Orihime bocejou. Tinha acordado cedo demais essa manhã para alguém que dormira tão tarde na noite anterior. Mas não podia ficar com sono, não podia ter olheiras no rosto, tinha finalmente chegado o dia pelo qual ela tanto esperou! Era finalmente sábado, era o dia do seu encontro! O simples pensamento, lhe energizou.

Já estava se aprontando. Já havia colocado o vestido e alguns acessórios. Estava terminando de colocar a maquiagem leve, e em seguida, se livraria de todos aquele bobes que colocara nos cabelos, afim de ondular um pouco. Percebera naquela noite, o quão era difícil dormir com aquelas coisas.

“Espero que valha à pena!” Pensou consigo mesma, tentando afastar de si o medo de que se repetisse o mesmo de sempre. Na verdade, achava até uma boa idéia que não fossem se encontrar em seu apartamento, ou no dele, pois tinha certeza de que caminho as coisas levariam, e com igual convicção sabia que algo definitivamente aconteceria e ficaria em seu caminho, uma outra vez lhe deixando frente à mesma frustração que encarara na noite anterior.

Não, já estava cansada disso! Na noite anterior, pôde sentir aquela parte egoísta sua, espernear e gritar, para que ele não lhe deixasse, perguntando o que podia ser mais importante do que o momento, que uma outra vez tentava acontecer, o que podia ser mais importante do que ela? Mas não ousaria dizer essas palavras. Estava aborrecida e triste, mas ainda tinha esperanças de que ele recompensasse nesse encontro.

Ela não queria muito. No fim das contas, se pudessem apenas passar algumas horas juntos, sem que ninguém os incomodasse, sem que nada acontecesse, já era o suficiente. Suspirou. Borrifou um pouco de perfume em si, depois de soltar as madeixas. Ao menos uma coisa já tinha dado certo: seu visual estava ótimo, seu cabelo parecia mais bonito com as ondas suaves derramando-se por quase todo comprimento. O vestido realmente lhe vestia bem, e tinha certeza que quando colocasse as sapatilhas, ficaria ainda melhor.

Estava pronta. Hora de ir.

Mas antes, sentiu um frio na barriga com o som de batidas na porta. Respirou fundo, precisava ser firme, não deixaria que nada, nem mesmo ela própria, estragasse seu precioso encontro. Abriu a porta, e como imaginava, aqueles olhos lendo sua alma, sondando cada centimetro de seu corpo, tornavam tudo mais difícil. Ele estava pronto para dizer alguma coisa, quando ela apressadamente o interrompeu.

–V-vamos? - Perguntou já saindo e fechando a porta atrás de si. - Aliás, nós não iamos nos encontrar lá? - Perguntou, agitada, ainda tentando evitar seu olhar.

Ele a acompanhou em silencio, com as mãos nos bolsos. Estavam caminhando com pelo menos dois metros de distancia um do outro, e agora, uma vez que não falavam, tudo parecia mais frio e estranho, cinzento como o céu daquela manhã. Foi então que a atingiu. “Mas o que estou fazendo?” perguntou-se ao notar a situação em que estava. No fim das contas, ao invés de salvar seu encontro da má sorte, ela só estava piorando as coisas. Não pensou muito no próximo movimento, apenas o alcançou e o beijou.

Era tudo que precisava. Uma outra vez em seus braços, tudo parecia estar bem no mundo. Ulquiorra tirou uma das mãos do bolso, e acariciou seu rosto. O momento parecia durar uma eternidade, e se fosse o caso, ela permaneceria daquela forma com prazer. De repente, o mundo parecia receber cores uma outra vez. Não estava mais nervosa, não estava mais ansiosa.

Felicidade. Era tudo que sentia. Uma vez que se separaram do beijo e sorriram, um para o outro, sabia que seu coração estava no lugar certo.

–Achei que estava chateada pela noite anterior.- Ele disse enquanto olhava em seus olhos, levantando seu rosto, segurando seu queixo com as pontas dos dedos. “Mas eu estava!” ela pensou antes que pudesse se impedir. -Por isso, eu vim até aqui. - Ele completou, esperando por uma resposta, a qual agora, ela não sabia qual era. Apenas sorriu e pegou sua mão para voltarem a andar.

Tudo ao seu redor agora parecia pacífico, havia beleza em tudo o que via, nas pessoas vivendo suas rotinas pacatas, em um gatinho que dormia preguiçosamente numa escadaria qualquer e nas flores em um jardim próximo. Ah, aquelas flores... não podiam ser!

–Ah!- Ela sobressaltou-se indo em direção às pequenas flores azuis.

–O que houve? - Ulquiorra lhe perguntou num tom um tanto confuso e preocupado.

–“Não-me-esqueças”! - Ela disse empolgada lhe mostrando as flores. - É tão estranho! É quase inverno, e ainda assim...!- Estava deslumbrada, aquelas flores eram suas favoritas, e encontrá-las em pleno fim de outono parecia um bom sinal. Pegou uma das flores e guardou no bolso da camisa de Ulquiorra, que apenas a observava. Ele então, pegou a flor que Orihime ainda tinha em sua mão e cuidadosamente colocou em seu cabelo.

Havia tanta paz naquele momento, enquanto trocavam olhares cuidadosos e permitiam que seus lábios se encontrassem num beijo terno. Ela pegou sua mão outra vez, e voltaram a andar. Estavam em silencio, mas dessa vez, era completamente diferente. Estavam em sincronia e já não havia aquele frio, que somente a distancia entre eles podia causar. Estavam juntos, e isso era tudo o que importava, já não se importava com para onde iriam, ou que roteiro seguiriam, contanto que encontrasse sua mão na sua, seu calor perto de seu corpo, ela sabia que tudo ficaria bem.

Finalmente tinham chegado à lanchonete, e enquanto esperava Ulquiorra voltar do banheiro, Orihime analisava o cardápio. Certamente, se o clima não estivesse tão ruim, eles deveriam fazer um piquenique, mas afinal de contas esse não seria sua ultima chance, eles ainda teriam tantos encontros, tantas chances! Por ora, simplesmente escolheria um lanche legal e aproveitaria os preciosos momentos que estariam por vir.

–I-Inoue-senpai! - Ela ouviu a voz e viu o rapaz à sua frente. Aquilo não era bom, ele era um de seus admiradores, e aquele era com certeza um momento ruim para lidar com isso. Normalmente, Orihime estava acostumada à ser abordada por eles na escola, na hora da saída e às vezes mesmo perto de sua casa. No entanto, havia um tempo, eles pareciam ter desistido dela, depois de tantas recusas.

Mas por que logo hoje, naquele momento? Tudo que ela queria era poder aproveitar o dia ao lado de Ulquiorra, só os dois sem interferencias. Precisava dispensá-lo rápido, o único problema era que, precisava antes ouvir a declaração.

–Será que eu posso...? - Ele perguntou, e antes mesmo de esperar que ela respondesse, sentou-se na cadeira à sua frente.

Enquanto o rapaz tentava de novo e de novo formular uma frase, Orihime silenciosamente planejava a forma em que o rejeitaria. Precisava ser direta, mas ao mesmo tempo, não queria ser muito ríspida, por mais que esse fosse o conselho que Tatsuki sempre lhe dava. Orihime já estivera naquela posição, ela sabia o como era difícil fazer com que as palavras saíssem, e afinal de contas, aquele rapaz não estava fazendo nada além de tentar expressar seus sentimentos por ela, não parecia certo ser cruel.

No entanto, antes mesmo que pudesse concluir seu pensamento, Ulquiorra surgiu às costas do rapaz, como uma sombra tenebrosa e mal humorada. E então, quando o outro voltou-se em sua direção, havia algo diferente nos olhos esmeralda, aqueles nos quais ela adorava tanto se perder. Havia algo neles e no tom de sua voz, que fizeram com que mesmo Orihime sentisse os pelos da nuca eriçar, como um gato assustado, mesmo que lhe parecesse absurdo a idéia, a possibilidade dele a assustar.

–Quem diabos é você? - Ele perguntou naquele tom congelante, fazendo com que o outro se encolhesse e parecesse ficar cada vez menor, a cada instante. O garoto levantou-se nervosamente e murmurou uma “desculpa” atrapalhada, se afastando muito rapidamente. Ulquiorra puxou sua cadeira e sentou-se ainda sem afastar o olhar do rapaz que mais se parecia um pequeno animal assustado agora. -Quem era? - Ele a perguntou e já não existiam mais nem o tom tampouco o olhar sinistros. No fim das contas, devia mesmo ter sido só sua imaginação mesmo.

–Ah, não era ninguém, só um colega da escola. - Aquilo não era uma mentira, Orihime tinha certeza que já o tinha visto perto de sua escola, e ele já havia se declarado para ela outras duas vezes antes, na saída. Mas no fim das contas, Orihime não queria falar dessas coisas, não queria que Ulquiorra pensasse algo errado se ela comentasse dos admiradores, como se achasse que estava sendo convencida e boba, não queria isso! E no fim das contas, com o ano letivo tão perto de acabar, tudo isso viria à um fim, então não havia com o que se preocupar. Ela então lhe sorriu, segurando sua mão sobre a mesa. Queria apenas voltar ao clima em que estavam antes, mas ela percebeu que seria mais difícil do que pensava. Ulquiorra parecia tenso, olhava ao redor como se procurasse algo e podia notar que sua mente certamente estava muito distante. - Tá tudo bem? - Ela perguntou antes de bebericar um pouco do seu suco de laranja. Ele demorou antes de olhar para ela e Orihime até mesmo achou que não fosse lhe responder.

–Não é nada.- Ele lhe disse simplesmente e então, levantou-se para sentar ao seu lado, e assim que o fez, pressionou gentilmente seus labios nos dela, talvez para assegurá-la que realmente estava tudo bem.

Mas era difícil de acreditar, quando ela podia ver em seus olhos, o quão perdido em pensamentos ele estava. Por um instante, isso a fez lembrar do olhar que ele havia lhe dado na noite anterior, da sensação de que era bem vinda ao seu mundo, e ainda, o quão longe esse mundo parecia estar agora. Talvez devessem falar sobre isso, talvez não... não tinha certeza, mas precisava fazer alguma coisa para melhorar aquela atmosfera fria e angustiante que sentia.

–Ulqui...- Ela tentou antes de ser interrompida e assustada por aquela voz energética que surgira de repente.

–Ulqui-kun!!– Ela exclamou animada, causando à Ulquiorra um olhar surpreso e mesmo... preocupado.