Stay escrita por Anjos Marcados


Capítulo 28
Desabafo com o Joe


Notas iniciais do capítulo

Fiquei domingo e ontem sem postar...Mas estou aqui de volta.Espero que gostem deste cap. *-*



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No dia seguinte acordei com o Dr. Me chamando,dizendo que eu já teria alta.Peguei minhas coisas e fui caminhando até o carro com meu irmão.

–Viu,você podia ter me levado pra casa ontem.-Falei implicando com ele.

–É,podia..Mas preferi não correr esse risco.

~Em Casa~

–Bom Dia Lia-Falei entrando em casa e vendo a Lia esperando na sala.

–Bom Dia querida...Como está?-Falou beijando minha testa.

–Bem!-Falei sorrindo.-Então subi pro meu quarto e liguei pra Kethelen,conversamos brevemente porque ela ia pro colégio.Nos despedimos e desligamos,acabei nem contando sobre a minha anemia,não queria deixá-la preocupada.

–Posso entrar.-Joe falou ao bater na porta e logo em seguida entrou,mesmo sem eu ter respondido.

–Já entrou né.-Falei rindo.

–Aquele seu amigo,o tal de Tyler..Ele ta lá em baixo.

–Pode pedir pra ele subir.Por favor.

–Vocês dois sozinho no seu quarto?

–Ih,não começa a pegar no meu pé não viu?Eu já sou bem grandinha e sei me virar sozinha.

–Não foi o que me pareceu,quando eu te encontrei caída no banheiro.-Falou brincando.

Eu respirei fundo e o encarei,sem rir.Ele percebeu que eu não gostei muito da brincadeira,afinal eu não tinha culpa em estar doente,e também não era minha culpa não conseguir comer.

–Ai,Desculpa..Eu..Eu não queria!Desculpa baixinha.-Falou me abraçando e beijando minha cabeça.

–Ta tudo bem.-Falei dando um meio sorriso.

Ele desceu e minutos depois o Tyler bateu na porta que estava entre aberta.

–Posso entrar?

–Claro,entra ai.-Falei sentando na cadeira da escrivaninha.-Senta.-Falei apontando pra poltrona.

–Como você ta?

–Melhor.-Falei sorrindo.-Mas você não veio aqui só pra saber como eu estou né?

–É..Na verdade não.-Dizia,olhando pro chão.

–Então,o que houve?-Perguntei.

–Eu te convidar pro aniversário da Lisa.

Na hora eu paralisei,é claro que se eu aparecesse com o Tyler no aniversário da Lisa ela me mataria,e eu não queria que ele soubesse que eu estava fugindo dela ou que ela estava me ameaçando,mas também não sabia como dizer não.

Balancei a cabeça como se estivesse saindo de um transe..-Acho melhor não,sabe como a Lisa é encanada por conta que eu e você somos amigos,se aparecermos por lá juntos ela vai surtar e eu já disse que não quero arranjar problemas com ela e com aquele pessoal dela.-Expliquei.

–É..Você tem razão.Mas sei lá...Você poderia ir com o Arthur.Vocês são amigos e a Lisa não tem nada com ele,acho que ela não iria encanar muito se vocês fossem juntos.-Sugeriu.

–Não sei...Talvez.Eu tenho que ver com o Arthur se eu posso ir com ele e se ele quer ir comigo,afinal ele e a Cami estão juntos agora.-Falei,tentando recusar.

–Ah,Cami é super gente boa...Com certeza ela vai concordar em você ir junto com eles.

–Se bem que segurar vela é meio chato né?-Falei.

–Ah,vai ter muita gente da escola lá...Você não precisa ficar com eles o tempo inteiro,só precisa ir com eles.

–Mas eu não falo com ninguém da escola,só com você a Cami e o Arthur.-Falei olhando pro chão.Ele me olhou e ficou olhando pro nada.-Não sou uma pessoal muito social,e acho que ja deu pra perceber.

–Ei,não fala assim.Esquece isso,não vamos mas tocar nesse assunto.Está tudo bem,a gente arranja um jeito e caso você não vá a gente marca um cinema.-Sugeriu sorrindo.

–Não quero que você deixe de ir por minha causa.-Falei levantando e indo até o banheiro.Ele veio atrás de mim e disse –Mas se você não for eu não vou.-Sorri e ele me abraçou.

–Preciso ir agora.Nos falamos mais tarde.

Não respondi,apenas o levei até a porta do quarto.Ele veio me dar um beijo e eu virei o rosto,ele beijou minha bochecha e depois me olhou tentando entender porque eu virei o rosto.Balancei a cabeça negativamente,ele entendeu o recado,me deu um beijo na testa e saiu.

~Mais Tarde~

Já era quase 15:00 da tarde,eu estava deitada na cama vendo um filme qualquer,quase cochilando,quando o Joe entrou no quarto.

–Ei,Precisamos conversar.

–Tem que ser agora?Eu to cansada,quero dormir um pouco.-Falei meio sonolenta.

–Vou ter que sair daqui a pouco pra resolver algumas coisas do trabalho e não sei que horas vou chegar,então sim..precisa ser agora.-Falou acendendo a luz.

–Ta..O que quer conversar?-Perguntei sentando na cama.

–Aqui não...Vamos descer e ficar um pouco no jardim,você está muito pálida..precisa de ar fresco,respirar um pouco e sair desse quarto.-Mandou.

–Ok..Deixa eu me trocar então.-Falei bufando.-Ele saiu do quarto,então coloquei um vestido florido,soltei meu cabelo e desci.Encontrei ele sentado na sala.-Pronto.-Falei.-Ele me olhou,sorriu,e então fomos caminhando até a parte de trás da casa.Sentamos numa cadeira de palha e em cima da mesinha redonda de vidro da mamãe tinham algumas flores,um bule e duas xícaras com café.Nos sentamos e começamos a dar pequenos goles no café sem dizer nada.

–Lembra de quando éramos pequenos,mamãe ficava sentada aqui lendo e papai ficava ao lado dela tomando café.Eu ficava brincando numa enorme caixa de areia que tinha bem ali.-Apontou para o lugar vazio,aonde antigamente existia uma caixa de areia.-E você ficava aqui cuidando das flores.-Apontou para o canteiro de rosas.-Mas eu nunca mais te vi cuidando das flores,desde a...

–Desde a separação dos nossos pais.-O interrompi completando a frase.

–É,desde a separação deles você nunca mais veio ao jardim,nunca mais cuidou das flores,pra falar a verdade você nunca mais saiu daquele quarto.-Relembrou.

–É,eu deixei de fazer muitas coisas,me isolei um pouco do mundo,passei anos trancada no quarto,só saia uma vez por semana pra ir ao colégio,porque na maioria das vezes eu estava doente demais para ir a escola.-Falei em um tom baixinho.

–É...Realmente você perdeu muitas coisas,muitos momentos.Mas você teve tempo de recuperá-los.Porque não correu atrás desses tempos perdidos?

–Eu perdi muitos momentos porque passei anos me culpando pela separação deles,passei anos internada em hospitais,passei anos me escondendo das pessoas com medo de ser julgada por ser diferente.Eu realmente perdi muitos momentos da minha vida trancada naquele quarto.Mas meus ursos de pelúcia eram os únicos a quem eu podia recorrer.

–Porque diz isso?Sempre fomos mais que irmãos,sempre fomos amigos.Você podia recorrer a mim,contar seus segredos,suas angustias,como sempre foi.Porque não fez isso?

–Você saiu de casa,foi estudar fora,começou a morar sozinho e a trabalhar.Você tinha,ou melhor,você tem sua vida e eu não queria atrapalhar,não queria que se preocupasse comigo.Você já tinha vivido anos e anos cuidando de mim e eu não achei justo te encher com os meus problemas porque você já tinha os seus próprios problemas e eu não queria te encher com as minhas bobagens.-Falei olhando pro chão.

–Ei,olha pra mim.-Então levantei a cabeça e o encarei.-Você é minha irmãzinha,independente de você já estar crescida você é e sempre vai ser a minha irmãzinha.Eu te amo baixinha e você pode contar comigo pra tudo.Mesmo que eu esteja longe,por você eu dou a volta no mundo só pra estar ao seu lado e cuidar de você quando você precisar.

–As coisas mudaram Joe...Eu não sou mais uma menininha inocente.Hoje eu sei de muitas coisas e já presenciei muitas coisas.Há dois anos eu não vejo o papai,e há um mês atrás mamãe só trabalhava e nunca aparecia em casa,e quando aparecia ficava só duas semanas.Eu fiquei muito tempo sozinha nessa casa,a única pessoa pra me fazer companhia era a Lia,mas não é a mesma coisa de ter sua mãe,seu pai ou seu irmão por perto.-Falei tentando me segurar.

–Eu...Eu não sabia.Me Desculpa.-Falou tentando se redimir.

–Você não tem culpa,e se fosse pela mamãe você não saberia nunca.Ela sempre dizia que agora você tem a sua vida e que eu não devia te incomodar com minhas bobagens e eu concordava com ela,não queria te incomodar com essas besteiras.

–Emma,se é algo importante pra você,se te faz mau,se você precisa de alguém pra te ajudar..Então não é besteira.Eu só não entendo como você se isolou tanto.Você era uma criança tão alegre,tão cheia de amigos.

–Eu não quis mudar de escola porque eu sabia que seria mais complicado pra eu me adaptar.Mas quando eu voltei a frenquentar a escola normalmente,todos começaram a me olhar torto.Eles cochicham quando eu passava,eles riam de mim e alguns até caçoavam ‘’Olha lá a menina doente’’...’’Olha lá a magrela que não come.’’...E muitos deles zoam sem saber o que eu tinha de verdade e eu não queria contar porque ai sim que eu seria mais motivo de piada.Então fui guardando pra mim.Com o tempo,conforme eu fui crescendo as pessoas continuavam a zoação e eram cada vez pior.Então eu contei pra minha mãe,e ela disse que isso era normal e com o tempo eles iriam me aceitar melhor.Eu esperei esse ‘’tempo’’ chegar,esperei até demais,então eu percebi que esse ‘’tempo’’ nunca chegaria.E fui me isolando das pessoas,a diretora percebeu e marcou uma reunião com a mamãe,ela enrolou durante uns 3 meses,mas depois como não conseguia mais arrumar desculpas ela foi a essa reunião.Mas no final das contas isso não deu em nada,só piorou tudo.-Falei olhando pro chão,eu estava morrendo em lágrimas enquanto ele me olhava indignado e eu não conseguia olhar em seus olhos,eu não conseguia levantar a cabeça e olhar pro seu rosto.Eu me senti péssima naquele momento e tudo o que eu mais queria era enfiar minha cabeça num buraco.

Continuei falando..-Então o pessoal da escola me caçoaram mais ainda.Começaram a me ameaçar,pediam dinheiro para não me baterem e eu fui me isolando cada vez mais porque a mamãe não dava a mínima e achava que as visitas ao terapeuta eram o suficiente,o papai sabia de tudo que tava acontecendo mas nunca veio me procurar e saber como eu estava,e você..bom a mamãe não me deixava contar nada pra você.Então basicamente todas as vezes que você ligava e eu dizia estar bem,na verdade eu estava um caco,mas não podia contar.E hoje em dia eu não tenho muitos amigos,e sou considerada uma estranha.E isso por um lado é bom porque eu posso chegar e sair sem que me percebam,mas é ruim porque eu me sinto cada vez mais sozinha e quando eu tento me socializar me rejeitam e me chamam de estranha solitária..e o pior,é que as vezes eu me sinto mesmo uma estranha solitária.E é horrível porque você vê todo mundo e ninguém te vê.E eu me vi sem saída,então me escondi dentro de mim.

E assim não falei mais nada.Apenas continuei de cabeça abaixa e cada lágrima que caía,um desabafo era feito.Não um desabafo verbal,mas um desabafo sentimental.A primeira lágrima se foi de mim,saiu como um leve suspiro e se perdeu em minha boca.A segunda veio acompanhada de outra,ambas tão doloridas quanto ácido,depois daquelas,não sei quantas caíram,mas todas doíam,doíam muito.E isso me consumia por dentro,porque ele agora sabia que haviam muitas coisas de onde saíram essas.


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