As Cicatrizes Mentem escrita por Sereia Literária


Capítulo 17
Capítulo 17 - Uma Promessa




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(Alex)

Após chorar um rio de lágrimas, saio do chuveiro, me seco e vou para o quarto com o roupão de banho. Escolho um pijama meu (por sorte, não cresci quase nada desde a última vez em que estive aqui) e visto. Abrir meu armário, me deparar com as prateleiras que continham os meus livros favoritos, ver minhas roupas, minha escrivaninha e tudo o mais... Isso dói. Deito-me na cama e tento dormir, mas não consigo.

(Nove)

Apesar da cama, do quarto e de tudo mais estar agradável, isso não impede que eu tenha pesadelos, ou visões, para ser mais exato. Nessa, Cinco torturava Alex, e eu não podia fazer nada. Estava preso com apenas um fio de vida. Ele a torturava de todos os modos possíveis; com palavras, com cortes, choques, queimaduras... Tudo o que pudesse usar contra ela –para me atingir- ele usaria. Isso eu sabia. Teria que protegê-la com a minha vida, pois sei que Cinco seria capaz disso. Ele não é um Lorieno, um Humano, nem mesmo um Mog. Cinco é um monstro.

Sentei-me na cama e tentei afastar as imagens da minha cabeça, mas não consegui. Então, resolvi descer e tomar um ar. Eram cerca de três horas da manhã, então tomei cuidado para não acordar ninguém. Desci as escadas e, quando saí, encontrei a porta dos fundos, de vidro, entreaberta. Levei um susto e já entrei em estado de alerta a qualquer movimento ou som, me dirigindo devagar até a porta. Quando chego ao lado de fora, vejo apenas um balanço grande, do tipo que servem três pessoas, na maior árvore do terreno –a cerca de quinze metros da casa- e um emaranhado ruivo pairando com a brisa sobre nele. Ao reconhecer Alex me acalmo e chego mais perto.

–Não consegue dormir?-pergunto. Ela balança a cabeça em sentido negativo.

–Tive um... Sonho ruim-responde ela. Faço que sim e me sento a seu lado.

–Eu também.

–Sonhei que estava sendo torturada por ele. Foi horrível–diz ela, engolindo o seco. Tento olhar para o seu rosto, mas uma densa camada de cachos ruivos me impede. -E... essa casa me traz muitas lembranças. Muitas coisas que eu levei anos para esquecer aqui se mostram mais fortes do que eu...

–Entendo...-e era verdade. Sabia como ela se sentia.

–Aqui era onde eu e meu irmão Jamie brincávamos...-ela fala, quase chorando-Hoje, ele teria treze anos...

Ao dizer isso, ela me entrega uma foto. Nela estão um garotinho com oito anos, de olhos tão verdes quanto os dela, mas de cabelos escuros. Ao seu lado, está Alex quando deveria ter doze anos. Cabelos cacheados e olhos verdes, uma versão dela mais nova, exceto pelo o fato de a menina da foto ser um pouco mais gordinha. Os dois sorriem e parecem estar muito felizes.

–Sinto falta dele...-diz ela, quase sem voz-E, o pior é que, ao contrário dos meus pais, ele morreu sem nem ter vivido... Nunca vai ir para a faculdade... Não vai ter a sua casa. Não vai- ela solta um gemido- Se apaixonar por uma garota.

Seguro a sua mão e ela olha para mim, mas logo seus olhos se perdem em uma lembrança que ela gostaria de ter.

–Sempre que assistíamos a um filme em que havia beijos entre o casal, ele se retorcia e falava ´ECA! Eu nunca vou me apaixonar, isso é nojento! Meninas são nojentas!`, e eu ria e embaraçava seu cabelo enquanto dizia ´Um dia você vai entender`. Ele se contorcia de nojo e negava.

Ela solta um risinho triste e continua;

–E, o que eu mais queria era que, um dia, quando ele tivesse uns dezoito anos, ele chegasse em casa trazendo pela mão uma menina bonita, e dissesse: Queria apresentar a minha namorada...

Ela engole um soluço e começa a chorar. Eu a viro para mim e a abraço, ela passa os braços pelo meu pescoço, enterra o rosto em meu peito e simplesmente desaba em meus braços. Eu nunca estive assim com uma garota. Era a primeira vez que eu consolava alguém... Passo as mãos pelos seus cabelos ruivos tentando acalmá-la. Depois de muitos minutos, ela vai se acalmando, e sinto que vai começando a pegar no sono. Decido que é hora de levá-la para o quarto e a pego no colo. Um de seus braços continua em meu pescoço, e o outro eu arrumo em sua barriga. Quando chego ao quarto, acomodo Alex na cama e a cubro. Tiro o cabelo de seu rosto inchado pelo choro e me ajoelho ao lado da cama, passando a mão pelos seus cachos e depois pelos seus cabelos.

–Alex, não posso fazer nada pelo Jamie... Mas eu juro, pela minha vida, que vou te proteger, e que nada, nem mesmo Cinco ou o próprio Setrákus Ra vai lhe fazer mal. Estarei com você.

Me levanto e, antes de sair, apoio uma das mãos na cama e dou um leve beijo em sua testa. Quando estou de costas e prestes a dar o primeiro passo para a porta, sinto dedos delicados tocando as costas de minha mão e me viro. Seus olhos ainda estão fechados, mas os seus lábios se erguem em um levíssimo sorriso e ela murmura quase em meio aos sonhos:

–Obrigada.


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