The best you ever had. escrita por niiizu


Capítulo 3
Capítulo 3




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– Bom dia, Marcy.

– Bom dia.

Marceline ainda estava avermelhada de sol, mas corou ainda mais quando ouviu seu apelido sair da boca de Finn. Da primeira vez que ele disse, a rainha dos vampiros estranhou e pensou que ele havia se esquecido de falar o resto do nome dela, mas como ele o repetia toda vez que a chamava, Marceline concluiu que Finn lhe dera um apelido de fato. As pessoas raramente se consideravam dignas de lhe chamar por apelidos e a chamavam pelo seu longo nome e alcunha, talvez pela sua aparência séria e toda a história de ser uma vampira meio-demônia, então ela gostava do gesto quando o recebia.

Marceline não tivera sonhos naquela noite, mas sonhou com seu pai.

– Ei Finn, eu estava pensando se a gente pode, sei lá, dar um pulo na Nightosphere. - Finn cuspiu o leite e gritou:

– Onde??

– Calma cara, relaxa. É que meu pai costuma aparecer nos meus sonhos quando quer falar comigo, e hoje ele apareceu. Faz um tempo que eu não vou lá e tal... Mas agora ele tá mais simpático, sabe, nunca mais me forçou a seguir o negócio da família. Talvez ele só quer que eu lave uma pilha de pratos sujos ou coisa assim, nada de mais. – Finn se acalmou e pensou um pouco antes de responder.

– Seu pai devia arranjar alguém pra cuidar da casa se te chama pra fazer essas coisas.

– Eu sei, mas todo mundo que ele pede pra ajudar acaba recusando por medo de ele sugar a alma ou perder alguma parte do corpo... Você sabe como meu pai é.

– É. Não sei Marcy, não me sinto confiante com a espada ainda.

– Cara, você matou quase todos os monstros naquela caverna ontem, meu machado até saiu limpo.

– Tá, mas monstros de cavernas não são nada perto do seu pai.

Marceline pensou um pouco. Ela não queria ir sozinha, e gostava da companhia de Finn, mas apesar de saber que pai não faria nada com eles não tinha como garantir isso para Finn a ponto de ele estar completamente confiante.

– Olha, eu sei que você não confia no meu pai, mas ele gosta de você, sério, vive me perguntando quando vou trazer meu amigo humano que gosta de música e tudo. Vai ser rápido, eu garanto, Finn. É que eu não gosto de ir lá sozinha, e não queria te deixar aqui sozinho também.

Finn sempre poderia voltar pra casa na árvore, talvez Jake até estivesse preocupado com ele. Mas Jake também poderia estar aproveitando seu tempo com Lady e as crianças, pois não havia ligado pra Finn até agora. E apesar de tudo, Finn é um cavalheiro e bom amigo, então acabou aceitando ir. Levou sua espada nas costas, com o punho virado para seu lado esquerdo do corpo.

– Mas se ele te fizer lavar a louça eu dou uma na cara dele, tô falando sério, Marcy!

– Tudo bem, justiceiro – Marceline riu. Não aceitaria fazer as tarefas da casa do pai de qualquer jeito, mas gostava de ver Finn preocupado com o quanto seu pai poderia explorá-la.

~~

– Marceline, Finn! Quanto tempo! – Hunson Abadeer chegou com os braços abertos para receber sua filha e Finn, mas como Marceline não correspondeu ele abaixou os braços disfarçadamente.

– Oi pai. – Marceline não parecia muito animada e Finn estava um pouco desconfiado como sempre.

– Moleque, o que aconteceu com o seu braço?

– Ah, isso... É uma longa história.

– Longa história pai, acredite.

– Hm... Quer trocar alguma coisa por um braço novo? Um rim, a morte de um melhor amigo ou namorada?

Marceline o olhou incrédula e Finn se limitou a responder:

– Ahn... Não cara, valeu.

– Eu pensei em oferecer os seus pais também, mas acho que eles já morreram né? Marceline me falou uma vez sobre uma família de cães...

– Pai, já chega. O que você quer?

– Bom, além de ver minha filha que não tira um segundo da sua eternidade pra ver o pai... – ele a olhou zangado, mas ela fingiu que não viu -... Eu preciso que você me leve pra visitar sua amiga Princesa Bubblegum.

– O quê?

– Ela me mandou uma mensagem no celular, mas eu não consigo responder, olha – mostrou. Dizia: “caro Sr Abadeer, gostaria de fazer uma proposta a respeito do controle da Nighosphere. Se estiver interessado, por favor, me retorne. ass. princesa Bubblegum.” – não tem sinal aqui.

– Cara, a Bubblegum escreve muito bem pra uma mensagem de celular, pra quê? Todo mundo vai entender.

– Eu sei, que fresca, né? – concordou Marceline. Finn acenou com a cabeça. – Mas o que ela quer com a Nightosphere?

– Não sei querida, não me interessa o que ela quer. Desde que ela faça um pacto comigo ela pode fundir as duas dimensões e sugar quantas almas quiser que eu não tô nem aí.

– Eu sei pai, não é o seu lado que me preocupa.

– Ah, é claro que não te preocupa Marceline, quando você se importou com o seu pai ou com os negócios da família? – ele deu as costas e foi procurar algo nas gavetas da cozinha.

– E quando você se importou comigo quando eu era criança, pra me deixar sozinha num mundo pós-apocalíptico? – ela gritou, visivelmente perdendo o controle.

– Isso se chama educação, todos os Abadeer foram deixados à própria sorte em algum momento da vida pra aprender a se virarem sozinhos. Veja a mulher incrível que você se tornou. – ele tirou um maço de cigarros caseiros e o acendeu numa boca do fogão.

– Ah, claro, e virei uma vampira também.

– Graças ao seu sangue de demônio, querida, caso contrário já estaria morta há séculos. E você ainda me culpa pelas suas desgraças, deveria culpar aquele humano maluco com aquela coroa. – Hunson soltou a fumaça do cigarro na direção de Finn e ele tossiu um pouco - Só porque congelou alguns metros quadrados chama aquilo de reino e se proclama rei. Francamente, Marceline, humanos? Sem ofensa, garoto. – Finn ainda estava digerindo a situação e não pensou em uma resposta – Nunca encontrei um humano que fizesse algo de bom a um demônio. Foi por isso que você ficou sentimental assim, por culpa daquele homem.

Marceline estava tremendo de raiva, com a franja por cima dos olhos voltados para o chão. Ela pegou o braço de Finn bruscamente e voou com ele para longe do castelo do pai. Eles sobrevoaram alguns quilômetros da Nightosphere até chegarem a uma montanha alta e pousarem sobre uma rocha fixa lisa e grande o suficiente para sentarem em cima.

A paisagem era toda avermelhada. A rocha da montanha era vinho com pequenos cristais brilhantes em vermelho vivo, o céu era acobreado (não da forma assustadora do sonho de Finn, mas não muito animadora também) e os demônios em fila no chão, muito distantes; todos com a pele em tons que variavam do vermelho pastel ao marrom avermelhado. Aquele lugar dava claustrofobia a Finn. Marceline havia passado alguns anos da pré-adolescência ali, e ele se perguntava como ela se sentia com relação a esse lugar e tudo o que ele e seu pai representavam na sua vida. Ela estava com os joelhos dobrados e a cabeça escondida entre eles. O barulho dos rios de lava correndo e dos demônios lá em baixo conversando não deixava Finn saber se ela estava realmente chorando, mas seus ombros tremiam. Ele se aproximou e colocou o braço em volta do seu ombro, abraçando-a.

Ficaram algum tempo assim, até que Marceline secou os olhos com as mangas da camisa xadrez que vestia e levantou a cabeça. Seus olhos estavam brilhantes e um pouco avermelhados. “Será que tudo nesse lugar acaba vermelho?” Pensou Finn. Marceline se levantou e ele a seguiu. Ela o pegou pelas axilas e o colocou sobre um pequeno monte perto de onde estavam que tinha o topo mais nivelado, ignorando suas perguntas sobre onde ela o estava levando.

– Fica aqui – ela disse e se virou, flutuando de volta à rocha onde estavam. Não era como se Finn tivesse muita escolha. Ele não sabia escalar com um braço, lembrou-se com raiva.

Marceline pousou na rocha onde estavam e encostou a testa na montanha, como se fosse uma parede. Depois começou a dar socos na rocha, mas parou rapidamente quando suas mãos doeram devido às pancadas e as bolhas que haviam se formado no dia anterior, quando ficou exposta ao sol. Elas já estavam praticamente saradas devido à sua recuperação acelerada de demônio-vampiro, mas estouraram e ficaram feias e ardendo com os socos. Então sacou seu machado das costas e começou a golpear a rocha, arrancando lascas pequenas da pedra. Finn percebeu que havia vários outros lugares da montanha com rochas fáceis de sentar que tinham marcas como as que Marceline estava fazendo, enquanto ela gritava coisas inteligíveis e ficava muito vermelha e suada, completamente descontrolada. Isso durou por alguns minutos, até que Marceline só parou com a testa na rocha novamente e respirou fundo algumas vezes.

Depois de algum tempo Marceline e Finn estavam de novo sentados na rocha maior. Finn tinha um kit de primeiros socorros e desinfetou os machucados e bolhas e Marceline antes de enrolá-los com uma gaze. As duas mãos ficaram praticamente cobertas por completo com o pano. Embora a vampira insistisse que os machucados não demorariam a sarar Finn cuidou deles mesmo assim, pois se sentiu um imbecil por não defender Marceline das coisas que seu pai lhe dissera, fosse verbalmente ou na base da porrada mesmo.

Ela ainda estava um pouco chateada e falava dezenas de coisas que seu pai lhe havia feito durante seus longos mil e três anos de “vida”, xingando a ele e a si mesma por ainda vir atrás dele. Finn sugeriu que eles voltassem para o reino de Ooo, mas Marceline quis resolver o assunto com Bubblegum antes disso, pois assim ele não a chamaria novamente tão cedo.

~~

– Princesa, Finn e Marceline estão aqui para vê-la. – Chamou Peppermint Butler, acordando a princesa. Era por volta de uma hora da manhã, então ela estava dormindo há uma hora.

– Mande-os esperar no salão. E vão esperar muito, por terem me acordado.

No salão Marceline estava sentada no parapeito da janela e olhando as estrelas, enquanto Hunson fumava novamente sentado num sofá e Finn arrumava pretextos para não contar a um Guarda Banana especialmente intrometido como havia perdido seu braço. Ele não estava com ânimo naquele dia.

– Acho bom ser um motivo que valha a pena me acordar, Finn – disse Bubblegum ao abrir as portas do salão. No mesmo instante o Guarda Banana tomou sua posição de estátua e Finn e Hunson olharam para ela. Marceline ficou na mesma. – Ah, Sr. Abadeer. Guardas, Peppermint, deixem-nos.

– Não precisa se preocupar Bonnie. Eu já estou de saída, você vem Finn? – disse Marceline, evitando olhar para o pai e com a voz mais tediosa que conseguiu fazer.

– Na verdade eu queria ver com a Bubblegum sobre o braço, Marcy. – Finn estava sem saber o que fazer. Ele queria continuar a andar com Marceline, mas também queria ajuda de Bubblegum, e talvez uma chance de bater em Hunson.

– A gente pode te esperar no laboratório então, né Bonnie? Ok. – ela disse já flutuando sobre as escadas.

– Na verdade eu gostaria que você ficasse Marceline. Gostaria de ter os seus conselhos.

– Ok. – Marceline sentou num sofá ao lado de Finn e lá ficou sem falar muito.

– Perdoe os maus modos da minha filha, princesa. Ela acordou com o pé esquerdo hoje. – Disse Hunson, dando a última baforada de fumaça antes de esmagar o cigarro sobre um cinzeiro que haviam lhe dado.

– Acordou ou foi você que a fez ficar assim? – Disse Finn, raivoso. Marceline lhe deu um aperto forte no braço e fez um gesto para que ele deixasse para lá, e ele se calou. Bubblegum foi direto ao assunto.

– Bem Sr. Abadeer, gostaria de falar sobre a sucessão da Nightosphere, como mencionei antes. Achei que o senhor marcaria uma conversa comigo antes de aparecer aqui, então não tenho nada muito planejado, mas tenho a intenção de dar a sua dimensão de presente a um velho amigo.

– Desculpe a intromissão princesa, mas infelizmente não há sinal de telefone na Nightosphere.

– Eu entendo. Sinto muito o incômodo.

Marceline bufou de tédio. Finn ouvia Bubblegum curiosa por saber para quem ela daria a Nightosphere, interessado também nos modos educados de Hunson ao tratar de negócios. O homem sabia mudar o tom de voz quando queria.

– Bem, então quais são as condições?

– Primeiramente eu preciso saber para quem a senhorita pretende dar a Nightosphere, afinal, não posso deixá-la nas mãos de qualquer um. E também preciso repensar o pagamento e adequá-lo às suas condições.

– Eu pretendo dar ao Peppermint Butler. Ele já tem alguns negócios com a morte, o senhor o conhece. Quero dar de presente de aposentadoria, no ano que vem.

– Conheço claro, já jogamos golfe algumas vezes – Marceline franziu o cenho com a imagem estranha de uma partida de golfe na Nightosphere. Geralmente seu pai jogava baralho com os parceiros de negócios de outras dimensões – é um ótimo rapaz, sabe ser cruel quando precisa. Dará um ótimo líder. Infelizmente não posso dar o amuleto de família a ele, é uma tradição dos Abadeer. Alguns dos meus ancestrais já foram teimosos o suficiente a ponto de não quererem governar, como Marceline, mas o amuleto sempre ficou na família até naturalmente seus filhos pedirem o cargo. Não sei como farei com Marceline, já que vampiros não procriam entre si com tanta facilidade.

– Ok... – Bubblegum ficou um pouco desconcertada com aquela explicação sobre a vida sexual dos vampiros - Então imagino que sem o amuleto o preço diminui, correto?

– Não, pelo contrário. Como os Abadeer têm prioridade sobre o trono, os pretendentes ao cargo devem pagar muito. O preço normal é matar, com uma arma branca e completamente consciente, a criatura que mais amam no mundo.

– O quê? – Gritaram Finn e Bubblegum, ambos incrédulos.

– Eles pagavam, o que nós poderíamos fazer? Precisávamos de regentes. Uma vez um rapaz matou toda a família para conseguir o amuleto também. Meu avô contava que ele não o conseguiu, mas reinava como ninguém, nunca se viu tanta crueldade.

– Mas se alguém tem o sangue frio de matar quem ama, então não deve amar essa pessoa tanto assim. – Argumentou Finn.

– Eles amavam mais o poder, humano, isso é fato. Mas foram poucos os Abadeer que desistiram do cargo, e menos ainda os regentes. Princesa, eu sei que não pagará esse preço, até porque não tem como.

– Por quê?

– Motivos pessoais, Finn. Pergunte à princesa quando quiser. – Respondeu Hunson, e Bubblegum rapidamente percebeu de quem ele falava e ficou vermelha. – Pensarei em formas de pagamento, mas tenha certeza que serão várias e cansativas, princesa. Desculpe incomodá-la, tenha uma boa noite. – E desapareceu num buraco na parede do castelo, que se regenerou logo depois exceto por um risco fino, como se tivesse sido feito a lápis.


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Notas finais do capítulo

Agora começa o outro lado da fic, porque só amorzinho às vezes cansa.

E Hunson! Adoro esse cara desde o dia em que descobri que ele assalta a geladeira à noite. Sei que não há sinais que ele fuma no desenho (até porque né, mau exemplo), mas resolvi criar isso pois imagino que ele é um cara meio estressado no dia-a-dia e os cigarros devem ajudar a lidar com o "trabalho", os problemas com a Marcy, etc. Não fumem crianças, faz muito mal, te deixa fedendo e atrapalha todo mundo à sua volta. (E ouçam o conselho da tia porque eu sou mais velha do que a maioria de vocês, com certeza.)

Aceito críticas construtivas, desabafos, testemunhos, declarações de ódio e amor, etc etc etc. Reviews!