I'm Aquarius escrita por Tom


Capítulo 9
Lábios trincados


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, gafanhotos. Isso foi meio que um capítulo ponte, sabe? Para adiantar algumas coisas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/515053/chapter/9

– Sou Daros Brudvig, mas para vocês é Mr. Brudvig. Sou o novo professor de Filosofia e repudio conversas ou qualquer som que se pareça com estas. Além do uso de telefones celulares, claro. – anunciou o homem por de trás de sua mesa de madeira. Ele lançou um olhar penetrante e longo por toda a sala para depois inspirar profundamente e abrir um sorriso frio, como se quisesse amenizar o que havia dito antes.

Bom, era de se esperar que ele não seria bem recebido, principalmente falando daquela forma. Alguns alunos trocaram olhares cúmplices, como se já soubessem o que fazer de ruim com o novo professor. Outros apenas reviraram os olhos, voltando a fazer algo de mais interessante como lixar a unha. E ainda haviam aqueles que tinham um gosto maior pelo perigo, então digitavam e mexiam nos celulares como se nada tivesse acontecido.

– Brunner, Patterson, para fora. – a voz do professor soou ríspida. Quando todos viraram as cabeças para procurar os donos dos sobrenomes, perceberam que ambos estavam com celulares na mão. Eles sorriram de forma debochada e pegaram seus materiais, dirigindo-se para a saída.

– Como se eu quisesse assistir essa aula idiota. – murmurou Brunner, que era uma menina. Daros a olhou de forma perigosa e a garota mais que rapidamente entendeu que, se ela se demorasse mais ali, era provável ser suspensa da escola. Quando ambos saíram, o silêncio reinou. O professor sorriu de maneira afetada, pegou um giz e foi até o quadro negro. Alguns segundos depois e o nome “Platão” estava escrito. O homem virou-se para os alunos, abrindo os braços como se quisesse abraçar a todos eles.

“De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar”. – citou lentamente, sua voz adquirindo uma rouquidão devido à falta de água. Ele contornou sua mesa e parou na frente de uma jovem loira, de belo rosto e corpo, que estava analisando as unhas belamente pintadas de rosa bebê. Ele se abaixou até os seus rostos estarem no mesmo nível, fitando-a de forma zombeteira. – O que tem a me dizer dessa frase, senhorita Lohnhoff?

Megan olhou-o de forma indiferente e pôs as mãos sobre o colo, abrindo um sorriso sem dentes para o professor. O silêncio da sala de aula agora era sufocador, mas a loira não se manifestou. Parecia estar em um desafio mudo com o homem, como se quisesse provar que era mais forte do que ele. E ela permaneceria calada se não fosse o beliscão de Betty, que a chamou para a realidade. A garota pigarreou delicadamente e levou a sua mão direita até a franja, ajeitando-a.

– Que ela provavelmente seja falsa, Mr. Brudvig. – provocou-o de forma quase imperceptível, mas nada parece passar por aquele homem.

– Hmmmm... Não esperava mais do que isso da senhorita. – ele fez uma careta de falsa decepção e voltou para a postura ereta, correndo seus olhos por toda a extensão da sala. Depois de alguns minutos em total quietude, o professor voltou para perto da lousa e escreveu novas palavras que no fim mostravam que os alunos teriam de fazer um texto de no mínimo trinta linhas sobre Platão. Ouviram-se alguns murmúrios de reprovação, indignação e irritação, mas nada mais que isso.

– Quero isso para amanhã, se os senhores não estiverem ocupados em ficar olhando a unha. – pediu de forma irônica, lançando um olhar significativo para Megan. Alguns risos foram abafados pelo som estridente do sino, que indicava o final da aula. Os alunos se entreolharam com alívio, jogando os materiais de qualquer jeito dentro da mochila para saírem dali o mais rápido o possível.

Mais ao fundo da sala de aula, Corinne permanecia imóvel em sua carteira, de braços cruzados. Fitava o professor de forma curiosa enquanto ele arrumava sua bolsa de couro sobre os ombros, para também se retirar. E ela poderia ter ficado ali o resto do dia, analisando-o, se uma mão fina não tivesse lhe despertado a atenção. Lisbeth já estava em pé, olhando-a de cara feia.

– Acorda, menina! Você está sentada sobre minha blusa de frio! – resmungou em voz alta para se sobrepor ao barulho das conversas que vinham de todos os lados. Corinne entendeu o que ela quis dizer e se levantou, dando liberdade para o casaco ser retirado. A garota começou a arrumar seus pertences e depois de alguns segundos, se virou para a loira ao seu lado, que estava amarrando a blusa de frio na cintura.

– Ele é tão jovem para ser tão sério, não é? – perguntou em voz baixa, como se Daros ainda a pudesse ouvir dali. Quando ela lançou um olhar para a mesa do professor, apenas para se certificar, ficou surpresa por ele já não estar mais presente. – Com aquele terno todo de linho, os cabelos penteados para trás como se fosse um modelo Calvin Klein. Nadinha de barba. Eu pensei que ele fosse menos... dessa forma. – ela continuou a falar, trazendo a imagem do homem à sua mente. – Além disso tudo, ele ainda tem um toque de mistério por de trás daqueles olhos verdes.

Lisbeth olhou de forma cansada para Corinne e jogou a sua mochila de uma alça só por sobre o ombro, inspirando o ar como se estivesse atrás de uma calma inexistente.

– Olha, Squarre, não foi porque te ajudei aquele dia que nos tornamos amigas. Na verdade não estamos nem perto disso. – a voz de Lis saiu ligeira, não vendo a hora de ir para a aula de História, que era a menos ruim de todos os horários. Corin mordeu o lábio inferior de forma quase imperceptível e virou-se, seguindo para a saída, sem dizer mais nada.

“Garota dos espirros... ridícula, baixo nível...” ela resmungou mentalmente enquanto se afastava de cabeça baixa, seguindo para sua aula de Matemática. Enquanto via a morena se afastar, Lisbeth sentiu-se mal por alguns momentos, mas sacudiu a cabeça tentando espantar aquele sentimento. Corinne poderia ser linda, bonita e linda, além de linda, mas isso não a impedia de ser uma vadia. E uma das brabas.

Já Corinne tentava não ser o centro das atenções dessa vez, mas era quase impossível. As pessoas a reconhecia com facilidade e, sem qualquer pudor, apontavam e murmuravam coisas idiotas e histórias sobre ela. Em alguns momentos a garota sentia apenas vontade de se esconder e chorar, mas precisava se mostrar inabalável, principalmente depois do vexame de sair correndo que nem uma imbecil chorona do auditório.

A sala de Matemática ficava em um dos prédios mais afastados. Durante todo o caminho, a morena foi seguida por pensamentos sem muita importância como as roupas que compraria para o fim de semana e se os rumores da festa de boas-vindas eram verdadeiros. Quando já estava prestes a passar pela entrada do local, sentiu a costumeira sensação de que havia alguém a observando.

Claro, aquilo era comum depois daquela “homenagem”, mas agora parecia pesar ainda mais. Ela se virou e percorreu o olhar pelos edifícios mais próximos e os bancos de concreto que faziam paralelo à trilha. Depois de quase desistir e ter a certeza de que estava delirando, ela o viu. Sentado com a postura rigída, um cigarro no meio dos lábios trincados e os olhos fixos nela. Corinne prendeu a respiração, meio apreensiva, mas ainda assim continuou fitando-o.

Daros Brudvig se levantou do banco e sorriu para morena, como se estivesse indicando alguma coisa. Misterioso? Com certeza. E a garota estava pronta para segui-lo se não fosse o grito agudo da professora para que todos os atrasados entrassem logo, se não levariam uma bela de uma advertência. Corinne se contorceu internamente, mas acabou cedendo ao chamado da mulher e se enfiou dentro da sala de aula.

E ela se perdeu no meio de números, contas e misteriosos olhos verdes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, espero que tenham gostado, seus lindos. :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I'm Aquarius" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.