Acordei e percebi que ainda estava na casa de Tobias, ele estava vestindo sua blusa. Havia algumas tatuagens em suas costas todas descendo em linha reta, um círculo com um fogo dentro, uma pessoa equilibrando uma balança, um olho, uma árvore e duas mãos se ajudando. Eram lindas, ele a cobriu com a blusa e virou pra mim.

– Bom dia. – disse ele sorrindo.

– Bom dia. – respondo me levantando da cama. – O que significa essas tatuagens nas suas costas?

Estava curiosa pra saber, parece que quando acho que o conheço, mais descubro sobre ele. Ele pensou numa resposta e respondeu.

– Mostra tudo o que eu gostaria de ser. – Ele apontou para a primeira como se soubesse o devido lugar de cada uma. – audacioso, altruísta, inteligente, honesto e cordial.

– Ah. – respondi tocando cada uma, ele estremeceu. Olhei para ele, e estava olhando um ponto fixo do outro lado do quarto. Não tinha nada lá.

Ousadia, sou uma pessoa ousada, mas quanto ás outras, não sei. Ele parece ser cada uma, mas há outras que estão bem no fundo de seu ser. Ele não consegue demonstrar, mas quem o conhece sabe que está lá. Eu e Caleb costumávamos brincar de honestidade, sentávamos em uma cadeira no meio da sala e cada um fazia uma pergunta, tínhamos que responder com honestidade. Quando eu mentia, ele olhava bem nos meus olhos e eu sempre começava a rir, então ele sabia que eu estava mentindo.

– Onde fez? – perguntei, eu queria fazer uma, o fogo, que representava ousadia.

– Minha amiga Tori, ela fez pra mim.

– Ela pode fazer uma em mim?

– Vamos lá descobrir. – disse abrindo um sorriso de satisfação.

Sabia que tínhamos que ir á aula, mas nenhum de nós estava queria. Andamos por várias ruas até chegar em uma totalmente deserta, paramos em uma casa com uma frase no muro. Acredito em um simples ato de bravura, na coragem que leva uma pessoa a se levantar em defesa da outra. Inspirador, essa tal de Tori deve ser audaciosa. Tobias me chama e entramos na casa, ela era meio escura com poucos móveis, havia uma mulher com cabelos pretos e pele morena, deve ser Tori, ela estava organizando algumas plaquinhas com desenhos em uma estante e só nos deu atenção quando terminou.

– Olá Quatro, e...

– ... Tris! – completei sua frase.

– O que os traz aqui? – perguntou olhando para Tobias.

– Tris veio fazer uma tatuagem, ela quer uma da Audácia. – disse sorrindo.

Os olhos de Tori agora demonstravam interesse, colocou o peso de seu corpo para a esquerda e respondeu.

– O que a faz querer uma? – agora olhando pra mim.

Olhei para Tobias que parecia tão surpreso quanto eu. Ela queria saber meus motivos? Não, não posso dizer isso a qualquer um.

– Quero vencer meus medos, achei que tendo esse símbolo em meu corpo me ajudaria. – admiti, mas não era apenas isso, eu queria me convencer de que poderia desafiar meu pai quando quisesse, e sempre ganharia, porque eu era corajosa.

– Ah! – seu lábio formou um pequeno sorriso. – Mas, saiba de uma coisa, você nunca vence seus medos, eles sempre vão estar lá, mas não vai ser tão terrível assim pra você depois de superá-los.

Afirmo com a cabeça.

– O.k, venha, sente na cadeira. – ela pede.

– Você que fez aquela frase no muro da frente? – perguntei sentando-me na cadeira.

– Não, foi meu irmão. Ele é um audacioso, mas também é altruísta. – respondeu com um certo orgulho na voz.

– Qual o nome do seu irmão? – perguntei querendo me distrair da minúscula dor que o aparelho fazia em meu ombro.

– George.

– Ah. Como vocês sabem que uma pessoa é audaciosa, inteligente...

– O termo que usamos aqui é erudita. – diz me interrompendo.

– Ok, erudita. Honesta, cordial ou altruísta? – continuei.

– Fazemos um teste em nossa escola, se chama teste de aptidão.

– Pode me explicar? – pergunto com delicadeza.

– Jeanine – nossa diretora – nos coloca sob efeito de um soro, ele nos faz ir em uma determinada paisagem dependendo de nossas escolhas. A partir de nossas escolhas, eles sabem de qual facção somos. Erudição, audácia, franqueza, abnegação, amizade, ou se somos... Divergentes. – sua voz ficara fria no final da frase.

– Divergentes? – perguntei.

– São aqueles que tem mais de uma facção, essas pessoas são expulsa da escola, pois Jeanine acha que não podem ser controladas.

– As facções, são um tipo de divisão entre os alunos? Tipo, cada um em sua mesa? – perguntei totalmente interessada no assunto.

– Sim.

– Você é divergente Tori? – perguntei olhando para um ponto fixo.

– Não, meu irmão é. E ele foi expulso, então saí também.

Olho para Tobias e ele acena com a cabeça adivinhando minha pergunta: Você é divergente?

Que tipo de escola faz isso com os alunos? É uma injustiça. Deve ser uma escola bem severa. Em um ímpeto uma raiva borbulhou pelo meu corpo e tive raiva dessa escola.

– Vocês já se rebelaram contra isso? – perguntei.

– Não. - ela olha para Tobias. – Mas estamos pensando. Se tirarmos a memória de Jeanine, ela esqueceria essa injustiça.

– Mas como vocês tirariam a memória dela? – perguntei me lembrando de Tobias dando socos em Peter, Edward e Eric para que eles esquecessem.

– Existe um soro para isso.

– Existe? Como ninguém sabia?

– Apenas nossa diretora e os cientistas sabem. Mas eu e Tobias descobrimos sobre isso. – Ela diz, andando para um sofá na minha frente. Olho para meu ombro e ele tem um fogo dentro de um círculo. Abro um sorriso.

– Vocês devem juntar várias pessoas que sabem desse fato para rebelarem. – argumento, voltando minha atenção á eles.

– Sim, já conversamos com todos os divergentes expulsos de lá. – responde Tobias por Tori.

– Então? – perguntei.

– Eles toparam. É a única escola em nossa cidade com um ensino bom, porém ela é injusta com as pessoas que são... Diferentes.

Escola assim devem ser bem modernas, sem contar que tem contato direto com os experimentos de cientistas, e os cobaias são os alunos. Eles sabem coisas que ninguém mais sabe, nem mesmo os alunos, só sabem que são de um jeito normal, ou diferente. Menos Tobias e Tori, e todos que eles envolveram nisso.

– Eu posso me rebelar também, mesmo não sendo de sua escola... Eu quero fazer isso.

Eles se olharam e acenaram a cabeça em sincronia.