Annabeth’s P.O.V

Thalia continuou de joelhos e soluçou mais. Eu chorava também... O dragão branco era o último sobrevivente saudável, por assim dizer, dos dragões... Todos os outros enlouqueceram diante do sofrimento, do caos. Da guerra e da destruição.

Ao pensar em guerra, olhei para Nico. Sempre me perguntava como foi para ele, quando era apenas um garotinho, viver no meio do início de uma guerra. Uma guerra que trouxe apenas destruição. Morte... Como será que foi viver no mesmo tempo que Hitler?

Se ele conseguisse se lembrar claramente da infância, aposto que tiraria dez nas provas de história sobre os anos 40...

Percy me abraçou por trás.

– Vai ficar tudo bem, Annie...

– Agora o único dragão no universo é o Nico... E ele nem é totalmente dragão.

– Ainda bem... – Comentou Nico. – Senão eu enlouqueceria também...

Rimos baixinho. Nico estava tentando subir um pouco o astral... O que era estranho para alguém que nunca vê o lado bom em nada...

Até conhecer Thalia.

Limpei as lágrimas.

– Acho que algumas palavras devem ser ditas. – Olhei para Nico. Ele olhou para Thalia e ela lhe entregou a espada dele.

Nico pegou sua espada e pousou a ponta delicadamente no chão. Depois, disse palavras em grego antigo.

“Que os deuses o guardem, Sábio Dragão Branco. Encontre a paz...”

Baixamos as cabeças e ficamos em silêncio. Thalia quebrou o silêncio quando gemeu baixinho. Nico a olhou.

– O que houve?

– Dor de cabeça, eu acho... – Ela tentou disfarçar. Eu soube na hora que Thalia estava mentindo. E Nico também...

– Thalia... O que está havendo?

– N... – Antes que falasse, ela gemeu mais alto e caiu sobre os braços de Nico. Ele ficou de joelhos e a aninhou em seu colo. Percy, Jason e eu corremos para mais perto, para ver o que estava acontecendo.

Nico a observou, depois viu algo e tateou pelo pescoço de Thalia desesperadamente.

– Cadê o frasco? – Ele se desesperou. – Onde está?!

Estendi o frasco, que estava em minha mão. Ele o pegou e levantou delicadamente a blusa que Thalia usava, que só naquele momento notei que estava manchada de sangue...

Cheguei mais perto e arquejei.

Havia um ferimento no flanco de Thalia. Bem acima da cintura. Pelo tamanho, havia sido feito com uma adaga...

– Acho que a pessoa que montava o dragão a acertou quando eles despencaram... – Falei. Depois olhei para Nico. – Quem era?

Ele suspirou e me olhou enquanto abria o frasco.

– Luke...

Arquejei e arregalei os olhos. A cena de Luke fazendo o que fez (principalmente com Thalia) invadiu meus pensamentos. Não podia estar acontecendo...

Nico rasgou um pedaço de sua camiseta e o encharcou de néctar. Ao aplicar no ferimento, Thalia gritou e segurou seu braço com força.

– Shh... Calmati... Io sono qui... Andrà tutto bene. – Ele afagou seus cabelos...

Ah, não! Já não bastava o dragão branco! Não vou suportar duas perdas no mesmo dia!

– Nico... Está doendo...

– Shh... Vai dar tudo certo... Estou aqui com você.

Lágrimas de dor banharam o rosto de Thalia. Ela agarrou-se à camiseta de Nico com força.

– V-vai... Ficar t-tudo bem... – Ela tentou dizer para si mesma.

– Sim... Vai ficar tudo bem, mia bella...

Ela sorriu e se aconchegou no colo de Nico enquanto ele passava mais néctar no ferimento, que cicatrizava aos poucos...

– Ah, Nico... – Ela suspirou. – O que eu seria sem você?

Ele a embalou devagar. Jason ajoelhou-se ao lado dos dois.

– Ela vai ficar bem?

Nico assentiu fracamente.

– Isso se tomar néctar constantemente por hoje. – Ele tocou seu rosto. – Ela está com febre... Por... – Ele fechou os olhos. – Aproximadamente dois dias é melhor que ela permaneça no chalé sob vigilância constante...

Jason o olhou. Depois olhou para Percy e eu.

– Nos revezamos?

– É melhor... – Falamos. Nico assentiu.

– Vocês vão ficar com ela na maior parte do tempo, não? – Perguntei para Jason e Nico. Eles assentiram.

– Vou levar ela para a cabine...

Nico levantou e levou Thalia nos braços para sua cabine.

Olhei para Percy...

– Luke... – Suspirei. – Não acredito. Aquele maldito ser, além de fazer com que Luke ficasse mal novamente, agora resolve brincar com os sentimentos de todos nós... O que mais ele pretende fazer?

– Não sei... Melhor ficarmos prevenidos.

– Com certeza...

Eu o abracei.

– Estou preocupada... Com Thalia.

– Também... Aquela adaga não devia ser normal... Você viu como o néctar demorou a fechar o ferimento? E ele nem fechou totalmente!

– Acho... Que devia ter alguma coisa naquela adaga...

– Concordo.

– Percy... Thalia cuidou de mim desde que eu era criança... Agora é ela que está precisando de ajuda.

– Daremos toda a ajuda possível...

Assenti e ele puxou meu rosto para um beijo.

Que foi interrompido por um som que parecia ser o de uma moto acelerando.

– Leo! – Chamei. – O que foi isso?

– É a pedra branca! Está acelerando o caminho para a próxima pedra!

Entrei na sala de controles. Leo estava segurando a pedra sobre o que me parecia um GPS... Olhei o local aonde chegaríamos...

– Havaí? Por quê? – Indagou Leo.

– Mais precisamente, uma ilha vulcânica... O que implica que a próxima pedra é...

– Fogo. – Ele concluiu. Depois sorriu. – Agora sim farei o que eu quero!

– O que você quer?

– Queimar geral.

Dei-lhe um tabefe.

– Ai... Só estava brincando. – Ele me olhou. – Parece abatida... Descanse mais um pouco...

Relutante, assenti e entrei em minha cabine. Tentei ler algum livro de arquitetura antiga, mas minha cabeça estava confusa demais para conseguir me concentrar.

Por que ele está ressuscitando pessoas importantes para nós? Por que não nos ataca diretamente? Por que guardar tudo para o final? Por que temos que sofrer tanto? Por que algo que nunca fez parte de nossa mitologia está resolvendo NOS atacar?

Por que a Thalia?

Com todas essas perguntas martelando em minha mente, adormeci...

E não tive sonhos agradáveis...

Eu estava envolta por névoa... Em um lugar sujo e empoeirado.

Um morcego gigante, que deduzi ser Drácula, estava de pé, olhando para uma forma ajoelhada, que reconheci como Luke.

– Você não a trouxe! Como pôde falhar com uma criatura daquele tamanho para te ajudar? Como você conseguiu falhar diante de um simples rapaz?

– Um simples rapaz que pode virar um dragão, mestre...

– Você não fez nada! Apenas matou um dragão que nem sequer fazia parte da tripulação! Você é um servo tão inútil!

– Mas... Mestre... Eu fiz algo...

– O que você fez?

– Usei a adaga que me deu para atingir a garota.

O morcego se enfureceu.

– VOCÊ O QUÊ? – Ele virou uma mesa. – SABE A QUANTIDADE DE VENENO E MAGIA NEGRA QUE ESCORRE POR AQUELA LÂMINA? SABE COMO É DIFÍCIL ARRANJAR UMA CURA? SABE QUAL É A CURA?

– N-não... Mestre.

Eu já estava em desespero. Havia muito veneno na adaga. E Thalia não iria melhorar, pioraria aos poucos... Ela morreria sem que pudéssemos fazer algo.

– A única cura... É um tipo de chama...

– Mas no navio tem um garoto com o poder das chamas.

– NÃO UMA CHAMA COMUM, SEU DESMIOLADO INÚTIL! – Ok, agora pegou pesado... Mesmo que Luke fosse vilão, ele não tinha o direito de ofendê-lo assim... E Luke era muito esperto. Aquilo havia sido uma suposição... Até eu recorreria a Leo... – Estou falando da chama de um pássaro...

– Fênix?

– Sim. Apenas a chama da fênix é capaz de curar o ferimento da garota... Mas não a trará dos mortos.

– Então... Ela está envenenada... E deve chegar a tempo de receber a cura, senão...

– Sim. Senão nem a pedra negra a trará de volta.

– Então...

– Eu já farei uma visita pessoal... Você deve cuidar de minhas noivas até que eu retorne. Tenho que fazer tudo sozinho, afinal.

O morcego saiu voando pela janela...

Olhei para os lados, confusa, e Hazel apareceu à minha esquerda.

– Aja rápido, Annie! Thalia não tem muito tempo!

Acordei num pulo. Eu havia acabado de descobrir algo importante.

Saí em disparada da cabine. O sol estava quase se pondo.

– NICO! – Soquei a porta da cabine.

Nico abriu a porta.

– O que foi?

– Importante... Acabei de descobrir. – Meu desespero não me deixava formular frases completas, então apenas uma palavra saiu de minha boca. A palavra que resumia toda a situação. A palavra que resumia todo o assunto. – Thalia.

Nico deixou que eu entrasse na hora. Sentei em uma cadeira e ele deitou-se na cama, deixando que Thalia deitasse em seu colo. Ela já estava caindo no sono.

Contei todo o meu sonho para Nico. Detalhe por detalhe... Mencionei até mesmo Hazel. Ele já estava desesperado quando acabei.

– Hazel?

– Acho... Que ela está nos ajudando.

– Sim... Mas... Se esse negócio de chama for verdade...

– Temos que alcançar a pedra vermelha rapidamente!

Ele assentiu.

– O néctar vai atrasar veneno – Falei. – É melhor ela tomar constantemente.

Nico assentiu.

– Obrigado, Annie...

Assenti em resposta e saí da cabine.

– Leo! – Chamei. Não obtive resposta. – LEO!

– O que foi criatura?

– Acelere o navio... Aquela pedra é a única que pode salvar Thalia.

Leo assentiu e não fez mais nenhuma pergunta. Em menos de um minuto, estávamos já no mar em direção à ilha... Eu sabia que havia sido a Pedra Branca que fizera aquilo... Já que ninguém conseguiria partir da Antártida para o Havaí em um minuto.

– Chegaremos em meia hora. Amanhã vamos descer.

– Amanhã nada! – Cortou Nico. Ele havia aparecido do nada, fazendo com que eu e Leo pulássemos de susto. – Assim que chegarmos!

– Não, Nico... É melhor esperar.

– Ótimo! Eu espero com toda a paciência enquanto a Thalia morre aos poucos! Todo mundo espera!

– Nico... Calma.

– NÃO! NINGUÉM VAI ESPERAR AQUI ENQUANTO ELA APENAS PERDE MAIS TEMPO! VAMOS SAIR O MAIS CEDO POSSÍVEL! – As sombras ao nosso redor ficaram inquietas, enquanto Nico gritava, um silvo se misturava a um rosnado junto com sua voz.

– OLHA AQUI, CARA! EU É QUE DECIDO QUANDO VAMOS DESCER! E NÃO VAMOS SAIR À NOITE COM VISIBILIDADE ZERO E UM BANDO DE MONSTROS NOS ESPREITANDO! – Berrou Leo.

– SE FOSSE A CALIPSO, APOSTO QUE VOCÊ NÃO PENSARIA ASSIM! A THALIA É A ÚNICA QUE PODE ME MANTER VIVO! MINHA FAMÍLIA! MAS VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE ISSO, JÁ QUE MATOU A PRÓPRIA MÃE!

Leo se enfureceu e lançou uma coluna de chamas em Nico, que se transformou em dragão na hora e cuspiu fogo. As chamas estavam empurrando umas às outras. O calor era insuportável...

– Parem com isso!

Nico parou com o fogo e Leo também. Pensei que ficara tudo bem, mas Leo olhou para Nico.

– E outra, a Thalia é só mais uma que você vai acabar perdendo! Você amaldiçoa todos que te amam! Todos morrem! Você tem o péssimo hábito de perder todo mundo! Se estivesse perto de Hazel quando ela estava lutando, talvez ela não tivesse morrido! Se tivesse impedido Bianca de ir, talvez ela não tivesse morrido! As duas morreram por SUA culpa!

Agora foi demais. Nico voltou à sua forma humana e correu até Leo com a espada nas mãos. Leo tirou um martelo de aço e os dois começaram a duelar.

Nico descreveu um arco com a espada que teria decapitado Leo se ele não tivesse abaixado. Nico tocou um bracelete e ele virou um escudo negro. Com um crânio no centro... Leo gritou ao olhar para o crânio e largou o martelo, caindo de joelhos.

– O que você está vendo, Valdez? – A voz de Nico estava diabolicamente alterada. Ele falava devagar de um jeito assustador. Ainda apontava seu escudo para Leo. – O que está te assustando tanto? O que está te causando sofrimento? – Ele agarrou a gola da camiseta de Leo. – É bom sofrer, não é? Assistir a algo que te traria sofrimento? SABE QUE MINHA VIDA TEM SIDO ASSIM DESDE QUE FUI PARA AQUELE ACAMPAMENTO? SABE QUE MINHA VIDA TEM SIDO ASSIM DESDE QUE BIANCA MORREU? SABE O QUE É SER CERCADO DE PESSOAS QUE VOCÊ AMA PARA PERDER TODAS ELAS NO FINAL? – Nico já tinha lágrimas nos olhos. Ele soltou Leo com ignorância. Depois preparou-se para pegar o escudo novamente...

– Nico... – Chamou uma voz fraca. A voz de Thalia. Ela vinha andando com dificuldade até o namorado. – Não... Não faz isso...

O escudo de Nico voltou a ser um bracelete no mesmo momento. Ele virou e Thalia, já não aguentando caminhar, tossiu e desabou nos braços dele.

– Ah, Thalia... Não era para ter saído... Não pode fazer esforço, amore mio...

– N-não tem que machucar ninguém, Nico... Você não é esse tipo de pessoa... – Ela tossiu. – Eu posso esperar até amanhecer.

Nico balançou a cabeça desesperadamente.

– Não pode, não... Eu não quero te perder...

– Por favor... Não entre em desespero... Eu vou ficar bem. É só até amanhecer.

Nico a abraçou e olhou para Leo, que estava encolhido. Com um olhar de choque. Abraçando os joelhos.

– Foi apenas uma visão, Leo... Estão todos bem. Está tudo em ordem...

Leo olhou para ele e assentiu, depois suspirou antes de confessar.

– Desculpe... Eu realmente não faço a menor ideia do que é sofrer... Não deveria ter ferido seus sentimentos daquela maneira... Você não teve culpa de nada.

Nico apenas assentiu enquanto embalava Thalia...

– Desculpe pelo que eu disse... Aquilo foi mais meu lado de dragão negro violento...

Leo assentiu.

– Vamos descer assim que os primeiros raios de sol surgirem...

Nico assentiu e carregou Thalia de volta para a cabine.

Quando olhei em volta, vi que os outros estavam observando...

– Vocês ouviram... – Falei baixinho. – Melhor descansarmos pelo tempo que ainda resta.