Columbae Ballantyn

Colocou as duas mãos sobre o peito do garoto, enquanto ele explodia sangue pelas narinas, ouvidos e pelo corte profundo e avassalador que deixava a mostra pedaços de seu pulmão. A sua alma já havia abandonado seu corpo, mas o tremor ainda o percorria, enquanto as pernas se moviam incontrolavelmente e a cabeça balançava, deslocada do resto do corpo, ligada pelo pescoço quebrado. Céus!

– Desculpa... – pôde balbuciar, enquanto ele morria. – Me desculpa...

A armadilha tinha sido feita para deixarem-na afastada, mas não tinha imaginado o que aconteceria a quem fosse tentar atravessar as pontes. Os Picos Enevoados, sua Arena. Ou melhor, a Arena daquele ano. Picos rochosos cobertos por névoa estavam por toda a parte. Havia vegetação rasteira e um rio serpenteava pela Arena. Túneis cortavam algumas montanhas, e pontes ligavam alguns dos pontos mais altos. A temperatura era muito baixa, o que dificultou um pouquinho a vida dos Tributos.

Columbae tinha achado uma forma de sabotar as pontes que ligavam um pico ao outro e assim qualquer um que estivesse atravessando cairia nas rochas abaixo das pontes. E sua primeira vítima fora um garoto, de nada mais que quatorze anos. Não era isso que queria! Mas ele morreu, com uma rocha pontiaguda atravessando seu corpo, sua cabeça rachando em uma outra rocha e seu corpo inteiro sendo quebrado. Quando o céu se iluminou aquela noite, soube que o menino era do Distrito 9.

Suas outras armadilhas foram banais perto daquela, que fez morrer o tributo feminino do 7, o tributo feminino do 1, o tributo masculino do 4 e agora, de frente para o outro tributo sobrevivente, disputava a coroa de Vitorioso.

O Tributo Masculino do 2. Correu, até chegar a ponte. Ele estava quase em seu alcance e aquela ponte não tinha sido sabotada. Piscou os olhos. Moveu os dedos até a faca em seu bolso e então a escondeu atrás das costas. Atravessou a ponte e esperou do outro lado, até ele estar lá, do outro lado do pico. Sorriu, triunfante. Columbae se abaixou, indefesa, como se estivesse desistindo. E quando ele já estava no final da ponte... Saltou, cortando com apenas um golpe a gorda do lado direito, fazendo a ponte virar de ponta cabeça, jogando o Carreirista em direção as pedras.

Ela venceu.

º º º

– Columbae Ballantyn. – chamou o Idealizador.

Levantou-se, sentindo o peso do olhar de todos os outros Vitoriosos. Lá estava, junto de Fennel e Holly. O Distrito 5 possuía apenas quatro vencedores. Quando vencedores dentro de 55 Anos de Jogos Vorazes. O que era aquilo? Foi por isso que escolheram o Distrito 5 para comandar a idealização dos Jogos deste ano? A 56ª Edição, um ano após sua coroação. Columbae ainda sentia a dor na ponta dos dedos, sua pele fora corroída pelas cordas que tinha sabotado durante dias. Ouvia os outros mencionando seu nome como “A mais inteligente até agora”, mas não se via deste jeito. Humildade? Não era isso, sabia que tinha sido extremamente inteligente ao sabotar as pontes, mas... Outros naquela mesma Arena teriam merecido mais aquela coroa caso estivessem no lugar certo, na hora certa. Muitos morrem por motivos idiotas ou por estarem nos momentos errados nos lugares errados. Ela viu, ela sentiu. Quantas mentes extraordinárias já tinham morrido, quantas armadilhas já tinham falhado, por simplesmente não terem... Sorte? Era isso. Ela tinha sido sortuda, junto com todos os outros vitoriosos dos Jogos até agora. Nem mesmo o Distrito 1 ou o 2 tinha vantagem quando o assunto era sorte. Ninguém escolhia.

Sentiu os ombros tensos. Logo, meu Deus!, estaria colocando crianças para correr.