O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 30
Bipolaridade de um Sakai


Notas iniciais do capítulo

Bom, marshmallows, aproveitem o trigésimo capítulo da fic, está frio, mas ainda serve ^^



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Me viro, Dennis está na soleira da porta com a cara mais fria do mundo.

– Que susto, cara... O que deu em você? – tento parecer o mais natural possível, não falo com ele a quase um mês, é natural ficar nervosa.

– Francamente, – ele sorri debochadamente – Não consegue ficar um segundo longe de mim?

Fiquei quase um mês longe de você seu idiota! Não posso ficar mais que isso!

– Eu... Eu não sei se você está doente... Ou se foi possuído, mas... pare já de bobagens e volte ao normal!

– Que normal? – ela diz ameaçadoramente – Aquele em que eu sigo você por todo canto? Sem reclamar? Aquele normal onde você é a tapada e eu sou sua sombra?

– Tapada? – ele me olha friamente até dar aquele sorrisinho em que os olhos quase fecham.

– Gostou? Eu tenho talento? – ele diz, quando para de rir.

– Aprendeu com a Ellie, foi? – cruzo os braços.

– Sim, – ele volta a ficar sério. – Você estava tão ocupada andando com aqueles três idiotas, me senti solitário – ele coloca o queixo no meu ombro.

– Podia ter se ocupado com a Dafny... – reviro os olhos.

– Será que... A Anna está com ciúmes...? – ele se encolhe num canto tapando a boca como uma senhora em choque, mas depois volta a ficar sério – Eu não menti quando disse que você era tapada...

– Então, tá... Até depois – é estranho como há cinco minutos eu faria de tudo para ter esse pervertido de volta... Mas agora, só quero que ele morra... Ah, tanto faz.

Ele se aproxima tanto que, quando encontro com a parede, até fecho os olhos, pensando que ele vai me beijar, mas como não sinto nada abro os olhos e ele está sorrindo.

– Talvez não seja tão tapada assim... – ele fala, saindo do quarto.

O quê? Mas... Dennis, seu idiota!

Bom, voltamos a ver o filme, estou sentada numa ponta e Dennis na outra, não podemos estar mais longe um do outro... Que sede, vou até a cozinha tomar um copo d’água, essa casa é assustadora.

Entro num cômodo, em silêncio... Está escuro e eu não sei onde ficam os interruptores até que alguém pula e faz um “Há” na minha frente.

E eu caio, sim, eu caio.

– Hãn? Mei? Desculpe, eu não queria te assustar... – Gabriel fala.

– Sei, ninguém que pula na frente de outra pessoa e grita “Há”, quer assustar, né? – digo, sarcasticamente, enquanto levanto.

– Sinto muito, – ele ri – Eu só estava com sede e essa casa é realmente um labirinto.

– Eu também, vamos ver o que tem por aqui... – vamos andando até que chegamos ao final do corredor, é a cozinha? Um vulto a nossa frente acende a luz.

Tomamos um susto. Gritamos. Nisso eu me agarrei na coisa mais próxima e Gabriel fez o mesmo, e ficamos lá, eu e Gabriel, abraçados como Scooby Doo e Salsicha.

– O que está havendo aqui? – Dennis larga o copo de água e, nisso, percebo uma aura negra e estranha por trás dele. É, devo parar de ler tantos livros de ficção, principalmente os sobre alquimia e vida após a morte.

Gabriel me solta, mas me usa como escudo – como se meu corpinho de um metro e meio fosse proteger o dele de um e setenta.

Mas não é exatamente Gabriel que Dennis quer, ele quer a mim... E ele acaba de me puxar para um canto estranho e escuro da casa.

– E depois me fala que não gosta dele... – ele se escora numa parede casualmente e senta, como se não tivesse me arrastado até aqui e como se eu não estivesse toda descabelada.

– Eu gosto sim!... – arrumo o cabelo. – mas não daquele jeito.

– Bem, vocês estavam claramente se agarrando. – ele murmura, torcendo o nariz, apenas encosto na parede oposta e cruzo os braços.

– A gente não estava se agarrando! – digo, mas ele me olha com aquela expressão de que estou tentando negar o óbvio. – Pelo menos não para fazer coisas... Indecentes. – suspiro – A culpa é sua! Você nos assustou com essa sua cara de bocó.

– Qual é, não estava tão ruim...

– Estava sim! Parece que estava pronto para cometer um crime! – falo apoiando uma perna na parede. Pronta pra fugir, se ele ousar tentar algo comigo.

– Eu não... – ele para um pouco, estica a perna direita e sorri maliciosamente – Eu acho que é a primeira vez que não preciso baixar a cabeça para olhar pra você.

– Cala a boca... Sakai idiota...

Ele calou... Esse silêncio é incrivelmente irritante.

– Eu só quero que você pare de sair com outros caras... – ele murmura. – Não é legal quando você me deixa sozinho e aquelas garotas vêm pra perto de mim, é estranho, e elas parecem tomar banho de perfume, aquele cheiro é uma desgraça. E como são perfumes diferentes fica uma coisa horrível... – ele puxa meus ombros, olhando pro meus rosto como se implorasse. – Nunca mais deixe a Sabrine perto de mim de novo.

Quê? Ele tagarelou mais do que eu! Sério isso? Depois de me ignorar, agir friamente, ser esnobe ele volta a agir como um bebê?

– Sabe, acho que está na hora de você ir visitar um bom psicólogo... – digo, e ele solta meus ombros.

Ele suspira, voltando a sentar no chão.

– Você começou com tudo isso, diz que gosta do Gabriel, mas depois diz que não gosta mais, mas depois age como se amasse ele de todo o coração...

– Bom, digamos que eu amo muito o Gabriel... – falo, seriamente. – Ele é um cara legal, me ajuda sempre e gosta de abraços quentinhos (Olaf?), mas o caso é que eu não gosto dele de uma forma romântica. – tudo isso porque ele também quer um boymagia.

– Então... – Dennis parece entediado.

– Então, ele é meu amigo. – digo, por fim. – E não que eu me importe, mas se quiser testar seu talento exótico de atuar, me avisa pra eu não pensar que está me ignorando.

– Ignorando? – ele levanta e me abraça, me levantando do chão e me girando. Ei! Só quem faz isso é o Gabriel! – Eu nunca vou te ignorar, Annie!

– Já pensou em tratar essa sua bipolaridade? – falo, ainda tonta quando ele me põe no chão. – Acho que é melhor deixar de comprar esses doces. – digo, depois de perceber que ele tem dois pirulitos no bolso.

Hanna já mencionou alguma coisa sobre doces fazem mal a ele, e acho que está começando a fazer sentido pra mim.

Volto para a sala, o tal filme já está no fim e todos estão dormindo, Hanna está no sofá grande, Mandy do lado com o pé na cara dela, Ellie dorme elegantemente numa poltrona e Gabriel está jogado num canto qualquer.

Segunda-Feira/28 de Abril

Beatrice acabou de ligar... Ela terminou as fantasias... E eu já estou no prédio prestes a pegar tudo e levar logo pra escola, são sete e vinte, tenho tempo, mas quando vejo Dennis saindo do apartamento do lado sinto que vai dar treta.

E por quê? Simplesmente porque estou com medo de falar com ele e ele endoidar de vez, já pensou se ele começar a me chamar de Mei como todo mundo? Isso é irrelevante!

– Oi, Anna! – ele fala, sorrindo, afinal, ele é tão bocó que não percebeu que passei as duas últimas semanas mantendo distancia dele.

Aceno com a cabeça, não quero falar nada, mas se não falar, ele vai ter certeza de que estou o evitando...

– Oi... – falo com uma voz tosca e me mexo como um bêbado. Até que Beatrice me salva, abrindo a porta.

– Aqui estão. – ela me entrega uma caixa enorme, transbordando com roupas dobradas, passadas e dentro de saquinhos plásticos. – Tem mais uma... ah... Dennis! – droga! Ele continua aqui?

– Ah, Oi, Bia! – ele diz pra ela, mas sinto seu olhar sobre mim.

– Aqui, ajude, você pode levar essa caixa, tem TODOS os uniformes... – ela enfatiza bem a palavra “todos” e pisca, rindo logo depois. Mesmo estando “de mal” com Dennis, não resisto e o olho, e ele me olha com uma cara que diz “Sua irmã é louca?” apenas levanto os ombros, ajeito a mochila e tento não tropeçar com aquela caixa nas mãos.

Chegamos na escola, eu quase morrendo de cansaço, e Dennis, bom, ele é um Dennis, não demonstra reação, então suponho que esteja ofegante, por dentro.

Vamos até a sala de aula e Lianna está discutindo com os três bocós.

– Vocês não sabem que o Festival é no sábado? – ela bate a mãe na mesa. – NESTE sábado?

– Sabemos, não precisa gritar... – Felipe fala. – Sua calopsita. – Ele murmura no fim.

– Quê? – ela bate com tanta força na mesa que eu e Dennis pulamos.

– Eles... eles, eles chegaram... – Felipe aponta para nós, Lianna vira, furiosa, quando nos vê, ajeita os cabelos curtos e sorri.

– Ah, sim... Mei, vamos deixar as caixas nos armários da sala, deixe aqui... Por quê trouxeram o material?

– Quê? – falo.

– Não temos aula hoje, bom, a escola vai funcionar normalmente, mas não teremos aula, só planejamentos e responsabilidades, imagino que você não vai querer ficar aqui... – sinto que ela acabou de me chamar de irresponsável.

– Tudo bem, já vamos... – falo, mas lembro de que não estou mais tão próxima de Dennis... – Eu, eu vou... embora.

Vou para casa sozinha, só espero que tudo dê certo até sábado.

Sexta-Feira/2 de Maio

A semana passou lentamente, tudo porque eu nem pisava na escola a não ser que me pedissem, como não me pediram eu não fui, recusei o convite de Hanna para irmos ao shopping ontem e recusei o convite de Gabriel para irmos ao shopping também... Eu sabia que eles estavam tentando me fazer falar com Dennis... Mas já que o festival é amanhã eu pretendo ir à escola hoje, mesmo que eu não vá ser uma garçonete eu preciso me mostrar interessada, mesmo que isso já esteja me deixando desanimada.

Visto a saia e a camisa, como está fazendo um pouco de frio coloco um casaco e deixo os cabelos soltos, me sinto péssima, esses dias estão me fazendo muito mal.

Os dias, ou os dias sem falar com ele...?

Ah, não, minha consciência está apitando de novo!

Quando passo pelo portão, sem mochila nem nada, Hanna me abraça, me aperta, me bolina, me espreme, me joga no juicer e faz suco...

– Anna! – ela me solta e balança meus ombros. – Você veio! Que saudade!

– Não consegue ficar quatro dias longe? – Ellie pergunta. Desde quando essas duas andam juntas?

– Não! – Hanna cruza os braços.

– Estamos indo ver o andamento da tal “lanchonete” – Ellie faz aspas com os dedos.

– Eu também só vim pra isso... – murmuro, Hanna dá uma risadinha.

Seguimos até a sala, que está toda decorada, igualzinha a uma foto que eu dei para que Lianna se baseasse na decoração dos verdadeiros Maid-Cafés.

– Wa! Eu quero ver o meu vestido! – Hanna correu para perto das caixas. Verificou as etiquetas nos pacotes e quando pegou o ultimo levantou com os olhos brilhando. – Eu tenho meu nome... nesse plástico.

– Bom pra você... – Ellie procurava o seu uniforme numa das caixas, ela tirou um pacote com tecido vermelho, preto e branco...

– Por que o seu é diferente do meu? – Hanna parece indignada.

– Todos são diferentes... – Lianna se intromete. – Verificamos os das outras meninas, até os da mesma cor tem o modelo diferente.

– Ah, isso é incrível! – Hanna abraçou o pacote dela. – Mas, Anna... – ela me olha com uma expressão maliciosa, – Cadê o seu uniforme?

–Hãn? Eu não tenho, não vou atender os pedidos... – digo, indiferente, ela solta uma risadinha maior ainda.

– Bom... – O quê? Até Ellie estava sorrindo. – Vamos pra casa de Dennis, vai com a gente?

– Eu... – não, claro que não vou! – Vou sim...

– Let’s go! – Ellie foi na frente, sapateando, coisa rara de se ver.

Como ela foi na frente, aproveito a situação e...

– Hanna, o que aconteceu com o Dennis? – digo, sim, eu sei que eu estou ignorando ele, mas eu sempre fiz isso, se ele estivesse bem mesmo, já teria ido até a minha casa me perturbar, ele nem sequer faz isso... Não que eu me importe. Pelo que eu posso dizer, Hanna vai fazer como sempre e responder que Dennis é um bocó.

– Aconteceu que ele é bocó... – Acertei! – Nasceu com Alzheimer... – ela ri.

Não digo nada, chegamos na casa dos Sakai e vamos ao quarto da Hanna, sei que costumava vir muito aqui, mas me sinto uma estranha agora.

– Dennis anda meio estranho, sabe – Hanna diz, enquanto abre o pacote. – Soltava muita purpurina, agora não solta mais, tô estranhando.

– Quê? – falo, mas minha voz é camuflada pelo surto da Ellie.

– COMO PODE? Quem deu a ideia de me fazer ir com traje chinês? Tudo bem que eu fico linda com qualquer coisa, mas eu sou muito mais linda que uma chinesinha, né? – mesmo ela dando esse chilique, entrou no banheiro pra experimentar a roupa.

– Continuando, Hanna, Dennis está estranho, por que...

– Ah, ele se isolou no quarto dele essa semana, e foi de repente, sabe... – malícia, malicia? Não, não se vê malicia na expressão dela, então posso ir em frente. – Talvez, se você falar com ele, ele melhore! – ah, falei cedo demais, ela está sendo maliciosa... Não, não está...

– Ele está me ignorando – minto.

– Te ignorando? – ela fala – ele está ignorando todo mundo! – depois dessa alteração maníaca ela dá um sorriso malicioso – Se você falasse com ele...

– Não, eu não quero –cruzo os braços.

– Quer sim! E você vai lá, assim que eu ajudar a colocar o seu... – ela não termina a frase, apenas dá um sorrisinho e tenta tirar a minha roupa.

Tento escapar dessa louca, mas ela é mais alta e consequentemente tem braços mais longos, isso resulta em, mais habilidade para deixar uma pessoa paralisada apenas apertando o tronco... Não sei que tipo de pessoa ela é, só sei que ela parece ter vindo de outro planeta... Um planeta que eu nunca visitaria.

– Tira, tira, tira! –Ellie aparece do nada e começa a bater palmas. Ah, qual é, me ajude logo antes que ela me estupre! Eu não mereço ser estuprada!

No momento que estou só de calcinha, com um top do qual eu sempre uso... Bom, meus seios são muito pequenos para um sutiã de verdade, mesmo que seja aqueles de tecido fininho, a porta abre.

– O que está havendo aqui? – Dennis entra, entra e arregala os olhos assim que me vê. Estamos numa posição bem chamativa, Hanna está completamente descabelada, por cima de mim e eu estou quase nua!

Dennis está me vendo seminua...

Ele já me viu com o uniforme da escola, já me viu com pijama fofinho, já me viu com roupas normais, já me viu parecendo uma mendiga, já me viu com aquelas roupinhas de hospital, já me viu com um vestido de vadia, já me viu com moletom e capuz, já me viu com o cabelo colorido... Agora está me vendo sem blusa, sem saia, seminua...

– Não se preocupe, Dennis – Hanna fala, – não está atrapalhando nada, já íamos ver você!

– Sai daqui! – digo devagar, tudo bem que minhas roupas de baixo não eram tão minúsculas, mas eu não gosto dessa ideia! – Sai daqui! Pulo e me escondo do outro lado da cama.

– Anna, – Hanna fala um tempo depois, com a cara séria.

– Oi? Dennis já foi?

– Sim... – ela me faz levantar. – Você...

– O que? – ela falou muito baixo, não deu pra entender.

– Você usa calcinha de lacinho!

– Credo! Anna, você usa calcinhas de bebê! – Ellie se intromete, pelo menos ela parou de se admirar no espelho por alguns segundos.

– Vão apagar esse fogo, vocês duas! – entro no banheiro para vestir minhas roupas.

Minha vida poderia ser um pouco mais normal... Sinto que já disse essa frase muitas vezes este ano.


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Notas finais do capítulo

Até o dia 13 não vai ter capítulo novo, mas se preparem, por que postarei os dois capítulos do festival pra comemorar o aniversário da fic e.e, enfim, cinco meses e só trinta capítulos... bom, e ainda tem outra surpresa além do capítulo (tem trilha sonora agora, duas músicas ainda, mas vale mesmo assim)



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