Me lembro uma vez de quando eu era criança, Andrew havia brigado comigo por descer as escadas correndo, Caleb assumiu a culpa por mim, ele não brigou com Caleb, viu alguém que não era egoísta, achou sua ação inspiradora. Eu também achei, nunca o agradeci corretamente.

Foi assim que vi Tobias quando ele enfrentou meu pai por mim, como alguém que não era egoísta, um amigo que eu podia confiar. Ele não me conhecia bem, o conheci a pouco tempo e mesmo assim ele me ajudou, se não fosse por ele, outro hematoma estava no meu rosto.

Ficamos todos na sala conversando depois que Andrew saiu, Tobias ficou para almoçar com a gente. Rimos de piadas e conversamos sobre a vida de Tobias, que foi a única parte que ouvi, estava interessada em ouvir sua história e saber onde ele aprendeu a ser tão corajoso .

Ele se mudou para Chicago por conta da separação de seus pais, segundo Tobias, Marcus era muito severo com sua mãe Evelyn e ela pediu divórcio para tentar ser feliz só com o filho. Tobias teve que deixar todos os seus amigos da escola antiga.

Pelo que percebi a escola antiga de Tobias era bem legal, era dividido em cinco grupos, onde eles chamavam de Facções, Erudição, onde ficavam os inteligentes, Abnegação onde ficavam os humildes que sempre ajudavam, Franqueza, onde os honestos ficavam, Amizade, para os amigáveis, e Audácia, para os fortes e destemidos.

Segundo Tobias, eles faziam um teste para saber de qual Facção seriam, de acordo com sua personalidade.

– Também há os Divergentes. – fala Tobias.

– Os Diver... O que? – questiona Lynn.

– Divergentes, eles pertencem a mais de uma Facção, são considerados estranhos, por serem mais de uma coisa ao mesmo tempo. – responde Tobias.

Não entendi, o porque disso ser tão ruim.

– Eles eram incontroláveis, nossa diretora, Jeanine Matthews fez um soro, onde todos podia agir de forma legal e controlada, mas só se os Divergentes forem expulsos, pois eles desobedeciam as regras.

– De qual Facção você era? – perguntei, depois de uma falha tentativa de esconder minha curiosidade.

– Bem, - hesitou. – Eu pertencia á Audácia. – respondeu ele.

Claro que sim, seus músculos e coragem vinham de uma Facção de destemidos, onde ninguém tinha medo de nada.

– Bom, isso tá na cara. – disse Lynn olhando seus músculos.

– É – disse ele rindo.

Já estava ficando tarde, Tobias tinha que ir, me despedi dele e subi para o quarto de Lynn, ela veio logo atrás.

– Cara legal ele né? – perguntou ela.

– É. – respondi tentando dormir um pouco.

– Que foi? – perguntou.

– Nada, por que?

Ela ia falar alguma coisa, mas desistiu.

– Nada não, boa noite. – disse ela por fim.

– Boa noite.

Tive um sonho estranho, eu estava em uma cidade, onde era protegida por cercas. Uma mulher de cabelos loiros me dava uma bebida estranha para descobrir de qual facção eu seria.

Vejo um cachorro parado na minha frente em posição de ataque, ele rosna e corre em minha direção e pula pra cima de mim, mas eu desvio. Me viro para ficar cara a cara com ele e ele está mansinho, uma menina chama ele e de repente ele fica feroz, grito um “Corra!” mas Ela não corre.

O cachorro corre em sua direção e eu pulo e o seguro. Depois estava em um ônibus, onde um homem da Franqueza estava com um jornal na mão disse “Você conhece este homem?”, “Não” respondi, mas eu sabia quem era, só não o reconhecia de onde. “Você pode salvar minha vida se disser” pediu ele, “Mas não sei” menti.

Agora estava em uma sala com vários espelhos, havia vários de mim, todos me imitando, menos uma, me virei para ela e a toquei, de repente acordei.

Foi um sonho, pensei.

– Divergente – a mulher loira disse. – Erudição, Audácia e Abnegação. – depois saiu, sem dizer mais nada.

***

Lynn me acorda ao gritos, pulo da cama e pergunto desesperada.

– O que foi isso?! – perguntei assustada.

– Pensei que... nada não.

Aquela mania de não terminar as coisas que começa a falar já estava me chateando. Era muito irritante.

Me arrumei para ir á escola e desci para o café da manhã, quando terminamos caminhamos até a parada do ônibus, sem falar nada, o ônibus demorou á chegar, ele chegou e subimos estava a metade cheio e a metade de trás desocupado. Tobias estava na frente e havia um lugar sobrando ao seu lado, ia me sentar, mas Lynn foi mais rápida. Ignorei, e fui para um dos bancos de trás. Estava muito barulhento, todos conversando e rindo. Sobre o meu sonho, foi bem estranho, Audácia, Erudição e Franqueza, quer dizer que sou inteligente, destemida e humilde ao mesmo tempo?

Meu corpo treme e lembro de Tobias dizendo que eles eram incontroláveis, os Divergentes.

Chegamos á escola e estava tudo normal, Lynn saiu ao lado de suas amigas que reconhecia, Marlene e Christina, Tobias veio em minha direção e sorriu.

– Olá. – disse ele.

– Oi! – respondi. – Posso lhe perguntar uma coisa?

– Claro. – respondeu ele.

– Porque exatamente seu pai era severo com sua mãe? – perguntei envergonhada.

– Bom.. – suspirou. – Acho que eu posso contar isso á você. – hesitou. – Meu pai era severo comigo, ele me batia e dizia “É para o seu próprio bem”, apresentei para Audácia o que fez com que eu treinasse, para me defender.

– Apresentou para a Audácia? Achei que sua única facção fosse Audácia.

– Bom, não é, sou Divergente. – disse ele.

– Ah. – disse lembrando do meu sonho. – Tobias.. Obrigado por me ajudar. – ele parecia confuso – Com meu pai.

– Ah, tudo bem.. Mas porque ele fez aquilo? – perguntou.

Eu poderia confiar nele, aliás, ele me contou coisas sobre sua vida também.

– Eu quebrei meu celular e ele me deu um tapa na cara – lágrimas rolam para fora do rosto.

– Ah, sinto muito Tris. – disse me abraçando.

– Tudo bem, - digo limpando as lágrimas. – Não importa mais.

– Você é forte Tris.

Me apertei contra seu peito e fechei os olhos.