Andei da casa da Carla até um ponto de táxi.Não tinha nenhum táxi por lá,fiquei esperando durante um tempo,e nada.Todos que passavam já estavam com passageiros.Eu já tava ficando cansada,então resolvi ir até a estação do metrô.A bilheteria estava fechada,e eu não estava com o cartão de passagem.

–Meu Deus..Como eu vou pra casa agora.-Pensei.

Fiquei numa praça,esperando passar algum táxi.Eram 02:00 da manhã,a rua estava deserta e nada de passar um táxi e naquele horário não tinha mais ônibus.Pensei em ligar pra minha mãe vim me buscar,mas se ela viesse,com certeza ia falar pra caramba por eu estar na rua até essa hora.

De repente começou a chover de novo.Eu sai correndo,resolvi voltar pra casa da Carla.Eu estava correndo pelo meio da rua,indo pra casa dela.Ouvi um carro se aproximar,e apressei o passo.O carro parou e ouvi alguém descer.Continuei andando de pressa,sem olhar pra trás.

–EMMA.-Gritou.

Eu parei na mesma hora.Arregalei os olhos,e não conseguia acreditar.Não conseguia virar pra trás,minhas pernas estavam bambas.Minha respiração estava ofegante,eu virei e o vi.Era ele mesmo,ele tinha voltado e dessa vez não era uma miragem e nem um sonho..Era realmente ele.

Ele veio até mim,me encarou e por um instante eu achei que ele fosse me beijar.

–Te vi correndo na chuva.Quer uma carona?-Falou da forma mais seca.Parecia que era um estranho,nem se quer olhou nos meus olhos.

Na hora, eu quis perguntar se tinha algo a ver com outra pessoa, mas quando estão nos abandonando ninguém nunca menciona nome de terceiros, sempre dizem nada ter a ver com outras pessoas, como se não existisse mais ninguém na cidade.

–Não,obrigada! Eu acabei de sair da festa da Carla,mas resolvi voltar pra lá,porque não tem ônibus e nem táxi.-Disse por fim,fingindo não me importar com aquele comportamento dele.

–Ah!Mas,eu posso te levar em casa.-Sugeriu.Ele dizia como se fossemos apenas bons amigos.

–Não,obrigada!-Falei e continuei andando.

Eu estava me corroendo por dentro.Meu corpo estava tremulo e eu queria aceitar aquela carona.Mas ele estava diferente.Falava comigo como se não nos conhecêssemos.Então ele entrou novamente em seu carro e foi embora e eu voltei pra casa da Carla.

Quando cheguei,estavam todos bêbados,caídos e dormindo.A única acordada era a Carla,e pelo visto era a única que não estava bêbada,além de mim.

–Voltei.-Falei quando ela abriu a porta.

–Nossa,nem te vi indo embora.

–É,eu não te achei e como eu estava cansada fui sem me despedir.Me desculpe.Mas não tem ônibus e nem táxi por aqui,ai tive que voltar.

Ela riu.-É,é muito ruim conseguir condução por aqui uma hora dessas.Mas,pode dormir aqui se quiser.

–Ah,Ok!Eu aceito,é bom que amanhã eu volto pra casa com o Arthur e a Cami.-Falei direcionando a cabeça para os dois que estavam deitados um em casa sofá da sala.

Ela apenas riu e pediu que eu ajudasse com a bagunça.Arrumamos tudo e fomos dormir.Ela colocou um colchão pra mim no quarto dela e me emprestou um pijama.Eu tomei banho e dormi. De manhã quando acordei,todos tinham ido embora.Desci e a ela estava preparando o café.Cami e Arthur estavam sentados à mesa,com uma cara de sono misturada com ressaca.

–Como estão?-Perguntei sentando junto a eles na mesa.

–Ressaca,dor de cabeça..ah,você sabe.-Arthur disse com uma voz de sono.

Eu olhei pra eles e não agüentei,comecei a rir.Os dois estavam hilários.

–Porra Emma,é sério.-Cami falou.

Eu não falou nada,apenas continuei rindo.Tomamos café e fomos embora.

–Carla,sua festa foi ótima.Me diverti muito e é uma pena que você vai sair do colégio.Ah,e depois eu devolvo seu pijama.-Falei me despedindo dela.

–Obrigada Emma.Você é muita divertida e eu amei que você veio.Ah,pode ficar com o pijama.Nem uso ele.-Falou levando-os até a porta.

–Carla,a sua festa foi dos deuses.-Arthur falou abraçando-a.

–Obrigada.-Agradeceu sorrindo.

–Boa Viajem amiga.E obrigada pela festa.-Cami falou abraçando-a.

Entramos no carro,e fomos pra casa.No caminho contei tudo que tinha acontecido na noite anterior pra eles.Eles riram da parte que eles estavam bêbados,mas não falaram nada em relação ao que aconteceu na inusitada volta do Tyler.

Eles me deixaram em casa e foram embora.Cheguei em casa 07:30 da manhã,a casa estava um silencio e minha mãe ainda estava dormindo.Entrei de fininho,tirei a bota e subi as escadas sem fazer nenhum ruído.Entrei no quarto,coloquei minha roupa pra lavar,tirei aquele pijama,pus para lavar também e tomei uma ducha gelada,me vesti e deitei na cama,naquele quarto escurinho.

Dormi a manhã toda,acordei 13:00 e pouca da tarde,minha cabeça estava girando.Tomei uma aspirina e desci.Almocei com a minha mãe e ficamos na sala.

–Chegou que horas?-Ela perguntou.

–Não sei,não vi que horas eram.

Ela não disse nada,voltou a assistir o noticiário.Então eu subi,antes que ela começasse a fazer perguntas.Peguei meu celular e nada.Nenhuma mensagem e nenhuma ligação dele.Não sabia o que estava acontecendo,eu queria ligar,mas não tive coragem.

Peguei meu caderno velho,e não tive animo nem para escrever.Fiquei com o caderno sobre as pernas,e com a caneta na mão.Encarando aquela folha em branco,sem saber o que escrever.Sem vontade de escrever algo.

Desculpe a falta de palavras, é que nada vai bem. Então prefiro o silêncio. O tempo, que por mais que me massacre não me esconderá nada. Se eu sumir, não se preocupe, estarei no meu quarto dormindo e chorando.-Escrevi por fim!E pronto,foi a única coisa que escrevi.

Guardei o caderno na gaveta da cômoda e fiquei deitada.Depois de um tempo ligo pra ele. Ele não atende. Ligo de novo. Ele atende falando baixinho.

–Você está com alguém?-Pergunto.

–Estou.-Respondeu frio.

Desligamos. Pronto, agora eu já sei. Depois de um mês inteiro de palpitações, descargas de adrenalina, músicas, textos, amigos, danças, gritos, sensações, assuntos, choros, dores, vida. Agora eu já sei.