Minha Doce Maldição. escrita por Nath Di Angelo


Capítulo 25
O quanto uma morte pode doer.


Notas iniciais do capítulo

OIIII GENTE!
Então, esse capítulo demorou para sair mais do que o esperado, mas foi uma luta para escreve- lo :/ Maaas, cá estou eu aqui com um capítulo novíssimo para vocês, coisas fofas.
Beeem, então, foi uma guerra escrever esse capítulo devido a grande dose de drama que tive que usar, não sei se ficou como desejado, mas espero que vocês sintam oque eu quero passar. Estou pelo celular, então sorry se a edição do capítulo estiver horrível, okay?
Enfim, boa leitura e desculpa qualquer erro. Até lá embaixo!



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Eu não lembro muito do trajeto que fiz do Acampamento até Manhattan. Quando dei por mim já estava sentada no sofá do pequeno apartamento em um prédio habitacional da cidade, vendo Percy ser abraçado pela mãe e pelo padrastro, que insistiam em querer ouvir todas as histórias sobre o verão dele. Já havíamos almoçado, e no momento eu remexia um pedaço de bolo azul no pratinho em minha mão, sem interesse. Eu estava tão distraída que me sentia constrangida por não estar dando a devida atenção a família de Percy, porém era praticamente impossível pensar em outra coisa a não ser minha mãe... ou Nico. Os dois pareciam travar uma batalha em minha mente em busca da minha atenção. Eu não sabia o que levava como prioridade; conseguir arquitetar um bom argumento para conseguir o perdão de Nico quando eu voltasse ao Acampamento ou conseguir perdoar minha mãe pelos 15 anos de mentira e privações.
–Natália, não gostou do bolo?-Indagou Sally, chamando minha atenção. Olhei para a mulher, sentindo minhas bochechas corarem.
–Oh, deuses, não!-Exclamei, tratando de colocar mais uma colherada do bolo que, apesar de azul, tinha gosto de chocolate, na boca.-Está maravilhoso, Sra. Jackson... Eu... desculpe-me, apenas estou um pouco distraída.-Expliquei. Sally sorriu, olhando- me com carinho e compreensão.
–Fique tranquila, querida... Tenho certeza que tudo dará certo.-Encorajou -me a mãe de Percy. Não pude deixar de sorrir de volta, assentindo para a mesma. Sally, assim como Percy, não ficou sabendo de toda a minha história. A mesma pensava que eu estava brava com minha mãe apenas pela mesma não ter me contado que eu era uma meio-sangue... Mal passava pelas cabeças deles que eu nunca havia saído de casa até o dia em que eu fugi.
–Obrigada, sra. Jackson.- Agradeci. Eu realmente ficará impressionada quando cheguei aqui. Juro que esperava um tanto de desprezo por parte da mãe de Percy, afinal, eu era fruto da relação de Poseidon com outra mulher, e eu supunha que a mesma havia amado meu pai um dia. Mas, felizmente, eu havia me enganado. Sally não podia ser mais gentil. Possuía cabelos cacheados e castanhos, com alguns fios grisalhos e era uma pessoa extremamente bondosa. Eu verdadeiramente gostaria que minha mãe tivesse sido assim comigo. Que tivesse jogado limpo e me contado a verdade, ao invés de me esconder e me prender por tanto tempo...
–Bem, irei lavar os pratos.-Anunciou Sally, um beijo estalado na bochecha de Percy.
–Eu te ajudo.-Ofereci, mas Sally negou.
–Imagina... é a primeira vez que vem aqui! Fique a vontade!-Sorriu a mulher.-Paul?-O padrasto de Percy se levantou.
–Sim querida.-Os dois partiram para a cozinha, deixando eu e me irmão sozinhos na sala. Percy encarou-me, fazendo-me erguer as sobrancelhas.
–Oque foi?-Indaguei.
–Está ansiosa?-Questionou. Encolhi os ombros.
–Eu... eu não sei... Não sei se é bem ansiedade...-Murmurei, inquieta. Percy sorriu.
–Relaxe, maninha... Estarei com você.-Prometeu meu irmão.- Será fácil, você vai ver...- Tive vontade de levantar da cadeira e abraça-lo, porém, Sally e Paul adentraram a sala abraçados, sorrindo para nós dois. Sally suspirou.
–Estava dizendo a Paul o quanto vocês são parecidos...-Contou Sra. Jackson.-Realmente Poseidon fez belas crianças.
–Hã...-Troquei olhares com Percy, vendo-o sorrir.-Obrigada...-Agradeci.
–Não iam lavar os pratos?-Questionou meu irmão.
–Quem liga para os pratos, podemos lava-los depois... Sua mãe queria passar mais tempo com você.-Falou Paul.
–Own...-Fiz, fazendo Sally rir.
–Sei que precisam ir... Conheço os perigos daqui de fora. -A mesma esticou os braços para Percy, que se levantou, dando um forte abraço na mãe. Resolvi levantar também, assistindo o momento "mãe e filho" com um pequeno sorriso no rosto.
–Você é a melhor mãe do mundo.-Declarou Percy.- Mas precisamos mesmo ir... Temos que passar na casa de Natália ainda.
–Oh, não... não se apresse por mim, Percy.-Resmunguei, mas meu irmão não me deu bola.
–Okay, okay... eu entendo.- Sally passou a mão pelos cabelos de Percy com carinho. Eu conseguia ver a tristeza de ver o filho partir novamente, e tão rápido, em seus olhos; deveria doer… mas mesmo assim a mesma era tão compreensiva, tão amiga, que me fez sentir inveja de meu irmão novamente. - Não se meta em encrencas.
–Sabe que é inevitável.-Percy se soltou da mãe, abraçando Paul, por sua vez. Sally veio até mim, segurando-me pelos ombros.
–Boa sorte, querida.-Desejou.-Volte mais vezes!-A abracei também, agradecendo pela hospitalidade.
As despedidas duraram mais alguns minutos. Sally e Paul acenaram para nós da porta, vendo-nos sumir dentro do pequeno elevador. Ambos estavam tristes, mas não tanto como deveriam. Talvez já fossem acostumados com a vida de herói de Percy e o respeitavam e confiavam no mesmo... Céus, Aqui estou eu com inveja de meu irmão de novo.
–Está legal?-Perguntou-me Percy. Eu fiz que sim.
–Percy… sua família é incrível.-Declarei. Meu irmão sorriu, bagunçando meus cabelos.
–Pronta?-Indagou Percy, quando saímos do prédio. Pensei por alguns segundos, virando-me com um sorriso vacilante para ele.
–Pronta.-Afirmei, e juntos fomos até o ponto de ônibus, com o destino à minha antiga casa.
(...)
Eu podia sentir cada pelo de meu corpo arrepiado. Meu coração batia tão rápido que eu tinha vontade de gritar, apenas para extravasar toda adrenalina que corria por minhas veias. Percy parecia calmo e sereno e de hora em hora fazia uma piadinha e uma brincadeira do tipo "como será a cara dela quando ela te ver?" e "não me faça chorar". Eu não o culpava por não perceber meu estado de semi-surto, afinal, todos sabiam o quão boa atriz que eu era; principalmente depois de meu mestrado e doutorado em "Nico de Angelo". Percy havia me comprado um milk-shake, e tinha afirmado com certeza que eu me sentiria bem melhor tomando aquilo. Era a primeira vez que eu tomava milk-shake mas mesmo assim a novidade farta de chocolate não foi o suficiente para me acalmar.
–Então...acha que estamos chegando?-Questionou Percy, olhando-me de soslaio.-Ou, como eu tenho quase certeza, estamos perdidos?-O encarei.
–Não estamos perdidos...-Rebati.
–E como sabe disso?- indagou. Abri a boca para responde-lo, porém, paralisei assim que meus olhos bateram em algo.
Eu estava diante da praça perto de minha casa... A praça que fui atacada pelo cão infernal no dia em que fugi de casa... A praça que vi Nico pela primeira vez.
–Eu... reconheço esse lugar.-Murmurei.-Mais um quarterão, e estaremos lá.- Assegurei. Percy assentiu, continuando a andar. O segui sentindo minhas pernas tremulas, tentando conter minha respiração. Passamos na frente da loja de conveniência na qual eu passará antes de me encaminhar para a praça, vendo a mesma atendente entediada varrer a entrada da loja. Um sentimento de nostalgia me atingiu, fazendo-me fazer uma careta. Céus... aquela noite parecia tão distante agora que eu me questionava se tinha vivido-a mesmo. A cada passo que eu dava mais nervosa eu ficava. Eu simplesmente queria me virar e sair correndo para longe dali, mas tinha certeza que Percy me impediria, ainda mais depois de estarmos quase lá.
–Percy...- Chamei, parando na esquina de uma das ruas.
–Oque?
–É aqui...-Murmurei, encarando a rua com pesar. Percy avaliou o lugar.
–Tem certeza?- Assenti.
–Absoluta.-Falei com um suspiro. Percy apontou com as duas mãos para a rua.
–Então, vamos...Oque está esperando?!-Questionou. Dei meus primeiros passos para frente, começando a falhar miseravelmente em esconder meu nervosismo.
A rua estava consideravelmente cheia. Crianças brincavam e adultos conversavam, mas ninguém pareceu me reconhecer, o que não foi uma grande surpresa para mim já que, mesmo eu morando aqui por 15 anos, nenhum deles havia me visto nenhuma vez se quer.
Desviei os olhos das pessoas, bem quando chegamos na frente de minha antiga casa. Meus joelhos travaram e meus olhos se arregalaram enquanto algo quente e amargo subia pela minha garganta. Percy parou, franzindo o cenho.
–Espera...-Comecei.
–Chegamos?-Perguntou Percy, um tanto que incerto. Neguei com a cabeça, olhando incrédula para o que, um dia, eu chamará de lar.
–Não pode ser...-Minha casa estava em estado caótico. O jardim estava sem grama e coberto de ervas daninhas, as janelas tinham os vidros quebrados e as portas estavam todas lacradas; do lado de dentro não havia nenhuma luz acesa e muito menos indício de que havia alguém morando ali. Ultrapassei o isolamento que cercava a casa sem nem pensar. Percy censurou-me, porém, não liguei muito para seus avisos, socando a porta, tentando abri-la. -Mãe?!-Chamei alto.-Mãe?!-Corri para a janela, tentando enxergar algo lá dentro, sem sucesso.
–Natália...-Percy não parecia mais tão entusiasmado como antes. O mesmo olhava a casa com receio.-Cuidado... Pode ser alguma armadilha...!
– Minha mãe não está aqui, Percy.-Constatei temerosa, indo em passos largos até meu irmão.-Minha mãe nunca sai... Tem algo errado.-Coloquei a mão no peito, onde algo queimava, como se um maçarico tivesse sido ligado em meu coração.-Eu estou sentindo...- Percy fitou-me por um momento, assentindo. Ele não podia discordar que aquilo era anormal, e também, mais do que ninguém, sabia que "achismo" de semi-deus nunca é apenas achismo.
Nos voltamos para trás, prontos para sair do terreno, porém, assim que nos viramos demos de cara com uma senhora, que deixou os vasos de plantas que tinham nas mãos caírem assim que bateu os olhos em mim. Percy tomou a frente, indo ajuda-la com os vasos que haviam se espatifado no chão, mas desistiu quando viu que eu não me movi. Arqueei as sobrancelhas, surpresa.
–M-Maria?-Gaguejei, sem acreditar. Os olhos da mulher se arregalaram e a mesma comprimiu um grito, tampando a boca com as mãos. A mesma não havia mudado desde a última vez que eu a virá. Continuava baixinha e roliça, mas eu nunca tinha a visto tão assustada.-Maria, sou eu, N...
–D-doente?-Cortou-me nova voz. Olhei para a mesma, tendo outro sobressalto. Vicenzo, o neto de Maria que eu um dia tinha tido uma paixonite, me encarava tão assustado quanto a avó. O mesmo examinou-me da cabeça aos pés, negando firmemente. Percy examinou Maria e Vicenzo, dirigindo-se a mim.
–Conhece eles?-Indagou.
–Eles são... -Comecei, mas achei melhor mudar.-Eles eram meus vizinhos.-Respondi.
–Deus, como você está viva?!-Questionou Vicenzo. Percy levantou as sobrancelhas, confuso, enquanto eu semicerrava os olhos.
–Que?-Perguntei.
–Você.... Achávamos que estava morta.- O gosto amargo em minha boca se intensificou.
–Vocês acharam o que?!-Perguntei incrédula. Lágrimas grossas rolaram dos olhos de Maria.-Deuses, vocês estão mesmo me reconhecendo? Sou eu, Natália, a garota que vivia aqui com Nina Ruggiero.-Apontei para a casa atrás de mim.- Vamos... eu não mudei tanto! Maria...-A mulher me encarou com uma tristeza profunda.
–Querida...-Começou, com tanta dor na voz que me fez sentir vontade de ampara-la, porém, seu neto a impediu de continuar, olhando duramente para mim.
–Sabemos quem é você!-Rebateu Vicenzo.-A garota doente, que eu vi fugir de casa em uma noite e que nunca mais voltou!-Engoli em seco.
–Desculpe, mas oque esta acontecendo?-Questionou Percy. O olhei receosa, virando-me descrente para Vicenzo.
–Ta, eu fugi... mas eu não morri.-Falei óbvia.-Porque acham isso?!
–Cara...-Vicenzo passou a mão pelos cabelos, como se ainda não tivesse acreditando que aquilo estava mesmo acontecendo. -Isso é tão problemático...-O mesmo recebeu um olhar de sua avó, que o fez suspirar pesadamente.-Olhe… depois que você fugiu de casa, quando amanheceu, acordamos com os gritos de sua mãe. Ela estava surtada... Não falava coisa com coisa... murmurava algo sobre alguém chamado Afrodite, dizia que tinha te perdido e pedia desculpas ao nada…-Vicenzo me encarou.-Ela não nos disse nada... mas sabíamos de sua doença, então tiramos nossas próprias conclusões...
–Não, Vicenzo eu... -Olhei para Percy, que não parecia estar entendendo um terço do que se passava ali.- Vejam, eu nunca fui doente. Minha mãe... mentiu para mim minha vida toda. Naquela noite eu fugi de casa e acabei... me machucando. Eu fui salva por uma pessoa que conhecia minha família.-Apontei para Percy.-Esse é meu irmão... eu tenho um pai. Um pai que minha mãe nunca me apresentou. Eu estou bem, sou saudável!-Assegurei, Vicenzo olhou para a avó, mas Maria apenas continuou parada, chorando nas mãos.- Céus, estão me deixando nervosa. Sabem oque aconteceu aqui, não é? Onde está minha mãe?!
–Óh minha querida...-Maria veio até mim, dando-me um forte abraço. Arregalei os olhos, ficando perplexa, separando-a de mim pouco tempo depois.
–Maria, oque aconteceu aqui?-Repeti. Vicenzo bufou, e meu desespero aumentou quando vi que até o garoto tinha os olhos marejados. Maria tocou meus rosto.
–Eu sinto tanto... Querida Natália... porque não voltou antes?!-Questionou.
–Eu... eu estava com raiva.-Confessei, com a voz baixa.
–Natália... sua mãe... sua mãe...-Maria engasgou com suas próprias lagrimas, o que fez Vicenzo tomar sua posição em me contar.
–Natália, sua mãe...-O mesmo tomou folego.- Sua mãe se suicidou três dias depois que você sumiu. -Revelou. Eu pisquei os olhos, estranhando o silêncio que ficou depois dessa frase. Percy prendeu o ar, enquanto Vicenzo me encarou em expectativa. Fiquei parada por um momento, tentando entender o que aquele maldito garoto havia acabado de falar. Suicídio? Isso quer dizer que... minha mãe estava morta, não é?!
–Não...-Sussurrei. A realidade chocou-se contra mim com tanta brutalidade que não fui capaz de manter-me em pé, e teria caído no chão se Percy não tivesse me segurado. -Não, não, não... Calem a boca... Pelos deuses, CALEM A BOCA!- Gritei, tampando meus ouvidos com as mãos. Uma dor forte surgiu em meu peito, mas em segundos cada centímetro de meu corpo fumegava, como se litros e litros de ácido estivessem sendo derramados em minha corrente sanguínea.
–Tudo, bem, Nath... Natália? Está tudo bem...-Percy tentava me acalmar, mas eu estava perdida. Incrédula. Eu gritava, com certeza gritava, pois sentia minha garganta arder. Eu chorava pois sentia meus olhos transbordarem lágrimas, mas nada disso parecia fazer parte de minha realidade naquele momento. Vicenzo e Maria choravam comigo, e isso me fez ter vontade de empurra-los, de xinga-los, mas não consegui se quer raciocinar. Eu estava cegada pela culpa. Minha mãe havia morrido... Ela havia se matado pois achará que eu tinha morrido. Ela sabia da maldição de Afrodite mas não sabia suas consequências... Ela se matou por culpa, por minha culpa!
Eu engasguei, sentindo o vômito chegar em minha boca e depois voltar como uma pedra para meu estômago. Meu coração doía tanto que eu não sabia como ainda não tinha tido uma parada cardíaca.
–Leve-a daqui, ela precisa ir...-Murmurou Vicenzo para Percy. Senti meu irmão começar a me puxar, mas eu resisti. Me virei para o mesmo, abraçando-o.
–Não, não, não... Percy.-Chorei.-Percy, é tudo minha culpa... Percy, eu matei minha mãe!-Gritei. Percy abraçou-me fortemente, passando as mãos por meus cabelos.
–Não fale isso... Pelos deuses.-Pediu. Deitei a cabeça em seus ombros, apertando sua camiseta, tentando buscar conforto, mas nada, absolutamente nada parecia fazer efeito. Meu coração estava dilacerado, cada parte do meu corpo estava gelada e eu me sentia exausta como se estivesse, realmente, doente. Minha mente trabalhava devagar, mas ainda assim consegui pensar em uma só palavra; uma palavra que fez tudo aquilo fazer sentido: Maldição.
Lembrei de uma frase que Éros falará um dia para mim: "Você vai morrer de amor,vai sofrer, vai sentir dor, e todo o resto..." Céus, era isso. Eu estava morrendo de amor, minha maldição estava jogando comigo.
–Natália...-O sussurro conhecido me fez levantar a cabeça, olhando por cima dos ombros de Percy. Vi Éros correndo em minha direção, as asas brancas tão bonitas esvoaçando atrás dele. Por um momento senti um pequeno pingo de esperança me tocar, mas isso durou menos que um segundo, quando vi o deus desaparecer em uma nuvem de fumaça avermelhada, levando consigo a esperança de que aquilo fosse mentira.
PDV NICO.
O sol pintava o horizonte de laranja enquanto as primeira estrelas começavam a aparecer no céu azul. Tudo estava tão bonito que quase me senti culpado quando praguejei, sem nem me importar se ofenderia algum deus.
Eu, realmente, estava irritado. Encarava a luta em minha frente sem ânimo, sentindo a ferida em meu braço arder. Quíron havia me obrigado a participar de uma das atividades do Acampamento, alegando que não era bom para mim ficar tão sozinho. Quase usei a desculpa de ir ajudar Natália com os Pégasos para não participar daquilo mas, então, lembrei que a filha de Poseidon não estava aqui, o que, para mim, foi levado como mais uma afronta da mesma. Era típico dela fazer isso; agir de forma contrária a minha sem ao menos ficar envergonhada. Me tocar, quando eu não queria ser tocado, me encher quando eu só queria ficar sozinho, se jogar embaixo de pedras para salvar minha vida quando eu não havia pedido por isso! Céus... Só de pensar no que poderia ter acontecido meu coração doía, e uma forte vontade de agarrar Natália pelos ombros e chacoalha-la até a mesma me dizer qual era a dela me invadia. Nos últimos dias eu tinha criado algumas teorias, mas nenhuma parecia boa o bastante. Natália era meu carma? Minha punição? Eu estava quase achando que meu pai a havia contratado para piorar meu castigo aqui, já que eu não achava mais respostas para entende-la a um bom tempo... e sinceramente eu havia desistido de tentar entende-la também a um bom tempo. Havia aceitado que aquela garota era simplesmente maluca, e tentei ignorar cada coisa estranha que a mesma fazia. Mas isso não significava que eu a queria se jogando embaixo de pedras por mim.
Tirando toda raiva que eu sentia, eu estava disposto a me desculpa com a filha de Poseidon. Confesso que havia exagerado. Não deveria ter gritado com ela, afinal a mesma havia me salvado. Mas ainda pensando em me desculpar eu continuava furioso. Quando vi seu sangue em minha mão, por um momento, pensei que fosse perde-la. Que ela iria morrer por minha causa... Deuses, só de pensar nisso um arrepio subiu por minha coluna. Eu não poderia viver em paz se soubesse que a filha de Poseidon morreu por minha causa, não poderia olhar na cara de Percy sem fingir indiferença novamente, não teria desculpas para..."odiá-lo".
–VENCER!-Fui tirado de meus pareceres vendo Clarisse La Rue derrubar seu oponente, vibrando com os outros filhos de Ares. Quíron riu, entretido, batendo palmas com a mais nova vitória.
–Muito bem, heróis! Que tal uma última luta antes do jantar?-Os campistas gritaram, fazendo-me revirar os olhos.-Ótimo! Então, que tal um duelo de irmãos?! Percy e Natália, apareçam!- Todos viraram-se em busca dos filhos de Poseidon, mas, obviamente, nenhum dos dois estava ali.
–Eles não estão aqui!-Informou um dos semi-deuses. Quíron franziu o cenho, enquanto Annabeth aparecia ao lado do mesmo.
–Ainda não?-O centauro olhou para o céu.-Já é noite... Já eram para eles terem chegado.
–Percy me disse que voltaria antes do sol se pôr, Quíron... Estou preocupada.-Falou Annabeth. Semicerrei os olhos, aproximando-me.
–Qual o problema? Talvez eles tenham se atrasado... Vamos, eu luto no lugar deles, só preciso de um oponente!-Ofereceu-se Clarisse, mas foi cortada quase instantaneamente pela filha de Atena.
–O problema não é a luta, Clarisse! Percy sabe que a noite não era segura para semi-deuses... Eles só iam a cidade fazer uma visita rápida a mãe deles, não a motivo para tanta demora a não ser que...- "a não ser que algo ruim tivesse acontecido." completei mentalmente. Não... oque poderia ter acontecido? Monstros? Não... ambos eram experientes o suficiente para acabar com qualquer criatura que tentasse pega-los.
–Talvez os dois tenham tido um imprevisto...-Começou Michael, recebendo um sorriso maldoso de Rachel.-Nunca se sabe quando acidentes acontecem...
–Deveríamos esperar até de manhã para entrarmos em pânico. Vocês parecem bem descrentes... estamos falando do "salvador do Olimpo" e sua irmãzinha, não é?-Indagou Rachel, examinando as unhas. Cerrei os punhos, dando alguns passos a frente.
–Natália me fez prometer que nos veríamos quando ela voltasse, ela não furaria comigo.- Falei com convicção. Annabeth assentiu, abrindo a boca para me responder, mas quase como que para me contradizer o barulho de uma corneta soou por todo o Acampamento, impedindo a filha de Atena de falar. Todos viraram-se em direção ao pavilhão.
–Algo aconteceu...-Comentou Clarisse. Quíron bufou.
–Fiquem todos aqui!!-Ordenou Quíron, saindo em trote na direção do refeitório. A maioria dos Campistas o obedeceram, a não ser por Annabeth, Rachel, Michael, e é claro, eu. Uma sensação sombria me atingiu, fazendo os cabelos de minha nuca se arrepiarem. Annabeth contraiu-se também, tomando a frente da corrida. Estávamos quase lá quando pude ver oque estava nos esperando.
–Quíron!-Chamou Percy alarmado. O mesmo segurava uma corneta em forma de concha e tinha os olhos verdes aflitos. O examinei com o olhar, certificando-me que o mesmo estava bem, para um segundo depois sentir meu coração acelerar. Arregalei os olhos, vendo que Percy não estava sozinho. Seu olhar alarmado recaia sobre Natália, que estava quase irreconhecível, apoiada fracamente no corpo do irmão. A mesma estava pálida e assustada, soluçava tanto que seu corpo inteiro tremia e o rosto estava banhado em lágrimas, que caiam na camiseta, já encharcada, do irmão.
–Percy!-Annabeth foi a primeira a chegar até os dois, tocando o rosto do filho de Poseidon apenas para ter certeza que o mesmo estava bem, voltando-se a Natália logo depois. A mesma tentou acalma-la, porém Natália não parecia ouvir, estava em choque.
–Oque aconteceu?-Questionei, mas foi totalmente ignorado. Percy soltou a irmã com cuidado, olhando para Quíron.
–Preciso de Ambrosia, néctar, qualquer coisa que a deixe feliz!-Pediu o filho de Poseidon. Fui até Natália, que agora estava parada, enquanto Annabeth tentava faze-la falar. A menina negou com a cabeça, escorregando para o chão. Empurrei a filha de Atena, segurando Natália antes que a mesma caísse, sentindo seu corpo inteiro se contrair ao meu toque, e sua coloração passar de pálido a quase sem cor nenhuma. Annabeth tirou os cabelos de Natália do rosto, olhando-a de cima abaixo.
–Eu não entendo…-Falou a loira.-Ela não parece ferida.
–Natália...?-Questionei. A garota estava gelada, tão gelada que me fez questionar se corria sangue por seu corpo.Virei-me novamente para Percy.-Oque aconteceu?!-Perguntei de novo e mais uma vez fui deixado de lado. Michael e Rachel fizeram biquinhos debochados, o que me fez querer manda-los embora daqui a base de socos. Percy assentiu para alguma coisa que Quíron disse, vindo até mim, começando a puxar a irmã de mim.-Pode me dizer o que aconteceu, Jackson?!
–Agora não, Nico.-Falou Percy. Senti uma onda de raiva me atingir, empurrando a mão de Percy de Natália, apertando-a em meu abraço. Sua cabeça bateu contra meu peito, o que a fez soltar um murmuro, apertando minha camiseta com os dedos finos.
–Me diga o que houve com ela, agora!-Exigi. Percy piscou os olhos surpreso, mas eu não vacilei. Continuei o encarando.
–Diga logo, Percy!-Incentivou Annabeth.
–Nico...-O filho de Poseidon encarou a irmã com pena, abaixando o tom de voz, como se quisesse que a mesma não o ouvisse.- A mãe de Natália...ela se suicidou...ela acabou de descobrir que a mãe está morta.-Contou. Arregalei os olhos assim como Annabeth. Os únicos que não pareceram surpresos foram justamente Michael e Rachel, que se afastaram, parecendo muito satisfeitos com eles mesmos. A cabeça de Natália tombou e pude ver seu rosto claramente. Os olhos verdes fitavam o nada, tão vazios, tão sem vida, que me questionei se eram mesmo os olhos da garota eufórica e irritante que havia me deixado hoje de manhã. A palidez, a pele fria, os olhos... Natália estava parecendo que estava...
–Não.-Chequei seu pulso apenas para ter certeza que a mesma estava viva, ficando aliviado ao constatar que sim.
–É melhor leva-la a enfermaria. Não estou gostando de seu aparência.-Falou Quíron.
–Precisamos cuidar dela, Nico.-Percy voltou a toca-la, dessa vez pedindo-me permissão com o olhar. A olhei uma última vez, deixando-a ir para os braços do irmão. Percy a pegou no colo, fitando-me.-Se quiser vir…
–Não.-Cortei.
–Fique calmo, ela vai ficar bem.-Prometeu Annabeth, e me senti estranho em ouvir aquelas palavras. Não, ela nunca ficaria bem... A dor de perder um ente querido, eu conhecia bem essa dor. E até agora ela não havia passado.
–Merda.-Xinguei. Virei-me para trás, pretendendo ir novamente até Natália, mas eles já haviam a levado, deixando-me sozinho aqui com um vazio inexplicável no peito.


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Notas finais do capítulo

Então, gente? Conseguiram ler? Não está péssimo? Espero que não.
Mandem reviews galera, estamos à um comentário dos "200" e como já estamos na reta final da fic acho MUITO DIGNO, BICHAS, a gente encerrar lacrando e sambando.
Até o próximo capítulo, fofinhos! Bye bye



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