Contando estrelas escrita por Andreas


Capítulo 2
O décimo sexto




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Dezesseis anos se passaram, e novos dias estavam implorando para serem vividos, antes disso, os dias choravam para acompanhar a Sra. Watson e suas grandes perdas, já tinham sido duas ou mais tentativas, seu marido procurava uma solução, mas ela estava prestes a se entregar por inteiro, não havia um dia se quer que Melanie não chorava. Recém casados, vida nova e algumas vidas mortas, se assim posso dizer com muita dor no coração, ela rezava todas as noites para que os deuses a presenteasse com a virtude que um dia a foi tirada. E em uma noite onde não se tinha mais esperanças, algo maravilhoso como raio de luz brilhou na porta da casa do Sr. e da Sra. Watson. Era uma criança.

P.O.V Anne Hope

Hoje, é meu décimo sexto aniversário falso, o chamo assim porque ele não é real, afinal ninguém sabe exatamente o dia em que nasci, talvez os deuses saibam, mas nenhum deles vieram fazer uma visita para me contar, então presumo que seja o falso, e que as estrelas devem brilhar mais forte quando for o verdadeiro, por isso antes de dormir eu as observo com maior cautela, principalmente entre o dia três e o dia dezessete, já notaram como esses números parecem ficar coloridos a partir do momento em que os imaginamos ? três talvez seja uma cor verde, talvez... e o dezessete com toda certeza é uma cor azulada, meio claro, meio escuro, azulada.

– Bom dia luz do dia. – Independente da situação, mamãe insiste em me chamar de luz, luz do dia, das estrelas, luz do verão, da meia noite.

– Bom dia! – Exclamei com um sorriso no rosto, senti cheiro de bolo e café fresco, ela havia arrumado a mesa da sala de jantar e no centro um vaso com dezessete margaridas. Eram propositais, ela o fazia especialmente no dia do meu aniversario, com um numero a mais de anos que estaria completando, porque como era de costume, eu roubava uma para colocar no cabelo antes de sair de casa. – Volto já.

– Não se atrase, logo seu pai estará de volta.

Papai trabalhava na capital, todos os dias eu me perguntava por que é que não poderíamos nos mudar do vilarejo e ali estava a resposta. Havia James, Joseph e Leslie, os três melhores amigos que alguém poderia ter, tinha a Sra. Wood que era tão doce quanto as tortas que ela fazia e tinha também a paz, papai sabia como tudo aquilo era importante para nós, ele jamais deixaria de agradar mamãe, o amor deles é uma coisa tão maravilhosa, espero um dia encontrar algum assim. Mas antes disso, eu estarei pronta para batalhar contra dragões cuspidores de fogo azul e salvar donzelas em perigo, mesmo que esse seja o trabalho de jovens semi deuses robustos como Vincent, filho do Deus da Igualdade, que por sorte morava no mesmo vilarejo que eu e trabalhava no ferreiro perto de casa, éramos amigos, afinal era muito grande a minha admiração pelas espadas que ele mesmo fabricava.

– Bom dia Vincent. – Eu o cumprimentei desviando das fagulhas que espirravam para fora do forno.

– Bom dia pequena Hope. O que te trás aqui neste belo dia insignificante ? - Ele queria me provocar, era obvio que Vincent sabia que dia era hoje.

– Não sei, talvez reclamar desses objetos roubadores de almas inocentes. Acho que deveriam exilar o senhor! – Provoquei de volta.

Virei as costas e estava andando em direção a porta quando ele puxou meus cabelos, me voltei furiosa e vi ele segurando uma bainha que jamais havia visto antes. Ele retirou de dentro uma linda espada e admirava sua própria criação, segurando delicadamente a extremidade e o punho.

– Metal perfeitamente polido e tenaz, lamina bem afiada, vejam só, tem uma pedra da noite no punho, forjada sob medida e resistente a combate. Interessante. – Ele me encarou. Tentei alcança-lá mas ele rapidamente desviou espada. – Como eu disse, foi feito sob medida para uma garotinha qualquer ai, não para donzelas.– Ele apontou para meu vestido.

– Deixa de bobagem Vincent. – Embora eu gostasse de usar vestido, não era natural ele me ver vestida com um, todo fim de tarde eu ia para o ferreiro e ele me ensinava alguns truques e como manejar uma espada. Ele riu colocando a mão na barriga.

– Deixo sim Srta. Faça bom uso. – Ele me entregou a espada, ela reluziu ao meu toque. A pedra da noite soltou algumas faíscas. – Eu disse que eram sob medida.

Coloquei a espada de volta na bainha e envolvi saltei para frente, meus braços envolveram seu pescoço e para poder abraça-lo tive que ficar na ponta dos pés, ele riu e me abraçou de volta me levantando do chão, Vincent passou a mão nos meus cabelos bagunçando-os, peguei a espada e corri para a casa de James e Joseph, ouvi ele gritar:

– CUIDADO.

– OBRIGADA. – Gritei de volta.

A casa dos meus amigos não era muito longe dali, cheguei rápido mas estava ofegante, assoviei três vezes e aguardei, eles assoviaram de volta e colocaram a cabeça para fora da janela do segundo andar, onde ficava o quarto deles.

– Venham ver o que ganhei de Vincent.

James e Joseph eram irmãos gêmeos completamente diferentes, James era alto e tinha cabelos negros, ele era filho da Deusa da Alvorada, Joseph por outro lado era baixo e tinha cabelos louros, ele era filho da Deusa do Amanhecer, apenas os seus olhos cor de mel eram iguais, nem suas atitudes se assemelhavam, o que me dividia, muitas vezes eu concordava com James, outras concordava com Joseph, o que ocasionava pequenas discussões, mas nunca eram suficiente para nos fazer ficar distantes. Me recordo apenas de um dia, ficamos por semanas sem nos falar, apenas porque eu queria ser o cavaleiro que salvava a donzela Joseph do terrível dragão James, tudo bem que James achou graça a ideia de colocar um belo corselet em Joseph para que a brincadeira se tornasse mais concreta. Mas o pior foi ouvir da boca de Joseph que eu jamais seria um cavaleiro, isso é um abuso, mulheres tem os seus direitos, eu ainda acho que tenho total razão.

– Minha nossa Annelise! – Exclamou James.

– Não é possível. – Joseph arregalou os olhos. Fiz uma reverência e sorri, tirei da bainha e os ouvi suspirar, realmente era um maravilhoso trabalho.

– Posso ? – James esticou o braço e eu tirei a espada de seu alcance.

– Com cuidado. – Entreguei delicadamente, coloquei as mãos na cintura e respirei, na mesma hora senti uma brisa acolhedora e tudo se escureceu, levei minha mão até meu rosto que se encontrou com outra mão que tampava minha visão.

– Leslie!

Leslie era filha da Deusa do Vento, seus cabelos eram castanhos claros e ela tinha olhos azuis quase transparentes, ela era minha melhor amiga e quase sempre esteve comigo, ela se mudou para o vilarejo quando eu tinha apenas seis anos e é por isso que eu não estive com ela a vida toda, mas não é assim que parece ser. A senhorita tempestade não é tão calma como aparenta, logo o significado de seu apelido, mas já estou acostumada e sei o antídoto para acalma-la. Em segredo, é apaixonada por James, o que torna as coisas muito mais complicadas.

– Feliz Aniversário Annie! – Ela me entregou um pequeno embrulho dourado.

– Leslie incrível. – Ela havia me dado um guia pratico de como treinar um pégaso, ela sabia minha opinião sobre criaturas tão maravilhosas e acreditava que um dia eu poderia ter um, assim como os grandes cavaleiros e os nobres. Folhei o livro e encontrei uma dedicatória, comecei a ler mas fui interrompida.

– O que vocês tem ai ? – Ela perguntou para os rapazes.

– O presente que o Vincent deu pra Anne. – Respondeu James.

– Olha só, ganhando presente de admiradores guerreiros.

– Não começa Leslie. – Os meninos gargalharam, mas ficaram quietos e arregalaram os olhos.

Eu e Leslie nos viramos para ver o que havia causado espanto neles, e o que parecia assombroso, a meus olhos causava admiração. Dois pégasos brancos eram chicoteados por um cocheiro que o faziam puxar uma carruagem pequena, com rodas douradas e as cortinas pareciam ser de veludo, estavam todas fechadas, o que também me deixou um tanto quanto curiosa, a carruagem seguia por uma rua estreita e mal formada do vilarejo, esbarrando nas cestas de frutas dos feirantes, todos saíram de suas casas para ver o que estava acontecendo, dos dezesseis anos que moro aqui, só havia visto uma vez essa carruagem e o que ela trouxe não foi nem um pouco agradável. Os pégasos então pararam a frente do grande coreto, a porta da carruagem se abriu e um homem segurando um pergaminho desceu os dois degraus até pisar ao chão que olhou com desprezo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, já sabem, críticas e elogios são sempre bem vindos



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