Dia ensolarado. Muito sol. Pássaros de fundo. Crianças correndo, pais sorrindo e tirando fotos, avós cozinhando... É um belo dia, todos devem concordar? Do outro lado da cidade, uma garota cobre os olhos, fugindo da luz, encaminhando-se a uma sombra com um celular na mão. Essa garota sou eu. E é nessa hora que o filme acaba. Um sorriso no rosto. Um final feliz.

Porque os filmes de terror são sempre de noite? E nunca em um dia tão belo como este? Ás vezes, querendo ou não, a realidade é mais assustadora. Mas, não vamos nos focar nisso de assustador. Vamos no focar no real. Novamente, assim como algum dia, procurei essa palavra no dicionário. É incrível quanto ele é, em alguns termos, manipulador.

re.al1

adj m+f (lat med reale) 1 Que existe; que tem existência no mundo dos sentidos; que não é imaginário, verdadeiro; ontológico. 2 Dir Que diz respeito às coisas. 3 Dir Que está ligado à coisa, ao bem, e não só à pessoa. Antôn (acepção 1): imaginário, fictício. sm Tudo o que existe.

O que eu, Wend Foda-se o Mundo (M maiúsculo, por favor!), teria a dizer sobre isso? Bem, o que vocês acham que eu responderia? “Isso é mentira. O real não existe. Eu estou louca, eu estou viva”. Exatamente. Acertei? Deixei a desejar? Ou isso não aparece algo que Wendy Foda-se o Mundo (Não se esqueçam do M maiúsculo) diria?

As pessoas não entendem. Elas acham demais. Acreditam em coisas demais e ferram pessoas. Sim, eu estou brava. Eu falei isso uma vez. Uma única vez. E, eu aposto que todos pensam que eu sou louca e que eu deveria consultar um psiquiatra. Mas, sabem quem está errado? Vocês. Riem do meu clichê idiota. Riem de mim.

Eu rio do meu mar de lágrimas invisíveis. Considero isso algo forte. Mas, vocês sabem quantas vezes que eu estava no chão e não chorei. Quantas vezes senti medo e não precisei de ninguém para dizer “Vai ficar tudo bem”. Isso é ser forte? Essa merda de fingir que não sente nada; essa droga de ilusão é ser forte? Por favor, diz que não.

Ninguém responde. Vamos ao dicionário novamente. Por que, apesar de errado, ele não me deixa sozinha. Não reproduz minhas explosões. Não... Ri do meu rio. Eu rio. Achei engraçada essa relação medonha. Rio de risada e rio de água, medo, sentimentos. Rios. Tem horas que eu não sei até que ponto é bom estar calada para todos e barulhenta para mim.

Meu pé adormeceu. Meus olhos estão embaçando de segundo em segundo. Sempre um novo problema surgindo. Até quanto esse sentimento vai durar? Essa angústia. Até quando as pessoas pensarão o pior de mim? Essa merda toda. Para sempre seria uma tentativa legal. Estou bebendo um suco de abacaxi. Estou quase vomitando nele. Tão falso... Mas eu engulo.

Estou com medo.

Quem será que vai rir de mim agora? Acho que estou paranoica. Talvez louca. Porém, isso é legal. É legal ser louca. Estou esperando, não sentada, será rápido, usarem isso em uma conversa. Tipo, “Nossa, esse trabalho de química está me deixando louca” e ouvirei como resposta “ É legal ser louca, lembra?” Risadas de fundo. A vida é uma brincadeira.

É um jogo que eu não sei jogar. Onde cada vez que eu acordo, eu vejo um “Game Over.” Com direto a risadas. Sim, eu estou paranoica. Mas, não irei comentar nada. Não quero ouvir risadas de brinde. Eu prefiro não pedir Mclanche feliz dessa vez.

Estou escutando “Sum 41- Pieces”. I don’t believe it makes me real. É verdade: eu não acredito que essa porra me faça ser real. Talvez, eu deveria abrir-me com alguém. Anne. Você pensou nela também? Ou em si mesmo? Adoro tentar descobrir o que as pessoas estão pensando. Isso... Isso me ajuda a não pensar somente em mim mesma.

Por exemplo, aqueles pais que estão tirando fotos de seus filhos do outro lado da cidade. Devem pensar em “Eles são tão lindos.” Ou então, devem imaginar eles olhando essas fotos empoeiradas, tendo aquela lembrança do real. Real. Isso faz com que eu pense em mim. Reviro os olhos. Odeio isso.

É algo como um vírus. Um sonífero. Você quer manter seus olhos abertos. Eles não vão me enganar. Não agora. Eles embaçam. Eu preciso piscar. Preto. Vamos lá, eles não vão me enganar. Abro os olhos. Branco, verde, amarelo... Belas cores, mas eu preciso do preto. Fecho os olhos. Por favor. Não deixe eles te enganarem... O sonífero fez efeito.

A sociedade impôs o pensamento capitalista em nós. Eu quero fugir dele. Eu não posso fugir de mim mesma. Sim, eu sou a sociedade capitalista. Eu estou pensando na escola. Porque eu falo dessas bostas quando nem na escola eu estou? Eu estou infectada.

– Wendy, querida, sua avó está chamando você para almoçar. - Eu a encaro. Eu estou infectada com a porra da sociedade e eu preciso almoçar. – Vamos, Wendy, ela quase nunca vem aqui. - Continuo encarando-a. Todo fim de semana é a mesma coisa. - Wendy...

Game Over. Risos. Afinal, foi engraçado? Foi mesmo. Apenas um almoço. Vocês perderam a ideia. Eu estou infectada! INFECTADA.

– Wendy, eu não vou chamar você de novo.

Parece que a garota que cobre os olhos, fugindo da luz, enquanto procura uma sombra com um celular na mão não está do outro lado da cidade. Fim. Game Over. Palavras soltas como o vento. O tornado foi embora. Vamos sentar e almoçar.

– Wendy Foda-se o Mundo, você quer ficar de castigo?- Eu posso dizer sim. Mas, eu estou infectada. Então, suspiro e respondo:

– Já estou descendo.