Like Ghosts In Snow escrita por Drunk Senpai


Capítulo 31
When It Rains II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/513148/chapter/31

Rukia revirou-se na cama, com dificuldade.

Havia passado algumas horas deitada naquela viela, tentando fazer com que seu corpo reagisse e lhe permitisse levantar-se. Na verdade, esse era o grande problema daquelas capsulas. Apesar de curar seus ferimentos muito rapidamente, a energia que era redirecionada para essa tarefa específica, era o suficiente para deixar seu corpo pateticamente inútil para qualquer outra coisa.

Quando finalmente conseguiu alguma força em suas pernas, pegou sua espada e tentou afastar as lembranças do que acontecera quando o fez na noite anterior. Não podia pensar nisso agora. Apoiou-se na parede e a guardou no suporte em suas costas. Seus braços doíam e seu corpo parecia pesar uma tonelada à cada passo que dava.

Agora estava enfim, em casa. Mas sua energia ainda parecia drenada. Talvez, não fosse somente culpa do comprimido. As coisas que passara naquela noite, se parava para pensar sobre elas... suas feridas não eram nada.

Tentara dormir, mas toda vez em que seus olhos se fechavam, voltava a ver o feroz e perverso fitar dos olhos azuis. Se ela se mexesse demais, podia até mesmo sentir a dor e o terror das presas penetrando sua pele. Não, não podia pensar nisso. Tinha muita coisa em que não queria pensar naquele momento.

O que colocaria em seu relatório? Não podia mentir, mas ainda era muito difícil admitir que fora tão humilhada daquela maneira, e como se não fosse suficiente o que passara com aquele monstro maldito, precisou ser salva por um deles. Sentia-se furiosa e angustiada. Podia imaginar o que Byakuya diria, e quanta preocupação causaria à sua irmã. E ainda, havia uma outra pessoa...

Ouviu batidas em sua porta. Não precisava abrir para saber quem era. Essa era outra coisa em que não queria pensar. Encolheu-se na cama e ficou daquele jeito, esperando até que ele desistisse. Contudo, ouvir sua voz lhe chamar ao lado de fora, e saber que com toda certeza ele ainda estaria na sua porta, esperando, lhe fazia sentir uma pontada no coração. Sentia um nó na garganta, pois, por mais que não quisesse pensar nisso, era impossível.

A vampira da noite anterior, o que ela havia dito, não havia necessidade mesmo de lhe dar aquele conselho, Rukia sabia muito bem. Ichigo não deveria estar envolvido naquilo tudo, ele não precisava ter que passar por coisas parecidas com as que ela vivera na noite anterior. Não precisava compartilhar de seu destino. Mas mesmo assim... Por que doía tanto? Não podia ser egoísta com ele, mesmo que sua presença tornasse as coisas tão mais brilhantes em sua vida.

Mas depois do que passara... Era como se fosse a prova que ela precisava. Se ela não era capaz de fazer coisa alguma contra aqueles monstros, deixar que Ichigo se envolvesse, era não só irresponsável de sua parte, como também cruel. Permitir que ele fizesse parte de seu mundo foi um erro, mas ela ainda podia evitar que ele se aprofundasse ainda mais naquela escuridão.

A dor que isso causava em seu peito não importava. Ao menos isso ela podia fazer. Ela podia protegê-lo, mesmo que significasse sair completamente de sua vida.

Sentiu o nó em sua garganta apertar mais um pouco. Encolheu-se. Já estava passando por tanta coisa. Às vezes gostaria de se desligar de tudo aquilo, mesmo que fosse só por um instante, só por um momento em que não doesse tanto assim... seria o suficiente. Finalmente permitiu que as lagrimas escorressem por seu rosto, e só então, depois que seus olhos já pareciam secos, cansados demais, ela conseguiu dormir.

E em seus sonhos, quando aquele sorriso feroz de dentes brancos e bestiais voltara para lhe aterrorizar, como o sol que surge para destruir o breu da noite, ela podia ver que sua luz surgia, com suas madeixas alaranjadas balançando à brisa do verão, que parecia ser a estação feita especialmente para ele, para seu sorriso e seu calor.

Talvez fosse melhor assim, contanto que o pudesse ver em seus sonhos, contanto que soubesse que ele estava bem, era mais do que o suficiente.

Quando acordou, já era um outro dia. Apesar de sua energia não estar cem por cento recuperada, já se sentia bem melhor, já podia se levantar, não podia lutar ainda, mas podia tomar um banho de banheira, verdadeiramente relaxante dessa vez.

Quando saiu do banho, um pensamento sombrio cruzou sua mente: Não sabia o que aquela mordida podia significar. Usou as mãos e limpou o vapor no espelho, e então examinou seu pescoço. O lugar ainda marcado pelas presas continuava um pouco dolorido, apesar da ferida já ter se fechado, deixando apenas duas pequenas cicatrizes. Passou os dedos com delicadeza. O que seria de sua vida se fosse transformada em um daqueles monstros aos quais tanto desprezava?

Mas estava se sentindo bem... talvez não bem, mas nada inesperado. Ela não ansiava por sangue, e presumiu que caso algo tivesse acontecido, então deveria ser o primeiro sintoma, certamente! Mas como poderia ter certeza? Voltou ao seu quarto e pegou sua espada, a olhou por um instante. Se estava certa, o simples contato com a lamina deveria machucar a pele de um deles, como se estivesse banhada em acido. Respirou fundo e fez um corte na palma de sua mão.

Além da dor comum de um corte, não havia sentido nada mais. Suspirou aliviada. Voltou a guardar sua katana, e então fez um curativo no ferimento. Estava um pouco mais tranquila, mas então olhou o uniforme sobre sua cama. Talvez fosse melhor ficar em casa, só para ter certeza. Era melhor assim, precisava estar segura de que estava mesmo bem antes de voltar à escola. Além do mais, precisava começar seu relatório, o que já não seria muito fácil.

E também... Mesmo que não se permitisse admitir, ainda não estava pronta para ver Ichigo, muito menos para fazer o que tinha em mente para quando se encontrassem. Suspirou e jogou-se outra vez em sua cama. Ficou daquela forma por algumas horas, observando o teto de seu quarto, tentando impedir que seus pensamentos fossem à caminhos estranhos.

Tinha coisas à fazer. Levantou-se, lembrou que sequer estava vestida com mais que uma toalha, estava ficando frio. Logo depois, sentou-se em sua escrivaninha com o relatório pronto para ser escrito. Não importava o quanto olhasse o documento em branco. Parecia difícil demais. Sentiu seu estomago reclamar. Não tinha comido nada desde que chegara em casa. Na verdade, a principio, não sentira fome, mas agora precisava repôr suas energias.

Chegar até a cozinha e não ver a imagem de sua irmã, cuidadosamente preparando algo, lhe lembrando a importancia de fazer sempre uma boa refeição, conversar sobre algum programa de TV que ela encontrara, rindo juntas... Talvez devesse sair e comer fora. Voltou ao seu quarto e pegou sua jaqueta, certamente estaria frio lá fora.

“-Não vá pegar um resfriado!”- Podia até mesmo ouvir a voz de sua irmã, preocupada como sempre. Riu tristemente. Sentia tanto a sua falta.

E então, quando abriu a porta, pronta para ir, como se seus problemas estivessem tentando lhe cercar e fazê-la desmoronar, viu o pacote cuidadosamente colocado em sua porta.

“Passei aqui, mas acho que você não estava em casa.

De qualquer forma, me liga quando vir isso.

A propósito, comprei algo que acho que

você vai gostar.

– I.”

Não sabia qual parte era pior: o cartão, o bolinho em forma de coelho ou mesmo, todas as ligações perdidas em seu celular, que só agora tinha visto. Já de volta para dentro, deslisou as costas na porta já fechada atrás de si e sentou-se no chão. Se o plano era realmente de fazê-la desmoronar, então tinha sido muito bem sucedido. Abraçou os joelhos contra o peito. Quantas mais vezes choraria antes de ficar bem outra vez?

E então ela descobrira qual a pior parte era: A única coisa que poderia fazê-la sentir-se melhor naquele momento era aquele abraço, caloroso, acolhedor, protetivo e apertado o suficiente para fazer com que fosse difícil respirar, e ao respirar, sentir seu cheiro e saber que não estava sozinha... Mas era como estava agora, afinal de contas. Não podia sequer atender a ligação que recebia naquele exato momento, como se ele de alguma forma, soubesse.

No dia seguinte, seu corpo parecia recusar-se a levantar, recusava-se à enfrentar o que lhe esperava quando saísse de casa. Mas aquilo era ridículo, ela podia fazer aquilo, e faria. Respirou fundo e preparou-se mesmo mentalmente. Não podia fraquejar, não podia mostrar nenhuma brecha.

Mas era mais difícil do que pensara, então, passara todo o dia evitando olhar em sua direção, fingindo não ouvir quando ele a chamava. Mas finalmente era a hora da saída, e com Ichigo lhe alcançando e ficando bem à sua frente, já não podia mais fugir. Respirou fundo. “Mantenha-se forte!” Disse mentalmente à si mesma.

–Ichigo, é melhor se afastar de mim. - Disse de uma vez por todas. - Eu... - “Vamos, você consegue fazer isso!” Tentava manter-se composta para continuar. - Não quero ser sua amiga. Não se envolva mais comigo. - “Está feito.” Pensou consigo mesma e então seguiu seu caminho, pois seria de alguma forma, mais fácil se não o desse uma chance de contestar.

Achou que sentiria-se mais leve depois de libertar-se do peso daquelas palavras, mas no fim das contas, o único alivio que encontrara, foi a chuva desmoronando do céu, fria e o suficiente para que ela pudesse deixar que suas lagrimas transbordassem sem serem percebidas.

"[...]You made yourself a bed at the bottom of the blackest hole

And convinced yourself that it's not the reason

you don't see the sun anymore..."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"[...] Você fez para si uma cama, no fundo do buraco mais escuro, e se convenceu que não é a razão de não ver mais o sol..." (When It Rains - Paramore)
É isso! Obrigada por ler!
Até o próximo!
Kissus ;*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Like Ghosts In Snow" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.