A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 31
Vivendo em oração


Notas iniciais do capítulo

Sim, o título é por causa daquela música do Bon Jovi que toca no último episódio de Todo Mundo Odeia o Chris. A tradução não tem muito a ver com o capítulo, mas o clima da música sim.
https://www.youtube.com/watch?v=bXsmGSnq3lE



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Diário do Rafa

Promessas de amor, pensamentos de um futuro bom. Tudo foi por água abaixo. Servir ao exército foi uma decisão tomada – confesso que – sem pensar. Mas se ela não me entendia mais, e eu não a entendia também, não via o porquê de forçar um relacionamento. Nós éramos sim muito imaturos e não estávamos prontos para entrar de cabeça em tamanha responsabilidade.

Eu fiz isso pela minha filha, Débora, que eu não sei se vai me perdoar um dia por ter um pai ausente, mas foi por ela. Pelo seu bem. Ela não poderia viver bem em um ambiente de brigas e rancor.

Em meio a tantas despedidas, minha mãe, meu ex-cunhado, meus amigos, eu virei as costas e fui. Até que ouvi o som do celular do Berg. Era a Andreza ligando. Pelo tom da sua voz ela parecia desesperada.

— O quê? Como assim a Débora sumiu? — Berg estava incrédulo ao telefone. Suas pernas tremiam.

Voltei imediatamente para onde estava minha mãe, Berg e os outros.

— Calma Andreza! – continuou Berg, tentando acalmar a irmã pelo telefone. – Nós já estamos voltando.

— E eu vou com vocês. E quando eu chegar vou tirar minha filha das mãos daquela irresponsável. — Falei.


💜

Diário do Berg

Legal da parte do Rafa ter vindo com a gente. Mas ele era pai, era o mínimo que ele tinha que ter feito! E, Putz, minha sobrinha sumiu! Mas quando eu e Valentina saímos de casa, ela estava dormindo perfeitamente no berço!
Andreza chorava e se auto punia imaginado o pior.

—Alguém invadiu a casa! Quando eu acordei estava tudo revirado e minha filha não estava no berço. O portão estava escancarado!

— Calma, Andreza. Como alguém podia entrar aqui em casa se só quem tem a chave somos nós. Cada um fica com uma cópia: eu, você, a mamãe e o papai. Falando nisso ...

— O que foi, Berg? – Valentina perguntou.

— A minha chave ... não tá comigo. – Imediatamente lembrei-me do episódio acontecido mais cedo. — Eu sei quem pegou a Débora.

— Quem?

— A ex nerd agora gótica esquisitona.

— A Madalena?

Eu não gostava de pensar na Madalena com uma garotinha tão frágil quanto Débora. Um motivo ela teve para sequestra-la. E eu estava disposto a dar minha vida se fosse preciso para salvar a bebê.

Com Madalena não poderíamos brincar.

💜

Fomos até a casa da Madalena, e seus pais nos disseram que ela também havia sumido.

—AQUELA MALUCA DA MADALENA SEQUESTROU MINHA FILHA. — Andreza se debatia pelos nossos braços. Ela estava desequilibrada, sempre pensando no pior.

— Minha filha não é maluca e tampouco sequestradora. Isso o que vocês estão alegando é muito grave. – Disse o pai dela.

—Laércio, aonde você quer chegar com isso? Sua filha fugiu de casa. – Disse a madrasta. – Gente, a Madalena sequer dormiu em casa esta noite. Ela não estava tomando os remédios e o seu comportamento estava muito estranho.

— Estranho é pouco. — Disse Ludi.

💜

Diário da Madalena

Minha filhinha linda. Só minha e do Richard. Ela tinha os meus olhos e o narizinho dele! Como era bom nanar a Débis (o apelido carinhoso que dei a ela). Tão boazinha era ela, não chorava e não dava trabalho...

—Agora nós somos uma família. — Disse Richard ao me beijar.

💜

Diário do Berg

Ver minha irmã sofrendo pela falta da filha me partia o coração. Débora era minha sobrinha e além do mais o problema da Madalena era apenas comigo. Resolvi pedir ajuda à Valentina.

—Valentina, você sabe onde esses góticos andam?

—Não tá pensando em ir até lá?

—Já pensei. Onde eles ficam?

A última vez que eu entrei num cemitério foi quando a avó de uma amiga minha morreu há muitos anos. Mas não foi à noite. Estávamos bem em frente ao cemitério do Parque Bom Jardim, que ficava no nosso bairro, mas um pouco distante da minha casa.

—Tem certeza de que quer continuar, Berg? – perguntou Valentina.

Até pensei em desistir. Aquilo era trabalho pra polícia. Mas se tratando de um bebê inocente nas mãos de loucos sanguinários eu não podia desistir.

—Vambora, Valentina. – respondi. – É hoje que a Débora volta pra casa e aquela gótica filha da puta vai pra cadeia!

Precisamos pular o muro. Pra vida de um nerd aquilo não se encaixava e não combinava nem um pouco. Mas quanta loucura eu já tinha feito até ali! Pelo menos não tinha cachorro, né.

Os pega-ladrões improvisados de garrafas de vidro pinicavam na minha bunda e eu acabei rasgando um pouco a minha calça jeans ao pular. Valentina nem precisou da minha ajuda.

—Pensei que você tivesse experiência. – brincou ela.

—Não tenho nada. Mas o que eu não faço por quem eu amo, não?

—Será que você pularia se os cachorros da minha avó estivessem aqui?

—Olha Valentina! — apontei para o norte.

Alguns jovens góticos estavam reunidos tomando vinho barato, declamando poemas e alguns se beijando e quase transando em cima dos túmulos.

— Será que se a gente se aproximar eles vão achar ruim? – perguntei.

—Não é uma boa ideia. Esses caras são os maiores antissociais. Tá vendo a Madalena?

—Ela tá ali quase se comendo com o marido dela. Só a Débora que não tá por ali. Eu nem quero imaginar o lugar em que a bebê esteja.

—Vamos ficar de olho naqueles dois e quando eles saírem a gente mete o pé e segue eles. Essa história vai ter um fim nessa madrugada.

Minha barriga estava gelada e quase eu não conseguia me concentrar. Depois dos poemas começaram a cantar algumas músicas, o que me fez perder a paciência.

— Ah bando de idiotas! – peguei uma pedra e joguei na direção deles, atrapalhando aquele tipo de suruba ou sei lá o quê que eles estavam aprontando.

—Berg! Seu louco!

A pedra foi bem em cima do namorado da Madalena. Até que a ideia deu certo. Os dois tiveram que pular o muro para ir pra casa e provavelmente cuidar dos ferimentos.

Estávamos a um passo de achar Débora. Bastava que nós os seguíssemos.

Porém, parecia até que Valentina e eu não sabíamos com quem nós estávamos nos metendo.

💜

Diário do Rafa

Na casa da família Araújo, ninguém dormia, ninguém comia. Não se fazia nada lá a não ser rezar e chorar. Resolvi ficar lá, afinal a filha também é minha. Meu problema com o exército eu resolveria depois. E pensar que eu cheguei bem na porta!

Berg e Valentina haviam sumido, pra completar o desespero dos pais dele.

—A culpa é sua! – disse meu ex-sogro. – Você não tinha nada que abandonar a sua filha e a sua esposa.

—Olha aqui, quem resolveu sair foi a Andreza. Eu não a obriguei a nada.

—Eu saí por que você é um bruto. E você me traiu! —defendeu-se Andreza.

—Eu estava bêbado!

Eu sempre falava aquilo, por mais que eu soubesse que não era desculpa.

No mais, encontrar minha filha era a principal coisa naquele momento com a qual nós devíamos nos preocupar.

💜

Diário da Valentina

Saímos correndo rua adentro com o Berg reclamando que a sua calça estava rasgada e a bunda dele também. Precisávamos encontrar o esconderijo de Madalena e do seu novo mancomunado.

— Vamos, seguindo em frente Berg. A ideia foi sua, mas eu to adorando isso!

— É por que a dor não é em você. Aaai!

Eles entraram no meio da favela e lá chegaram a uma casa que devia ser mega fedida por dentro. Entraram e, talvez pelo desespero (Richard veio derramando sangue da cabeça o caminho todo) deixaram a porta aberta.

— Porra cara, deixaram a porta aberta. Se bem que... Parece que não tem nada pra roubar aqui. – falei.

—Vamos aproveitar e entrar, ora! — Berg estava disposto a acabar com tudo aquilo.

Enquanto Madalena tentava estancar o sangue de Richard, Débora chorava muito em cima da cama. Parecia suja e com fome.

—Manda essa menina calar a boca, Madá.— disse Richard.

— Ela não me escuta amor!

— Deve estar com fome!

— Não tem comida pra ela.

— Dá vinho, sei lá! Ai, tá doendo demais. — Madalena segurava um pano sobre o ferimento de Richard — Só sei que minha cabeça vai explodir se eu passar mais cinco minutos ao lado dessa pirralha.

Madalena repreendeu Richard com um tapa nas suas costas.

Não fala assim! Ela é a nossa filha, Richard! A nossa filha! E eu não quero que você a renegue.

A garota estava visivelmente descontrolada. De certa, por causa da ausência dos seus remédios.

Enquanto isso, Berg foi correndo até o quarto pra pegar a criança. Continuei escutando a conversa dos dois:

— Chama a ambulância, Madá. Eu não aguento mais, talvez o sangue não estanque e eu tenha uma hemorragia!

— Richard... você é muito molenga! Tá maluco? A polícia tá atrás da gente. Aqueles filhos da mãe querem me pegar. Vou lá no quarto pegar o curativo. Segura esse pano aí.

Berg vinha na direção da porta com Débora nos braços quando foi surpreendido por Madalena. Corri e fui pra cima dela, quando desferi um soco no seu rosto.

—Corre Berg! — gritei. Minhas mãos se encheram com os cabelos tingidos daquela maluca.

—E você? — Berg ficou parado, sem saber o que fazer.

— Me deixa! Vai, Berg, eu me cuido com essa gente! — desferi um soco no rosto de Madalena. Ela era visivelmente mais fraca que eu, e não era tão boa de briga.

Berg, apreensivo, correu, mas Richard estava pronto com um revólver na mão.

—Daqui ninguém sai! Se vocês entraram aqui, só sairão com a nossa permissão. — Disse ele com uma voz macia. Nem parecia que ele estava nos ameaçando.

💜

Diário do Berg

Richard continuou com a arma mirando em mim, que estava com o bebê nos braços, e na Valentina que estava furiosa. Madalena por sua vez, levantou-se do chão, tomou a arma do namorado e começou a dar ordens:

—Me dá a MINHA filha seu nerd nojento!

— Ela é minha sobrinha, filha da minha irmã Andreza. Você sabe disso, sua desequilibrada! Você não pode ter filhos, você não teria capacidade de tomar conta de alguém. Não cuida nem de si mesma!

—Vocês perderam a Débora! Me entrega ela logo ou eu atiro na cabeça dos três. Dos três.

Fizemos o que ela mandou, morrendo de medo. Mas se fizéssemos o contrário a barbaridade seria pior.

— Fiquem de joelhos! AGORA! JÁ! — ordenou a gótica.

Obedecemos e nem por isso deixamos de apanhar. Ela desferiu uma coronhada certeira na minha cabeça e outra na da Valentina.

Valentina xingou Madalena, o que fez com que a psicopata tivesse sua ira aumentada em cem por cento. Sendo assim, Madalena acertou outro golpe na cabeça da minha namorada.

—Vadia é a sua mãe. Drogada!

—Escuta Madalena. – tentei negociar. – Libera a Valentina. O teu problema é comigo. Se você quiser bater, matar ou dilacerar alguém que seja a mim. Deixa ela ir embora levando a Débora.

— Eu não abro mão da minha filha. Olha eu já estou indo, não vou perder a paciência com vocês dois, pombinhos... Richard!

—Oi? — respondeu o gótico, ainda com a cabeça sangrando um pouco

— Amarra os dois e deixa eles ali. — disse ela apontando para um quartinho escuro e fedorento. Vamos ver se eles não aprendem a lição. Ninguém mexe comigo.

💜

Diário da Valentina

Não se sabia se tudo aquilo era uma espécie de sequestro e se algum dia sairíamos dali vivos. Ouvíamos a pequena Débora chorar. A coitadinha com certeza estava faminta e não podíamos fazer nada.

Eu não sabia rezar, mas se tratando de estar nas mãos de dois malucos, tratei logo de pôr em pratica o que eu sabia. Eu acreditava em Deus sim, mas não tinha religião. Meus pensamentos sobre religião são os mais profanos que existem. Começamos a ficar com fome e com sede também. Se ao menos eles não tivessem confiscado nossos celulares, poderíamos ter algumas chances. Nosso instinto foi gritar, e os góticos já estavam bastante perturbados, já que além de nós ainda havia a criança pedindo comida.

Um facho de luz, de repente, invadiu o quarto escuro. A primeira pancada foi no Berg que calou a boca rapidinho. Depois acertaram um soco em mim.

— Calem a boca! Amanhã a gente vai dar um fim em vocês. – disse aquele alguém. — Mas, se continuarem, podem ter certeza de que não verão o amanhã.

O breu passou a invadir o quarto totalmente e eu comecei a me preocupar, pois depois da pancada, Berg não disse uma palavra.

—Berg? Berg?

Tentei chacoalha-lo, encostando meu corpo no dele.

Mas nada acontecia.

Ele estava esticado no chão, inconsciente.

💜

Diário do Rafa

Já fazia 24 horas. Além de termos de nos preocupar com a Débora, tinha o sumiço do Berg e da Valentina que perturbava nossas cacholas. O clima na casa dos Araújo continuava não sendo dos melhores.

—Eu tô com medo. — confessou Ludi.

—Calma Ludi. Daqui a pouco eles aparecem. – acalmei-a.

—Essa garota deve ter arrastado o meu filho pra um desses lugares que ela frequenta. – comentou maldosamente a mãe do Berg.

Andreza continuava chorando e desferindo acusações contra todo mundo.

—Tá vendo Rafa? Tá vendo no que deu você se enfiar por aí com aquelas vagabundas?

—CALA A BOCA! – me estressei. – SE É PRA COLOCAR CULPA EM ALGUÉM, QUE SEJA EM VOCÊ, QUE TAVA DORMINDO, SUA IRRESPONSÁVEL. VOCÊ VAI PAGAR SUA LÍNGUA, VAI SIM!

Alguém chamando no lado de fora da casa interrompeu a discussão. A mãe do Berg foi abrir a porta e me surpreendi quando a tal pessoa entrou: Era Fernando, patrão de Andreza na boate Mofoville.

Era só o que me faltava.

—Só vim trazer minha solidariedade nesse momento difícil. – disse ele.

—Já tem solidariedade demais aqui. — comentei.

Andreza começou a chorar no ombro do cara. Não sei se foi pra tentar fazer ciúmes, mas não conseguiu. Ah, tá bom, conseguiu sim. Ficava dizendo que precisava de apoio, que estava passando por um momento difícil e que se puniria caso o pior acontecesse com Deb.

Fora isso, a polícia continuava fazendo a ronda no bairro e nas redondezas em busca dos nossos amigos e da minha filha.

Eu continuaria rezando sem dar bola praqueles dois.

💜

Diário do Berg

Quando acordei estávamos dentro de um porta-malas de um carro em movimento. Eu ia gritar, mas Valentina tapou minha boca.

— Shhhh fica quieto. — sussurrou minha namorada — Você apagou a noite toda.

— Onde a gente está?

— Colocaram a gente dentro de um carro. Eles vão tentar matar a gente! E depois vão se livrar dos corpos num lugar em que ninguém possa nos achar. Estamos fritos, Berg.

Comecei a me desesperar.

— Calma! – disse ela. — Eu tenho um plano, mas você vai ter que confiar em mim, ok? Ei ... Eu te amo Berg. Se eu morrer eu quero que você fique sabendo disso.

—Não, você não vai morrer! Vai dar tudo certo. Eu confio em você com a minha própria vida, Valentina.

—Você já desperdiçou muito tempo da sua vida comigo. Tá na hora de retribuir, mas é arriscado. Não importa o que acontecer comigo, você corre. E salve a Débora.

— Isso tá errado Valentina. Eu tinha que te salvar. A Madalena quer me matar, e não você. Valentina, você é inocente nessa história toda.

—A gente tá junto nessa. Eu tô com você e você comigo. Somos um só.

O carro finalmente parou depois de alguns minutos. Suspense. O que seria de nós?

Aqueles poderiam ser os últimos momentos de nossas vidas.

E a única coisa em que eu poderia pensar era no futuro que poderíamos desperdiçar.


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Notas finais do capítulo

A fic vai no máximo até o capítulo 35. Será que até lá tudo vai se resolver? O que vai acontecer com os nossos pombinhos? E a Débora? o.O