Ele entrou no quarto e eu estava sentada na beira da cama,totalmente paralisada.

–Emma,Ta tudo bem?

Uma lágrima caiu do meu olho,abri a boca e respirei fundo.Eu não disse nada.Apenas continuei parada enquanto mais lágrimas escorriam dos meus olhos.

Ele sentou ao meu lado.Me envolveu pondo o braço sobre minhas costas e apoiando a mão em meu ombro.

–Sei como se sente.Mas...-Ele começou a falar quando..

–Não,não sabe!-O interrompi,levantando e ficando de pé em frente a janela de costas para ele.

–É,talvez eu não saiba mesmo.Mas já passou,você tem que seguir em frente.

–Não é tão fácil assim...Na prática,é bem mais complicado.

–As coisas só são complicadas se você as fizer complicadas.-Falou se aproximando de mim.

–Isso é uma ótima filosofia,mas na prática..Não irá me servi de nada.-Falei ainda de costas para ele.

–Você devia acreditar mais na vida.-Sugeriu.

Então meus olhos encheram de lágrimas,me virei para ele e disse -ACREDITAR MAIS? TUDO QUE EU TENHO FEITO É ‘’ACREDITAR MAIS’’ TYLER!EU ACREDITEI QUE PODERIA COMER COMO UMA PESSOA NORMAL UM DIA,MAS EU NÃO POSSO.EU ACREDITEI QUE MESMO COM A SEPARAÇÃO MEU PAI NÃO ESQUECERIA DE MIM,MAS ELE ESQUECEU...EU ACREDITEI QUE AQUELE CRÁPULA NÃO TOCARIA EM MIM,MAS ELE TOCOU.TUDO O QUE EU FAÇO É ACREDITAR,MAS NÃO FUNCIONA.ENTÃO NÃO VENHA ME DIZER QUE EU PRECISO ACREDITAR NA MINHA VIDA,PORQUE ISSO É O QUE EU TENHO FEITO DESDE O DIA EM QUE EU NASCI!-Falei gritando,enquanto chorava.

–COMO É QUE É?AQUELE MARGINAL ENCOSTOU EM VOCÊ?O QUE ELE FEZ?-Perguntou gritando,com voz preocupada.

–Calma,relaxa Tyler.Ele não fez nada.-Falei baixinho.

–Como assim..Mas você disse que ele te tocou.

–É..Mas ele não fez nada!Ele até ia,mas você chegou a tempo.E eu agradeço muito por isso.

–Ah,magina Emma.Somos amigos,não somos?

–É....Somos!

–Tem certeza que ele não lhe fez nada.

–Tenho.-Falei chorando.

Ele me abraçou.E eu encostei minha cabeça em seu ombro,e ele beijou minha cabeça.

–E aquela história de que você não consegue comer?-Perguntou.

Cara que mancada,porque eu fui abrir essa minha boca.-Pensei.

Engoli o choro e falei em voz baixa.-Não!Eu tenho bulimia.-Expliquei.-Mas na quero que ninguém saiba,então vê se não espalha.

–Ta.Mas e o seu pai? O que ele tem a ver nisso tudo?

–Meu pai me trata como se eu não existisse.Ele nunca me liga,e só aparece por aqui nas datas comemorativas,e as vezes nem nessas datas ele aparece.-Falei suspirando.-Eu fui sequestrada e ele nem sequer se deu o luxo de me ligar pra saber como eu to.

–Me Desculpa ter tocado nesses assuntos.Eu não sabia que as coisas eram desse jeito contigo.

–Tudo bem.Eu to bem.Só não fala pra ninguém ta?

–Pode deixar.-Falou ainda me abraçando.

Ele teve que ir embora e eu fiquei lá sozinha.O quarto parecia estar tão escuro,mesmo com a luz ligada.Eu entrei no banheiro.Me joguei de baixo do chuveiro.E me ensaboei,peguei a bucha e esfreguei por todo meu corpo..Esfreguei com força,até arder e ficar vermelho.

Aquele crápula havia tocado em mim,e eu me sentia suja,eu me sentia imunda.Depois do banho joguei a roupa que eu tinha usado fora,eu queria me livrar de qualquer coisa que pudesse me lembrar esse dia,pelo qual que queria esquecer.

Depois de me livrar de tudo,me deitei e chorei.Chorei por tudo,não só por hoje..Por tudo!Eram muitas mágoas,muitas palavras engasgadas na garganta,muito choro engolido.Eu estava sufocada,sufocada com minhas próprias palavras,meus próprios pensamentos,minhas mágoas e minhas angústias.Todas aquelas palavras,todos aqueles pensamentos guardados,pareciam que estavam tentando sair..Eles queriam vir átona,e eu não sabia se era forte suficiente para o impacto.Acabei adormecendo.