se iria perdoar dessa vez.

Era incrível como eu não tinha nenhum desejo sobre ele, até o beijo dele estava sem graça. Mas eu só precisava agüentar mais um pouco, afinal eu logo iria pra faculdade e poderia me ocupar mais em como evitar ele porque já seria muito mais normal, com as coisas que eu teria pra fazer. Aquele pensamento me fez respirar aliviada.

Logo eu vi a porta da entrada se abrir e Aaron entrar com um enorme buque de rosar vermelhas e dois pacotes na mão. Ninguém merece! O que será que ele estava tramando agora?

Anita já estava levantando pra sair, mas Aaron a interrompeu.

- Não, Anita! Pode ficar você vai ter que ajudar a Broo em umas coisas.

- Já vai me dar trabalho. – ela disse, revirando os olhos.

- Cala a boca! – ele disse meio enfurecido, depois virou-se pra mim com um olhar meigo. – Feliz aniversário, meu amor.

- Aniversario? Que dia é hoje?

- 20 de junho. – ele estava radiante.

- Uai! Mas meu aniversário é só em Agosto.

- Hoje nós fazemos onze meses de namoro.

- Ah, aniversário de namoro. – tudo estava claro agora.

- Eu achei que você não fosse lembrar, com esse turbilhão de coisas acontecendo. Mas eu arrumei tudo, meu amor, não precisa se preocupar.

Ele veio até mim e me deu a mão para que eu me levantasse do sofá, em seguida me entregou as flores e os pacotes. Eram dois pacotes delicadamente embalados em um papel meio reluzente dourados, muito atraentes por sinal, um era grande e quadrado e o outro parecia uma carta, pelo formato, mas não era.

- O que acha? – ele parecia se divertir demais.

- As flores são lindas. Obrigada! – dei um sorriso amarelo.

- Que bom! Olha o pacote menor você pode me dar que mais tarde eu te mostro o que é. - ele pegou o pacote do qual falava da minha mão. – Mas esse maior você pode abrir lá em cima e a Anita vai te ajudar a vestir.

- Vou? – ela disse meio atordoada e ele logo olhou pra ela com cara de raiva. – Tudo bem eu vou. - ela resmungou.

Nós subimos juntas para o quarto dela, eu nunca havia entrado lá, era muito bonito e claro, diferente do meu. Era tudo em tons clarinhos, tons que acalmavam, parecia até um quarto de uma menina de uns 2 anos, a não ser pelos muitos livros e um violão apoiado no canto da parede.

- Nossa, - eu disse enquanto jogava o pacote sobre a cama. – seu quarto é lindo, nem parece de uma vampira, é tão clarinho e meigo.

- É, me acalma. – ela olhou pro pacote. – Não gostou né?

- Preferia que ele tivesse esquecido, ou melhor, que ele não tivesse me lembrado. – suspirei – Estou até com medo de abrir isso ai.

- Não deve ser nada demais. – ela foi até o pacote e abriu mostrando o que havia lá. – Uau!

Ela pegou o pano que havia dentro da caixa, era um vestido magnífico. Era preto, de amarrar no pescoço fazendo um decote V na frente, ele era longo, mas tinha uma cauda maior. Dava pra ver que tinha duas camadas, uma de filó, que ficava por cima, e uma de seda, que era o forro, mas dava pra ver devido a ultima camada ser um pouco menor que ele. Em cima ele tinha uma faixa de seda que marcava a cintura e era onde o decote acabava.

Anita segurou o vestido em uma das mãos e depois pegou uma sandália rasteira que também estava na caixa, era uma sandália toda coberta de ceda que passava uma tira com um laço sobre os dedos e tinha umas fitas de cetim, para amarrar no tornozelo. Depois ela começou a tirar uma série de maquiagens novas de dentro do pacote e por ultimo ela tirou uma caixa, que com certeza era uma jóia.

- É! Ele realmente queria que você ficasse alegre. – ela disse sorrindo, depois me entregou a caixa de jóia.

- Como se adiantasse. – eu comentei pegando a caixa.

Eu abri, morrendo de curiosidade, era um colar de ouro branco, com um pingente de sapatilhas de balé, feito com rubi.  E duas presilhas com pequenas flores de rubi.

- Meu Deus. – eu olhei pra ela espantada. – É perfeito!

Anita me arrastou até o banheiro e começou a me maquiar, ela devia estar achando um Maximo me fazer de boneca, mas eu nem estava ligando, o que me dava medo era o que vinha depois. Ela fez uma maquiagem super escura no olho e o resto muito claro, apenas um blush rosa claro e um brilho nos lábios

Depois ela fez uns cachos no meu cabelo - o que nem apareceu direito porque meu cabelo estava tão curtinho - e prendeu minha franja com as presilhas.

- Tá tão exagerado no olho. – eu disse me olhando no espelho.

- Eu sei. – ela respondeu me ignorando e me entregou o vestido. – se vista logo, quero ver como vai ficar.

- Ok!

Eu me vesti muito rápido e logo fiquei espantada como aquele vestido me caia bem. Na minha pele pálida o preto ficava absolutamente perfeito e aqueles toques de seda deixavam tudo ainda mais lindo.

Anita quase caiu pra trás quando me viu vestida. Ela ficou radiante, parecia que estava vendo uma miragem.

 - Uau! Eu sou ótima. – ela disse, me admirando.

- Ficou tão bom assim? – eu disse rindo.

- Claro, fui eu quem fez.

- Se você diz.

Eu realmente não podia negar que estava bonito, estava deslumbrante. Eu até parecia uma mulher, em pensar que eu só tinha 18 anos, pra sempre, mas depois que eu tinha virado vampira eu parecia ter uns 24. Que corpo era aquele? Eu sempre tinha sido tão magrela, agora eu parecia uma modelo da Victoria Secret’s, era até legal se não tivesse tantos outros lados negativos.

As mãos de Anita passaram em volta do meu pescoço, colocando o colar em mim e depois ela se virou e foi indo para a porta. Eu a segurei pelo braço rapidamente.

- Onde você vai? – eu disse desesperada.

- Vou sair, ou você acha que eu vou ficar aqui com os pombinhos?

- Mas... Tudo bem, mas fica por perto, caso eu precise de ajuda.

- Você é bem mais forte que ele, consegue se virar sozinha.

E com essa frase de efeito ela saiu do quarto.

Mas que droga, eu não queria enfrentar isso de novo, eram só onze meses, porque ele não podia me dar apenas uma caixa de chocolate? Nem que fosse recheada com sangue. Aquele pensamento me fez fazer uma careta.

Mas afinal, o que é um pingo pra quem já ta molhada? Eu não iria transar com ele, isso era fato. Eu tinha condições de me defender, isso também era certo, então era melhor andar logo e terminar logo com aquela palhaçada de comemoração.

Com um longo suspiro eu abri a porta do quarto de Anita e fui seguindo o cheiro de Aaron, eu fui parar no meu quarto, como eu temia e o pior e que ele estava todo enfeitado com velas e pétalas de rosas vermelhas. Ele estava na sacada. Era uma sacada grande, onde tinha uma mesa redonda, que agora estava toda cheia de velas, assim como as do quarto. A vista era linda, a lua estava cheia e o céu todo estrelado, e a imensidão da floresta fazia tudo ficar ainda mais bonito.

Aaron estava olhando para a lua, mas assim que eu chegue, ele se virou e abriu um enorme sorriso. Ele estava em um lindo paletó preto, com a camisa de dentro vinho e estava um pouco desabotoada, mostrando um pouco seu peito branco e definido.

- Olá! – ele disse.

- Perfeita. – eu disse, olhando para lua.

- Totalmente. - ele disse, olhando para mim.

- Eu estou falando da lua. – estava confusa.

- Mas eu estava falando de você.

Ele se aproximou e passou um braço em volta da minha cintura, enquanto o outro segurou o meu pescoço. Ele começou a me beijar. Eu correspondi, meio preguiçosa e sem vontade. Logo ele desgrudou os lábios dos meus, e eu agradeci por aquilo, mas ele continuou muito próximo de mim.

- Eu planejei tudo, para que fosse perfeito. – ele disse sorrindo. – Na verdade, eu iria esperar para fazer tudo isso só quando a gente fizesse um ano, mas eu não agüentei, eu queria te dar tudo isso logo, eu queria ter ver feliz, já que você anda tão triste.

- Só faltava um mês...

- Shh – ele falou encostando os lábios nos meus, para me calar. – Não quero brigar, eu entendo que tem sido difícil pra você, mas a gente vai superar tudo isso, você vai ver.

“Se você me deixar, agora eu vou explicar os presentes. Tudo bem?”

- Ok! – eu disse rabugenta.

- Bem, vou começar pelo vestido e a sandália. Esse é um modelo muito famoso por esses tempos, é um modelo da sua mãe. Ele anda fazendo muito sucesso no mundo todo, eu nem precisei sair de Londres para encontrá-lo. A sandália também é da coleção.

“O colar e as presilhas foram presentes do seu pai, quer dizer, eram pra ser presentes do seu pai. Ele iria lhe dar essas jóias na sua formatura, ele comprou com muito carinho, mas depois que você “morreu” ele mandou enterrar com você, mas eu peguei antes de enterrá-lo, para te dar.

“E esse - ele pegou a outro pacote, que parecia uma carta e abriu. – era um presente da sua mãe, para nós dois. São duas passagens para Amsterdam, com tudo pago e com a estadia em uma casa barco.”

Eu estava pra explodir, como ele fora capaz de me dar aquilo tudo. Honestamente, o que ele estava querendo? Dar-me tudo o que ele me tirou? Pois aquilo não era nem a metade do que ele deveria me devolver, aquilo eram só coisas, coisas ridículas. Eu queria minha vida de volta, nem que fosse sem nada.

- Obrigada! – eu disse friamente.

- Obrigada? – ele disse confuso. – Só isso?

- O que mais você queria?

- Não sei. Gritos, pulos e sorrisos. Eu fiz de tudo pra trazer de volta para você um pouco da sua vida.

- Eu não quero um pouco da minha vida, eu quero toda a minha vida. Você me tirou tudo que eu sempre lutei pra ter, meus amigos, a faculdade, a dança e o afeto da minha família. Diz-me uma coisa Aaron: você vai poder me devolver isso tudo um dia? – eu estava soltando tudo aos poucos.

- E tudo que eu te dou? Não conta? – ele estava ficando nervoso. – O amor, a dedicação, os presentes, uma nova vida, uma casa, uma amiga.

- Nova vida? Eu não pedi uma nova vida, eu nunca reclamei da minha vida antiga.

- Mas você disse quando era humana que faria qualquer coisa por mim, que você morreria por mim.

- Todos os namorados dizem isso um pro outro, mas fazer já é outra coisa.

- Mas pra mim foi verdade, eu acreditei em você.

- Mas isso nunca te deu o direito de acabar com minha vida. Se eu soubesse que você iria fazer isso comigo, eu nem iria querer que você voltasse daquele seu sumiço.

Ele cambaleou pra traz como se tivesse sido atingido por um murro. O rosto dele formou uma sombra e ele pulou da sacada e saiu correndo para a floresta, sumindo na escuridão.

- Você exagerou desta vez. – eu ouvi a voz da Anita vinda de debaixo da sacada.

Aproximei-me do parapeito e a vi me olhando lá debaixo.

- Eu não pude evitar. – eu disse, olhando pra ela. – sobe aqui.

Em minutos ela estava do meu lado, me olhando.

- Não me olhe assim, eu não agüento mais, você sabe disso.

- Eu sei Brooke, mas ele também se arrepende de ter te transformado, ele também está sofrendo as conseqüências.

- Você está dizendo que eu tenho que continuar fingindo? Mas eu não suporto mais isso.

- Pelo menos mais um pouco.

- É... – eu disse olhando para a floresta. – eu vou atrás dele.

Assim que eu terminei a frase eu pulei da sacada e segui para dentro da floresta, seguindo o cheiro dele. Essa maldita pena que eu sentia das pessoas nunca me deixava liberta delas, eu era inteiramente dependente de quem eu tinha dó. Talvez eu só tivesse uma saída, viver ao lado de Aaron pro resto da eternidade, até que ele não me quisesse mais.

Eu devo ter corrido uns 5 quilômetros até chegar onde ele estava, mas eu conhecia bem onde era. Era o penhasco do qual eu quase havia me jogado. Ele estava ali, bem na ponta, como se pudesse cair a qualquer momento.

- Desculpa. – eu disse, me aproximando devagar.

- Não é culpa sua. – ele já havia percebido minha presença, antes mesmo que eu falasse. – Eu me precipitei, eu sei, e eu me arrependo disso. Mas todo o amor que eu sinto por você não me deixava outra saída. E ainda me avisaram.

- Esquece isso, agora somos apenas nós. Esquece tudo que eu disse, eu fui tola. Nós vamos ficar juntos agora, eternamente. – eu abracei sua cintura por trás e encostei meu rosto nas suas costas.

- Prefiro morrer, a não te ter aqui comigo. – ele segurou minha mão ali no seu peito e ficamos ali, sozinhos, à beira de um penhasco.


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