As Cicatrizes Mentem escrita por Sereia Literária


Capítulo 18
Capítulo 18




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(Alex)

Não tive mais pesadelos durante aquela noite. Levantei-me e me dirigi a cozinha, onde encontrei Marina. Ao me ver, um sorriso radiante invadiu seu rosto.

–Bom dia Alex!

–Bom dia!... –disse, me espreguiçando.

–Realmente... Nada está em validade- rio ela, jogando mais uma lada de sardinha no lixo.

–É...

De repente, levo um susto, pois Oito simplesmente aparece atrás de Marina, abraçando-a com os braços ao redor da sua cintura e dando-lhe um beijo na bochecha.

Ela solta um leve risinho, daqueles de meninas totalmente apaixonadas.

–Bom dia pra você também.

–E que lindo dia!-disse ele, a apertando um pouco mais, de maneira carinhosa.

Fiquei meio sem jeito e comecei a andar de costas para sair dali. Era meio estranho ficar de vela na minha casa... Quando me virei para sair de vez da cozinha, esbarrei em John.

–Desculpa-disse, erguendo as mãos.

Ele sorriu gentilmente e continuou indo pra cozinha seguido por Sarah, os dois de mãos dadas. Ela sorriu e meu deu um ´tchauzinho`.

Sorri e continuei andando. Deparei-me com um brinquedo de Jamie. Um caminhãozinho que ele amava... Abaixei-me e segurei o brinquedo junto do peito.

(Nove)

Fui ao quarto de Alex chama-la para treinar, afinal, um novo ataque era iminente e breve, mas ela não estava lá. Deixando a minha curiosidade dominar, adentrei o quarto e me deparei com algumas coisas que não havia reparado durante a escura e densa tensão da noite anterior.

As paredes eram de um rosa leve, com cortinas brancas nas janelas. Prateleiras continham livros e bonecas, além de cadernos. Um grande closet cheio de roupas de menina estava aberto, mas não foi isso que me chamou atenção. O que me chamou a atenção foi um par de sapatos descomunais; eu já os havia visto em muitos filmes. Eram sapatilhas de ballet. Segurei-as nas mãos. Estavam sujas e empoeiradas, como que pedissem insistentemente para serem usadas. Então, mais a frente, reparei em uma caixa de papelão. Ao me aproximar, reparei que lá haviam várias fotos de Alex dançando, quando era pequena. Também fotos de bailarinas profissionais, além de DVD´s intitulados de 2006 à 2010.

–O que faz aqui?-perguntou Alex, me olhando a poucos metros de distancia.

–Estava te procurando... E... Achei estas coisas.

Então ela ergueu um pouco o queixo, mas não de maneira orgulhosa; parecia mais que não queria ver o conteúdo da caixa ou que queria segurar lágrimas.

–Sim, fui bailarina.

–Ainda dança?-perguntei. Ela riu.

–Passei anos presa por alienígenas que me torturavam. Digamos apenas que tive que faltar algumas aulas e apresentações. Não danço desde o último DVD datado-disse ela, apontando para a caixa.

Fiz que sim. Depois de um silencio um tanto constrangedor, arrisquei:

–Ainda tem vontade de dançar?

Ela encolheu os ombros e apoiou o quadril na cama, cruzando os braços.

–Às vezes, se quer saber. Na verdade, uma das coisas que me ajudaram a manter parte da sanidade no cativeiro foi marcar os passos de ballet mentalmente... Mas não cheguei a me formar ou coisa do tipo. Estava começando a dançar com essa sapatilha quando nos pegaram.

Respirei fundo, tentando digerir. E pensar que tantas pessoas perderam suas vidas ou parte delas por uma causa que não é a deles...

–Bem, eu vim pra te convidar para treinar conosco... Se você quiser.

–Com certeza! Preciso e muito!-disse ela, parecendo feliz em mudar o rumo da conversa.

(John)

Como o quintal era grande e protegidos por árvores, podíamos treinar sem muito medo de sermos vistos. Chegamos a conclusão de que tínhamos que treinar sem os poderes de vez em quando, pois era assim que ele nos derrotaria. Oito e Nove lutavam o mano-a-mano enquanto eu lutava com Adam e Marina com Seis. Sam e Sarah ajudavam Alex nos movimentos e táticas básicas.

(Marina)

Por sorte, Seis ainda não estava treinando pra valer. Ela sabia que eu era bem menos habilidosa que ela, por isso pegava leve e quando eu caia ela me ajudava a levantar, me dando uma dica ou outra para evitar esse ou outro golpe.

–Não podemos ficar nesse adoleta para sempre Marina. Acredite, se você cair eles não vão fazer questão de levantá-la.

Fiz que sim, sabia disso. Mas eu realmente não dominava essas técnicas.

–Não precisa ter medo de me machucar-disse pra ela.

–E nem você de me machucar-retrucou Seis-Ande, solte a sua raiva.

Engoli o seco. Enquanto tentava ´soltar a minha raiva`, me distraí e levei um soco no meio da cara seguido por uma rasteira que me fez cair com o corpo de lado no chão. Fiquei zonza e vi estrelas. Acho que quebrei o braço esquerdo e devo ter quebrado o nariz e o pulso também. Então senti alguém me virando para de barriga para cima. Levei a mão para o nariz e comecei o processo de cura. Doeu, e como. Quando acabei, Oito, Seis e John estavam em volta de mim. John cuidava do meu braço, Oito estava me segurando e Seis estava ajoelhada ao meu lado.

–Você está bem?-perguntou Oito. Quando ia responder, Seis entrou na frente.

–Foi uma bobagem-disse ela. Comecei a esfriar.

–EU PODIA ESTAR EM COMA!-Berrei.

–Bom, talvez em coma fique mais ágil do que acordada-disse ela, me esnobando. Então me irritei e dei um gancho no seu maxilar. Ela caiu para trás, e eu me arrependi no mesmo instante. Pulei do colo de Oito, pois parecia que ela estava tendo convulsões.

–Seis! Seis, sinto, sinto muito, eu...

Mas quando cheguei mais perto, percebi que as ´convulsões` eram risadas. Seu maxilar estava inchado, e ela estava rindo!

–ESTÁ RINDO?

–Exatamente!-disse ela, sentando.

–Mas eu te dei um soco!

–Sim, fez exatamente o que eu queria!-disse ela, sentando-se e limpando as lágrimas de riso dos olhos.

Ela me usou! Acabou de dizer isso em todas as palavras. Não sabia bem como reagir. Minha primeira reação foi colocar as mãos em seu maxilar e começar a curá-lo. Depois que terminei, ela se levantou e esticou a mão.

–Vamos continuar.

(Alex)

As semanas que se passaram foram exaustivas. Horas de treinamento diário, de manhã, de tarde e no começo da noite. Tinha que admitir que nas primeiras semanas mal conseguia subir as escadas, mas, depois das primeiras semanas, meu corpo foi se habituando. Fui começando a ganhar resistência e habilidade. Então, um dia, no treinamento matinal, Malcolm anunciou:

–Hoje começaremos a lutar uns com os outros. Faremos uma espécie de jogo como polícia e ladrão. Um time persegue e outro foge. Eu vou separa-los.

Então ficamos divididos como:

John, Sam, Marina e Adam como os perseguidores.

Nove, Sarah, Oito, Seis e eu como os perseguidos.

–É meio injusto perseguir alguém que vai desaparecer a meio metro de distância...-comentou Marina, provocando Oito.

Ele encolheu os ombros e disse de maneira drástica:

–Minha doce donzela... A vida não é justa- e lançou um sorriso sedutor e carismático na direção de Marina, que ficou vermelha. Eles eram muito fofos juntos.

Então, tivemos trinta segundos para nos esconder. Quando achei que estava bem escondida atrás de algumas árvores, Nove apareceu do meu lado. Ele insistiu em ficar do meu lado. Mesmo dizendo o contrário, tinha a impressão de que ele sabia que Cinco viria atrás de nós a qualquer momento, e queria estar comigo quando acontecesse. Claro, eu não reclamei. Depois desses dias e semanas, fomos nos aproximando. Ele era um ótimo ouvinte, mas sabia a hora de falar e principalmente o que falar. Era engraçado e meio bad boy, mas era cuidadoso e carinhoso, além de saber respeitar quando eu não queria tocar em um assunto. Seu sorriso era diferente... Mesmo que eu não soubesse que ele era lorieno, com certeza não acreditaria que se tratava de um ser Humano. Acho que eu devo tê-lo ficado encarando por um tempo um pouco longo demais, pois ele logo perguntou:

–O que houve?

Gelei e fiquei vermelha. Ainda bem que estava escuro.

–Nada...-disse.

–Sabe... Você vai ser a primeira a saber... Acho que tenho um novo Legado.

Sorri. Isso era ótimo.

–É? Qual?

–Acho que posso voltar no tempo...-disse ele.

–NOSSA, QUE INCRÍVEL-Logo minha mente começou a vagar pelas possibilidades. Viajar no tempo?! Isso era INCRÍVEL!

–Mas só consigo voltar pouco... Tipo, alguns segundos, talvez minutos... Mas com prática... Pode ser decisivo em uma batalha.

Fiz que sim com a cabeça.

–Também tem uma coisa que eu queria contar-comecei.

Ele virou o rosto para mim.

–Eu...Tenho voltado a dançar.

–Que legal! Como se sente?

–Ótima, na verdade-disse, me recostando na árvore.

–Poderia dançar para mim alguma hora?

–Uhm...-engoli o seco e corei-Não sei...-disse, com vergonha de dizer que sim e com mais vergonha ainda de negar.

–Pense nisso...-disse ele, chegando cada vez mais perto, com uma voz grave e sedutora... Então fechei os olhos, mas quando nossos lábios iam se tocar, tiros começaram a atravessar as copas da árvore, e ele entrou na minha frente para me proteger. Foi então que nos demos conta de que eram as balas de festim, e que quem as atirava era Sam. Então Nove me puxou pelo pulso e começamos a correr e a fugir dos tiros doídos, porém inofensivos (de certa maneira). Então chegamos de volta à casa, ainda perseguidos. Foi então que uma enorme bola de fogo atingiu Nove, que caiu metros para trás. Corri até ele, mas fui detida por um soco vindo de Adam, e caí. Marina nos amarrou com eficiência ao lado de Sarah.

(Marina)

–Só faltam o Oito e a Seis. Não estão em lugar nenhum!

–Imagino que você queira cuidar do Oito...-disse Sam, me olhando de maneira sugestiva. Revirei os olhos e dei-lhe um tapinha no braço.

–E você, provavelmente vai querer lidar com Seis.

Ele corou e voltou correndo para as árvores do imenso quintal sem fim. Mas então, um barulho muito maior do que qualquer um de nós pudesse causar encheu o ar. Era o estrondo de um animal gigantesco: o som que todos conhecíamos muito bem. Era nada mais, nada menos que um piken.


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