A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 35
Escrevendo a nossa própria história


Notas iniciais do capítulo

Então... chegamos ao fim! Agradecimentos nas notas finais.
Espero que curtam! :)



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Diário do Berg

Ficamos sem reação, sem palavras. Triste fim o daquela garota. Será que foi merecido? Ou será que tudo foi por culpa minha?

Se ela não tivesse me conhecido?

— Mas é a Madalena! — espantou-se Juliana.

— Berg ... é o nome dela mesmo. E o mesmo hospício.

— Eu... Eu sei Valentina. Eu acho que... — eu nem sabia o que dizer.

Silêncio na nossa mesa. Os sorrisos se desfizeram assim como a vontade de pôr qualquer pedaço de pizza na boca. Levantei-me da mesa sem emitir nenhuma palavra.

— Aonde é que você vai?

— Eu tenho que ir lá, Valentina. Eu preciso ir lá. Me entende?

— Então eu vou com você. Nós precisamos.

Eu estava triste sim, abalado. Mas não era só eu. Ás vezes eu imaginava que a Madalena pudesse ser uma pessoa normal, que ninguém guardasse rancor, mas a vida não é um conto de fadas perfeito. Nem todo mundo tem o seu “felizes para sempre”, ou se tem, tarda a chegar.

Pegamos o ônibus e eu, encostando a cabeça na janela, — e Valentina com a sua cabeça nos meu ombro — pensava nas loucuras que aconteceram na minha vida desde que eu conheci Madalena.

Era estranho acreditar que aquilo era um ponto final.

A imagem que vimos quando chegamos no local do acidente foi pior do que a imaginação de qualquer pessoa. Os pais e a madrasta da garota choravam tentando impossivelmente consertar os erros do passado com palavras. Especialmente com o famoso “e se”.

“E se eu desse mais atenção as coisas ruins que ela fazia?”

“E se não tivéssemos matriculado ela naquele colégio?”

O fogo não estava ainda totalmente controlado. Pacientes alarmados, deitados em posição fetal na calçada em frente ao local me chamaram a atenção

— Berg, não tem nada pra gente fazer aqui. Vem! —Valentina me puxou pelo braço.

—Espera.

Uma pessoa falava com os pais de Madalena. Era o perito, que falava em um tom frio, gélido, típico da profissão dele. Pude ouvir um pouco da conversa enquanto ia me aproximando:

— Sugiro que ela seja cremada, pois fica um pouco difícil o enterro tradicional. Como já disse antes, o corpo está muito carbonizado. Meus sinceros pêsames à família. Ah, já ia esquecendo. — retirou um saquinho plástico do bolso. —Encontramos essa correntinha no pescoço da menina e …

Era a mesma correntinha que eu dera a ela alguns dias antes da tragédia. Eu lhe dei para dar sorte. Talvez a morte fosse uma saída.

—Espera, fui eu quem deu isso a ela! —interrompi.

— Garoto, você aqui? Tá feliz né? Fica sabendo que você tem uma grande parcela de culpa. — disse o pai.

—Eu? Presta atenção no jeito que você educou sua filha, depois me procura e me pede desculpa. — retruquei.

—Vem Berg, vamos embora.

—Agora sim, Valentina …

—Agora sim o quê?

—Acabou. Agora com certeza não vai ter mais nada que nos impeça de ser feliz .— Beijei-a e caminhamos, vagarosamente, eu com a mão em sua cintura.

💜

Todos os conhecidos e vários desconhecidos estavam reunidos no anfiteatro do shopping Via Sul, em Fortaleza. Cada pessoa que ali estava segurava um exemplar do livro mais romântico, dramático e um tanto quanto louco que eles leriam em suas vidas.

Ludimila Torres estava posicionada em frente ao microfone. Trajava uma roupa simples porém elegante. Não usava muita maquiagem. Estava sendo ela mesma e, pela primeira vez em tempos, minha amiga tinha orgulho de ser ela mesma.

Microfonia. Todos se calaram.

— Eu não sei muito bem falar em público. Na verdade, eu sou melhor escrevendo do que falando — disse ela, rindo, mas emocionada. — Mas eu não poderia deixar passar esse dia em branco, não mesmo. Só queria lhes dizer que eu agradeço muito aos meus amigos, Berg, Valentina, Andreza, o Rafael, que não pôde comparecer por estar em Minas Gerais.... mas, além de tudo, gostaria de dedicar esse livro à minha mãe, Maria Adelaide Torres, que Deus a tenha. Ela foi citada neste livro algumas vezes — ela levantou o livro com orgulho — e ela pode parecer até uma pessoa preconceituosa, mas apesar de tudo, minha mãe me fez enxergar a vida, ela me ensinou, no fim, que é preciso ser você mesma para ser feliz. E eu tenho certeza de que quando vocês terminarem de ler esta obra, vão se sentir exatamente como eu me sinto agora: realizada. Obrigada.

Todos aplaudiram minha amiga de pé. Valentina e eu corremos para o palco e a abraçamos. Seguramos juntos o livro “A Fórmula do Amor”. Lá, havia detalhadamente tudo o que passamos, as perdas, as dores, principalmente minhas, quando Valentina sofreu com as drogas e como ela se reconciliou com sua mãe; quando Andreza ficou grávida, os momentos felizes que ela passou com o Rafa, quando eles se separaram e aquela certeza de que, quando Rafa voltasse do exército, eles se dariam conta de que se amavam e amavam, acima de tudo, Débora. Então todos os leitores acabariam pedindo uma continuação.

— Você pode me dar um autógrafo? — disse uma moça da nossa idade para Ludi, ao sairmos do anfiteatro — eu li a prévia do livro na internet e posso dizer que eu admiro muito vocês três. E principalmente você, Ludimila, por poder mostrar toda essa história ao mundo. Você é uma artista. — a garota sorriu, exibia um brilho no olhar. Estendeu a mão. — Prazer, me chamo Patrícia, sua fã número um.

Ludimila e Patrícia trocaram e-mails. E que, mais tarde, se transformaria em algo mais sério.

Eu estava feliz em vê-la feliz.

Quando, nas férias, Rafa voltou para ver Débora – estava morrendo de saudades de sua menininha, ele teve uma conversa bem longa com Andreza – que abandonara o emprego na Mofoville e, de quebra, percebeu que aquele tal de Fernando era um tremendo de um cagalhão aproveitador.

Andreza seria, futuramente, uma DJ internacional. Ludi ficou louca quando soube que ela trabalharia com a Lady Gaga.

Resumindo: Rafa e Andreza reataram e, com Débora, decidiram ir morar em Minas Gerais, até Rafa se formar. Depois, só Deus sabia. Mas se eles estavam felizes, eu estaria mais ainda.

Já fazia um ano desde o grande incêndio no manicômio. Dependendo do ponto de vista, estava tudo normal. Mas aquele “normal” era tedioso. Sentia falta das aventuras que eu tive, por mais que muitas delas quase me custaram a vida.

O ensino público estadual estava normalizado e voltamos às aulas. Nada de novidades. Até que Valentina nos trouxe uma boa notícia para aquele fim de semana?

— Galera, nosso saturday vai ser demais!

— O que é que vai ter de tão interessante no sábado? —indagou Juliana.

—Show cover do Nirvana, lá no centro da cidade. Caraca, eu não perco essa por nada. Quem tá comigo?

—Eu tô. — respondeu Eri.

—Tô dentro. —confirmou Ludi.

O Centro da cidade de Fortaleza era um local para compras, por ter uma grande variedade de lojas, shoppings e barraquinhas de camelôs. A Galeria do Rock era um point pra galera que curtia um bom som, e que queria comprar camisetas de suas bandas prediletas, além de acessórios, piercings e mais uma infinidade de produtos.

De vez em quando tinha um show lá. Aquela banda cover do Nirvana era uma das melhores do país, e lotou de gente a galeria naquele dia. Claro, o show era ao ar livre e gratuito, tudo bancado pela prefeitura em parceria com a galeria do rock.

Nos encontramos Eri, Valentina, Juliana, Ludi e eu. Juliana e Eri não curtiam muito rock, mas eles queriam mesmo era diversão.

—Valentina, eu tive uma ideia. Eu vou te provar como eu sou louco por você.

—Vai fazer o quê, Berg? Eu não preciso de prova nenhuma, eu sei que você me ama, só pelo fato de me aturar por todo esse tempo. — todos riram.

Estava bem lotado, mas estávamos bem perto da banda. Era um local um tanto quanto estratégico.

Corri e subi no palco. Os caras se assustaram, mas eu só pedi uma coisa:

— Ei chapa, toca About a Girl! É pra minha namorada que tá ali. —apontei.

—Como é o nome dela? —perguntou o Kurt Cobain da vez.

—Valentina.

—E pra Valentina, About a Girl!

Desci do palco e a galera foi a mil! Aplausos e ovações pela minha “declaração de amor” vieram de todos os lados.


— Seu bobão. Vai que você caía de lá!

— Gostou ou não gostou? —Abracei-a.

— Eu adorei!

Foi o melhor show em que eu já fui na minha vida. Estava do lado dos meus melhores amigos e da garota que eu amo. Eu era um cara realizado e aquilo não se comprava em preço algum.

Retiramo-nos da praça onde o show foi feito, e logo ao sairmos uma cigana apareceu na minha frente e estendeu a mão. Ela usava um tipo de capuz que combinava com a sua roupa. De rosto abaixado, ela falou:


— Põe 10 reais aqui que eu faço ele se multiplicar.

— Foi mal, a gente já tá indo pra casa.

— É rápido! Eu juro que você não vai se arrepender. E te digo mais, você terá uma surpresa na sua vida ainda hoje. Algo vai mudar — ela falava o tempo todo de cabeça baixa e sussurrando.

— Põe logo Berg, eu quero ir logo pra casa!—aconselhou Juliana.

Eu estava com pena dela porque seu estado era bem precário e, claro, eu sabia que ela me roubaria. Contudo, retirei o dinheiro do bolso e pus na mão dela. Ela fechou a mão em forma de punho, levantou a cabeça e sorriu pra mim, dizendo:


— Perdeu!

Faltava-lhe um dente. Face irreconhecível.

—Madalena!

A cigana correu em meio a multidão, perdendo quaisquer chances de uma segunda olhada para se ter certeza.

— Não era a Madalena, Berg. Cê ta vendo coisas. Aquela garota tá morta... — disse Eri.

—Mas … mas … É, acho que eu tô ficando louco. Só espero não acabar no hospício. Mas a filha da puta me levou 10 real! Eu penei pro meu pai me dar essa grana.

— Liga não. Tudo o que vai, volta. —disse Ludi.

— Só se for mesmo. Quem sabe ele não vem em forma de uma nota de cem, já que ela disse que ia multiplicar?

Caímos na gargalhada. Fomos embora, levando tudo na boa, aquilo e tudo que sucedesse na nossa vida. Se nossa vida fosse uma novela, aparecia um “FIM” bem grande na tela. Aquele seria um ótimo final feliz.

FIM


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Notas finais do capítulo

Ufa!
Foram seis meses de muitas emoções, risadas, chororôs. Mas tudo o que é bom para alguns acaba. E, como eu sempre digo, uma fic nunca tem fim, a não ser que o autor a exclua do site. Você pode voltar e ler aquela cena que você mais curtiu :)
Agradeço a todos, todos mesmo. Aos fantasmas e aos que comentaram, favoritaram e recomendaram. No total, são noventa pessoas e eu gostaria de dar um abraço em cada um de vocês. Eu comecei a postar essa fic com medo, pois ela não é bem o que as pessoas costumam ler, mas confesso que me surpreendi.
Espero que vocês tenham gostado da fic também espero que vocês tenham um 2015 cheio de realizações *-*
Quem quiser continuar comigo e gostarem de uma fic com uma pegada bem questionadora em alguns aspectos, vou deixar o link da minha nova história
http://fanfiction.com.br/historia/207815/Os_Cliches_de_Rosemary/

Mil beijos e fiquem com Deus.!