Fiquei imaginando várias coisas para fazer com a cara dele quando eu o encontrasse e agora que Adamastor está aqui na minha frente simplesmente o convido a entrar.

— Tá legal? O que você está fazendo aqui? O que foi que aconteceu naquele dia com vocês e o Sr. Walter? Onde está a Dany? E o que diabos é um Meio-sangue?

— Olá! Há quanto tempo não nos vemos? Como tem passado? E a escola? Estou feliz por te ver de novo.

— Chega de enrolação! Me responda agora! — Peguei ele pelo colarinho da camisa e o encostei na parede.

Seria como naqueles filmes de ação se Adamastor não fosse maior do que eu.

— Ok, ok. Vamos nos acalmar.

— Acalmar? Você roubou minha namorada

— Cara, não foi bem isso...

— E o que foi então?

— (suspiro) Eu tinha que proteger ela.

— De que?

— De quem. Tinha que protege-la dos monstros que a procuravam.

— Que monstros? Você tá ficando louco? Porque teriam monstros atrás dela?

— Porque ela é uma Meio-sangue. Assim como você.

— Isso de novo? Que diabos é Meio-sangue?

— Meio-sangues são... — De repente ouvimos um barulho vindo do telhado.

Adamastor começa a farejar o ar.

— Pra que isso? Eu acho que foi só um gato.

— Tenho certeza que não. Tem cheiro de algo maior.

— Não mude de assunto. Você ia me contar o que é essa história de Meio-sangue.

— Meio-sangues são filhos de deuses!

— Todos nós somos filhos de Deus. Segundo a bíblia ele nos criou e...

— Não disse Deus, disse deuses. Deuses gregos, como Zeus, Hera, Atena...

— Ok, você pirou de vez.

— Tem muita coisa que você ainda não sabe, mas tem que confiar em mim, Hélio. Desde que você completou 13 anos sua vida se tornou um perigo constante. Monstros estão sempre à espreita.

— Se eu sou um “Meio-sangue”, — Fiz aspas com os dedos. — Porque os monstros ainda não me atacaram ainda?

— Isso eu não sei, mas você viu o licantropo que nos atacou naquele dia.

— Licantropo não são os lobisomens?

— Sim, mas sem a lua eles tomam a forma humana.

— Então, você quer dizer que o Sr. Walter era um Lobisomem?

— Não era, é! Não conseguimos destruí-lo, apenas fugir dele. E acho que ele vai vir atrás de você. Você tem que vir comigo para o acampamento meio-sangue. Lá é o único lugar seguro.

— Vamos ver se eu entendi: Eu e a Dany somos filhos de deuses gregos, tem monstros em todos os lugares me procurando, nosso ex-professor de Biologia é um lobisomem e eu tenho que te seguir para um acampamento que seria o único lugar seguro para mim?

— Sim, sim, o nome é licantropo e sim. Agora podemos ir?

— É claro! Vamos lá!

Caminhamos até a porta, mas quando Adamastor atravessou eu tranquei a porta. Ele ficou do outro lado, batendo na porta e mandando abrir.

— Sinceramente Adamastor, procure um psiquiatra. Boa noite!

Ele continuou batendo, mas parei de ouvi-lo quando fui para o quarto. Com certeza era uma pegadinha ou algo do tipo. Não posso negar que aquilo me impressionou bastante, sou fascinado por mitologia. Imagine se eu fosse mesmo filho de um deus. Lutar contra os monstros descritos nas aulas de história seria o máximo.

Acho que Adamastor descobriu meu interesse nessa área e deve ter pensado em aprontar alguma com a minha cara. Devo pontua-lo pela criatividade, a história dele foi incrível, mas não passou disso, história!

Peguei meus fones, e coloquei meu MP3 em reprodução aleatória. As primeiras três músicas foram daquele repertório romântico que tinha aprendido a gostar depois que terminei com a Dany. Depois foram mais dois rocks antes de pegar no sono.

Com tanta gente para sonhar adivinha com que eu sonhei. Isso mesmo!

Adamastor estava no meio de uma mata. Ele estava andando sem as muletas, mas o jeito com que ele se movia era muito estranho. Em suas mãos, eu vi um pequeno instrumento, parecia uma daquelas antigas flautas de bambu. Seus olhos examinavam cada arbusto que se mexia na escuridão da noite.

— Olá Adamastor. Que bom te encontrar nessa noite tão linda. — Disse Sr. Walter saindo detrás de uma árvore. — Aliás, não acha que o luar hoje está incrível?

Adamastor olhou para a grande lua cheia apreensivo.

— Para trás! — Ele levou a flauta à boca como quem se prepara para tocar.

— Não me entenda mau, eu não quero você. Não me compare a um lobo em busca de ovelhinhas. Quero algo maior e você sabe onde está a minha presa.

— Não pense que vou deixar você pegá-lo, Walter.

— Se não me engano o menino não quis a sua ajuda, não foi? Ele não acredita em você. Venho o observando já faz um tempo. O garoto é muito cético, ele acredita apenas em provas concretas. Ele não te dará outra chance de convencê-lo.

— Mesmo assim, eu o protegerei. Assim como fiz com a Dany. Ele vai acabar acreditando em mim. Ele vai para o acampamento comigo.

— Tenho que discordar. Até porque você não vai passar dessa noite.

Sr. Walter soltou o uivo mais aterrorizante que ouvi. Seus olhos tomaram aquele tom escarlate novamente. Sua roupa começou a rasgar, mas ao invés de pele, por baixo da roupa tinha pelo branco e brilhante. Suas unhas começaram a crescer e se transformar em garras. O nariz dele ficou alongado, se assemelhando a um focinho.

Após o resto da transformação não havia mais Sr. Walter, apenas um grande e forte lobo branco. Os olhos sanguinários da fera encaravam Adamastor.

— Palmas pelo showzinho, mas como não paguei o ingresso acho melhor ir embora. — Ele se virou para correr. Entretanto viu que estava cercado. Havia mais três lobos do pelo castanho impedindo sua fuga.

— Então eu terei que usar minha arma secreta.

Eu esperava que Adamastor fosse tirar uma metralhadora de algum lugar e mandar bala nos quatro lobos, mas o que aconteceu foi ainda mais surpreendedor. Ele pegou a flauta e começou a tocar.

O lobo branco uivou e os outros partiram para o ataque.