O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 53
A Solidão da Pirilampa


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, minhas pirilampas, foi preguiça, mas eu sem querer apaguei o capítulo duas vezes e tive que reescrever tudo hoje ç-ç



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/512527/chapter/53

Tudo acontece muito rápido, em cinco segundo dá pra resumir tudo... Tipo, foi tão rápido que quando eu lembro vejo tudo em câmera lenta. Tem sentido? Acho que não.

Bom, no primeiro momento eu estava falando tranquilamente com o Dennis (vamos fingir essa parte), no segundo Gabriel estava andando até nós, no terceiro ele estava prestes a me beijar, no quarto ele pede desculpas e beija o Dennis... e no quinto e último momento o Dennis cai desmaiado no chão.

Nosso moço é muito másculo para esse tipo de coisa, não é mesmo?

Bom, não preciso dizer que todo mundo ficou com a maior cara de bosta animada no pátio, até o pessoalzinho antissocial resolveram sair das sombras pra ver se rolava treta. Esse povo ama uma treta, eu hein. A maioria olhava ao redor e cochichava “Alguém foi estuprado?”, olhavam pra mim e diziam coisas do tipo “Ela não é namorada do menino que caiu?” e outras coisas como “Eu não queria estar no lugar dela, coitada”, não que eu esteja reclamando ou coisa assim, mas eu não gosto que fiquem cochichando sobre mim pelas minhas costas. E era exatamente o que as pessoas estavam fazendo.

Demorou um pouco pra eu me situar, apenas quando o coordenador da escola chegou e fez um estardalhaço é que eu consegui olhar ao meu redor. Pude ver rostos conhecidos, Taylor estava com os olhos tão arregalados que achei que fossem cair no chão como bolinhas de gude, Matheus estava segurando uma risada daquelas, Loiza era a mesma coisa, Kat estava como eu, cara de bosta amassada, Ellie tinha uma sobrancelha arqueada e Mandy apenas sorria de lado, bom, Tyler estava com cara de quem quebrou o vaso chiquérrimo da mãe, bom, eu não sei bem, já que não temos vasos chiquérrimos em casa pra eu quebrar e poder ver a minha cara.

O que aconteceu em seguida foi... todos voltaram para suas classes, menos duas pessoas. Gabriel, que foi levado pelo coordenador que gritava dizendo que os jovens de hoje não tem pudor algum e que, se pudesse voltar no tempo, seria melhor ter seguido o sonho de ser frentista, e Dennis, que ficou no chão mesmo. Bom, acho que ele foi pra enfermaria, eu entrei na classe morrendo de vergonha dos olhares que me davam, parecia estar escrito na minha testa “Meu namorado curte Britney” e isso não é legal pra mim.

– Bom, entrem todos, não quero um pio sobre o que acaba de acontecer, até porque nem eu mesmo sei o que aconteceu e não quero ficar boiando na conversa – o professor de cálculo entra, colocando sua maleta rosa claro com um chaveiro de unicórnio brilhante em cima da mesa.

Todo mundo ri, como sempre, das piadas dele, até eu ri, bom, a não ser pelo Tyler, ele está me encarando como se eu fosse a pior pessoa do mundo. E como se fosse me matar a qualquer momento.

– Isso galerinha, já chega, peguem seus livros e façam as trinta questões – ele bate o livro na mesa, pegando uma caneta azul dentro do estojo rosa – quem não entregar hoje vai ficar em a nota do primeiro trabalho, então façam agora!

O Nelson, o tal professor de cálculo é assim, tem bolsas e acessórios nos mais diferentes tons de rosa, é engraçado e, de repente, para de ser o palhaço e se transforma num carrasco.

Eu tento me concentrar, mas sinto o olhar do Tyler sobre mim, esse menino me assusta tanto quando a irmã.

Depois de entregar meu exercício que provavelmente está todo errado por causa do Tyler – eu sempre tenho que culpar alguém, qual mo meu problema? – o sinal toca e todos saem correndo, tentando disfarçar enquanto passam pela minha cadeira... Na verdade, ninguém disfarça, todos me encaram enquanto estão à caminho da porta, ficam me encarando com uns olhões de cruz credo que daria medo até no Hulk. E a maioria passa cochichando, a minha vontade é de me levantar e gritar “Eu tenho ouvidos, seu bando de molambentos! Posso ouvir seus cacarejos!” mas sei que eles ririam de mim e cochichariam ainda mais alto.

Eu poderia tentar ir na enfermaria, afinal, Dennis está lá, ele tem visitado muito a enfermaria nesses tempos, bom... pelo menos dessa vez não foi culpa minha, percebo que estou sozinha na classe... Ah, sozinha não, Tyler está aqui, me sinto presa num barco salva-vidas com um tigre raivoso preste a me devorar... Acho que já vi isso em algum lugar. Me levanto rápido, mas ele me acompanha.

– Não se sente mal por aquilo? – ele diz, descontraído.

– Hãn? – paro, tremendo, estou de costas pra ele, mas sei que está escorado numa mesa, rindo de mim. – Mal pelo quê?

– Sabe... Gabriel e o seu namoradinho... Dennis.

Me viro, está exatamente como eu imaginei, escorado numa mesa, rindo como um retardado sádico. Ele gosta de ver a dor nos olhos das pessoas.

Tenho que parar de ver filmes de terror, isso está subindo à minha cabeça.

– Por que eu me sentiria mal? – tem mil motivos pra isso, sua anêmona! – Bom, Gabriel é meu amigo e...

– E você toparia dividir seu namorado com ele? Que legal – ele diz, reunindo todo o sarcasmo de uma vida, tentando me atingir como se eu fosse aquelas bexigas que tem que estourar pra ganhar os prêmios. Bom, eu estou cada vês pior no quesito “comparar uma situação com outra”.

– Não estou dividindo ninguém com ninguém, e pra sua informação, – paro... pra sua informação o quê? Ai, eu sou péssima em discursos. – pra sua informação... eu não te devo satisfações.

Já vou saindo quando ele solta uma risadinha, quando me viro ele me olha zombando da minha cara.

– Achei que diria isso, bom, tudo o que aconteceu foi, provavelmente, por minha culpa – ele fica em pé e põe as mãos nos bolsos da frente da calça.

Já tá se achando, o coitado. É por isso que eu não aguento ele, como o Gabriel pode aguentar esse troço de gente?

– Sua culpa? – finjo uma risada visivelmente falsa. – Não fique se achando, porque seria sua culpa? Você desafiou o Gabriel a beijar o Dennis, por acaso.

– Na verdade foi isso sim – ele pisca, parecendo surpreso, mas logo se recompõe e volta pra pose de mauricinho. – Não vai fazer nada? Não está nem um pouco zangada?

Ele fala com uma vozinha melosa, eu detesto esse menino, achei que detestasse só a irmã dele, ele parecia bem mais calmo e... racional. Agora está mais pra um babuíno ruivo que só fala besteiras.

– Nem vem, você está se achando o tal, acha que pode vir aqui e construir um castelo de gelo, madame? – começo a surtar. – Não, não pode, porque a Elsa não é ruiva, meu amigo, você crescerá sabendo que só é mais uma Anna no mundo e... espere... eu também sou Anna.

– Você é doida... – não foi uma pergunta, mas sim, eu sou doida, e minha próxima loucura será jogar um balde de cuspes de lhama na sua cabeça! Amber, onde você se meteu?

Daí a parada acontece muito rápido, mais uma vez, pra variar, sou puxada pra fora da sala de aula e logo o Gabriel se materializa na minha frente.

– O que aquele ogro disse pra você? O que ele disse? – ele murmura, baixinho.

– Tá sabendo que eu posso ouvir vocês, né? – Tyler diz, de dentro da sala.

– Desculpe, deixe seu recado após o bip – Gabriel faz um telefone com os dedos.

– Não estou te ligando – ele murmura.

– Me perdoe, ó ser místico – Gabriel faz uma cena que consiste em uma reverência quase que impossível de se fazer quando se tem mais de trinta, enfim, como ele não tem trinta, ele a fez perfeitamente bem – Não falamos ogrês. – e mostra a língua.

Tyler apenas revira os olhos e põe os headphones, ignorando completamente o mundo a sua volta.

– Vocês brigaram feio, não é? – digo, meio insegura, mas ele me abraça.

– Ah, Meizinha, me desculpa, a culpa foi minha, eu não devia ter aceitado aquela provocação estúpida! Me desculpa de verdade!

– Quê...?

– Eu entendo se você quiser me pisar e me espancar, pode fazer tudo isso, eu deixo, – ele choraminga, mas de repente para e me olha – só não toca no meu cabelo, tá?

– Tá, mas eu não estou brava – digo. Sinceramente, eu só estou atordoada. – Claro que eu preferia não ter visto nada, mas se quer pedir desculpas a alguém peça ao Dennis. Ele foi a vítima, não eu.

Me sinto aquelas justiceiras. Falo com o rosto sério, claro que olhei de esguelha (na minha visão / olhar de esguelha = encarar fixamente) para o Tyler que estava prestando atenção na nossa conversa, mas que voltou a fingir escutar música quando me viu.

– Sim, eu sei, mas eu estou com medo dele não quiser mais ser meu amigo – ele choraminga – ele vai me processar por estupro e me chamar de escória do Chimbinha!

– Quê...?

– Eu sou um péssimo amigo! – ele chora mais. – E a culpa é toda sua! – ele vai cheio de raiva e aponta o dedo bem na fuça do Tyler.

– O que eu fiz?

– Me desafiou, me provocou e me manipulou! – isso tá parecendo aquelas novela, briguem mais por favor.

– Você fez aquilo por conta própria, se alguém tem culpa é ela – ele aponta pra mim.

– Eu? Você disse que a culpa era sua, cretino – grito.

Eles se encaram, Tyler parece envergonhado e Gabriel parece aliviado.

– Culpa sua? – Gabriel junta as mãos. – Você admitiu?

Nisso, ele pula em cima do Tyler e começa a passar a mão na cabeça dele, como se fosse uma mãe desesperada encontrando o filho depois de muito tempo, tipo, duas horas.

– Que meigo, nunca imaginei que você liberar os pirilampos – ele pula, apertando o pescoço do Tyler com o braço... bom, esqueça a parte da mãe, nenhuma mãe estrangularia o filho, estrangularia? – Meizinha, tá tudo bem, eu vou falar com o Dennis e...

O sinal toca, o Gabriel solta o pescoço do Tyler que já estava ficando com a cara roxa.

– Na hora da saída, prometo, tenho que voltar pra sala do conselheiro, ele disse que se eu me atrasasse ia ficar um mês de suspensão – Gabriel joga Tyler na parede e me abraça, depois corre pra sala no fim do corredor.

Quando volto a olhar pro Tyler ele está quase avançando em cima de mim.

– Bom... qual é a aula agora? – digo, enquanto os alunos entram e eu vou de fininho pra minha mesa.

– Cálculo de novo – ele me fuzila com os olhos. Se desse pra fuzilar de verdade eu estaria igual uma peneira.

– Ah é... – sento rápido e afundo minha cara na mochila. Qual o problema desse menino? É canibal e quer me cozinhar pra ceia canibalesca?

– Bom galera, tenho uma noticia ruim e uma boa, qual querem ouvir primeiro – o Nelson chega com sua maleta rosa de novo, sorrindo igual um babuíno com dor de barriga.

A sala ficou em silêncio e um guri grita “A boa, a boa” igual a um retardado, daí o Nelson sorri igualzinho à Annabelle dando um susto em todo mundo.

– Bom, a notícia ruim é que eu detestei os trabalhos que vocês me entregaram... – ele sorri. –A boa é que joguei eles na privada!

Todo mundo grita em protesto, tipo, grita mesmo, ele sorri esperando todo mundo se acalmar e então completa.

– E vocês irão fazer um outro agora mesmo – sorriso diabólico.

Por que não tem professores normais aqui?

O sinal toca e todo mundo corre como se o Nelson estivesse nos obrigando a ver a foto da filha monstra dele. Sim, ele estava fazendo isso. A menina tem o dobro do tamanho dele, os olhos são tão juntos que parece um olho só, espero que tudo isso seja aqueles efeitos que colocam nas fotos, se ela for assim de verdade nem debutar numa empresa coreana de pop vai dar jeito.

Como eu sei que o Tyler vai dar um jeito de me fazer ficar com mais medo dele, me meto no meio do pessoal e vou correndo pro banheiro feminino.

Ufa, aqui estou salva, ele não pode entrar no banheiro feminino. Não pode. Preciso de ar.

– Meizinha – Gabriel cantarola.

Coloco o braço pra fora do banheiro, depois a cabeça, ah, está seguro, posso sair sem medo. O Gabriel está lá, como um bom moço, me esperando pra ver ele pedindo desculpas pro Dennis.

– Acha que ele ainda está lá? Faz tempo desde o “incidente” – digo, fazendo aspas com as mãos enquanto vamos pra enfermaria.

– Não sei, mas espero que esteja – ele parece estar com pressa.

Quando abrimos a porta da enfermaria o que vemos? Nada, bom, nada de novo, isto é, nada de um japonês camuflado de poste.

– Cadê ele? – murmuro.

– Deve estar lá fora, quem sabe ele não está te esperando, hein, hein, hein? –ele fica batendo o cotovelo em mim, fazendo uma caretinha estranha.

Claro que eu coro um pouco, mas não é por causa do Dennis, pode ter certeza, ora! Bom, talvez um pouquinho. O que tem de tão ruim, estamos namorando, não é verdade? Ah, de quanto tempo preciso pra me acostumar com a ideia? Bom, nem teve um pedido decente, foi tudo bem rápido e...

Saímos da escola, e assim que olho pra direita vejo o Dennis encostado no muro, apoiando um pé na parede, parecendo bem descolado, tem até umas menininhas enxeridas cochichando alguns metros de distância, ele parece descontraído e... assim que vê o Gabriel avança pra cima dele.

Não pera, ele me puxa.

– Ei! Não vai falar com ele? – murmuro, enquanto sou obrigada a andar pra longe do Gabriel.

– Não – ele para, se vira, olha nos meus olhos como se fosse um cachorrinho – ele... ele... Chegou perto demais. – e se treme todo, como se sentisse um arrepio.

– Ele quer pedir desculpas, foi só por causa de um desafio, ele não pensou direito e...

– Dennis! Me desculpa – Ah, esqueci que o Gabriel tem pernas e ficar alguns metros longe não é o suficiente pra perdê-lo de vista.

Dennis treme e me põe no meio deles dois.

– Não, não tem problema – ele diz, calmo. – Claro que eu quero te jogar do terraço da escola, mas sem ressentimentos.

Agora quem treme é o Gabriel.

– Então tá tudo certo? – Gabriel sorri, vacilante.

– De boa – Dennis não sorri, só manda um olhar assassino pra cima do coitado.

– Bom, então eu vou indo, tchau Meizinha, tchau Dennis – ele nem sorri mais, está tremendo tanto que até topa no meio do caminho.

– Tchau, tchau – falo, segurando uma risada de hiena que pode chegar a qualquer momento.

– Até mais, cuidado com os ônibus por aí, pra não ser atropelado, ou tipo, assassinado, sabe, esse país está cada vez mais perigoso – Dennis diz, sorrindo, bom, isso fez ele levar outras cinco topadas, não sei como o dedão dele ainda está inteiro.

– Precisava de tudo isso? Essa sua cara de monstro da máfia assusta – cruzo os braços, não posso rir agora.

Dennis treme todo, ele estava se segurando de medo também, quanto drama, eu hein.

– Você vai pra casa? – pergunto, na verdade eu ia chamar ele pra ir pra minha casa, a dona mamãe vai fazer bolo de ameixa, não quero ser a única intoxicada.

– Hmm, vou sim, tenho muitas coisas pra fazer – ele não sorri. Não faz nada. Só vai embora.

O que está acontecendo? Ele está me ignorando ou o quê?

Não que eu vá ficar triste com isso, claro que não, mas é que é meio solitário ir pra casa sozinha. Ah, eu posso chamar a... quem? Todos estão em duplinhas. Loiza e Matheus, Mandy e Bolota, Katlyn e Elliot, Ellie e Lukas. Não vão me querer por perto pra bancar a boba e atrapalhar.

Sinto algo molhando minha cabeça. Ei! Quem ousa fazer xixi em mim? Olho pra cima e uma gota cai no meu olho.

– Ai! – começou a chover, nossa, que clichê, bom, não tem muita coisa pra fazer a não ser ficar encharcada, nem pensar, não quero pegar um resfriado e tudo, é melhor correr, já que não tem nada melhor pra fazer.

Paro na porta de um mercado que acabou de fechar, está escurecendo por conta das nuvens e a chuva ficou bem mais forte, além de um tem uma pessoa sentada no chão e um menino que resolve sair mesmo na chuva.

O dia não podia combinar tanto comigo.

– Faltam oito dias pro meu aniversário... – murmuro. Ah, estou falando sozinha novamente – E onde eu estou? Na rua, molhada, com frio, com fome.

– E sendo dramática pra variar – olho pra onde vem o som e vejo a menina sentada no chão.

Tá, o que essa peste está fazendo aqui? Resolveu me seguir, agora? Vai começar a assassinar pessoas e colocar os corpos em fantasias de bichinhos? Ok, isso foi muito estranho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Booooooom, obrigada pra quem está acompanhado, eu já comecei a escrever o último capítulo (apesar de estar um buraco no meio porque tenho o capítulo 53 (este) e o último capítulo (sem numeração ahsuahsa) tá ficando muito grande, e provavelmente vai ter um extra contando o porquê do Dennis estar tão sumido.
Enfim, até o próximo. ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Diário Secreto de Anna Mei" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.