I'm Aquarius escrita por Tom


Capítulo 7
Hambúrguer


Notas iniciais do capítulo

Olá, gafanhotos!



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A sala estava escurecida com todas aquelas cortinas fechadas. Sentada na mesa havia uma mulher de meia idade. Seu semblante estava cansado; olheiras profundas e pálpebras caídas marcavam sua expressão. Ela provavelmente não conseguia dormir havia dias com tantas ideias perturbando sua mente, todas movidas pela sede de vingança que corria pelas suas veias e era a única coisa que a impedia de pular do último andar de seu prédio, dando um fim àquela dor. As imagens de seu marido e de seu filho não saiam de seus pensamentos e, a cada vez que apareciam, pareciam ainda pior.

Lembrou-se de todas as notícias que saíra nos jornais e telejornais e, em todas elas, quem causara a morte de seus bens mais preciosos não havia sido encontrado. Mas ela agora já não se importava com o que a polícia deixava ou não de fazer, iria resolver essa questão sozinha. Ou parcialmente sozinha, quer dizer.

Uma única batida na porta de madeira a chamou para realidade. Limpou as mãos no vestido encardido e foi até o hall, girando e puxando a maçaneta para revelar um homem jovem, mas com o semblante doentio. Sua barba preta era rala e por fazer e combinava com os seus cabelos revoltados, mas seria mentira dizer que ele não possuía certo charme.

– Que bom que você veio! – cumprimentou-o de forma aliviada, mas ainda assim fria, lhe dando dois beijos nas bochechas. Saiu do caminho para que o homem entrasse, e ele agradeceu apenas com um aceno de cabeça. Sentou-se no sofá rasgado que havia na sala de estar, totalmente desconfortável. A mulher aconchegou-se em uma poltrona vermelha que havia ali perto.

– Gostei da decoração. – o homem elogiou, sem saber realmente o que dizer. Ele olhava para todas as direções, menos para o rosto da mulher. Evitar contatos visuais era sua prioridade. Pigarreou, fitando os sapatos sujos da outra. – Sinto muito pelo... acontecido.

A mulher ficou alguns minutos sem dizer nada, perdida em si própria. Escorou-se nas costas da poltrona, sugando o ar pelo nariz e soltando-o com força pela boca, causando um barulho estranho. Voltou a fitar o homem, entrelaçando os próprios dedos uns nos outros.

– Pare com isso. – repreendeu-o. Ele apenas olhou para os próprios joelhos, repuxando os lábios em um sorriso. Ainda de cabeça baixa, respondeu-a:

– Mas esse é o certo para dizer, mesmo que não seja o que eu esteja sentindo.

– Você sabe para o que te chamei aqui. Preciso de sua ajuda.

– Mas e seu eu não quiser ajudar?

– Por favor! Por todos os nossos anos de... convivência. – murmurou, totalmente desalentada. Deu uma ênfase maior na última palavra, o que o homem pareceu entender. Ele acenou com a cabeça e levantou-se, claramente de acordo com o assunto. Prendeu a respiração, deixando os braços pender ao lado do corpo. Depois voltou a respirar normalmente.

– O que quer de mim? – perguntou em voz baixa, alternando o peso do corpo de um lado para o outro. Seus olhos se perdiam em tantos detalhes que haviam por ali e ele parecia analisar cada um deles com minuciosidade. Ou talvez fosse só uma desculpa para não encará-la diretamente.

– Preciso que mate mais uma pessoa. – ela disse e, dessa vez, o homem ergueu a cabeça para fitar os olhos castanhos e opacos da mulher. Esta já se encaminhava para um quarto mais ao fundo do apartamento. Em suas paredes haviam diversas imagens, algumas aleatórias, outras da família feliz que havia residido ali, outras de uma garota de cabelos escuros e olhos azuis em diferentes lugares.

– Interessante... – ele comentou enquanto seus olhos se fechavam. Ele supriu todo o ar necessário e prendeu a respiração, novamente, como se quisesse fazer parte daquele cômodo. A mulher deixou-o sozinho ali, percorrendo a sua casa tão silenciosa. “Gostei da decoração”, ele dissera, e ela teria de concordar. A destruição nunca lhe parecera tão bela.

* * *

Lisbeth corria em direção ao banheiro de forma desesperada, como se estivesse fugindo de um homem ou de uma minhoca. Ela abriu a porta de um dos boxes com tudo, causando um barulho assustador, e começou a desabotoar a calça. A garota dava pulinhos no lugar, como se isso fosse adiantar, mas só estava atrapalhando a si própria naquela tarefa de abaixar as principais peças de roupa.

– Eu não devia ter bebido tanta Coca! – resmungou enquanto sentia a sua pele quente em contato com o vaso frio. Olhou para cima, sua expressão se transformando em prazer e alívio. Fechou os olhos, aproveitando o momento, adorando o som que seu xixi produzia ao entrar em contato com a água que já havia ali.

Depois de no mínimo dois minutos, ela saiu do box e foi em direção à pia, para lavar a mão. Sorriu para o seu reflexo no espelho, e até dirigiu a si mesma uma piscadela. Seus cabelos loiros estavam idiotamente presos por um liga de elástico, o que só acabava por deixá-los mais bagunçados. Terminou com as suas mãos e começou a enxuga-las na própria blusa, já se preparando para voltar à lanchonete.

Lisbeth esteve tão concentrada durante aqueles minutos que não ouvira o choro baixinho que vinha do último box, mas com todo aquele silêncio, pôde perceber pela primeira vez. Franziu as sobrancelhas, visivelmente confusa, e se virou para ir embora, mas algo dentro de si – provavelmente o seu lado bom – gritou para que ela fosse ver o que tinha acontecido. Sacudiu a cabeça em negativa, incrédula, e foi andando até lá.

O som de choro foi aumentando gradativamente. Lisbeth parou na frente do box, que estava com a porta fechada, e contou mentalmente até três antes de abri-la. Logo o interior do lugar fora revelado e, sentada sobre o vaso com a tampa abaixada, encontrava-se uma garota.

“Óbvio que é uma garota. Você está no banheiro feminino”, pensou consigo mesma antes de suspirar. Adiantou-se um passo e abaixou a cabeça, tentando ver o rosto daquela menina. Assim que o visualizou, soltou um grito fino. A outra levantou-se assustada, recuando até se chocar com a parede que ficava na parte do fundo do box.

– Meu Deus, você está horrível! – Lis comentou, mas logo pôs a mão sobre a boca. Que ótimo comentário para se dizer à alguém que estava chorando. – Ahn, me desculpe, eu não quis dizer isso.

– É... Claro... Que... Quis! – a outra acusou-a com a voz entrecortada com os soluços. Lisbeth relaxou o corpo e fitou a garota com mais atenção, analisando desde os cabelos até a ponta do queixo. Ergueu as sobrancelhas e recuou o passo que havia dado, visto que agora a reconhecia.

– Precisa de alguma ajuda, Corinne? – perguntou sarcasticamente. Nunca havia imaginado que encontraria uma Squarre chorando daquele jeito, principalmente depois da cena que vira na sala de aula hoje mais cedo, como se fosse uma menininha indefesa. A garota ergueu a cabeça, mostrando toda a sua face marcada por lágrimas e maquiagem borrada. Ela tomou fôlego, cessando a choradeira por alguns segundos, e caminhou até perto de Lisbeth.

– Sim, por favor. Não deixe que eles me vejam assim. – pediu e então Lis pareceu perceber que havia alguma coisa de estranha ali, mas não queria dar importância. Deveria ser só um menino que disse "não" para ela e a pobre ficou assim.

– Ahn... Olha, eu não tenho maquiagem à prova de água no quarto, se é isso que quer. – respondeu a loira, dando de ombros. Corinne sacudiu a cabeça em negativa, fixando seus olhos azuis nos de Lisbeth.

– Por favor! – e o coração de Lis apiedou-se. Revirou os olhos para si mesma, pondo as mãos na cintura.

– Tá bom, tá bom. Eu conheço uns atalhos. Você vai chegar no quarto sã e salva, mas não faça barulho, ou seja, para de chorar. – repreendeu-a e, sem esperar uma resposta, a loira começou a caminhar em passos rápidos, retirando-se do banheiro. Corinne a seguiu limpando o nariz e todo o resto do rosto com a barra da blusa.

Depois de várias curvas e caminhos desconhecidos, elas estavam no prédio onde seus quartos se localizavam. Lisbeth subiu as escadas e parou na porta do de Corinne, sorrindo amarelo.

– Prontinho, senhorita. Agora, se me der licença... – meio que se despediu, já indo em direção ao próprio quarto, mas antes disso Corinne a tocou no braço, esperando chamar sua atenção.

– Você é a garota dos espirros? – ela perguntou com a voz rouca, mas ainda havia uma pitada de “não acredito!” ali.

– Em carne e osso. – flexionou os joelhos e com um movimento de mãos, puxou um vestido invisível para os lados, apresentando-se à moda antiga. – Agora entre aí antes que algum dementador venha sugar toda sua "alegria". Vai, vai. – Lisbeth disse e riu da expressão confusa que Corinne esboçava. Entrou no próprio quarto e trancou a porta, lembrando-se só agora que metade de seu segundo hambúrguer ainda estava na mesa da lanchonete. Amaldiçoou os céus e jogou-se na cama, batendo com a cara no travesseiro.

Sua mente, entretanto, se prendia na garota do quarto da frente e no motivo de seu choro. Pensou no convite que lhe fora feito um pouco antes, para ir ao auditório e ver a homenagem para a aluna nova. Pensou em Megan e em como ela poderia ser maligna, depois pensou que Corinne era bonita o suficiente para competir de frente com a vadia loira.

Lisbeth gemeu um "pelo amor de Deus" contra o travesseiro, virando-se de barriga para cima. Pôs as mãos sobre os olhos e suspirou profundamente, sacudindo a cabeça.

– Isso vai dar muita merda.


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Notas finais do capítulo

Esse saiu mais rápido, huh? E maior também. Não se acanhem em deixar reviews, pessoas. Eu não mordo! Ou mordo?