As Cicatrizes Mentem escrita por Sereia Literária


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Oi minha gente! Queria me desculpar pelo erro gravíssimo que cometi! Meu computador começou a travar quando estava postando um capítulo na minha outra fic, e, no dessespero para não perder o que havia escrito, postei o capítulo em As Cicatrizes Mentem! >.



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(Marina)

Gelamos. Todos pensamos na mesma coisa, na mesma possibilidade: eles os haviam pego. Mas ainda estavam vivos, afinal, nenhuma cicatriz foi traçada em nenhum de nós. Rapidamente soltamos Nove, Sarah e Alex, e mais que depressa Malcolm surgiu correndo da casa carregando pesadas armas. Não havia mais tempo a perder.

–VAMOS!-gritei, me dirigindo o mais rápido que conseguia em direção às árvores. Mas então, o grotesco animal surgiu, rugindo e berrando. Mas o que de fato me deixou atônita foi que em seu pescoço, montada e sorrindo vitoriosa, estava Seis, que gritou:

–ACHO QUE GANHAMOS MOCHINHAS!!!

E a besta uivou em um grito de vitória. Estava confusa, atônita, perplexa e paralisada. Foi então que a besta começou a diminuir, diminuir, diminuir... Até que assumiu uma altura de mais ou menos 1,94 e começou a se tornar menos feroz, ganhando a forma de um lindo adolescente indiano de cabelos negros e olhos tão verdes quanto a mata de seu próprio país... Sorri aliviada ao saber que ele estava bem, mas logo essa alegria foi substituída por algo mais... Destrutível. Estava com raiva.

–Há! Conseguimos-comemorou Seis, descendo dos ombros do meu namorado. Oito sorriu e veio em minha direção, mas foi recebido com um soco que nem deve ter doído fisicamente como doeu sentimentalmente. Ele ergueu as mãos.

–Ei! O que houve?-disse ele, com um sorriso torto.

–O QUE HOUVE? O QUE HOUVE É QUE VOCÊS NOS MATARAM DE SUSTO! JÁ PENSARAM EM COMO ISSO NOS ABALARIA? PENSARAM NO QUE ACONTECERIA SE ESSA SITUAÇÃO ACONTECESSE! PENSEI QUE TINHA SIDO CAPTURADO DE NOVO! QUE ESTIVESSE MORTO!-Berrei na cara dele, ignorando propositalmente Seis. Estava irritada com ambos.

–Como estaria morto e vocês sem cicatriz?-perguntou ele, meio nervoso, mas com a voz calma e tentando soar brincalhona, em uma tentativa de abaixar o clima tenso. Ao ouvir isso, o ar a minha volta (que estava geladíssimo) ficou ainda mais rarefeito e gélido. Tenho certeza de que a temperatura estava abaixo de -5 graus.

(Alex)

Tenso era um eufemismo perto do clima que se estabelecera. Marina estava rígida e tensa parada na frente de Oito, e todos a olhávamos... Essa era uma ´batalha`mais tensa do que aquela para a qual estávamos treinando. Essa era uma batalha interna, entre nós.

(Oito)

Marina continuava a esfriar, e aos poucos seus olhos foram ficando cor de gelo, ao mesmo tempo que seus cabelos parecia se mover sozinho, como se a brisa do gelo quisesse fazê-la mais ameaçadora... Mas não funcionou. Depois de alguns segundos, uma lágrima começou a se formar, ela suspirou de fechou os olhos, ao mesmo tempo que tudo ao redor voltava ao normal. Ela se virou e saiu sem maiores cerimônias, com todos os olhares cravados em suas costas.

(Alex)

Estávamos calados, uns olhando para os outros. Seis parecia um pouco envergonhada, e Oito seguia Marina com os olhos de maneira aflita. Ele ficou meio hesitante em ir atrás dela.

–Marina!-chamou ele, sumindo para o interior da casa.

John lançou um olhar de desaprovação para Seis, pegou Sarah pela mão e ambos se dirigiram lentamente para a casa.

(Oito)

Foi relativamente fácil acha-la, foi só seguir a trilha de geada casa adentro. Na verdade, casa afora. Ela estava sentada no pátio da frente da casa, na frente da fonte central, que encontrava-se congelada. Fui me aproximando devagar, mas parei quando percebi que ela chorava. Suspirei e me teleportei para trás dela.

–Marina...

–O que você quer?-disse ela pausadamente, mas sem se virar para mim.

–Me... me desculpe.

–Te desculpar pelo o que?-disse ela, sua voz ganhando força, timbre... e raiva.

–Por te assustar, eu não...

Ela se virou e veio andando até ficar a milímetros de mim. Se fosse mais alta, estaríamos cara a cara. Seus olhos, geralmente de um azul intenso e celeste, agora eram frívolos como pedras de gelo. As lágrimas que estes derramavam segundos antes estavam congeladas em sua bochecha, e seus cílios estavam adornados como que por geada. Ela falava e apontava o dedo para a minha cara.

–DESCULPA? DESCULPA POR QUAL DAS COISAS? POR ME DAR UM DOS MAIORES SUSTOS DA MINHA VIDA? POR DAR UM SINAL QUE É COMO UM CARTAZ FLORESCENTE DIZENDO ´GARDES AQUI, ESCONDIDOS! ATAQUEM-NOS, POR FAVOR`,POR TIRAR SARRO DA MINHA RAIVA E DO MEU MEDO OU POR CONTAR SUA NOVA ABILIDADE ANTES PRA SEIS DO QUE PARA MIM?!-Ela gesticulava dando ênfase as suas palavras, e seus olhos cada vez mais pareciam um lago congelado. A nossa volta, uma tempestade de neve se formava.

–Marina, eu juro, não era essa a intenção...-passei as mãos pelos cabelos e baixei os olhos. Ela cruzou os braços.

–Desde quando consegue?

–O que?

–Se transformar em pinkens.

–Venho treinando isso desde que chegamos.

Ela abriu os braços e começou a gesticular novamente.

–Está me dizendo, que está fazendo isso há mais de três meses e não me disse nada?!

Mordi o lábio inferior.

–Era para ser uma surpresa...

–Ah que bom! Foi mesmo uma surpresa!-disse ela, cruzando novamente os braços, e passando apressada por mim em direção à casa.

Me teleportei para sua frente e a chacoalhei pelos ombros.

–Marina, me desculpe!-mas ela nem sequer me olhou e se desvencilhou das minhas mãos. Deixei que ela continuasse. Fiquei ali, parado, chateado e arrependido...

(Sam)

Na hora do jantar, quatro horas depois do ´desentendimento`, ainda estávamos todos em seu espaço. Marina não compareceu à mesa, e Oito não parava de olhar para o seu lugar vazio.

A única coisa dita durante a refeição veio de minha boca. Disse que iria cuidar da louça, e que eles podiam ir dormir.

Quando abri a pia para começar, me surpreendi ao encontrar Seis. Ela me ajudou a recolher a mesa em silêncio, mas quando comecei a lavar os talheres, ela desatou a falar.

–Sabe, não entendo o que houve. Não era para tanto-disse ela, secando e guardando a louça já limpa. Fiquei quieto.

–E a Marina conseguiu armar um barraco. Sempre a achei meio sensível, mas dessa vez ela exagerou...

Continuei em silêncio, apenas ouvindo e ouvindo e ouvindo... Ouvindo como havíamos exagerado, que era só uma brincadeira, que isso, e aquilo... Até que não aguentei mais. A cortei sem mais nem menos.

–Seis, quer saber, eu acho mesmo que exageraram. Não viram como ficamos preocupados com vocês, principalmente eu e Marina. Não, não acho que ela exagerou, acho que vocês exageraram. E, francamente, agradeço que você queira ajudar a lavar a louça, mas se for pra ficar reclamando, pode ir se deitar.

Ela ficou surpresa. Seis abria a boca para contra argumentar, mas nenhum som saía. Então, relutante, ela se dirigiu para fora da cozinha, deixando-me sozinho pelo resto da noite.

(Alex)

Semanas se passaram depois do acontecido. Em geral, tudo havia voltado ao normal. Com exceção, claro, de Marina e Oito. A fissura entre os dois fora muito profunda... Seis e Sam também pareciam estar se evitando. Isso era tenso e causava muitos olhares vindos de todos nós. Quanto a mim e a Nove, não voltamos a quase-nos-beijar, por mais que eu quisesse. Mas nada entre nós mudou, estávamos bem. Eu vinha ensaiando os passos de ballet no meu quarto. Afinal, uma hora ou outra, iria mostrar um ou outro para Nove... E, sinceramente, não queria cair de cara no chão. As sapatilhas voltaram a machucar meus pés e eu ficava dolorida a cada ensaio. Com o tempo, minhas pernas e meus pés foram voltando ao ritmo, e eu já conseguia executar alguns passos e até uma sequencia antes de cair no chão.

Em um dia de treinamento, uma coisa chamou a atenção de todos. Oito, desde o incidente, estava fazendo de tudo para agradar Marina, sendo fofo e querido. Mas ela simplesmente o evitava. O que aconteceu no dia, foi que, durante um treinamento, ele tentou ajuda-la. Ela socava uma daquelas coisas que os boxeadores usam para treinar, quando Oito (que estava lutando com Seis), se aproximou.

–Você pode aumentar a sua força se jogar o quadril e o peso do corpo-disse ele, se posicionando atrás dela e dando um soco no boneco, demostrando. Ela cruzou os braços e torceu a boca.

–Eu não me lembro de ter perguntado... Ah, mas porque não ensina essas coisas para a sua amiguinha?–perguntou ela, com uma voz cruel e magoada, erguendo o queixo na direção de Seis, e logo depois se retirou.

Tenso.

Horas depois, vesti um short leg preto que ia até metade das cochas e por baixo, uma meia calça. Vesti também uma blusa de alças pink e uma saia envelope e esvoaçante preta com a tira d e uma fita de cetim, por fim, calcei as sapatilhas e sentei-me a penteadeira, escovando meus cabelos e depois trançando-os. Subi nas pontas. Tudo o que podia ser praticado em um espaço moderado, pequeno, eu já havia feito. Queria começar a praticar saltos e giros, mas isso não daria certo no espaço do meu quarto. Então, esperei que todos se recolhessem para os seus quartos e desci até a sala de estar. Descendo as escadas, quase caí de cara com os sapatos descomunais. Me agarrei ao corrimão, que soou com um timbre metálico, repercutindo por toda a casa. Fiquei paralisada, esperando que ninguém tivesse ouvido.

Após me certificar disso, continuei a descida. Parei na sala e comecei a afastar o sofá e a mobília lentamente. Afastei o sofá, os criados mudos e os divãs, deixando a sala com um espaço enorme, bem maior do que eu imaginava. Peguei meus fones de ouvido, um tipo que é sem fio, e liguei em uma música de ´O Quebra-Nozes`, mais especificamente, a ´Valsa das Flores`, a música perfeita para giros, saltos delicados e, logicamente, valsas.

Começando a me mover devagar, senti a música adentrar a minha alma... Fechando os olhos, comecei, lentamente a mover os braços, seguido pelas pernas... Subindo nos pés... Sentindo-me levitar, comecei a girar e a valsar pelo espaço disponível.

(Nove)

Quando ouvi o som de metal, logo me pus em estado de alerta. Fui vagorosamente até o topo da escadaria, e me deparei com algo que me deixou com um sorriso de orelha a orelha. Alex, com os cabelos presos em uma trança ruiva e longa, movia-se graciosamente pela sala, girando ao som de uma música ouvida somente por ela. Fui descendo as escadas até chegar aos últimos degraus.

(Alex)

No meio de um giro, ouvi um ruído e abri os olhos. Meu coração acelerou. Nove estava parado ao pé da escada, sorrindo. Me desequilibrei, torci o pé e caí no chão.

(Nove)

Assim que ela caiu, fui correndo em sua direção. Ela estava sentada, então tirou os fones e jogou-os no chão, sem erguer os olhos para mim.

(Alex)

Não queria olhar para ele. Sentia-me envergonhada. Ele esticou a mão.

–Alex?... Está, tudo bem?

Neguei com a cabeça e enterrei o rosto nas mãos. Ele se abaixou ao meu lado e colocou a mão no meu ombro.

–Você estava ótima.

Funguei e ergui um pouco os olhos, envergonhada.

–Sabe, não precisa mentir...

–Não estou mentindo, estava ótima.

Desviei o olhar e sorri timidamente.

–Tudo bem com o seu pé?-perguntou ele, tirando-me de meus devaneios.

–Ah... Sim, foi só uma torçãozinha...-disse, mexendo o pé de um lado para o outro.

–Então, ainda pode dançar?

–Com certeza.

Ele sorriu, ficou de pé e esticou a mão. Eu a peguei e me levantei. Então, ele pegou a ponta da minha trança e começou a enrolá-la em um dedo.

–Quando quiser.

–O que?-perguntei distraída.

Desviei um olhar, fitando a parede. Então, ele me puxou delicadamente para perto, erguendo meu rosto. Então, chegou bem perto do meu ouvido.

–Me prometeu uma dança...-disse ele, roçando o lábio na minha orelha. Estava distraída e envolta em seu hálito de hortelã, em seus lábios carnudos roçando em minha pele... Sorri e me afastei um pouco, olhando-o e dizendo:

–Apenas não ria!

–Jamais.

Sorri.

(Cinco)

Aproximo-me da casa e vejo que as cortinas do primeiro andar estavam levemente abertas. Aproximo-me delas e vejo: Lá estava a garota ruiva. Ela dança delicadamente pela sala, e, em outro canto, Nove a observa com um sorriso maravilhado e... apaixonado. Era tudo o que eu queria. Tudo o que eu precisava. Sorri pensando em minha vitória.

(Nove)

Alex agora vinha girando e girando até mim. Giros lentos. A cada marcação de cabeça, um sorriso para mim. Sua trança acobreada girava também, atrasada, como se corresse para tentar alcançar os movimentos do resto do corpo.

(Alex)

As poucos, fui ficando zonza, e simplesmente desabei em cima de Nove. Ele segurou com uma mão o meu braço e com outra, me ergueu pela cintura. Eu ri e subi os olhos de encontro aos dele. Ele me olhava com ternura e amor. Sem soltar a mim, levantou uma das mãos e tocou minha bochecha. Fechei os olhos lentamente quando ele começou a se aproximar. Como eu era bem mais baixa, ele tinha que se abaixar. Seus lábios roçaram nos meus, como que com um desejo contido a muito tempo. Então, ousei. Subi na ponta dos pés, e percebendo isso, ele levou uma das mãos ao meu pescoço, e nos beijamos... Nunca tinha beijado ninguém... Foi mágico. Ele me puxou para mais perto pela cintura, e eu passava as mãos pelos seus cabelos... Sedosos... Um sonho de flores e futuros lindos passaram pela minha mente... Por um segundo, esqueci-me da guerra ao nosso redor, da tensão e de tudo. Da tristeza, do sofrimento e das mortes. Deixei-me imaginar uma vida como ele, uma vida normal... Um relacionamente normal, no qual não pudéssemos ser mortos a qualquer segundo, um casamento... Mas tudo foi abruptamente cortado de minha mente com o barulho de uma explosão, a parede se quebrou, jogando vidro, móveis, quadros e retratos por todos os cantos. Gritei, mas rapidamente Nove nos abaixou e se colocou acima de mim, protegendo-me dos estilhaços.

Quando tudo se acalmou, levantamos os olhos lentamente. Era Cinco, que entrava triunfante pela buraco que abrira.

–Amor...Com certeza a fraqueza de todos nós-disse ele, enquanto Nove se punha de pé e se posicionava entre nós.

–Fique longe dela-disse ele, ameaçador- Vou te dar mais uma chance para sair daqui.

Ele sorriu com maldade.

–Não será necessário


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