Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 48
Henry Martin


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Henry Martin

Música Tema da YHG I

Ergueu um dos olhos para Henry. O menino estava tão enjoado que vomitou sua coelha pelo caminho, mas sabia que Henry só fazia aquilo para sua segurança. Desde que Sylvester mandou-os fugir, ele não parara de correr, nem um segundo para respirar. Kristov sabia que aquilo era o fim para um deles, e esperava que fosse o seu fim, e não o de Henry. Quando notou que o irmão mais velho ofegava, puxou-o pela mão e ela parou para olhá-lo. Indicou a rua, no meio dela, a Cornucópia.

– Está louco? Ele vai nos encontrar, óbvio demais!

– Sim – Kristov concordou, com um sorriso em lábios. – E é para encontrar mesmo. Não vamos fugir eternamente, e se Sylver abriu mão da vida por nós, o que custa para mim...

– Calado! – Henry lhe acertou um tapa ardido na bochecha – O que está dizendo? Idiota! Você tem que proteger sua vida, se não vai morrer, e nunca mais vai ver nada, nem sentir, nem pensar, nem...

– Eu nunca fui útil. – Kristov deu de ombros.

– E você acha que sou útil? – Henry respirou fundo. – Eu vim do Distrito 07 e nem sei segurar um machado. Aquele menino com machados sabia usá-los mais do que eu, e matou duas pessoas com aquilo. Eu estaria morto se não fosse... Se não fosse essa sua loucura.

Kristov sorriu. Gostava de admirar sua loucura, como uma espécie de ponto positivo. Ele era diferente do resto, e ser diferente daquela gente era a melhor coisa do mundo. Afinal ele pensava. Quando finalmente pararam diante da Cornucópia, Kristov levantou os olhos, vento a nuvem de chamar aquiescer-lhes o corpo. Henry era alto o bastante para subir até o segundo degrau da Cornucópia, mas Kristov teve de ser carregado. E não se importava com isso. Quanto mais aproveitasse o contato com a pele de Henry, mais feliz ficaria, afinal não teria a sensação para sempre, independente de quem morresse, e ele sabia que seria um deles o vitorioso, sentia. Não permitiria que aquele menino de espada e cabelos negros vencesse. Não deixaria!

– Você está quieto.

Kristov sentiu graça.

– Eu nunca fui muito falante. – suspirou – Não tenho a mesma facilidade que encontro com você para falar com as pessoas. As pessoas nunca se importaram muito comigo. E não me importo em ser notado por elas. Só por quem amo. – ele sorriu, seu sorriso mais doloroso.

Henry o abraçou, envolvendo-o pela cabeça, colocando seu ouvido ao lado do coração. A batida era ritmada, e nem um pouco alarmada. A correria de antes não afetou a calmaria de seu pulso. Henry era sereno, e Kristov adorou ouvir seu coração. Era quente, borbulhava. Sentia-se feliz ao ouvi-lo. Junto com o coração, sentia outra coisa pulsar. Seu âmago, o lugar onde seus sentimentos emanavam. Ao lado do coração, no centro do peito. Lá, era o local mais quente e mais aconchegante. Kristov podia sentir que alguém o amava, e ficava feliz por isso. Não é todo mundo que tem essa oportunidade de se sentir amado.

– Eu te amo.

Aquilo aos seus ouvidos soou distante, disforme. Realmente ouviu aquilo? Certo, o capítulo está nomeado como Henry, mas estou contando-o na visão de Kristov, mas e daí? Aquela frase... Tirou todo o sentido de mim. E então percebi que estava mais embebido de loucura do que realmente imaginara. Minha mente divagou para meu consciente, finalmente. Sim, ele disse isso. Kristov sentiu as bochechas ruborizarem.

– Você sabe que também te amo. – respondeu. Podia se imaginar dizendo aquela frase, o tempo todo, mas recebe-la, assim, de livre e espontânea vontade? Seu peito saltou. Ninguém nunca disse que o amava.

Mas Kristov não iria se comover com frases frívolas. Ele sabia que a chegada do Carreirista era certa e, quanto menos chorasse, melhor. Afinal as pessoas devem estar estáveis para cometer um suicídio, não? Ou era o contrário. Nem mesmo sabia eu. A sombra de minha lucidez ocultava o caminho para ela mesma, e assim eu me perdia.

O céu era negro, como um corvo. As estrelas não brilhavam mais, e a única luz vinha da nuvem de fogo que os aquecia. O fogo no céu era um ponto luminoso muito chamativo. Kristov encarou o armazém, um barracão que caiu em pedaços, sabe-se lá porquê. Do outro lado da rua havia um salão, um bar, também em ruínas. Os dois explodiram. Sabe-se lá porquê. Fechou os olhos, sentindo a leve brisa da noite passar por seus cabelos. O aroma de flores e borboletas lembrava-o do Paraíso.

– Pra onde você acha que as pessoas vão quanto morrem? – perguntou, de repente, e, embora tenha demorado, ouviu a voz de Henry, calma e lenta, como sempre.

– Eu não sei, nunca conheci alguém que tivesse morrido e voltado a vida para contar.

– Eu acho que as pessoas vão para o Paraíso. – contou, sentindo náuseas. Aquele era um pensamento que guardara para si, sem nunca revelar.

– Paraíso?

– Um lugar onde seus sonhos acontecem, tudo o que não pôde realizar em vida. Como uma recompensa por sofrer tanto. Apenas pessoas boas de coração vão para o Paraíso, e eu pretendo ir para lá. Mas acho que quem mata não vai. Então eu não irei.

– Você não matou ninguém. – Henry o soltou, para olhar em seus olhos.

– O menino do machado. Você só puxou a lâmina, mas eu o empurrei para a guilhotina. – Kristov tive, com a voz trêmula e manhosa. Ele era apenas uma criança...

– Então não iremos para lá, nem eu, nem você.

– Promete que não vai sem mim? – questionou, levantando a cabeça para encará-lo. Seu irmão. A pessoa em quem mais confiava, que entregaria sua vida, em quem depositaria toda sua fé. – As pessoas que não vão para o Paraíso ficam...

– Num lugar ruim? – ele sorriu. – Não haveria lugar ruim conosco juntos. – Henry o prendeu em seu braço e bagunçou seus cabelos. – Entende?

– Sim. – sorriu, ao se livrar do mais velho.

Kristov gostava de Henry, desde a primeira vez que o viu, dentro daquele poço, onde morreria de frio. Henry o salvou tantas vezes que não sabia contar. E o amava por isso. Mas ele também o ensinou a confiar nas pessoas, a socializar e a reconhecer um inimigo. E o amava por isso também. E o amava por ser seu. E por ser uma pessoa maravilhosa, por ser incrível. Henry era tão perfeito! Quando crescesse, seria igual a ele. Se crescesse.

A noite era bela, mas nada foi mais belo do que ver Aryon com a espada ensanguentada, correndo em direção a eles. Henry puxou sua adaga. Aquela maldita adaga, que o salvou tantas vezes. Aquela arma pequena venceu um par de machados, Henry venceu um assassino. E Kristov sabia que ele venceria Aryon. Mas assim que o Carreirista desferiu o primeiro golpe, notou algo incrivelmente diferente da primeira luta de Henry: seu oponente não estava cansado. Aryon não suava, na verdade ele aspirava energia. E era rápido. Meu Deus, como era rápido! Seus movimentos cortavam o ar, assim como navalha corta a carne. A fina espada servia com velocidade e para ele, e Henry era uma mosca, parada, zumbindo, esperando pelo tapa que o mataria. Kristov sentiu o medo tomar seu rosto, onde o sangue turbilhoou e deixou tudo fervendo, os ouvidos zumbindo, e ele já não era capaz de ver outra coisa, além da luta.

Henry puxou o braço antes que Aryon abaixasse a lâmina. Por pouco não perdia sua mão. Que inferno, ele era rápido! Cortava tudo ao seu redor, como se não houvesse obstáculos. Seus pés eram ligeiros, e ele regulava sua respiração, sem ofegar ou vacilar. Tinha completa coordenação motora, sua espada era uma extensão de seu braço. Mas o mataria, para livrar Kristov de uma morte. Não deixaria aquele Carreirista vencer. Mas o que faria? Não havia o que pudesse fazer! Aryon era rápido, era esperto. Henry não tinha chances. Quando caiu no chão, tropeçando no degrau da Cornucópia e se deitando sobre ela, sentiu as costas reclamando. A coluna. A ponta dos dois degraus, do primeiro e do segundo, da Cornucópia alfinetava seu corpo e ele não podia se deitar, sentar ou qualquer coisa além de manter as costas arqueadas e os joelhos flexionados. O braço esquerdo se sustentava, mas o direito estava livre. Ergueu a adaga para o queixo de Aryon, e ele viu antes que pudesse completar o giro. Aryon ergueu a espada. Henry viu a lâmina descendo, sabendo que ela perfuraria seu estômago e o mataria em menos de dez minutos.

Não! – Kristov se atirou na lâmina, agarrando-a com as duas mãos e escorregando por cima do corpo de Henry e caindo na plataforma a praça, rolando no chão e não largando a espada e nem abrindo os olhos, ofegante.

Aryon não esperava por isso. Henry aproveitou.

Ergueu a adaga para a mão de Aryon, conseguiu cortar seu ombro. Ele guinchou, mas não emitiu gritos de dor ou qualquer coisa como ódio, apenas raiva. Henry saiu debaixo dele e apontou a adaga. Aryon avançou, para sua surpresa, desarmado. Henry se viu derrubado no chão novamente, mas desta vez era o chão mesmo, nada de Cornucópia. Ao seu lado Kristov se enrolava na espada. Henry vislumbrou um vermelho escarlate no borrão de Kristov, mas nada mais. Aryon o socou no meio da testa, deixando-o desorientado. Quando aqueles dedos sujos e cheios de areia entraram sem hesitar em sua retina, Henry perdeu totalmente o foco e o brilho do mundo, sendo devorado pelas trevas. Sentia o sangue escorrendo pelo canto do rosto, mas nada mais que isso. Nem mesmo os dedos de Aryon ele sentia, nem dor. Apenas vazio. No desespero, moveu a adaga para cima e para baixo, numa tentativa de acertar um golpe mortal. A sorte, essa desgraçada! Onde estava a vadia? Queria estupra-la e vê-la gritar por piedade! Mas antes, o canhão.

– Kris! Kris! Kristov! – sua voz enrolou na garganta e teve de tossir para prosseguir – Kri-Kristov! Kris...

O silêncio.

– Kris...

O abraço. Seu peito teve dificuldade em subir ao buscar ar. Os braços esqueléticos e pequenos o envolveram, enquanto seu corpo se aquecia. Mas nada via, tudo não passava de um borrão, nem mesmo um borrão, apenas uma mancha negra, que tinha se espalhado por tudo. O sangue ainda escorria por seu rosto.

– Henry, eu disse que você conseguiria. Eu sabia. Eu pensei, eu... – o garoto balbuciou. – Ele fez isso com você. – Kristov tocou seu rosto, com delicadeza. – Ah, o que ele fez com você...

– O que aconteceu?

– Você cortou o braço dele. Uma tal de Artéria Braquial, foi o que ele disse. Imobiliza a pessoa, e o sangue do corpo inteiro sai, até que ela morra. Só possuímos duas delas no corpo todo, e são importantes.

– O Carreirista deu uma aula de Anatomia antes de morrer?

Kristov riu, e ouvi-lo sorrir deu forças a Henry. Estava cego, já não valia viver. Viver sem ver o mundo? Sem ver as pessoas, sem ver sua vida? Que graça havia nisso. Ainda mais se Kristov tinha uma vida inteira pela frente, era jovem, muito mais jovem que ele, e tinha muito mais direito de crescer do que ele.

– Kris... Onde está minha adaga?

– Aqui – o menino disse, mas Henry já não podia saber onde era “aqui” – Eu sei que nunca vai me perdoar por isso, Henry, mas... Às vezes as pessoas fazer coisas ridículas umas pelas outras. Até o nosso inferno.

E Henry não soube se a adaga atingira o seu coração ou o de Kris.


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Notas finais do capítulo

Fim.