Brooke Dunst escrita por Poliliana


Capítulo 5
Anormal




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Não sabia que lugar era aquele, nem muito menos como voltar para a casa onde Aaron estava. Mas eu não fazia questão de voltar, aquilo era totalmente e absolutamente ridículo. Vampiros não existiam.

Eu só queria acordar, ainda não tinha me convencido que aquilo era real. Não podia ser.

A agonia estava tomando conta de mim, mas dessa vez era porque eu não conseguia acordar daquele pesadelo, onde nem chorar eu conseguia, mesmo querendo que tantas lágrimas saíssem.

“Morta”. Foi isso que ele disse, não foi? Ele disse que eu estava morta, uma vampira, uma morta viva. Eu não tinha sangue, não tinha cor, não tinha calor.  Eu era uma pedra de mármore, apesar de linda e branca, uma coisa sem vida.

Eu gritei o mais alto que pude, e foi muito alto, mas nem assim aquela angustia saiu do meu peito. Devo ter ficado naquele lugar muito tempo, não sentia sono, nem vontade de ir ao banheiro, só sede e eu sabia bem do que era.

Eu não acordei, nem naquela hora, nem mais tarde, nem em uma semana, nem no mês que passei ali. Aquela historia se tornava cada vez mais verdadeira pra mim, menos ridícula e mais verdadeira. Eu me sentia mesmo uma morta viva, um monstro.

Ninguém me procurou nem Aaron, nem a moça, nem meus pais, nem meus amigos. Só a solidão me fazia companhia.

Eu andei muito pela floresta que rodeava aquela casa, parei sobre um penhasco e fiquei olhando pro mar, minha vontade era pular dali, naquele exato momento. E pra falar a verdade eu decidi fazer isso, mas quando eu fui fazer isso eu escutei uma voz atrás de mim.

- Não vai adiantar. – disse a voz dele, de Aaron.

Eu me virei pra ele. Apesar de tanto tempo longe dele, eu não sentia sua falta.

- Por que você fez isso comigo Aaron? – eu disse com uma voz massacrada.

- Porque eu te queria pra sempre, meu amor, você não sabe o quanto é doloroso perder alguém que você ama. Você não sabe o quanto é doloroso viver uma eternidade, sozinho.

- Agora eu sei. Você está me fazendo saber. Aaron, você é tão egoísta que está me fazendo sofrer tudo o que você sofreu, só pra não ficar sozinho. Eu vou ver todos morrerem, meus amigos, minha família e não vou poder fazer nada, só sofrer.

- Eu vou estar com você. E nós não precisamos ver tudo isso. Podemos ficar aqui na nossa eternidade particular.

- Cala boca! – eu estava gritando agora. – Você não tem sentimentos não é? Você não tem noção do mal que me fez, você destruiu minha vida, me transformou em um monstro. Agora eu vou ter que matar pessoas para sobreviver, eu não vou conseguir, eu prefiro morrer.

- De fome você não morre.

- Então me fala como eu morro, como eu abandono essa merda de vida, se é que isso é vida. Eu prefiro morrer, ao ficar mais um minuto com você.

- Você depende de mim, não pode ficar longe de mim.

- Quem você pensa que é?

- Eu sou quem te transformou, só eu posso te guiar. Esse veneno que está dentro de você é meu, faz parte de mim.

Não podia ser, além de acabar com minha vida, agora eu teria que ficar com ele para o resto da eternidade?Que droga de sonho era esse?

Ele se aproximou de mim e me abraçou. Mas eu o empurrei com muita força, a força que eu nem sabia que eu tinha. Ele voou alguns metros e caiu deitado no chão.

- Oh droga. – eu disse, correndo até ele. – Você está bem?

Ele me olhou, com um rosto surrado e acabado. Eu vi a dor no seu olhar.

- Desculpe-me, meu amor, eu só queria que você fosse feliz comigo. Eu só não queria te perder.

Aquilo me doeu até nos fios de cabelo. Eu o abracei, desesperada, como uma mãe acolhendo um filho machucado. A partir daquele momento eu soube que nunca iria conseguir me separar dele, eu sabia que eu nunca iria querer vê-lo sofrer.

Ele me abraçou também e me beijou do jeito mais carinhoso que ele poderia ter me beijado, do jeito mais maravilhoso que qualquer outro não poderia chegar nem perto, do jeito que só ele sabia beijar.

Mas eu sabia que não ia ser assim pra sempre, eu sabia que não iria perdoá-lo, não ali, não naquele momento.

Ele me pegou nos braços e me levou até a casa, sem se quer tirar os lábios dos meus. Ele me deixou na porta do quarto e disse que iria sair, mas logo voltava.

Como eu poderia viver assim? Era como se eu tivesse nascido outra vez, eu ainda precisava prender a andar, a falar, a comer e a viver como eles viviam. E eu não fazia idéia de nada, a três meses eu não tinha nem um menor pensamento sobre vampiros, eu nem se quer gostava de coisas que falasse sobre isso.

Fui tomar banho, apesar de não me sentir suja. Senti a água quente cair pelas minhas costas e meu cabelo, estava tudo tão confuso na minha cabeça, foi tudo tão rápido que eu nem sabia o que fazer.

Logo eu me vesti com uma camisola que havia no banheiro e fui pra cama. Quem sabe eu sentiria sono agora. Deitei-me e me embrulhei com a coberta que lá estava.

- O que você está fazendo? – Eu ouvi a voz feminina perguntar na porta.

- O que? – eu me virei pra ela, confusa.

- o que você está fazendo ai na cama? – ela disse também confusa.

- Eu estou tentando dormir.

A risada escandalosa dela ecoou pela casa toda.

- Você ta brincando não é? Você é vampira, vampiros não dormem.

- Ah! Você ta falando sério? – me sentei, para ver melhor a expressão dela.

- Lógico! Você não sabe de nada mesmo, não é?

- Bem, não me deram nenhum manual ainda. Você tem um ai? – eu disse, querendo ser simpática.

-Affe! – ela resmungou. – Vou ter que te ensinar tudo é?

- Não precisa, o Aaron deve me ajudar.

- Humpf! Até parece. – ela revirou os lindos olhos cinza. - Deixa que eu te ajudo.

Ela se sentou do meu lado e começou a tagarelar.

- Primeiro - Coisas que não precisamos e coisas que não acontecem à nós: nós não comemos comida normal, nós não dormimos, não precisamos respirar, não ficamos doentes, não precisamos ir ao banheiro, nós não sangramos não nós machucamos, não choramos, não temos filhos. Ou seja, somos perfeitos.

- Uau. – eu deixei sair sem querer. Ela riu quase que imediatamente.

- Só precisamos de sangue, é instinto, se nós não temos, viramos monstros predadores.

- Qualquer sangue?

- É. Mas o sangue humano mata melhor nossa sede. Não se preocupe, você não vai precisar caçar tão cedo, você ainda tem um pouco de sangue em você, seu organismo cuida de te sustentar um tempo.

- Quanto tempo?

- Sei lá! Acho que 1 ano no máximo.

-Hum. – eu murmurei. – E nós não podemos ficar perto de humanos? Sem matá-los.

- Podemos sim! Mas você ainda não tem muito controle, temos que te adaptar primeiro. Você sente falta da sua família, não é?

- Muita.

-Relaxa! Logo você vai vê-los.

- Espero que sim. Você vê os seus sempre?

- Não, eles morreram há muito tempo.

- Nossa! – eu disse triste por ela. – quanto tempo?

- Acho que há uns 100 anos.

- Cem anos? – eu disse, quase gritando. – quantos anos você tem?

Ela riu.

- Bem, como vampira tenho 150. Mas eu fui transformada com 25 anos.

- Meu Deus! Você nunca pensou em morrer? - era até estranho falar aquilo.

- Sim, muitas vezes eu quis, principalmente quando meus pais morreram, mas eu acho que minha vida no mundo vampiro ainda tem muita coisa pra acontecer. Você ainda é muito nova, não entende o que se passa aqui, nós criamos vínculos muito fortes.

- Foi Aaron que te transformou também?

- Sim, ele era meu melhor amigo na vida como humana. Andávamos juntos desde crianças.

- Nossa! Quantos anos ele tem?

- 153 como vampiro e 22 como humano. Ele sofreu bem mais que eu, no inicio ele não tinha com quem contar, ele era sozinho.

- Mas e os outros vampiros?

- Não é tão simples assim, é preciso muito tempo pra conquistar a confiança de um vampiro.

- Os vampiros são todos iguais? Todos grossos e gélidos?

- Depende do ponto de vista. Se eu te perguntasse se os humanos são todos iguais, o que você diria?

- Que não, existem muitos tipos de humanos, muitos são desprezíveis, outros são como anjos, outros tem as duas personalidades, dependendo da situação.

- Exatamente. Nós também somos assim, existem alguns que matam por prazer, às vezes nem precisam se alimentar naquele momento, mas fazem questão de acabar com a vida das pessoas. Há aqueles que lamentam por terem virado vampiros o tempo todo, nunca conseguem viver de verdade, estão sempre se martirizando. Temos os que são as duas personalidades, dependendo da situação. E por fim, temos os anjos, muitos deles cuidam dos humanos e os protegem dos vampiros de sangue frio.

- Uau! – Eu balancei a cabeça, admirada – Sabe, eu ainda não consegui me acostumar com a idéia de ser vampira, prece tão surreal. Pra falar verdade eu ainda espero acordar, como se fosse um sonho.

- É, a gente se sente assim até morder o primeiro humano.

As palavras dela me pegaram como um vento frio, senti minha pele arrepiar. Eu não queria pensar nesse ponto, não conseguia acreditar que eu teria que matar pessoas para me alimentar e o pior é que eu iria gostar disso. Isso me dava tanto medo, eu não queria que esse momento chegasse nunca, eu não queria matar ninguém.

Senti o cheiro de Aaron, fraco, entrar nas minhas narinas.

- Acho que Aaron está chegando. – eu disse.

- Está sim. Vejo que você está aprendendo a lidar com seus novos sentidos apurados. – ela sorriu pra mim.

- É o jeito – eu nem queria ter aquilo, mas pelo menos uma vantagem nisso tudo. – Como eu queria poder dormir.

Ouvi a porta abrir no andar de baixo.

- Bem, acho melhor eu ir se não ele chega aqui me colocando pra correr. – ela se levantou e foi saindo.Quando chegou na porta ela se virou pra mim e disse. – Qual o seu nome mesmo? Eu me esqueci.

- Brooke. – eu ri com a pergunta dela – Eu acho que nem sei o seu.

- Anita, Anita Gonçalves. – ela sorriu, e continuou. – Você tem sorte, tem muita gente querendo te proteger.

Não deu tempo de perguntar do que exatamente ela estava falando, pois ela saiu e logo em seguida Aaron entrou. Ele veio até mim e se sentou ao meu lado.

- Anita estava te atormentando? – ele perguntou rindo.

- Não, ela é realmente um amor, me ajudou a entender muita coisa.

- O que ela disse? – percebi o nervosismo na voz dele.

- Nada. – disse desconfiada. – Por quê? Você ta me escondendo alguma coisa?

- Lógico que não, meu amor. – ele esticou a mão para acariciar meu rosto.

- Onde você estava? – eu estava meio desconfortável com ele me acariciando.

- Eu estava resolvendo uns problemas.

- Que tipo de...

- Problemas meus, meu amor. – ele já sabia o que eu iria perguntar, então nem me esperou terminar. – Há coisas que você não precisa se preocupar.

Ele se aproximou e me beijou delicadamente. O beijo dele não fazia mais aquele efeito de antes, era como se tivesse perdido graça. Na verdade eu acho que muita coisa havia se perdido desde que ele havia me transformado, o meu sentimento por ele era mais de pena do que de amor.

Eu acho que nunca o perdoaria por ter me tirado tudo que eu tinha, ele foi tão egoísta, mas ele me amava, não era? Era tudo que eu precisava, eu só precisava do amor dele, já que o resto já estava perdido.

Ele continuou me beijando com mais vontade, enquanto eu fingia acompanhar, as mãos dele desceram pelas minhas costas e continuaram descendo, depois passou pras minhas coxas e ele me puxou para o colo dele, tão rápido que eu fiquei sem o que fazer por uns minutos. Mas o que ele estava fazendo? Pergunta mais idiota, eu sabia o que ele tava fazendo e não estava gostando nada daquilo.

- Ei! – eu disse, empurrando ele e me levantando da cama. – O que você acha que está fazendo?

- Eu...

- Olha aqui Aaron, - eu disse interrompendo ele. – Eu realmente espero que você não esteja tentado fazer o que eu estou pensando, mas se você estiver, você faz o seguinte? Pode tratar de esquecer.

Eu sai do quarto e fui descendo as escadas e ouvi ele vindo atrás de mim.

- Mas isso é normal, a gente  mora junto, a gente se ama.

- Você escolheu isso, eu não tive escolha, esqueceu?

- Eu também escolhi que você me amasse? Einh? Diz-me? E o tempo que a gente ficou junto, as coisas que você me disse, você jurou que ficaria comigo pra toda eternidade.

-  Isso é ridículo, - estávamos gritando agora – Eu nunca adivinharia que isso poderia acontecer e se eu tivesse essa escolha eu não trocaria toda minha vida por isso aqui.

- Você disse que trocaria por mim e não se esqueça que se eu não tivesse te transformado aquela noite nós teríamos...

- Cala a boca, eu tenho nojo de você, você me transformou em um monstro.

Ele subiu as escadas e sumiu no corredor dos quartos.

- Não era melhor você apenas dizer que não está pronta pra fazer amor com ele? – a voz de Anita ecoou atrás de mim.

- Como se fosse tão simples.

- E não é?

- Ele poderia ter ao menos perguntado, o que ele acha que eu sou? Depois de tudo que ele me fez ele quer que eu aceite isso assim, como se fosse comes biscoitos com leite.

- Eca! – ela disse fazendo uma careta. – Tem muita coisa em jogo, Brook, ele te ama demais para correr o riso de ouvir um não.

- Ótimo, se ele prefere receber seu “não” assim, é assim que ele vai o ter.

- Não reaja assim, vá lá e converse direito com ele, eu o conheço e tenho certeza que ele não fez por mal.

- Anita.

- Vai Brooke, escuta o que eu to falando, é melhor vocês conversarem direito.

- Humpf – eu resmunguei. – Ok!

Andei sem vontade até o quarto onde Aaron estava, quando cheguei à porta eu o vi sentado na cama em estado deplorável. Ele estava com os cotovelos apoiados na perna e escondia o rosto nas mãos. A culpa me invadiu imediatamente. Fui até ele e me sentei ou seu lado, passando os braços à sua volta.

- Desculpa pelo que eu disse, por Deus Aaron, não quero te ver assim. Por favor, - eu levantei seu rosto, para que ele me olhasse.

Seu rosto estava derrotado.

- Oh não, - eu o abracei forte. – não, não, não. Desculpe-me Aaron, mas você tem que ir com calma, é muita coisa de uma vez, eu acabei de entender o que esta acontecendo. Espere que eu me acostume com isso tudo.

- Você me ama? – eu ouvi sua voz tremer quando ele perguntou.

- Amo sim Aaron, eu te amo. – mentirosa, era isso que eu era, a pior das mentirosas.


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