Like Ghosts In Snow escrita por Drunk Senpai


Capítulo 40
Distance


Notas iniciais do capítulo

Capítulo fresquinho!
Espero que gostem!!
Boa leitura!



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Neliel suspirou olhando o fundo da xícara vazia em suas mãos. O movimento era tranquilo naquele fim de tarde, na cafeteria. Olhou à sua volta, haviam algumas pessoas conversando, casais flertando e por fim, almas solitárias como a dela. Depois de pedir um outro café, direcionou sua atenção de volta ao livro que descansava sobre a mesa, quase esquecido. Tentou ler alguns parágrafos, mas já simplesmente não conseguia. O livro contava uma estória de amor trágica e ao mesmo tempo, doce demais. Neliel não tinha paciência para isso hoje, voltou a fechar o livro e olhar às pessoas à sua volta, talvez elas lhe trouxessem algo mais interessante.

Mas não o fizeram. “De onde estão surgindo todos esses casais?” Perguntou-se, descontente. Seus olhos seguiram involuntariamente o par que caminhava e sorria para fora da cafeteria. Suspirou como quem se dá por vencido e pegou o celular na bolsa. Sabia que não devia, sabia que aquilo só pioraria mais ainda seu humor, mas a vontade era mais forte que ela podia resistir, então voltou a contemplar as fotografias em sua galeria virtual.

Haviam fotos de coisas que Neliel encontrara durante suas caminhadas, fossem flores, animais, um prédio de arquitetura interessante, o céu num fim de tarde qualquer, e finalmente aquela que procurava. Era com certeza um dos seus tesouros e por isso a mantinha sempre protegida e ao seu alcance – aprender a usar a “nuvem” foi uma das melhores coisas que fizera. A imagem guardava um momento raro de felicidade entre ela e Grimmjow. Era difícil saber quantos anos haviam se passado desde então, parecia uma eternidade quando pensava bem no assunto.

Era apenas uma foto simples e trêmula, mas que trazia consigo tanto significado. Nela, Grimmjow exibia um sorriso tão puro, tão verdadeiro, algo que não via havia mais tempo do que podia contar. Sentiu seu coração apertar por um momento ao lembrar-se como as coisas eram naquela época e no que se tornaram. Na verdade, já deveria ter se acostumado: as coisas com o dono dos ferozes olhos azuis sempre oscilaram entre inferno e paraíso, mas o último paraíso parecia preso para sempre naquela velha fotografia. Desde então, as coisas haviam se despedaçado tão terrivelmente que fazia com que suas esperanças se tornassem algo como a frágil chama de uma vela prestes a se apagar.

"The Sun Is Filling Up The Room,

And I Can Hear You Dreaming... "

E por pensar nisso, lembrou-se da semana anterior. A manhã já havia chegado havia muito, mas Neliel se recusava a levantar, na verdade, preferia continuar deitada, aconchegada no peito de Grimmjow, fingindo estar adormecida, sentindo sua respiração calma do sono, inspirando o cheiro de sua pele e se abrigando em seu calor. Aquela sensação era sem dúvidas o mais próximo de felicidade que conhecia. Mas é claro que aquilo não poderia durar. A realidade veio lhe forçar a despertar na forma mal humorada de cabelos negros, pele pálida e alguma inquietação.

—Neliel! - Ulquiorra lhe chamou inicialmente da sala de estar e então por toda a casa à sua procura. Grimmjow resmungou alguma coisa, ainda meio adormecido. Neliel entendeu, dada a insistência de Ulquiorra, que não adiantaria esconder sua áurea por muito mais tempo. Relutantemente, afastou-se do conforto nos braços de Grimmjow, mas antes que pudesse se vestir com algo além das cobertas, um Ulquiorra irritado invadiu o quarto abruptamente. Sua primeira reação foi de confusão, mas um momento depois, de volta à angustia que o levara até ali. - Desce, preciso falar com você.- Disse simplesmente, deixando o quarto.

Neliel suspirou olhando uma outra vez para Grimmjow, ainda desejando poder continuar ao seu lado, então levantou-se, vestiu algo e foi ao encontro de Ulquiorra, que estava na sala da lareira, tragando muito ansiosamente um pouco de whisky e logo depois mais um pouco.

—Você e o Grimmjow, outra vez?- Perguntou num tom que dividia-se entre repulsa e até decepção.- Não importa. - Decidiu depois de mais um gole. - Precisamos conversar. - Havia algo em sua voz que indicava que algo sério estava acontecendo.

—O que houve? - Neliel sentou-se na poltrona, de frente para o moreno. Ele bebeu mais um pouco e então se dispôs a falar.

—Tem algo de estranho comigo. - Admitir aquilo não parecia ter sido fácil. Ele prosseguiu.- Estou tendoblackouts, e perdendo o controle. - Neliel podia imaginar o como aquilo seria difícil para alguém tão orgulhoso, mas ele continuou.- A princípio, eram só alguns instantes, mas agora, se passam horas até que eu volte a mim mesmo. Não posso continuar dessa forma. - Concluiu. Na verdade, Neliel já temia que isso viesse a acontecer, apesar de ter a esperança que não fosse o caso para Ulquiorra, mas ela mesma tivera essa experiência. Ela conseguia entender a angustia que ele devia sentir, e temia que a verdade não fosse algo que ele viesse a gostar de ouvir, mas não tinha opção.

—Honestamente, eu rezei para que você não passasse por isso. - Comentou triste.

—Então você sabe do que estou falando. Me diz como resolver isso de uma vez por todas! - Ele exigiu, ainda tão ansioso quanto estava quando chegou.

—Bom…- Ela suspirou.- Na verdade, nem eu mesma sei como. Quando passei por isso, eu me perdi de verdade. - Também não era fácil para ela admitir aquela fraqueza, mexeu-se inquieta na poltrona e fitou as palmas vazias. - Foi um período sombrio, e para ser bem honesta com você, sequer consigo lembrar de muita coisa dessa época… é tudo um grande borrão. - Ulquiorra parecia derrotado.

—Por quanto tempo isso durou pra você? - Perguntou num tom já desiludido, que fazia ainda mais difícil contar a dura verdade.

—Bom, pra mim foram sete anos…- Respondeu no mesmo tom desanimado. - Mas, sabe…- Tentou trazer de volta alguma esperança.- Na época, eu não tinha nada que me fizesse querer voltar, eu não tinha nada no que me segurar. - Admitiu com tristeza ao lembrar-se disso. Naquela época, estava sozinha, tanto Grimmjow quanto Ulquiorra lhe haviam deixado para trás e talvez fosse essa a razão de ter se deixado afundar tão profundamente e por tanto tempo. - Você tem a Orihime-chan, você tem pelo que lutar.- Ele passou os dedos pelo negro de seus cabelos, angustiado.

—Por enquanto, sim. - Lhe disse simplesmente, tomando mais um gole e servindo-se de uma outra dose.

—O que quer dizer?

—Como se já não bastassem dos problemas que já tenho, além disso, ainda tem uma garota. Não tenho certeza do por que ela continua viva, diferente de todas as outras, mas além disso ela não parece ser influenciada, não consigo entender. - Ulquiorra estava perturbado, mais do que Neliel jamais vira.

—Mas como ela pode ser uma ameaça para você? - Neliel perguntou, sentindo-se confusa, aquilo não fazia sentido.- Quer dizer, você pode simplesmente acabar com ela, de uma vez por todas…

—Não posso. - Ele a interrompeu. - Ela planejou toda uma armadilha que me revelaria caso algo lhe aconteça. - Ulquiorra parecia tão inquieto e desamparado, que sequer parecia o mesmo.

—Calma…- Neliel tentou, até que ele lhe direcionou um olhar furioso.

—Como posso ficar calmo? - Perguntou encolerizado. - Estou perdido, não importa o que faça! Se for como você diz, preciso de Orihime para voltar a mim, mas tê-la por perto é colocá-la em perigo, além de é claro, correr o risco daquela maldita me expôr e eu a perderia de qualquer forma. Eu te pergunto, Neliel, como espera que eu mantenha a calma? - A raiva e a frustração eram visíveis em seus olhos. Ele tinha razão, não estava numa situação fácil de lidar, e Neliel não podia se imaginar em seu lugar.

—Eu sei que é difícil. - Neliel admitiu.- Mas você não pode simplesmente se dar por vencido dessa forma, não parece com o Ulquiorra que eu conheço. Você vai achar uma saída, tenho certeza. Mas antes precisa parar e pensar, do jeito que está não vai conseguir ir a lugar algum. - Depois de alguns minutos de silêncio, ele parecia estar se acalmando. - E então?

—Você devia tomar um banho, tá fedendo ao Grimmjow. - Ele comentou por fim, depois de mais um gole.

—Ah, aí está! O Ulquiorra cheio de desprezo e indiferença que eu conheço.- Neliel riu. Ulquiorra se limitou a dar de ombros.

Pensar na situação de Ulquiorra lhe deixava apreensiva. Apesar de terem deixado as coisas daquela forma, ela sabia que o moreno não estava nem perto de estar bem e precisava, ela também, pensar em algo que pudesse lhe ajudar. Mesmo por que, se sentia culpada por tê-lo convencido à fazer a “coleção”, mas a verdade era que, no momento parecia ser uma ideia tão boa! No momento que lhe sugeriu aquilo, acreditava que Ulquiorra podia ser mais forte do que ela era na sua época, mas parecia que estava enganada.

—Tá sonhando acordada? - O par de olhos azuis à sua frente fez com que seu coração acelerasse por um momento. Ele estava sentado na sua frente, com o cardápio nas mãos.

—Um pouco.- Admitiu sorrindo. - A que devo sua ilustre presença? - Perguntou bem-humorada. Grimmjow passava a maior parte do tempo longe, naquela semana mal o tinha visto, na verdade.

—Tava passando aqui por perto.- Respondeu simplesmente, ainda distraído pelo menu. - A propósito…- Ele abaixou o cardápio, voltando sua atenção para ela.- A garota do Ulquiorra quer falar com você. - Aquilo a surpreendeu.

—Comigo? Sobre o que ela quer falar? - Perguntou hesitante.

—Sei lá. - Ele deu de ombros. - Algo sobre uma festa para o Ulquiorra, não tenho certeza.

—Ah, entendi! - Era de se esperar que a garota viesse a querer fazer algo. Foi então que algo lhe atingiu. - Como sabe disso? - Perguntou desconfiada.

—Me bati com ela mais cedo. - Respondeu. Sua falta de interesse era irritante, e Neliel podia sentir que ele estava lhe escondendo alguma coisa. Respirou fundo e olhou fundo em seus olhos, aquela não era uma situação com a qual ele pudesse brincar.

—Me diz a verdade, Grimmjow.

—Tô dizendo a verdade. - Ele disse ainda mais firmemente.

—O Ulquiorra já deixou bem claro que não quer que você sequer se aproxime da garota. - Sua voz soou mais calma e decidida do que esperava. Ele sequer lhe olhou. - É sério, eu não vou poder ficar do seu lado se algo acontecer com ela. - Estava ficando sem esperanças e tentou alcançar sua mão sobre a mesa, antes que ele a recolhesse e se voltasse para o celular.

—Não pedi que ficasse.- Respondeu indiferente.

—Talvez esteja na hora de deixar essa vingança pra lá…- Falou antes de pensar e agora era tarde para se arrepender. Grimmjow lhe lançou um olhar congelante e cheio de fúria, Neliel sentiu o café de mais cedo mexer-se dentro do estômago. Não devia ter dito aquilo.

Ficou ali, sentada, inerte. Vendo-o levantar e sair. A visão de suas costas se afastando era como uma adaga enterrada muito profundamente em seu peito, mas ainda assim, não machucou tanto quanto olhar de volta para o aparelho em sua mão e notar que a foto ainda estava ali, uma realidade que parecia mais distante a cada passo que ele dava.

***

Ichigo sentia-se ansioso e inseguro, seus músculos continuavam bastante doloridos e era como se tivesse perdido pelo menos cinco noites de sono, mas, ainda assim, haviam uma felicidade e um sorriso tão difíceis de conter que chegava a sentir-se louco. As coisas finalmente estavam dando certo e isso era quase como um milagre para ele. Desde o dia em que encontrara Yoruichi e a convenceu a ajudá-lo, tudo começou a mudar. Estava finalmente se libertando da sensação de desesperança e impotência, unidos ao frio congelante onde Rukia o largara.

No entanto, conseguir a ajuda de Yoruichi não foi algo que tivesse planejado, mas uma chance que parecia que não voltaria a se repetir. Naquela noite em que ela salvou sua vida, depois de levar o garoto para a segurança de um hospital, tiveram uma extensa conversa sobre tudo o que estava acontecendo, Ichigo até mesmo aproveitou para esclarecer algumas coisas que ainda não conseguia entender quando se tratando dos vampiros e caçadores.

Ela o levou até a cafeteria do Urahara, onde ele achou que iam apenas tomar um café, apesar do horário. Aconteceu que para sua surpresa, um café memorável não era a única especialidade do homem misterioso de cabelos loiros e olhares curiosos.

—Ora, Yoruichi-san, vejo que trouxe um convidado! - Ele estava vindo das cozinhas, ou do que parecia ser o depósito, Ichigo não podia ter certeza. - Olá! - Ele o cumprimentou, e estendeu a mão para se apresentar. - Urahara Kisuke. - Lhe mostrou um sorriso simpático.

—Ichigo Kurosaki. - Apresentou-se rapidamente. Yoruichi sentou-se numa das muitas mesas vazias do estabelecimento fechado e ambos seguiram seu exemplo.

—Então…- Urahara olhou para a mulher, talvez esperando por uma explicação. Ela suspirou, cansada.

—O Ichigo sabe. - Disse simplesmente. O homem olhou para Ichigo com olhos confusos e surpresos, e então voltou a mostrar um sorriso enigmático.

—E não está histérico? Impressionante! Devo perguntar como sabe sobre nossos amiguinhos? - Ele perguntou com olhos muito interessados. Ichigo sabia que não podia lhe dizer a verdade, não podia arriscar que Rukia fosse exposta.

—Ele não diz. - Yoruichi respondeu em seu lugar. - Mas acho que ele deve conhecer a garota. A caçadora que tá responsável pela cidade. - Continuou num tom que indicava neutralidade. A mulher estava à vontade na cadeira acolchoada, havia uma aura despreocupada ao seu redor. - Não é mesmo, Ichigo? - Lhe perguntou olhando profundamente em seus olhos, buscando pela verdade. Ichigo sentiu-se encurralado.

—Ora, se ele não quer dizer, deve ter alguma razão, não é mesmo, Kurosaki-san? - Urahara por sua vez falava num tom reconfortante, parecia fácil confiar nele, o que podia representar um perigo ainda maior. Ambos eram suspeitos, mas pessoas suspeitas que exalam aquele tipo de vibrações eram sempre pessoas com as quais devia se tomar mais cuidado. O ruivo estava começando a se sentir desconfortável. - Ah, está meio tarde. - O homem disse ao checar o relógio de pulso que usava. - Bom, em resumo, Kurosaki-san, deve tomar mais cuidado já que sabe sobreeles, e tente ficar longe disso tudo, ok? Existem coisas as quais somos melhores mantendo distância. - Ichigo sentiu o desconforto rapidamente ser substituído por frustração, ao notar que a conversa já estava terminada ali mesmo, antes de sequer poder dizer algo.

—Não posso fazer isso. - Ichigo disse de uma vez, antes que o mandassem embora. - Quero que você me ensine a lutar. - Virou-se para Yoruichi que parecia surpresa. - Eu vi o que você pode fazer, quero ser capaz de fazer o mesmo! - Ela não parecia convencida.

—Me recuso. - Deu de ombros. - Você é só um garoto, devia agradecer por sua vida e se afastar o máximo possível de tudo isso. - Uma outra vez lhe vinham com isso. Ichigo estava cansado de ouvir que não era forte o suficiente, que era uma criança indefesa. Ele a segurou pelo pulso, quando ela levantou, antes que pudesse sair.

—Eu estou falando sério. - Sua voz soara firme e decidida. - Por favor. - Pediu mais cuidadosamente, soltando-a quando percebeu o olhar irritado que ela lhe direcionou. - Não quero mais ser uma vítima, eu posso lutar, sei que posso! - Insistiu. Dessa vez, ambos lhe olharam intrigados.

—Kurosaki-san, tem certeza que é isso o que quer? - Urahara lhe perguntou num tom preocupado.

—Absoluta! - Lhe respondeu determinado. Yoruichi voltou-se para ele, seu rosto estava sério e seu olhar duro.

—Não vou pegar leve com você. - Disse lhe olhando rapidamente de cima a baixo. - E não vou me responsabilizar se vier a se ferir ou algo pior, vai ser culpa sua. - Ichigo engoliu seco e assentiu. - E sua! - Gritou à Urahara. - Enfim, esteja aqui amanhã cedo! - Anunciou antes de lhe dar as costas e sair.

Depois disso, os dias de Ichigo não foram mais os mesmos. O treinamento de Yoruichi era intenso e sem intervalos, mas não demorou para que começasse a se sentir ficar mais forte e mais ágil. Sua nova mestre era exigente e impaciente, mas era mais que claro o quão poderosa ela era de verdade e isso era tudo o que Ichigo precisava agora. Seus reflexos estavam melhores, sua velocidade havia aumentado e podia sentir que seus golpes se tornavam mais perigosos. Contudo, na primeira missão que recebeu, percebeu que ainda não era o suficiente, precisava de mais, precisava ser capaz de lutar por si só, só assim seria bom o bastante.

Foi quando descobriu exatamente qual era a especialidade de Urahara, era um cientista. Certo dia, depois de uma série de treinamento pesado, o viu trabalhando em uma de suas pesquisas. Kisuke era mesmo um homem misterioso e Ichigo precisou aturar diversos enigmas e jogos até entender pelo menos um pouco do que ele fazia, e era algo maravilhoso.

Estava no intervalo do treinamento e decidiu fazer algo para relaxar um pouco, quando Urahara lhe convidou para o chá.

—E então, Kurosaki-san, como vai seu treinamento? - O homem perguntou, bebericando de um chá bastante perfumado, Ichigo ainda não havia tocado no seu, não era necessariamente sua bebida favorita.

—Está indo bem… - Respondeu um pouco desanimado. Urahara parecia ter lido a insegurança em seus olhos, e sorriu.

—Não está gostando? - Lhe perguntou num tom mais baixo como quem confidencia algo. - Yoruichi é difícil de lidar, não é mesmo?

—Não é isso… É que os resultados estão demorando demais. - Finalmente experimentou o chá, era bastante saboroso, uma boa surpresa. - Quer dizer, no outro dia, quando Yoruichi-san me deixou lutar contra um deles, um fraco aliás, e eu quase morri! - Estava desapontado, mas sabia que o problema não era o treinamento.

—Entendo. - Urahara parecia pensativo.- Mas, o estilo de luta da Yoruichi-san, apesar de efetivo, não se pode alcançar aquele nível da noite para o dia.

—Eu sei disso. - Suspirou cansado. - Talvez se houvesse alguma coisa que me ajudasse a acelerar esse processo… - Comentou desanimado.

—Kurosaki-san…- Urahara parecia dividido entre curiosidade e preocupação. - Se me permite, por que tem tanta pressa em lutar contra esses monstros? - Ichigo não sabia como responder àquilo. Na verdade, não gostava de admitir. Passou a mão pelas madeixas ruivas, pensativo.

—Tem alguém que eu preciso proteger. - Disse finalmente. - Ou melhor, alguém que quero ajudar, ela não precisa ser salva.- Comentou, sorrindo ao lembrar-se da força e teimosia da morena.

—Compreendo. - Sorriu, um de seus muitos sorrisos enigmáticos. - Há sempre uma pessoa. - Seu olhar parecia perdido em qualquer coisa.

—Não há nada que você possa fazer? - Ichigo sabia que devia soar desesperado, mas já não se importava, lembrar-se do porque de estar se esforçando tanto, apenas o fez sentir ainda mais aflito. - Você é um cientista, não é mesmo? Tem que ter algo, alguma forma! - Urahara parecia surpreso com sua mudança repentina.

—Bom, na verdade, existe algo em que estou trabalhando há um tempo…- Ele parecia um pouco inseguro. - Algo que estava fazendo para a Yoruichi-san, mas ela decidiu que não queria. - Riu um pouco, num tom infeliz. - Mas não sei, pode não ser uma boa ideia. - Parecia hesitante. - Ainda não foi testado o suficiente, seria muito arriscado.

—Eu quero! - Ichigo disse de repente, antes que pudesse desistir. - Eu quero, por favor.

—Kurosaki-san, eu posso ver que está mesmo desesperado, mas é arriscado demais. Você ainda é muito jovem, e percebe que é a sua vida que está arriscando? - O homem parecia genuinamente preocupado. - Eu não devia ter sequer mencionado…

—Mas você o fez. - O ruivo estava decidido. - Eu aceito qualquer que seja a consequência, eu estou disposto a tentar, então me ajude, por favor. - Pediu.

Depois de conseguir convencer não só Urahara, mas também Yoruichi a lhe deixarem experimentar os tais comprimidos, Ichigo ficou maravilhado. O efeito era perfeito, não só estava mais forte, estava também mais rápido e ágil, quase tanto quanto sua mestra, o que era extraordinário, e até mesmo seu raciocínio parecia funcionar melhor. Finalmente estava saindo em missões e sozinho e tendo sucesso.

Não sabia se era efeito dos comprimidos ainda, mas Ichigo sentia-se também, cada vez mais faminto pela luta, e logo, um inimigo não era o suficiente. Já havia lutado com quatro na noite em que Rukia o encontrou. Depois de acabar com o último, sentiu os efeitos colaterais vindo muito rapidamente. Estava exausto. Sua energia estava sendo consumida muito rapidamente e teve tempo apenas de mandar para Yoruichi uma mensagem de emergência, pedindo que fosse lhe encontrar, antes que tudo escurecesse à sua frente e perdesse a consciência.

Quando voltou a abrir seus olhos e sua mente conseguiu entender uma outra vez o mundo ao seu redor, seu coração palpitou muito rapidamente. Olhou à sua volta, aquelas paredes de um verde suave, a maciez daquela cama e o calor do cobertor, mais ainda o cheiro. O cheiro que invadiu suas narinas e tomou conta de sua mente. Sabia muito bem onde estava, e o coração em seu peito não parava de bater como o de um garotinho que chega ao seu parque de diversões favorito.

Levantou-se. Sua mente ainda estava acordando, assim como o resto de seu corpo, mas pôs se a procurá-la. Ela não estava em lugar algum no quarto, ou na sala, não estava na cozinha e não parecia haver ninguém nos banheiros também. Mas a escada para o sótão estava abaixada e havia um som que vinha lá de cima. Ichigo subiu cuidadosamente, temendo talvez assustá-la. Mas mesmo que quisesse, não parecia que conseguiria. Rukia estava concentrada demais, direcionando socos e chutes precisos contra um saco de areia. Ichigo não conseguia entender, como uma pessoa conseguia parecer tão graciosa, sem fazer nenhum esforço? Continuou observando-a por mais um tempo, até que teve uma ideia para agradecê-la por cuidar dele uma outra vez.

Desceu de volta à cozinha. Pensou que poderia preparar um café da manhã reforçado para Rukia, ela não parecia ter dormido aquela noite, muito provavelmente por sua causa, então era o mínimo que poderia fazer. Contudo, ao checar os armários e a geladeira, sentiu-se até preocupado. Não havia comida, pelo menos, não comida de verdade, como sua irmã mais nova costuma chamar. Não pensou duas vezes, saiu e comprou tudo o que precisava e voltou para uma Rukia surpresa, já tomada banho e que agora estava na cozinha.

Comeram e conversaram um pouco. Rukia não parecia ter mudado em nada desde a última vez em que se falaram, ainda estava preocupada demais e teimosa demais para lhe permitir lutar ao seu lado, e permitir que lhe ajudasse. Mas Ichigo, estava diferente. Não estava mais disposto a ouvir que era fraco demais, que era incapaz, que era só um garoto, que precisava ficar longe de sua vida. Agora era forte, agora era capaz, agora mais que nunca, estava disposto a insistir.

—Só quero que você confie em mim, que pare de tentar me tirar de sua vida e me deixe te ajudar. - Disse enfim. Os olhos de Rukia estavam fixados nos seus e ele mal notou quando sua mão tocou a dela. Quando de fato se deu conta, seu coração que antes estava batendo tão rápido por conta da adrenalina de lhe dizer o que pensava, agora parecia sereno. Os próximos passos foram fáceis, como se já fizesse parte de seu repertório por toda a vida.

Aproximou-se dela um pouco mais. O aroma de sua pele e de seus cabelos negros recém-lavados, lhe invadiu e tomou conta de seus pensamentos, mas não se sentia aprisionado de forma alguma. O calor que vinha da proximidade, lhe acolhia. Sua pele era macia ao toque, quando acariciou seu rosto. Sua respiração, que estava um pouco acelerada, acalmou-se quando Ichigo aproximou o rosto do seu.

Ichigo ouvira sua vida toda, que o primeiro beijo com alguém que se ama deve vir acompanhado de borboletas no estômago, fogos de artifício, fundo musical de filme, magia e corações a ponto da loucura. Mas nenhumas dessas expectativas chegava sequer aos pés daquilo que sentiu quando seus lábios encontraram os de Rukia. Parecia-lhe que o mundo parara de girar por um instante. A realidade se resumia a maciez de seus lábios, o frescor de seu hálito e o leve roçar de sua língua na dela. Pressionou-a mais contra seu corpo e deixou que seus dedos corressem por entre as madeixas negras e beijou-a com mais paixão. Se existia alguma coisa além da sensação de ter Rukia em seus braços, Ichigo certamente não conseguia se lembrar.

Ela ainda estava envolvida em seu abraço, e estavam em silêncio agora, como que na tentativa de manter o resto do mundo fora. Estavam em silêncio desde que o beijo acabara, e Ichigo estava ficando sem ideias sobre o que dizer. Afinal, o que se diz depois de um feito como aquele? Deveria se desculpar por tê-la beijado de surpresa, ou talvez deixar ainda mais claro os seus sentimentos por ela, caso aquilo não tivesse sido o suficiente? De repente, foi como se a realização lhe tivesse atingido: Ele realmente havia lhe beijado, não foi um sonho como antes, aquilo realmente acontecera, e Ichigo já não sabia se teria coragem para encará-la agora. Até mesmo seus braços que antes a abraçaram com tanta firmeza, agora eram coisas frágeis e trêmulas, de onde vira toda aquela coragem de antes?

Se acalma! Se acalma!” Gritava à si mesmo em pensamento. Não estava funcionando, sua mente era uma loucura e os minutos estavam correndo. “Não se pode ficar calado por tanto tempo!” Sua mente lhe berrava. Sentia-se patético, uma bagunça. Respirou fundo, precisava ser melhor que isso. Começou a reunir sua coragem uma outra vez, precisava dizer alguma coisa.

No entanto, antes que pudesse ao menos tentar, a porta da frente foi aberta com tremenda violência que assustou-os a ambos, e fez com que se afastassem num salto.

—Ichigo! - A mulher vociferou seu nome num misto de preocupação e irritação. - O que pensa que está fazendo? - Yoruichi aproximou-se muito rapidamente e agarrou-lhe pela gola da camisa, seus olhos não vacilaram por nenhum instante. Rukia ao seu lado parecia confusa e assustada. - Você acha que sou algum tipo da palhaça?

—Y-Yoruichi! - Não sabia o que deveria lhe dizer, e por um instante nem entendia o que estava acontecendo.

—Você me manda uma mensagem pedindo para te encontrar e desaparece? - Agora estava claro o que acontecera. A verdade era que, Ichigo sequer lembrava de que tinha pedido ajuda na noite anterior. - Tem ideia do quão preocupada eu fiquei? Procurei por você por toda a cidade, e só agora depois que voltei para o Urahara é que aquele outro idiota me diz que tem como te localizar através do celular. O que diabos pensa que tá fazendo, seu maldito? - Yoruichi estava assustadoramente nervosa.

—Ah, é que… - Não sabia que resposta deveria dar. - A Rukia me ajudou… - Ela voltou seu olhar para a garota. - Foi mal, eu esqueci de avisar, eu…

—Então você é a caçadora? - Yoruichi parecia ter esquecido completamente sua presença, enquanto analisava Rukia com os olhos. - Kuchiki não é? Cunhada do Byakuya. - Rukia parecia agitada, mas Ichigo pôde entender, afinal para ela, devia ser como conhecer um ídolo.

—S-sim! - Ela soava sem jeito, de uma forma extremamente meiga, Ichigo sentiu o calor subir por seu rosto, desviou o olhar. Yoruichi suspirou, cansada.

—Bom, já que está bem, acho que vou voltar. - Voltou-se uma outra vez para ele. - Não esqueça de aparecer por lá, mais tarde. Foi bom te conhecer, Kuchiki. - Deu lhes as costas. - Até depois. - E então partiu.

Depois que Yoruichi se foi, o ruivo viu-se uma outra vez encurralado naquele silêncio constrangedor com Rukia, mas precisava dizer alguma coisa, precisava fazer alguma coisa. Seus olhos voltaram a encontrar-se com os da morena. Respirou fundo, pedindo silenciosamente por um pouco de coragem e preparou-se para se expressar.

—Rukia, eu… - Precisou buscar um pouco mais de coragem dentro de si, uma outra vez. - Sobre antes, eu…

—Ichigo…- Rukia interferiu. Aproximou-se mais dele e preparou-se para continuar. - Não podemos lidar com isso… Eu não posso lidar com isso, pelo menos não ainda. - Suas palavras conseguiram abrir ainda mais uma ferida em seu coração. Ichigo sentia-se desolado. Foi então que, ela pegou sua mão e a tocou com seus lábios muito gentilmente. - Ainda não… - Seus olhos eram sinceros e lindos e suas bochechas estavam levemente rosadas. Não tinha forças para discutir. Suspirou ao encostar a testa na dela.

—Tá bem… - Foi tudo o que conseguiu dizer.

Ichigo sentia-se um pouco desapontado, mas, ao mesmo tempo, havia uma felicidade imensa em seu peito: Ainda havia uma chance, e a cada dia que passava, sentia que estava se aproximando mais de consegui-la.

[...] So I'll Make Sure To Keep My Distance,

Say "I Love You" And You're Not Listening.

How Long Can We Keep This Up?


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Notas finais do capítulo

Trechos da musica "Distance" da Christina Perri:
"O sol está preenchendo o quarto,
e eu posso te ouvir sonhando..." // "Então vou ter
certeza de manter minha distancia, dizer 'Eu te amo'
e você não ouvir, por quanto tempo poderemos continuar com isso?..."
É isso, espero que tenham gostado!
Até o próximo!
Kissus ;*



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