O resto do dia foi normal.No dia seguinte não fui pro colégio.Minha mãe me levou ao Aeroporto de manhã para me despedir do meu pai.Ele disse que voltaria daqui a alguns meses para o meu aniversário de 18 anos.Eu fiquei meio insegura,com medo de que ele não viesse,mas ele prometeu.Então resolvi confiar nele e na palavra dele.

O resto do dia foi normal.De noite fui tirar meu carregador da tomada e vi várias mensagens enviadas de tarde pela Cami.Nada importante,só estava preocupada por eu não ter ido a escola e tudo mais.

*Fui me despedir do meu pai,ele voltou pra casa hoje e o resto do dia passei com a minha mãe.To aproveitando os dias em que ela ta sem fazer nada e quero passar o máximo de tempo com o Joe,ele viaja semana daqui a dois dias....Mas,eu estou bem!Não se preocupe.Desculpa não ter te respondido,cel tava carregando!!Nos vemos amanhã,Boa Noite!* -Respondi.

*Ah,que bom que esta bem!E que bom q vc se acertou com seu pai.Espero q vc fique bem quando o Joe voltar pra casa.Hm..Nos vemos amanhã! Boa Noite..Beijokas!!*

Eu li a mensagem,e guardei o celular.Fiquei deitada até pegar no sono.No dia seguinte eu estava mal,sentia um incomodo na cânula.Ai lembrei que era dia de ir trocar.Tomei café com o Joe porque minha mãe ainda estava dormindo.

No carro,a caminho da escola,liguei pro hospital pra confirmar a consulta,estava marcada pra tarde.Então eu poderia ir pra escola.Na escola o meu dia foi bem,quer dizer,eu me divertir com a Cami e o Arthur,tirando as partes que eu fiquei de vela,mas minha cabeça dava voltas e eu vira e mexe me pegava pensando no Tyler.

Bem,pelo menos eu sabia que ele não estava com a Lisa,pois ela estava indo ao colégio todos os dias.E ficava me olhando de cara feia.Mas não dizia nada.E sobre o Arthur e a Cami? Eles não eram uma ‘’ameaça’’ pra ela,então ela nem se manifestou contra.

As vezes eu pedia pro Valdir ir pelo caminho mais longo,só pra passar em frente a casa do Tyler e olhar a casa.E todos os dias,ela permanecia do mesmo jeito.Fechada,com as luzes apagadas e sem nenhum movimento lá dentro.Eu até pensava em ligar pro celular dele,mas fiquei com medo,e desisti e também não adiantava ligar pra casa dele,se não havia ninguém lá.

Quando cheguei em casa,tomei banho,almocei com a minha mãe e fomos pro médico.

Tive que colocar aquela roupa de hospital,e eu odiava,porque ela me pinicava.Depois de trocar a cânula o Dr. pediu que eu sentasse na cama começo o interrogatório.Eu respondi algumas perguntas, mas não via necessidade naquilo.

Então eu olhei pra baixo,e suspirei.

(Frase da foto)-Eu estou bem.Isso é tudo que você precisa saber,não é?

Ele assentiu com a cabeça e me liberou.Troquei de roupa e fiquei esperando minha mãe na sala de espera.Ela queria conversar com o médico e ter certeza de que estava tudo bem.Depois voltamos pra casa,e eu passei o dia inteiro deitada porque sempre que eu trocava de cânula,doía.Era assim,eu colocava a cânula,ai passava semanas com aquilo doendo e quando eu começava a me acostumar eu tinha que ir lá e trocar de novo,então era um saco.De noite eu já havia jantado e estava deitada,quase dormindo quando meu celular começou a vibrar.Peguei o celular no criado mudo e nem me preocupei em ver quem era,meus olhos estavam embaçados e eu pensei que fosse a Cami ou o Arthur.Então atendi.

–Alô.-Falei.

Um seilêncio permaneceu.

–Alô.-Falei novamente.

Mas ninguém respondeu.Mas eu conseguia ouvir a respiração de uma pessoa vindo do outro lado da linha.Esperei um pouco.

–Tem alguém ai?...Alô.-Insisti.

Mas ninguém disse nada.Então eu desliguei.Levantei cambaleando e passei meus pés pelo chão frio procurando meus chinelos.Liguei a luz e sentei na mesinha do computador com o celular na mão.Olhei no identificador de chamadas,e quase cai na cadeira quando vi.Era o número dele.Eu confesso que não entendi nada.

Na hora pensei várias coisas.Pensei até que ele tinha sentado no celular e discado meu número sem querer.Mas,por mais que eu quisesse ligar de volta pra ele,eu não podia.Quer dizer,o que eu iria dizer pra ele? –Pensei.

Então corri.Peguei meu caderno e comecei a escrever,por pra fora toda aquela aflição.

~ Escrevendo ~

Sabe,eu nunca me entendi.Nunca fui igual aos outros e nunca gostei de ser igual a ninguém. Odeio padrões e odeio seguir padrões.Gosto de ter meu próprio jeito,minha própria personalidade e meu próprio estilo.A verdade é que nem eu me entendo.Odiava quando era pequena e meus pais diziam que eu era parecida com alguém da família,ou quando alguém da família me dizia que eu era parecida com meus pais.Aquilo era revoltante.Mas eu cresci e aprendi que o ‘’diferente’’ é taxado como algo ruim,algo fora de serie.E o ‘’normal’’ é o bom.E por mais que eu não entendesse essa lógica absurda,criada provavelmente por pateta, comecei a querer ser igual aos outros,porque eu não queria ser a ‘’estranha’’.Mas quando te conheci,eu quis ser eu mesma.E me senti bem sendo quem eu era.Sentia que contigo eu podia me abrir,ser eu mesma.E acho que é isso que eu sinto falta.Sinto falta da segurança que você me passava.Você me deu um lugar num mudo que eu não tinha,e hoje em dia eu me sinto bem sendo do jeito que sou.E você gostou de mim assim,com meus erros e defeitos.

Então,eu espero que você volte logo.Porque sem você tudo esta escuro novamente e eu não tenho mais um ‘’lugar’’ no mundo.Nunca pensei que fosse sentir isso por alguém.E nem em todos os meus sonhos de ‘’primeiro amor’’,eu sonhei com um amor assim.Um amor que me atrai,me completa,me entende e me dá o que eu achava que NUNCA poderia ter.

Então guardei meu caderno e fiquei deitada pensando.

–Posso entrar?-Joe falou batendo na porta,que estava aberta.

–Claro.-Respondi sorrindo.

–Aconteceu alguma coisa?

–Não!

–Você estava tão quieta no jantar.Subiu cedo pro quarto.O que houve?-Perguntou sentando na cama.

–Nada! Só quero ficar um pouco sozinha,estou muito cansada.O dia foi exaustivo.

–É,mamãe me disse que vocês foram ao médico hoje.

–É,mas só fomos trocar a cânula.Nada demais.

–E o que o médico disse?

–Nada.Acho que isso é um bom sinal.-Falei rindo.

–É.-riu também

Ficamos em silêncio por um tempo.Não tínhamos mais o que dizer.

–Emma,não gosto de te ver assim.Eu sei que tem algo errado.

Fiquei em silêncio.

–Não vai responder?-Perguntou.

Continuei em silêncio.

–Isso só me dá certezas de que há algo de errado.-Falou,insistindo.

–Meu silêncio te incomoda?-Perguntei.

–Não!Mas,todo silêncio tem um nome,ou um motivo.-Falou me encarando,olho no olho.

Respirei fundo e não disse nada!O silêncio permaneceu.Ele estava esperando que eu dissesse algo.Mas eu não disse.Então ele se levantou e antes que saísse do quarto eu o fiz parar quebrando o silêncio.

–Sabe esse silêncio?Me sinto como ele,vazia e sozinha.-Falei.

Ele me olhou e voltou pra cama,sentando novamente ao meu lado.

–É horrível se sentir sozinho, péssimo perceber que ninguém precisa de você.-Falei novamente,enquanto ele apenas me olhava singelo.

–Você não esta sozinha e todos nós precisamos de você.Você é uma menina maravilhosa.Temos sorte em te ter por perto.

–Sabe o que é triste? Triste é saber que você vai acordar no outro dia e ver que sua vida não passa de uma mera existência inútil e que ninguém liga se você ta viva ou morta.-Falei enterrando a cabeça no travesseiro.

–É uma pena que pense assim.Pois isso é um grande engano seu.Tenho certeza de que muitos te amam e você nem imagina o tamanho desse amor.

–O amor é uma piscina,na qual mergulhamos.Se ele for verdadeiros,nadaremos nele.Se ele for falso,cairemos de cabeça numa piscina rasa.-Falei.

–Diz isso por conta do Tyler?-Perguntou.

–Não!-Exclamei.

–Porque então?

–Pelas mágoas do passado.-Falei sentando na cama.

–Não podemos guardar mágoas.

–Eu não guardo mágoas.Guardo marcas,feridas.

Ele ficou em silêncio.

–E sabe de uma coisa Joe! Feridas na alma não cicatrizam.Elas ficam ali,esperando a primeira recaída pra aparecer e te fazer lembrar de coisas ruins do passado.E essas cicatrizes tem um poder,o poder de te fazer desacreditar no amor,e nas coisas que as pessoas dizem.-Retruquei.

–Então deixe que alguém venha,te mostre um novo mundo e cure suas cicatrizes.Deixe que alguém cure-as,de um jeito que nunca mais abrirão.

–Esse é problema.Ninguém fica pra sempre.Um dia essa pessoa vai embora e novas cicatrizes nascem.É um ciclo.

–Então seja forte,e cure-as você mesma.

Então veio o silêncio novamente.Ele saiu do quarto fechando a porta.Me deixou naquela escuridão,apenas com o luar que invadia minha janela para iluminar aquelas minhas lágrimas.E no fundo ele tinha razão.Eu devia enfrentar meus medos.Porque na vida é assim..Temos duas opções: Ou destruídos nossos medos,ou nossos medos nos destroem.E quando nossos medos nos destroem,eles destroem nossos sonhos também.

Acabei dormindo.E acordei cedo no dia seguinte,fui me despedi do Joe.Ele ia voltar pra casa e minha mãe não me deixou levá-lo no aeroporto com ela.Disse que eu devia ir pra escola.E lá fui eu,enfrentar mais um dia.