Fiquei parada olhando pra ela,tentando compreender o que tinha acontecido.

–Ah,me desculpa Emma.A culpa não é sua,não é do Tyler...A culpa é do Arthur queme enganou esse tempo todo.Me desculpa por favor,não queria ter dito isso.-Falava ainda chorando.

–Ta tudo bem Cami.Eu te desculpo,sei o que você esta passando,relaxa.

–Eu não sei o que vou fazer,eu me sinto tão mau.Me sinto um lixo,eu fui usada e nem sequer suspeitei.-Falou encostando a cabeça no braço da poltrona,enquanto ainda chorava.

Eu não sabia o que fazer,não sabia como consolá-la.Então abracei-a.

Depois de um tempo ela se acalmou e me contou o que a Lisa havia dito pra ela.Eu fiquei endignada com a capacidade daquela garota em mentir.

Nada do que ela contou pra Cami era verdade,então comecei a contar sobre a conversa que eu tive com o Arthur mais cedo e disse que nem tudo que a Lisa havia dito era verdade.

No final ela disse – O que te leva a acreditar nele?Ele mentiu pra mim e pra você.Como pode confiar nele?

–Eu que te pergunto,o que te leva a creditar na Lisa?Ela nem sua amiga é,já falou mau de mim e de você pelas costas várias vezes.Por que você acha que ela daria uma de boazinha agora?

Ela não disse nada,mas tenho certeza que ficou com aquilo martelando em sal cabeça.Ficamos caladas por um tempo e então ela cortou o silencio –Você tem razão.

Eu sorri e combinamos que iríamos fazer alguma coisa,mas que a Lisa não podia saber que sabíamos dessa história,quer dizer,da verdadeira história.

A Cami foi embora e eu fiquei arrumando minha roupa.No dia seguinte seria o enterro da Kethelen e pensar que tantas coisas estavam acontecendo e ela não saberia de nenhuma delas.

A noite depois do jantar eu fiquei deitada.Com a cabeça a mil. E então você precisa de um abraço,mas ninguém pode te dar.

Comecei a rabiscar algumas palavras em uma folha,e aos poucos aquilo foi se tornando o meu discurso para o velório da Keth. Aquele noite foi longa,parecia uma eternidade,as horas não se passavam..E isso por um lado era bom porque aquele parar de tempo adiava o nosso último encontro.

As horas iam se passando lentamente e eu chorava.Eu chorava e não entendia,apenas não entendia.Eu sentia saudade,uma saudade apertada dela,da gente..Principalmente da gente.Esse é o problema,a vida sempre teve mania de me tirar tudo.E mesmo assim ainda não me acostumei com as perdas.

Lembro de quando nos tornamos amigas,ela tinha um pouco de medo da felicidade.Uma vez ela disse: “Estou com tanto medo…” E eu perguntei: “Por quê?” Aí, ela respondeu: “Porque estou me sentindo profundamente feliz. E uma felicidade assim é assustadora.” Voltei a perguntar por quê, e ela prosseguiu: “Só permitem que alguém seja assim tão feliz se estão se preparando para lhe tirar algo”.

E ela tinha razão.Lhe tiraram a vida e de mim? Eles à tiraram de mim.Não sei quem são eles.Mas quem quer que seja,sinto um certo receio deles.Tenho medo de me sentir feliz novamente e eles me tirarem algo.-Pensei.

Então peguei um caderno velho e comecei a tratá-lo com um diário.Escrevi sobre mim na terceira pessoa,escrevi sobre como eu estava,mas não do meu ponto de vista,escrevi como se alguém me observasse e soubesse o que estava sentindo... “Ela estava sozinha em seu quarto, as lágrimas rolavam sobre sua face, não tinha o que fazer, á quem recorrer, estava perdidamente tomada pela dor.” –Escrevi.

E isso foi tudo,ou melhor,isso foi o pouco que consegui dizer de mim naquela noite,que parecia não passar,enquanto o ‘’gosto’’ de mais uma perda amargava minha boca e fazia minha garganta doer como se um nó estivesse sendo feito por dentro.E a dor me consumia de dentro pra fora,sem nem uma pausa para que eu pudesse respirar.