Meia noite na Romênia.

A Lua Cheia lançava reflexos luminosos sobre o grande castelo à frente. Alguns dizem já ter sido habitado por um ser sombrio. Outros dizem ser assombrado. Existem alguns que afirmam que o castelo está abandonado. Apenas dizem para encobrir o medo e a incerteza da verdadeira história daquele lugar...

A luz da Lua lançava sombras sinistras pelo castelo, deixando as pessoas que por lá passava um tanto incomodadas... Tudo parecia imperturbável, afinal, o castelo não era habitado...

Até a chegada da limousine preta...

O veículo estacionou em frente aos grandes portões enferrujados... Um homem bem vestido com um terno, calças sociais e uma capa para complementar saltou de lá.

Estava visivelmente frustrado. Era óbvio para ele o motivo...

Queria estar voando. Voando pelas nuvens sombrias em direção ao castelo. Queria espalhar a incerteza, o medo e o terror nos habitantes daquele pacato lugar...

Para que temos asas senão para voar, afinal?

Se sentia desconfortável em veículos. Eles movimentavam-se muito próximos ao chão. Ele sempre preferiu o céu.

Duas mulheres incrivelmente belas e vestidas em longos vestidos esvoaçantes de seda saltaram logo depois. Uma ruiva, cujo vestido tinha um lindo tom de rosa, e uma loura, cujo vestido possuía um tom tão claro de verde que parecia esfumaçado.

Cada uma se postou ao lado do homem para segurar-lhe o braço. Ele beijou, com um afeto que sabia que verdadeiramente não possuía, as mãos de suas acompanhantes.

Os portões se abriram com um rangido assustador. As três figuras entravam a passos largos em seu tão familiar castelo.

As grandes portas de madeira se abriram com um rangido maior e mais assustador do que os portões. Eles adentraram silenciosamente o grande saguão de entrada.

As mulheres admiravam com encanto cada parte do cômodo coberto de teias de aranha e poeira. Elas se maravilharam quando o homem, com um aceno de seu braço, acendeu os candelabros que outrora foram de ouro. Agora estavam tão cobertos pela poeira que o ouro parecia ser cinzento.

– Mestre, é mais lindo do que como o descreveu!

Ele sorriu para a ruiva. Era feliz com suas duas acompanhantes. Mas estava insatisfeito por dentro. Faltava-lhe uma.

A pobre morena de cabelos castanhos foi morta pelo rapaz que trabalhava naquele restaurante velho. Ela não devia ter morrido. E o homem, irritado, não conseguiu obter sua vingança.

Ainda!

Duas acompanhantes é, para alguém em sua posição, um número mínimo. Incompleto. Ele precisava de mais um coração que não pode bater. Precisava de uma terceira acompanhante.

E a morena dos olhos azuis seria perfeita. Era feroz e atraente. As características perfeitas para uma perfeita jovem noiva. Sim. Seria sua mais nova aquisição.

Se ela morresse no caminho até ele? Com certeza seria uma perda deplorável, mas havia outras que lhe atrairiam com o tempo. E tempo é uma coisa que não o incomoda, já que não passa. Não para alguém que não envelhece...

E outra, a Pedra Negra que repousava em seu peito não tinha uma regra estúpida de escolha sábia. Não para ele. Essas regras não precisavam ser respeitadas por ele. Ele podia usar a pedra quantas vezes quisesse. Afinal, nem vivo estava para ter de seguir regras. E apenas a pedra permitia que ele tivesse carne, ossos e um coração. Um coração que não bate sob seu peito frio.

Sim, a morena de olhos azuis seria sua. Mas havia um obstáculo entre ele e seu objetivo.

O garoto que a protege. Que a coloca acima de todas as suas necessidades. Ele sabia que viriam atrás dele. Se passassem vivos pelos outros guardiões. Ele queria ver o sangue daquele garoto banhar o chão e as paredes. Queria ouvir seu último e desesperado suspiro. Queria que a garota chorasse sobre seu corpo inerte antes de tê-la.

E então, ela seria dele. Para sempre. E ele não se importava com as pessoas que precisaria matar para isso.

Mas, mesmo assim, seria um desperdício que o sangue banhasse o chão sem que ele o provasse. E ele provaria. Beberia o sangue daquele garoto. Mas deixaria um pouco para a morena dos olhos azuis, afinal, seria uma bela e deliciosa ironia quando ela o bebesse com prazer. E também deixaria uma parte para banhar o corpo inerte daquele garoto. Banharia seu corpo, o chão e as paredes empoeiradas. Ele queria fazê-lo sentir dor. Muita dor. Iria torturá-lo antes de matá-lo.

Foi para seus aposentos. Onde a loura e a ruiva o esperavam para confortá-lo pela morte de sua antiga acompanhante. Elas sabiam que ele teria a morena de olhos azuis. Elas estavam prontas para recebê-la. Até seu vestido de seda estava tecido!

E ele estava com sede. O motorista da limousine ainda não havia entrado no castelo. E ele desconfiava de que sua presa fugira. Mas em breve sua sede seria saciada. Ele mal podia esperar.

Seu criado o recebera muito bem. O corcunda pálido com dentes afiados sorriu quando seu mestre transpassou as portas de entrada.

Ele tinha o pressentimento de que vinham atrás dele. E a morena dos olhos azuis também. Ele tinha que tê-la para si. Seria sua mais jovem e amada esposa.

A porta de seus aposentos se abriu e seu criado entrou. O homem ergueu os olhos para vê-lo.

– E então? - Perguntou.

O criado abriu um sorriso, mostrando seus dentes amarelados e pontiagudos.

– Eles já estão a caminho, mestre.

– E?

– A morena de olhos azuis está com eles, mestre. E o garoto que a protege também.

O homem sorriu. Pela primeira vez depois de milênios as coisas dariam certo. E ele mal podia esperar para saciar sua sede tanto de uma nova acompanhante, quanto pelo sangue do que a protege.

– Excelente. - Ele olhou para suas noivas. - Vamos deixar tudo em ordem para que sejam bem recebidos.