Thalia's P.O.V

Acordei envolvida por braços fortes e frios... Frios como gelo.

Os braços de Nico...

Estar na presença dele me acalmou pelo dia anterior... O simples fato de o Nico dizer "oi, Thalia" já faz o Sol nascer em meu mundo... E estar envolta em seus braços não me trazia frio... Trazia conforto...

Abri de vez os olhos... Eu estava com a testa apoiada no... Er... Uau!

Que abdômen definido! Pelo Glitter da Zeuza poderosa! Que garoto sarado! Lindo! Gostooooso!

Fui tirada de meus devaneios quando notei que ia babar... Meu olhar foi ao seu rosto... Ele era lindo... Até mesmo quando dorme! Parecia dormir tão levemente que o menor movimento o acordaria. Tinha um sorriso sonhador nos lábios. E eu me perguntei que sonhos estariam passando por sua mente no momento...

Nico tinha mais um motivo para seu sobrenome: di Ângelo... Ele dormia como um anjo... Tranquilamente... Eu ainda estava abraçada com ele... Eu não ia soltá-lo... De jeito nenhum!

Eu sentia o contato com sua pele fria pelo meu corpo quase inteiro... Era confortável... Era como ligar o ventilador em um dia de frio. E depois se enrolar no cobertor. (N/A: Eu faço isso! Heheheheh! Podem me chamar de estranha, mas é muito confortável para mim... Alguém mais faz?).

Fiquei apenas observando o movimento suave de seu peito e seus ombros enquanto ele respirava... Suavemente. Levemente. Nem chegava a produzir ruídos!

Eu ia continuar minha inspeção... Mas tínhamos que partir... Partir em uma missão... Sabendo que um de nós morreria... E eu tinha certeza de que não seria Nico... Eu não posso deixar!

Nem que eu morra, vou protegê-lo! Já corri o risco de perdê-lo uma vez... E não vou correr de novo! Juro pelo Estige!

Olhei novamente para ele... Seria doloroso acordá-lo... Tirá-lo desse estado tão tranquilo... Tão lindo de se contemplar...

Me aproximei mais um pouco e dei-lhe um beijo. Um selinho... Ele se mexeu um pouco e grunhiu...

– Que beijinho mais sem graça...- Resmungou ainda com os olhos fechados. Ele me envolveu com mais força e me puxou para um beijo mas picante... Eu amava tudo naqueles beijos... O jeito como Nico me abraçava suavemente... Tocar seus cabelos sedosos... O sabor doce de romãs... Tudo!

Nos separamos por causa do maldito ar... Ele nos faltou no último momento! Quando o beijo seria aprofundado... E uma parte minha se lamentava por isso...

Ele abriu seus olhos negros de ônix... Eles me fitaram e aquele poço me sugou novamente... Mas dessa vez eu me sentia segura na escuridão daquele poço sem fim...

– Bem melhor assim... - Ele sorriu e eu senti o chão sumir. E o ar faltar...

– Você é lindo...- Falei colocando a mão em seu rosto. Ele a segurou e levou aos lábios.

– Você é mais. Eu poderia ficar um ano inteiro te contemplando se sequer piscar...

Eu ri.

– Seus olhos me deixam louca. Eu gosto de ficar abraçada com você... É como sentir calor no gelo.

– "Quando sentir meu calor, olhe nos meus olhos..."

– "É onde meus demônios se escondem"... - Completei. - Eu amo essa música.

Ele sorriu e me beijou mais uma vez.

– Eu te amo. Não sei como consegui suportar tanto tempo. Acho que estava mais lerda que o Percy. Ou estava sofrendo de cegueira mesmo.

– Eu adoraria continuar te abraçando assim, mas temos que ir...

Suspirei e senti o medo de perdê-lo voltar. ele pareceu ter notado, porque me abraçou mais forte.

– Não vou te deixar... Se você não me deixar também... Aí ou eu me mato, ou roubo sua alma do Hades.

– Se eu pudesse, ficaria o dia inteiro aqui... - Esperei que aquele abraço durasse mais dez minutos...- Vamos?

– Infelizmente... - Ele me deu um último beijo antes de levantar. Ele saiu da cama e sumiu na escuridão... Eu nem sabia para onde ele foi. Uma parte minha se desesperou. Não dava para enxergar nada naquela bagaça! Não sei nem como ele saiu sem bater de cara com alguma parede.

Me estiquei para espreguiçar e notei que eu estava de roupa íntima. Senti meu rosto queimar quando lembrei.

Meus deuses! Se ele tivesse notado no começo que o fecho do sutiã era na frente, teria rolado muita coisa a mais! Ainda bem que no momento em que suas mãos vaguearam nas minhas costas procurando o fecho eu pedi para que ele parasse!

Pelo menos ainda sou virgem...

Me levantei e logo me senti desesperada. Eu não enxergava merda nenhuma naquele breu!

Ok, Thalia. Primeiro passo: Encontre uma parede!

Vaguei cegamente, com as mãos à frente do corpo e os sentidos bem alertas! Senti o toque frio da obsidiana. Ok, encontrei a parede do chalé...

Segundo passo: Procure a porta do banheiro!

E se o Nico estiver tomando banho?

Tudo que terei para dizer é: ops!

Apalpei cegamente a parede. Até tropeçar em um tênis e cair.

Quem foi a criatura estúpida e sem cérebro que deixou essa droga aí?

Ah... Fui eu.

Me levantei e fui em outra direção. Não na direção contrária... Acho que estava indo para o fundo do chalé.

Quando senti a parede. Não senti a pedra fria.

Era quente! Parecia estar queimando em brasa.

Afastei a mão e gritei. Era muito quente. E eu tinha certeza de que me queimei...

– Thalia?

Senti os braços de Nico me envolverem... Eu devia ter pego aquela única tocha fraquinha que só iluminava a cama!

– Deixe-me ver... - Ele segurou minha mão. Depois passou os dedos levemente e beijou a palma com carinho... - Só está bem vermelha... O que houve?

– Toquei em alguma coisa quente. - Funguei... Ainda doía.

– Me perdoe... Eu devia ter ligado a cascata...

– O que? Que cascata?

Ele beijou o topo de minha cabeça.

– Fique aqui.

Me sentei e esperei... Um brilho laranja iluminou o chão à minha frente... Olhei para trás. Nico havia acabado de puxar uma alavanca. Ao seu lado, uma cachoeira de lava que começava no teto e descia até um pequeno poço no chão iluminava o chalé de Hades.

Por isso eu me queimei na pedra... A cachoeira escorre por lá!

Eu olhei melhor. Nico tinha uma toalha enrolada na cintura.

Meus deuses! Se eu tivesse entrado no banheiro...

Quem dera!

– Tudo bem agora?

Assenti. Ele sorriu.

– Essa lava... É do Flegetonte.

– Flegetonte? Como você fez para ela correr pela parede do chalé?

Ele deu de ombros.

– Quer tomar um banho?

– Se não for de lava...

Nico riu. Depois veio até mim e me abraçou.

– Pode ir. Te chamo em dez minutos... Se te encontrar despida, só posso dizer que sinto muito...

Eu o olhei e arqueei uma sobrancelha.

– Estou ciente, di Ângelo! Olha lá, hein...

– Dez minutos!

Entrei no banheiro e liguei o chuveiro. Coloquei na água fria, para ver se melhorava um pouco a mão. Ele tinha razão. Estava apenas vermelha. Mas era vermelha até demais!

Fiquei no chuveiro por uns cinco minutos. Lavei o cabelo, porque sabia que iria demorar para ter outra chance como essa. Passei o sabonete de menta que ele tinha pelo corpo. E o condicionador...

Saí do banho. Antes de entrar no chuveiro, havia feito depilação e sobrancelhas. Também hidratei o cabelo e cortei as pontas. Eu o havia deixado crescer. Ele agora chegava até um pouco abaixo dos ombros.

Pensei seriamente em cortar, mas mudei de ideia. O amarrei em um rabo de cavalo e procurei por uma roupa. Só encontrei as roupas íntimas...

Ótimo! Esqueci de trazer minhas roupas!

Coloquei as roupas íntimas, enrolei a toalha no corpo e saí...

Nico já estava do lado de fora. Só de calças. Ele estava verificando seu guarda roupa. Aparentemente tentando decidir o que levaria...

Olhei para a cama. Coloquei meus shorts jeans e meus tênis all star pretos de cano longo. Procurei minha camiseta e coloquei a de Nico porque quis. Apesar de que ela parecia mais um vestido do que uma camiseta. Chegava na metade das minhas coxas e cobria o short... Bufei. Nico não pareceu ter ouvido.

– Você demorou vinte minutos e quarenta segundos para sair do banheiro... Está dez minutos e quarenta segundos atrasada...

Eu ri.

– Então... Porque não foi me buscar?

Ele saiu de trás da porta e sorriu. Um sorriso que não era seu. Depois virou o guarda roupa e me atacou com presas afiadas à mostra.

Gritei e olhei em volta, procurando uma arma... Achei a espada de Nico. Golpeei aquele falso Nico, mas ele desviou.

Procurei em desespero por Nico. Não o encontrei. O falso Nico virou um pequeno morcego.

Pequeno o caramba! É do tamanho de Bia!

Gritei e tentei golpeá-lo de novo. Dessa vez acertei sua asa esquerda, arrancando-a. O morcego guinchou e caiu no chão. Olhei mais uma vez em volta, procurando por Nico. A porta do chalé se abriu com um estrondo e ele entrou.

Eu sorri, aliviada ao vê-lo bem, mas meu sorriso não durou nem um minuto.

Assim que a porta se abriu, o "pequeno" morcego saltou em minha direção e mordeu com força meu tornozelo. Gritei e caí de joelhos. Nico se desesperou e correu em minha direção. Ele chutou o morcego. Não sei se foi sorte ou uma mira certeira, mas ouvi um último guincho e vi que o chute de Nico fez o morcego cair certinho na fonte de lava e morrer. Carbonizado. Fervido. Cozido vivo.

Meu tornozelo ardeu de dor. Minha visão começou a ficar turva...

Tive um último vislumbre de Nico se ajoelhando ao meu lado e me abraçando com força. Senti suas lágrimas molharem minha camiseta.

Então minha visão escureceu...

(...)

– Thalia... Pode me ouvir? - A voz de Nico ecoou em meus ouvidos e minha mente.

Abri os olhos devagar... Meu olhar encontrou o de Nico. Minha visão ainda estava meio embaçada. Levei um tempo para ajustá-la...

Pisquei uma vez. Eu não estava mais no chalé de Hades. Estava em um lugar que não havia visto ainda...

Voltei a olhar para o anjo sentado ao lado da minha cama. Ele me observava com preocupação.

– Oi... - Minha voz saiu num sussurro. Ele suspirou e lágrimas se uniram ao sorriso estampado em seu rosto.

Ele me abraçou com força e eu retribuí do mesmo jeito. Depois me beijou.

– A culpa foi minha... Eu não devia ter deixado você sozinha. Me perdoa, mia bella...

– Shh... Eu estou bem, Nico... A gente ainda nem começou... Não vou te deixar...

– Fiquei tão preocupado com você... Eu é que devia ter me machucado... Não você...

– Shh... - Acariciei seus cabelos. - Está tudo bem...

Ele me olhou e tocou meu rosto. Eu sorri com o formigamento confortável em minha pele...

– Onde estamos? - Perguntei.

– Em sua cabine. No Argo II...

– Já saímos?

– Estamos em New Jersey... Já partimos...

Me desanimei. Nem pude me despedir de Jason...

– Minha mochila...

Olhei em volta.

– Serve essa? - Perguntou uma voz. Olhei para a porta aberta da cabine.

– Jason? O que...

Antes que eu terminasse de falar, senti o abraço quente e apertado de meu irmão...

– Achou que eu não ia dar um jeito de vir junto?

Eu ri...

– Como?

– Eu convenci Quíron. Disse que você era minha irmã e é minha obrigação estar perto de você em um momento como aquele. Com um pouco de convicção e uma mãozinha do Nico, Quíron deixou que eu acompanhasse vocês...

– E Piper?

– Me fez prometer que cuidaria de você e falou para eu tomar cuidado...

– Ela ficou?

– Sim... E eu não posso interferir diretamente na busca pelos cristais. Posso ajudar a passar pelos obstáculos, mas não posso pegar os cristais. Posso guardá-los, mas não tirá-los de seus guardiões.

– Mas pode usá-los?

– Sim... Tenho permissão para usar o poder de apenas um cristal.

– Que bom...

Olhei novamente para Nico. Ele nos olhava com certa melancolia, mas sorriu afetuosamente quando seu olhar encontrou o meu.

– Consegue se levantar?

– Acho que sim...

Tirei o cobertor. Meu tornozelo estava enfaixado. Havia uma parte da gaze ainda vermelha...

Coloquei primeiro o pé machucado para fora da cama, depois o outro.

Um, dois, três!

Apoiei as mãos na cama e fiz um impulso para levantar. Minha perna machucada ardeu e eu vacilei um pouco. Cambaleei, mas Nico me amparou.

– Tudo bem?

– Sim... Só me apoiei no pé errado.

– Vem...

Nico me pegou no colo e começou a me carregar para fora...

Estava anoitecendo... O mar não estava muito longe...

– Pode me colocar no chão...

Nico me colocou no chão. E assim que meus pés o tocaram, senti enjoo...

– O que houve?

– Estamos... Voando... Estou enjoada...

Nico pareceu engolir em seco. Me lembrei que Hazel tinha enjoo em barcos e navios. Senti um aperto no peito...

Cambaleei mais uma vez.

– Acho melhor eu te carregar hoje. Talvez amanhã você esteja melhor para caminhar...

Ele me pegou novamente no colo e me levou até o deque. Grande o suficiente para um dragão e quinze pessoas andarem lado a lado por lá.

E realmente tinha um dragão lá...

Leo havia consertado Festus. Foi com ele que Leo voou até Ogígia e resgatou Calipso. Depois a levou para o Olimpo e teve uma longa discussão com Zeus. Meu pai, por fim, concordou quando Leo disse que se ele não deixasse Calipso ficar, se jogaria no mar. Hefesto olhou para Zeus com raiva e ele concordou. (N/A: Quem quiser, eu faço uma One-Shot contando sobre o resgate da Calipso! É só falar nos comentários!)

O dragão de bronze nos viu aproximar e chamou a atenção dos que estavam distraídos...

– Nossa, garota!- Berrou Annabeth vindo em minha direção. - Quer nos matar do coração?

Eu ri.

– Está bem mesmo? - Perguntou Calipso, obviamente notando que eu estava no colo de Nico.

– É enjoo. Odeio voar.

Ela sorriu e foi para perto de Festus acariciá-lo.

Festus moveu a cauda alegremente quando Calipso o acariciou. Tanto que sua cauda bateu em uma caixa de bronze que estava ali perto.

– AI! - Uma voz fina veio de lá. Nos olhamos e Jason caminhou até a caixa.

– Shh! cala a boca, Anna! Vão nos descobrir!

– Mas o Tobias caiu em cima de mim! Se ele soltar um pum, eu morro!

– Ei! Só por causa disso, eu não vou sair dessa posição!

Jason tirou a caixa, revelando três crianças:

Anna, Tobias e Bia.

Nico me colocou no chão e deixou que eu me apoiasse nele.

– Vocês três estão muito encrencados!- Repreendeu. - E têm muito o que explicar!