Acordei de noite.A casa estava silenciosa e o único barulho que se ouvia era o da chuva que caia lá fora. Tava com uma preguiça enorme,mas tomei coragem e levantei da cama.Fui até a janela,abri a cortina e estava caindo o maior pé d’água lá fora.Desci,e não tinha ninguém em casa,estava tudo escuro.Peguei um Danone na geladeira e subi.

Fiquei sentada na cama,comendo o Danone,sem nada pra fazer.E num ato de coragem peguei meu celular e liguei pra ele.O telefone chamou..uma..duas...três vezes! E quando eu pensei em desistir ele atendeu.

–Alô?-Ele disse.

Acho que ele não sabia que era eu,talvez tivesse apagado meu número,ou então não tinha visto no identificador de chamadas quem era.Respirei fundo,e quando eu ia dizer algo,ele desligou.

Pensei em ligar de novo,mas não tive coragem.Coloquei o celular no criado mudo e me joguei de volta na cama.A cabeça a mil como sempre.O dia estava acabando,amanhã mais um dia nasceria,e eu não fazia idéia de como seria,e nem se eu resistiria à aquele dia.

Eu adormeci,nem lembro como,só sei que aconteceu.Acordei com o sol quente e forte invadindo meu quarto pela janela.Nem parecia que tinha chovido.Afundei a cara na cama,e fiquei deitada,sem pensar em nada,sem fazer nada,apenas deitada.Depois levantei,fui até a janela,olhei pela cortina e vi o carro da minha mãe em frente ao portão de casa,sinal de que ela ainda estava em casa. Cambaleei até o banheiro,tomei banho e desci.

–Bom Dia Dorminhoca.-Lia falou sorridente quando eu entrei na cozinha.

–Bom Dia!-Falei sem animação.

–O que houve?-Perguntou-me.

–Nada.-Respondi,enquanto por dentro,tudo estava uma bagunça.

Tomei café e fiquei na sala por uns instantes.Depois sai,fui dar uma caminhada.Estava quente,tão quente que eu suava e meu corpo fervia.Parei na praça,sentei num banco debaixo de um pé de manga e fiquei ali,pairando na sombra.

O condomínio estava silencioso e a pracinha estava vazia.Nenhuma criança se quer brincando.Estava tão quente,que acho que todos estavam em casa,com seus ventiladores e ar condicionados,ou então na praia,ou talvez em suas piscinas.

Levantei meio tonta,minha cabeça doía muito.Talvez por conta do sol.Caminhei de volta pra casa,o mais rápido de pude,tentando fugir do sol quente.E tentando ir pela sombra,mas não se via quase nenhuma.Quando cheguei em casa fui direto pro banheiro,tomei outro banho,não agüentava,era calor demais.Quando já estava banhada e deitada na cama no frescor do ventilador,meu celular tocou,um barulho alto,uma música estridente que eu tinha posto como toque.Dei quase que eu pulo da cama,levei um susto tão grande que acho que por uns 2 segundos meu coração parou.

Por fim,peguei o celular e era ele.Arregalei os olhos,não conseguia acreditar.O celular continuava tocando enquanto eu o segurava sem acreditar.E só consegui atender no segundo toque.

Um silencio permaneceu.Então tomei a iniciativa.

–Alô!-Falei.Nada,ninguém respondeu.-ALÔ!-Falei mais alto,quase gritando.E então ele desligou novamente.Que raiva,quase joguei o celular no chão.Mas me controlei e voltei a deitar.

Já eram 12:00.E eu não tinha feito nada o dia inteiro.O dia estava chato,parado,sem graça.Nem a minha caminhada pela manhã me fez bem,só me causou dor de cabeça e calor.E pra completar,recebi pela terceira ou quarta vez,uma ligação dele.Eu estava pirando.Ai lembrei da festa da Carla.

–Pelo menos vou encerar a noite bem.-Pensei .

Desci,fiquei sentada na sala.Sem nenhum ânimo.Almocei com a minha mãe e ficamos assistindo TV o resto do dia inteiro.Ela me fez assistir todos os filmes da Saga Crepúsculo.Ela amava aquilo,eu simplesmente odiava,não via graça naquilo,nada naqueles filmes me chamavam atenção,nada me envolvia naquela dramaturgia. Mas assisti assim mesmo,afinal,o que não fazemos para ver nossa mãe feliz.

Meus olhos pesavam,estava quase dormindo.Toda hora eu cochilava um pouquinho.Até que acabou,dei graças a Deus e voltei pro meu quarto.Já eram quase 19:00 da noite.A festa ia começar às 20:00 e eu nem tinha procurado uma roupa.Entrei no closet e comecei a caçar.Eu nem tinha tantas roupas,e as que eu tinha estavam pequenas demais.

Eram 19:30 e nada deu achar algo que me agradasse.Lembrei que o tema da festa era rock e tive idéias.Peguei uns panos,e algumas roupas e fiz um figurino lindo.Não era nada demais,era simples,mas estava de acordo com o tema.É eu sou boa com essas coisas de roupas,eu confesso.

Peguei uma saia de balé que eu tinha guardada de quando eu fazia.Coloquei ela num balde com corante de roupa,e de rosa claro,ela passou para rosa escuro,um rosa quase vermelho.Fiz uns cortes numa calça jeans preta e pronto.Tomei banho,coloquei uma blusa preta de alcinha,a calça,a saia de balé,uma bota preta e uma jaqueta de couro.

Eram 20:10 e eles ainda não tinham chego.Então fiquei esperando na sala,enquanto minha mãe passava as ‘’regras’’ pra mim.Eu nem ouvi,já sabia todas.Era sempre as mesmas baboseiras.Nem ligava mais,apenas falava ‘’Ta bom mãe’’ pra ela não perceber que eu não estava nem ai.

Ouvi uma buzina.Dei um beijo na testa dela e sai correndo.

–Olá.-Falei entrando no carro e sentando no banco traseiro.

–Uau.Ta gata.-Cami falou.

–Valeu.-Agradeci sorrindo.

–Oi.-Arthur me cumprimentou depois.

Eu apenas sorri e então fomos.A casa da Carla era um poço longe.Uma hora e meia de carro,da minha casa até a casa dela.Quando viramos a esquina da rua,já dava para ouvir o som alto.Estacionamos o carro em frente a casa dela e atravessamos a rua.Ela estava parada na porta,com um copo e ICE na mão.

–Oii.-Falou sorridente.-Que bom que vieram.Entrem.-Falou abrindo a porta.

Entramos e a casa estava cheia,o som estava no último volume e havia muita bebida. Ficamos no quintal,atrás da casa,numa mesa com uns amigos,conversando,rindo e bebendo.A Lisa estava lá,estava com o grupinho dela em outra mesa.E de vez em quando eu a percebia me encarando.E era desconcertante,me sentia meio sem jeito.Mas continuei agindo normalmente.

As horas passaram voando.Já eram 00:15.Estávamos loucos.Eu era a menos bêbada.O Arthur já não dizia nada com nada,nossos outros amigos tinham ido embora.E poucas pessoas ainda estavam por lá. Até a Lisa e seu grupinho já haviam ido.De repente começou a chover.Entramos e ai que a coisa animou.Ficamos com o pessoal que ainda estava lá.A Cami e o Arthur ficaram dançando feito loucos.Eu estava exausta,fiquei sentada no sofá.Minha cabeça girava,eu já estava querendo ir pra casa.

–Cami.-Chamei.-Vamos,está tarde.

–Ah,Claro...Claro.Vamos,Vamos sim.Só deixa eu acabar essa cerveja.-Falou com aquela voz de embriagada,segurando uma lata de cerveja.

Eu sentei novamente no sofá,e fiquei esperando.Ela ainda bebeu mais umas cinco garrafas de cerveja,e nada de irmos embora.

–Arthur.-Chamei.-Vamos!

–Emma...Para de estragar o nosso barato.Ta legal aqui.-Falou bêbado.

Eu era a única lúcida ali.Estavam todos bêbados,e não falavam coisa com coisa.Então,eu não podia culpá-los.Esperei mais uns cinco minutos.Já estava ficando chato,eu já estava meio com raiva deles.Levantei do sofá.

–Cami,Arthur.-Chamei.

–Oi.-Eles falaram vindo até mim e me abraçando embriagados.

–É melhor vocês ficarem aqui.-Falei.-Eu vou pra casa,pego um táxi por ae.-Falei me soltando deles.

–Ok.Pode ir.-Arthur falou com um bafo de cachaça de quase me fez cair.

–Tchau Emma..Cuidado com o sol.-Cami falou voltando a dançar.

Eles estavam sem noção nenhuma,e não podiam ir embora,dirigindo daquele jeito.Então resolvi deixá-los lá.E fui embora.Tentei achar a Carla pra me despedir,mas ela tinha sumido.Então resolvi deixar uma mensagem depois.