Even flow escrita por Miss Ann


Capítulo 2
Pardon me


Notas iniciais do capítulo

Segunda partezinha. Tão curtinha quanto a outra.



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Seus dias seguiram ocupados como sempre. Acordava cedo e ia para a padaria colocar as fornadas de pães refinados para assar, assim como lanches assados que eram feitos. Himuro chegava cerca de meia hora depois e ele ajudava a padaria a abrir e atender aos inúmeros clientes que, antes de trabalhar, passavam para fazer o desjejum. Quando o movimento amainava, Kagami podia ser dispensado de seu cargo. Então fazia uma corrida de uma hora, retornava a casa para se trocar e almoçar algo antes de ir para as aulas no Corpo de Bombeiros no outro lado da cidade. Ficava até as 16:30 horas na Escola e depois voltava para a padaria para pegar o movimento de final da tarde e fazer o atendimento até às 20h, quando o comércio era fechado e ele podia descansar um pouco e jantar com os amigos. Depois que todos, à exceção Himuro, iam embora, eles iam para cozinhar preparar as massas que deveriam descansar a noite inteira para ser usada no dia seguinte.
Todos os dias eram assim, exceto os sábados onde permanecia a manhã inteira na padaria e, à tarde, ia para o local onde aplicava as aulas de culinária. Quando a noite chegava, se permitia sair para beber com os amigos ou ainda descansar um pouco da semana árdua. Num destes dias, enquanto fazia o jantar para ele, Kuroko e Kise (que estava ali apenas por causa de Kuroko), seu celular tocou.
— Kagami Taiga. - disse, prendendo o aparelho entre a orelha e o ombro.
— Boa noite. Vi seu anúncio sobre aulas de culinária e fiquei interessada. - a voz parecia meio receosa e, até mesmo, envergonhada. — Queria saber a disponibilidade de horários.
— Minhas aulas são uma vez por semana, nas tardes de sábado. - replicou, mexendo o curry para que não grudasse no fundo da panela.
— Entendo. Não poderia abrir uma exceção para domingos?
— Uh? Desculpe, mas... - começou.
— Eu pago o dobro ou triplo se puder conceder as manhãs de domingo. - sem querer, Kagami deixou a colher de pau cair no chão, chamando atenção do pessoal na sala.
— Er... - Kagami suspirou. O único dia que tinha para estudar era domingo. — Eu aceito. - estava realmente precisando do dinheiro. Algumas contas ainda estavam pendentes e seria de muita utilidade. — Posso fazer seu cadastro agora, se puder.
— É claro. - ele apagou o fogo do curry e colocou a panela elétrica de arroz somente para aquecer, enquanto corria para pegar sua pasta. Tirou um dos formulários que fizera para se organizar e pegou uma caneta.
— Nome completo, telefone e email para contato; endereço... - começou a pedir os requisitos, mas a mulher o interrompeu.
— Melhor irmos devagar. - disse, rindo suavemente. — Meu nome é Yukino Sakura... - a caneta escorregou dos dedos de Kagami e ele engoliu em seco.
— A jogadora de basquete? - isso chamou a atenção dos rapazes, que franziram o cenho.
— Ex- jogadora de basquete. - frisou ela, num tom mais frio que o anterior. — Meu telefone é... - continuaram até preencher todos os requisitos. Kagami mal sentia as pontas dos dedos.
— Bom, é só isso. - disse, quando finalizou o formulário.
— Onde prefere que as aulas aconteçam? - era uma coisa que não tinha pensado. Não valia a pena alugar outro dia da loja onde dava as aulas só por causa de uma única aluna.
— Se importa que seja na minha casa? - a mulher pareceu pensar um pouco.
— Na realidade, você se importaria se fosse na minha casa? Sei que moro longe da sua cidade e, se for cansativo para você, eu posso disponibilizar um quarto de hotel para que descanse antes de voltar a cidade. - Kagami franziu o cenho.
— Estaria disposta a pagar tanto por aulas comigo? Não seria melhor que fosse com alguém da sua cidade?
— Dinheiro não é problema, Kagami-san. - suspirou ela. — Qual sua resposta? - Taiga encarou as contas dentro da pasta e então respondeu.
— Eu aceito.
— Podemos começar amanhã então?

**

Foi difícil acordar cedo no domingo, mas Kagami o fez. O céu ainda estava escuro quando saltou da cama quentinha e foi para o banheiro tomar uma ducha para acordar. Vestiu um jeans e blusa de malha e separou o casaco sobre a cadeira para não esquecer de pegá-lo após tomar café. Quebrou o jejum com apenas uma xícara de café e começou a organizar os materiais que precisaria para a aula do dia. Escovou os dentes e, pegando tudo, trancou o apartamento e saiu para pegar o trem das 6:30. Por estar muito cedo, cochilou longamente no trem e quase passou do ponto, acordando uma estação antes. Desceu do trem ainda em estado letárgico e encontrou um homem com uns 60 anos, vestido formalmente segurando uma placa com seu nome escrito.
— Kagami-san? - ele o cumprimentou com uma reverência e Taiga o replicou. — Sakura-chan pediu que eu viesse buscá-lo e o levasse ao mercado para que comprasse o que fosse necessário. - ele seguiu o senhor e entrou num conversível preto. Foram para um pequeno mercado onde Kagami comprou os ingredientes que precisaria. Quando foi ao caixa pagar, Tanaka se prontificou e estendeu o valor, recebendo o troco.
— Não sei seu nome. - comentou o ruivo, entrando novamente no carro.
— Hashimoto Tanaka, senhor. - respondeu o motorista com polidez. Pegaram uma estrada onde ladeando-a, haviam árvores apenas trilhando o caminho e todo o caminho foi silencioso. Pela sorte de Kagami, não demoraram também a chegar ao lugar.

Isso é ridículo, pensou Kagami ao fitar a estrutura da casa. Possuía dois andares e uma arquitetura única, bem poligonal e assimétrica. Poderia ver vários cômodos da casa pelo lado de fora, visto que as paredes da casa que a conectavam ao exterior eram feitas de vidro. Parecia não haver privacidade, mas também não haviam vizinhos para xeretarem. Pareciam estar no meio de uma clareira num bosque.
— Por favor. - disse Tanaka-san, guiando-o para a entrada da casa. Quem abriu não foi nada menos que a dona, pegando-o totalmente desprevenido.
— Tanaka-kun, eu cuido dele a partir de agora. - o senhor se despediu com um cumprimento e Kagami realmente estava com medo de entrar na casa. — Por favor, Kagami-kun. - abriu passagem para ele, que entrou com todo o cuidado, deixando seus sapatos na entrada. — Tome. O chão está frio demais. - entregou pantufas vermelhas para ele.
— Com licença, mas onde fica a cozinha? - a mulher foi a frente e Kagami percebeu que havia algo diferente no jeito dela de... Andar, talvez. Quem sabe tivesse machucado o pé.
— Sinta-se em casa. - os olhos rubis se arregalaram diante da grande cozinha. Uma bancada enorme de mármore se estendia e nela, haviam diversas facas, pequenas máquinas de bancadas e fôrmas. Numa mesa de jantar que também repousava ali, havia um elaborado café da manhã. — Imagino que não tenha comido antes de vir para cá. - a barriga de Kagami roncou de forma audível e isso arrancou uma risada da mulher. — Por favor! - disse, empurrando-o para uma cadeira e tirando as bolsas dele. — Itadakimasu!
Ela estendeu separou um pouco de okayu, missô e yakizakana¹ e começou a comer. Kagami repetiu o gesto dela, ligeiramente envergonhado. Também serviu-se de alguns vegetais e tamagoyaki.
— Está delicioso. - afirmou o ruivo, em tom baixo, aproveitando para beber um pouco de seu chá verde.
— Vou agradecer a Chizu-chan por você. - respondeu, terminando sua sopa de missô. Observou o ruivo comer. — Imagino que esteja se perguntando o motivo de estar aqui, Kagami-kun. - ele engasgou com um brócolis, mas conseguiu se virar sozinho.
— Uh. - disse ele. Era um retardado. Ela colocou seu bowl sobre a mesa e olhou para ele.
— Em primeiro lugar, queria pedir desculpas por causa da última vez. - afirmou, ficando em pé. — Fui injusta com você e Dai-chan me fez perceber isso. - a maneira como ela se referiu a Aomine mostrava seu grau de intimidade com ele, fazendo Kagami desconfiar realmente que havia algo além da amizade entre eles. — Estou passando por uma fase difícil, Kagami-kun, e por isso fui muito dura no nosso último encontro. - então, fez uma reverência completa para ele, que arregalou os olhos.
— Por favor, nã-não precisa. - disse ele, meio constrangido. — Você tinha um discurso a fazer e eu estraguei suas vestes. - ela gesticulou a mão.
— Eu poderia me apresentar ao primeiro-ministro, mas não deveria ter sido tão rude. - replicou, ajeitando uma mecha de cabelos que escorregara para cima de seus óculos. — Me desculpe.- Sakura parou para olhar o rosto do rapaz. Olhá-lo de verdade: analisou seus maxilares tesos e lábios numa fina linha; as bochechas proeminentes no rosto quadrado e num tom tão ruivo quanto seus cabelos vermelhos-escuros. Seus olhos tinha um quê de vergonha que Sakura achou francamente fofo.
Kagami, percebendo o olhar que repousava sobre si, enrubesceu ainda mais, quase como uma garota colegial. Mas seu olhar ficou firme, sustentando uma conexão com as orbes ametistas que se escondiam por trás da armação negra do óculos. Também não deixou de constatar que, até com roupas casuais, existia alguma aura elegante nela. Talvez fosse sua forma de se portar ou ainda os traços delicados em seu rosto, porém aristocráticos que carregavam esse ar.
— Você não se intimida fácil. - disse ela, sorrindo. — Me lembra quando conheci o Dai-chan. - começou a recolher as louças e levou para a pia. — Na verdade, eu diria que a personalidade de vocês dois é bastante semelhante.
— Por favor, não me compare a aquele... - travou o adjetivo que estava na ponta da língua, arrancando uma risada suave de Sakura.
— Não se contenha. - disse, começando a lavar os talheres.
— Aquele retardado. - Kagami se levantou e, pegando um pano de prato sobre a bancada, começou a secar as coisas.
— Você realmente é bem parecido com ele. -sussurrou, lavando o último bowl. — Mas então, sensei, o que vai me ensinar hoje? - Kagami quase tinha esquecido que estava ali por uma aula de culinária. De algum modo, a casa silenciosa e a própria Sakura traziam uma sensação de conforto a ele. Algo parecido como se estivesse em casa. Ele se encostou no balcão e jogou o pano no ombro.
— O quanto você sabe cozinhar?
— O suficiente para não morrer de fome. - ele foi obrigado a rir da cara de paisagem dela. Começou a perguntar das receitas que ela conhecia, uma a uma, até decidir que fariam uma receita com peixe. Em primeiro lugar, ensinou a ela como cortar da forma certa e os diferentes tipos de facas para então usar o peixe como demonstração. Separou um bom filé e deixou que ela fizesse sozinha. Com dificuldade e, levando certo tempo (e com uma ajudinha de Taiga, claro!), Sakura conseguiu tirar um filé bonito, de modo que ficou tão orgulhosa que começou a pular, arrancando um riso baixo de Kagami. Depois, mostrou como fazer um tempero básico para peixes e mostoru a forma como personalizava o seu, dando a ela cada tempero puro para que cheirasse e provasse cru, antes de misturá-los. Era engraçado ver as reações aos diversos sabores, principalmente os picantes, quando a pele pálida dela se ruborizava absurdamente.
Ao fim, gastaram duas horas e conseguiram resultados positivos — segundo Taiga, "sorte de principiante". Almoçaram pequenas porções em função do curto espaço entre o café da manhã. Era impressionante como a mulher sabia conversar sobre esportes, principalmente basquete. E o fato dela ter saído algumas vezes do país entretinha ainda mais Taiga, que se via embebido nos diálogos dela, mal percebendo o tempo passar. Em dado momento, Kagami fitou o relógio de pulso platinado e arqueou as sobrancelhas.
— Tenho que ir embora. - disse.
— Não quer ficar na cidade hoje? - questionou, sorrindo para ele. — A conversa está tão boa. - ele tinha que admitir a fascinação que brilhava em seus olhos, mas ainda tinha que descansar, principalmente porque faria um retorno longo para a casa.
— Tenho que trabalhar amanhã cedo.

Sakura assentiu e então se despediram. Tanaka-san o levou até a estação de trem e ele foi embora.


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Notas finais do capítulo

Kiss kiss. :*



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