Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 47
Sylvester Cherishmont


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo! Boa leitura.



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Sylvester Cherishmont

Bastille - Get Home

Sylvester encarou o entardecer. Naquele dia seis canhões haviam tocado. Era o sexto dia de Arena. O Sol ainda castigava o deserto enquanto o nível de seu medo aumentava. A noite chegava, e ele temia ver os rostos no céu. A Baixada sempre o deixou desconfortável, afinal eram tributos mortos. Mortos! E ele simplesmente não gostava de pensar nisso. Apenas Henry e Kristov foram ver quem eram os dois tributos mortos pelo garoto dos machados, duas meninas. E depois de mais quatro canhões, todos seguidos, sobravam eles e mais um tributo. E nem ao menos sabiam quem era. Sylvester só podia torcer com toda sua vontade para que não fosse Viktor.

O abrigo era mais distante que o anterior, quase fora da cidade abandonada, no lado leste, onde ninguém foi, afinal estava muito afastado da Cornucópia e não havia abastecimento de água. O local mais seguro. O céu era tingido de laranja e vermelho, como sangue. Tintas aquarela escorrendo por uma tela branca. As nuvens se agrupavam, formando um cobertor protetor sobre a cidade, e até mesmo um vento gostoso passavam pelas ruas. Mas não iria se aventurar lá fora. Temia. Tremia. E sabia que não conseguiria matar alguém. Nem que tentasse, com todo o seu ser, não mataria.

– O coelho está muito bom. – Henry elogiou, enquanto arrancava pedaços pequenos para dar a Kristov, que se sentava confortavelmente entre suas pernas. Os dois se mostraram muito mais unidos depois de matarem o garoto dos machados. Sylvester não deixava de se sentir culpado por ter apenas fugido. Mas o que poderia fazer se a única coisa que sentia era medo? Kristov ainda era doce, era tão amável que Sylvester pensou em apertá-lo, mas após ouvir o que tinha feito com o garoto dos machados, quase vomitou sua parte da coelha.

– Obrigado. – respondeu, ainda perdido em devaneios.

A casa era pequena, possuía dois cômodos, banheiro e sala, sem móveis, apenas com um tapete que servia de cama para eles. Henry assoprava ligeiramente os pedaços de carne antes de dar a Kris, e o garoto lambia os dedos, sempre em busca dos pedaços do sal grosso. Mas Sylvester não conseguia ver a beleza naquilo. Eram uma aliança. Na Capital eram chamados de Aliança dos Fracos. Entre tantas alianças, Carreirista, Vermelha, Terceiros, Relâmpago... O nome deles era “Fracos”. E eram mesmo fracos. Pelo menos Sylvester se sentia fraco. Um coitadinho, um ser repugnante. Mas não mataria. Não deixaria sua humanidade de lado para satisfazer os desejos da Capital.

– Está muito sonhador hoje, Syl. – comentou Kris. Ele raramente dirigia uma palavra a Sylvester, e quando fazia, Syl tentava lhe dar atenção. Mas hoje estava difícil. – Está pensando e alguém?

– Não uma pessoa em particular. Apenas... Em todos.

O menino assentiu e fechou os cílios longos e encurvados, deitando a cabeça em Henry. Dava para sentir a passar interior que emanava de Kristov. Não se importava de estar num lugar onde morreria com 90% de chances ou mais. Ele só se sentia seguro ao estar com Henry, e isso bastava. Sylvester queria ter esta mesma paz, mas a única coisa que sentia era... Medo. Como podia temer mais que uma criança de menos de quatorze anos? A palavra ecoava em sua cabeça. Medo. Medo.

Ele tinha medo. Digeriu cada sílaba. Me-do. Refletiu em cada letra. Pensou tanto no medo que o som da palavra perdeu sentido e passou a ser destoante, quase irreconhecível. Ele sentia medo. E se envergonhava disso.

As trevas tomaram. A noite chegara e a tela de aquarela, tão linda, se foi. Sylvester precisava aceitar que talvez aquela fosse sua última vez vendo o pôr-do-Sol. Mas as estrelas estavam tão lindas, azul, verde, amarelo... E aquela nebulosa de vermelho... Mesmo com todas aquelas cores, sentia tanta falta do céu escasso de brilho do Distrito Um... Lá, onde sua mãe e sua irmã estavam. Olhariam para ele e veriam o filho e irmão que pensaram que era? Ou sentiriam vergonha dele, por ser fraco? Sylvester ouviu quando o hino da Capital começou. Não queria olhar a Baixada, não tinha olhado um dia sequer, sempre pegando o nome dos mortos através de Henry. Mas dessa vez seus olhos foram atraídos como imã para a insígnia da Capital, e não desviou um segundo. Distrito 2, Katrine. Seu peito se apertou. Distrito 3, uma menina de óculos, apenas uma criança... Distrito 4, Sapphire. Sentiu como se fosse desmaiar. Distrito 4, Viktor. Sylvester segurou um grito nauseado. Mesmo odiando-os, amava-os. Foram sua primeira aliança, a primeira família na arena, com quem riu, com quem se sentiu protegido. Distrito 5, o menino dos machados. Distrito 5, uma garota. Distrito 8, um menino. Distrito 11, Pandora. A sorridente.

Sylvester só decorara um nome que não era Carreirista, o dela, pois a protegeu de Aryon. Isso queria dizer que... Ah... Sim. O menino do Dois estava vivo. E era Aryon. Não sentia tanto receio, mas mesmo assim... Ele não tinha coragem de lutar para matar. Aryon venceria facilmente Henry com sua espada, e Kristov... Ah, céus, Kristov... Sylvester tinha de bolar alguma coisa para salvar a aliança, seus amigos. Os Fracos. Pensou. Fritou os miolos. Mas não era a pessoa certa para formar estratégias. E antes que pudesse sequer dizer algo, Aryon já estava lá, de espada em mãos, com um lindo sorriso sádico nos lábios. Ele tremia, e a luz da Lua o banhava. Sua respiração entalou na garganta. Mas já? Os Jogos acabariam assim mesmo? Naquela casa?

Como Aryon os achou?

– Henry, Kris – gritou, levantando-se, com uma força que não conhecia. – Corram, eu acabo com ele.

A sala era um túmulo silencioso. Mas Aryon sorriu. É verdade, não? Aryon não sabia que Sylvester não era um lutador, ele pensava que era apenas um Carreirista. Ótimo, que assim seja. A única coisa que importava era deixar um tempo extra para seus aliados. Para sua família, assim como um humano faria. Sylvester se perguntou se era mesmo da natureza humana se sacrificar. Não conhecia história alguma que tornasse isso verídico, mas sentia. Quem sabe a sorte não estaria ao seu lado hoje, quando mais precisava dela? A sorte nunca esteve com sua família. Nunca esteve com ele. Nunca esteve com ninguém ali. Mas ela tinha de escolher um partido agora.

Henry se levantou, com Kris debaixo do braço, e pulou a janela com cuidado, abandonando-os. Aryon levantou a espada. As suas mãos estavam banhadas em suor, um suor frio, de desespero. Sylvester tremia. Estava mudo, toda aquela força esvaíra como um piscar. Agora era apenas uma gelatina, mole, fraco... Medroso. E Aryon o mataria.

Seus olhos se tornavam marejados, enquanto ele notava a morte se aproximando. Não queria morrer, não queria deixar de respirar. Ele não queria passar por todo aquele sofrimento, apenas para livrar aqueles que amava de um sofrimento maior. Henry... Kristov... O acolheram, independentemente de sua fraqueza. E agora era sua vez de fazer algo por eles. Não era assim que uma aliança funcionava? Os aliados se sacrificavam pelo bem um do outro, apenas alguns sacrifícios eram maiores que outros, e Sylvester não se sentia ruim em oferecer-se como sacrifício. Mas não queria que Aryon vencesse.

Quando o menino avançou, a espada atravessou seu corpo, como uma flecha. A lâmina era fina e terrivelmente afiada. Doía. Doía tanto... sentia o sangue escorrendo por suas roupas, aquecendo seu corpo naquela noite fria. O punho de Aryon segurava fortemente o cabo da estava, e quando ele a virou, a lâmina abriu um buraco em seu peito, retirando todo o fôlego. Sylvester caiu no chão, antes que pudesse assimilar tudo. Borrões dançavam em frente aos seus olhos, mas só conseguia enxergar os pés de Aryon. O sangue formava uma poça em sua bochecha, mas só conseguia... Ver aquarela.

Aos poucos, o mundo foi se fechado, até que não sentia mais o ar entrar, nem a necessidade dele. Os membros se tornaram dormentes e sua boca não tremia mais. As pálpebras não se fechavam. O corpo não respondia a nenhum comando seu. E quando sua alma notou que havia morrido, fugiu. Mas desta vez não foi de medo.


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Notas finais do capítulo

Façam suas apostas! Aryon? Kristov? Ou Henry? Quem será o vitorioso? Dica & Spoiler: O Vitorioso é um... Rapaz! Beijos da Meell.