A Busca escrita por Lola


Capítulo 7
Emanando a morte.




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Eu desço para tomar café da manhã usando apenas meu pijama, short e camiseta, o cabelo bagunçado e descalça. Pareço a morte (ah, que ironia!) e não estou de bom humor. E isto não tem nada a ver com alguém estar me perseguindo. Claro que não.

Entro na cozinha, distraída. Coloco café em uma xícara e me sento na bancada. Não sei onde Emma e Liz estão, muito menos minha avó, e é nisso que estou pensando quando ouço:

–Ana, querida, você não deveria ter vestido uma roupa?

Me viro, ainda sentada na bancada, e vejo minha avó e minhas irmãs sentadas na sala de estar com meia dúzia de pessoas, incluindo Alex, que têm uma expressão divertido no rosto. Seus lábios se erguem alguns centímetros quando vê minha cara de espanto. Mas não vou dar este gostinho a ele, decido.

–Bom, se eu soubesse que tínhamos visitas nem havia descido. - dou um sorriso insolente.

Liz faz uma cara decepcionada e diz:

–As visitas são para você. Na verdade, são nossos novos guarda costas.

Dou uma olhada nas pessoas sentadas, em pé e encostadas na parede. Meu olhar detém primeiro em uma garota em pé, seu cabelo pintado de laranja e usando uma meia arrastão rasgada em vários pontos estratégicos. Depois, vejo dois rapazes sentados no sofá, são gêmeos, morenos e de cabeça raspada. Uma outra garota, loira, está apoiada na parede. Ela usa um sobretudo, e seus olhos me analisam impacientemente. Vejo também um garoto em pé, a alguns passos de mim. Ele é bonito, têm os cabelos negros e o rosto de forma quase quadrada. Seus olhos é de um tom castanho, e os vejo me observando.

–Bom dia. - digo, acenando com a xícara de café.

–Esses são Dana, Joseph e Joe, meus primos, e Mariah... - Alex sussurra, dizendo seus nomes na ordem em que eu os via.

–E eu, irmão? - o rapaz de cabelos negros avança alguns passos até mim.

–Sou Kane Müller. - ele diz.

O encaro, crispando meus lábios. Seus olhos me encaravam com tanta intensidade que me deixavam inconfortável, inquieta. Observo sua boca, seus olhos. Meu Deus, Ana, tenha foco, penso.

–Você é irmão de Alex? -pergunto, inclinando a cabeça.

–Quase. - Kane diz, sorrindo.

Assinto com a cabeça e dou de ombros, olhando Alex.

–E agora? Esta é a artilharia pesada que vai nos proteger de Tebeus? - pergunto, erguendo as sobrancelhas.

Mariah ri, alto.

–Alex havia comentado quão cética você era.

A fito. Não gosto desta garota, por algum motivo. Sua presença faz minha pele pinicar.

–E você, quem é? -digo.

–Sou uma amiga. - Mariah sorri. Não um sorriso acolhedor, mas o sorriso sou-a-pessoa-que-vai-dificultar-sua-vida.

Claro que é.

–Bom, o que é isso? - ouço Emma perguntando a Alex.

Um livro, grosso e manchado, que Alex segura parecendo que é um diamante. Há algumas páginas soltando, e a capa está visivelmente rasgada.

–É o livro que vai ajudar sua irmã a cumprir a sua parte do trato. -Joseph diz, me olhando.

Ah sim, eu havia prometido tentar tirar a irmã de Alex dos mortos. Foi um ótimo trato.

–Que divertido! -digo, voltando meu olhar para a cozinha. Agarro uma maçã, deixando o café de lado, e vou até a sala, meu pijama de oncinha esvoaçando.

Alex abre o livro em cima da mesinha de centro, e juro que posso sentir uma energia vibrante saindo das páginas. A sensação se espalha pelo meu corpo, me dando um ânimo a mais. Sinto que estou ficando mais forte a medida que aproximo do livro arrasado.

A letra nas páginas parece que é escrita em tinta, curvada e ilegível em algumas partes.

–Meu Deus, o que é isso? - Liz diz, se inclinando para longe do livro.

Vejo que minha avó encara o objeto calada, a testa franzida.

–O que? Esta energia ruim que sai dele? - Joe pergunta, parecendo estar prendendo a respiração.

Emma assente, seus cachos loiros balançando. Por que diriam que essa energia é ruim? , penso. É boa, parece acalmar meus nervos e esquentar minha pele.

–Bom, esse livro era de Átropos, a terceira parca. O que ele emana, o que sai dele, é a morte. -Mariah sussurra, e percebo que todos nós estamos encarando o livro aberto na mesa.

*******************************************************

Estou parada no meio das árvores, as mãos apoiadas na cintura. Corri pela trilha no meio da mata, logo após receber o livro maldito em minha casa. Estou ofegante e me sinto terrível. Sei que não estou sozinha, sinto uma presença me acompanhando desde que saí da casa, usando tênis, camiseta e shorts de corrida.

–Apareça. - digo, alto.

Vejo Kane surgir do meio dos troncos das árvores, sorrindo. Ele usa uma camisa branca, daquelas que parecem batas, com um corte V. Suas botas gastas ficam por cima das calça jeans escura que ele usa. Kane parece pouco ligar para sua aparência, o que o torna mais bonito ainda.

–Você melhorou? - ele pergunta, inclinando a cabeça para o lado.

Jogo meus braços para o alto e digo, rosnando:

–O que você acha? Têm um cara atrás da minha família, eu tenho que ressuscitar alguém para ficar segura e... ai meu Deus, provavelmente vou acabar morta no final disso tudo.

Kane esboça um sorriso melancólico e chega perto de mim.

–Você vai ficar viva, Ana.Mas não estou dizendo que vai ficar bem.

–Como você têm tanta certeza? - digo, olhando para o céu. Meus olhos estão cheios de lágrimas. - Você acabou de me conhecer.

Kane dá de ombros e seus olhos me analisam. Ele é bonito, de um jeito perverso. Enquanto Alex é loiro de olhos verdes, Kane têm uma beleza diferente.

–Eu nunca vou ter uma vida, Kane. -sussurro.

Então ele faz algo que me assusta. Não sei se ele é idiota ou têm desejo de morte. Kane estica sua mão e a passa em minhas bochechas. Apenas um toque, menos de um segundo. Mas vejo seus olhos brilharem rapidamente e depois se apagarem.

–Eu prometo, Ana, você vai viver. - Kane diz, a voz rouca.

Estou paralisada.

Meu Deus.

Kane se apoia em uma árvore, deslizando por ela até atingir o chão, e eu me sento ao seu lado, longe o suficiente para não o tocar. Não quero o ver. Sinto-o tremendo ao meu lado, mas não ouso o ver.

–Não faça promessas que não pode cumprir. -murmuro, apoiando minha cabeça no tronco da árvore e fechando os olhos.


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