Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem pelo atraso, fui ao cinema e não achei que o filme duraria três horas! Enfim, aqui está o capítulo e eu espero que as pessoas que ainda acompanham essa estória leiam. Até "amanhã" ^^!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/512220/chapter/9

Algumas estrelas apareciam no escuro céu, acompanhando a luminosidade da Lua. Ao subir as escadas, Charmin estendeu a coberta que pegara e deitou sobre ela, apoiando a cabeça no travesseiro. Fechou os olhos por alguns minutos, respirando lentamente e finalmente deixou as lágrimas caírem.

Desde que fora enxotada de casa e abandonada por Collin a garota não chorava e somente James a vira. Depois daquele dia a posição de dura e fria voltara como se nada tivesse acontecido. Mas não haviam sido semanas fáceis: treinos, saques, lutas e um quase assassinato. E agora descobrira que o irmão havia planejado mandá-la ao alojamento para ir sozinho e viver uma vida tranquila na A. Tudo isso fazia com que as lágrimas descessem, e ela havia as contido muito bem e por muito tempo.

Agora, depois de tanto segurá-las, as lágrimas derramaram como cachoeiras de uma nascente que pensara estar seca. Charmin pegou o travesseiro para abafar o som do choro, não queria que os rapazes ouvissem o lado sensível dela. Mesmo sabendo que ele existia, era vergonhoso demais mostrá-lo. As costas das mãos estavam esfoladas e doloridas pelos afazeres da semana e mesmo assim ela forçou ambas as mãos contra o rosto para que o choro parasse. Finalmente abriu os olhos e passou a observar a lua.

Charmin passaria a noite ali, pois, se entrasse pelo alçapão e desse de cara com todos eles, talvez desaprendesse como falar civilizadamente mais do que já desaprendeu. Ajeitou o travesseiro, encolheu as pernas e os braços e fechou os olhos, ouvindo o barulho de alguns grilos.

Pensou em James sentindo frio de madrugada e quase cogitou descer para lá e dormir com ele, mas estava brava até com o garoto por ter escondido coisas tão importantes como a que escondeu. No fim acabou rolando pela coberta para cair no sono e ajeitando o travesseiro em diversas posições para que se acostumasse com o chão frio.

Então desejou que a mãe estivesse ali ao seu lado afagando seus cabelos e confortando-a, falando que tudo ficaria bem e encorajando-a, dizendo para não deixar que o mundo ganhasse dela. Tentou imaginar a voz carinhosa da mulher e depois de minutos percebeu que não conseguiria: Ela não lembrava ao menos o tom de voz da mãe.

***

– Não vou conseguir dormir sabendo que Charmin está lá fora no frio! – Vociferou James, olhando para o alçapão enquanto tentava conversar civilizadamente com Will. – E sabe de quem é a culpa de tudo isso? Dele!

Apontou para o garoto que já dormia completamente relaxado. Will, por sua vez, abaixou o braço de James e colocou uma mão em seu ombro, tranquilizando-o.

– Não foram as intenções dele. E você sabe muito bem disso, James. – Murmurou enquanto afastava-se do loiro e pegava um copo d’água. – Ele simplesmente fez o que precisava fazer e eu me lembro de te ver o agradecendo tantas vezes que não sabia se você possuía mais saliva dentro da boca de tão seca.

– Mas se não fosse por ele estar aqui nós não precisaríamos esconder tudo dela. Se não fosse por ele, nada disso aconteceria e nós não teríamos que ficar enchendo a cabeça dela com bobagens! – Passou as mãos pelo cabelo terrivelmente estressado. – Aquela garota é basicamente e totalmente tudo o que eu tenho! Tudo! Não tenho mais uma mãe e um pai, mas eu ainda a tenho depois de todos esses anos! E eu não vou deixá-la ir por esse simples fato de covardia! – Voltou a apontar para o rapaz. – Ele vai contar à Charmin antes d’ela ir à A. Ou se não eu mesmo conto a minha versão e faço com que o coração dele se parta em tantos pedaços que nem uma lupa será capaz de possibilitar a visão!

Bufando, Will somente se afastou de James e caminhou até sua cama, retirando as botas, a camisa e em seguida cobrindo-se com o lençol enquanto ouvia o mais novo questionar sobre a solução. Deu de ombros e negou qualquer continuação de conversa, arrumando o travesseiro e dormindo.

***

O Sol da manhã fez com que Charmin abrisse os olhos e olhasse ao redor, lembrando a noite passada. Um copo de leite e uma maçã estavam do outro lado da coberta, um papel preso embaixo do copo. Charmin resmungou e estendeu o braço, puxou o bilhete, aproximando-o do rosto para ler. Uma escrita caprichosa e pequena estava preenchendo o papel e ao olhar par ao final, revirou os olhos.

“James pegou minha coberta essa noite. Por sua causa fiquei com frio a noite inteira, gatinha. Quando acordar entre no alçapão, faremos uma reunião. Will.”

Amassou o papel e apoiou as mãos na terra para sentar-se e tomar o leite. Após terminá-lo, levantou e ajeitou a coberta. Pegou suas coisas e com o pé abriu o fecho do alçapão, jogou a coberta e o travesseiro e não entrou. Recolheu a maçã do chão e mordeu-a, jogando-a também pela entrada.

Parou enfrente ao buraco e o encarou por alguns minutos, pensando se entraria ou não; Se falaria com eles ou não; Se direcionaria o olhar a eles; Ou se simplesmente continuaria com tudo e com todos.

Mas então lembrou a mesma conclusão que chegara no dia em que Will fizera a proposta de se tornar um deles: O que ela teria a perder? Quem ela perderia? Ela não possuía mais nada e aquilo a obrigou a agachar, colocar os pés para dentro do alçapão e pular.

Todos pararam o que estavam fazendo para olhar para Charmin. Os olhares espantados e alguns chateados, como se pedissem desculpas. Josh limpava as facas da garota como pedido de desculpas silencioso e James mexia no colar que ela havia feito, demonstrando o tamanho da preocupação; Will olhava-a enquanto Charmin encostava na escada com o sorriso que trocaram quando ela se machucou na primeira semana.

Nick ainda dormia com um dos pés para fora e o rosto enfiado no travesseiro, os dois braços sobre a cabeça e o peitoral virado para o lado. Marc e Kyle mexiam nos computadores e ambos sorriram com o rosto avermelhado quando perceberam que estavam sendo observados por ela. Sorriu, passando os olhos por todos e assistindo os gestos de cada um.

Charmin percebeu que se fosse embora e os abandonasse, sem mais ou menos, aquilo sim faria com que ela perdesse algo muito mais importante do que pensava. Pegou a maçã do chão e jogou-a no lixo.

– Bom dia para vocês também, garotos. – Ironizou, indo até a cama de James e pegando uma toalha. – Vou tomar um banho e quando eu voltar nós começamos a tal reunião.

Andou até o banheiro calmamente ao chegar à porta, virou-se para Josh.

– Conte meus quinze minutos. – Ele sorriu ao ouvir a voz dela direcionada a si.

Enquanto Charmin estava no banheiro, Will arrumou a mesa em que todos sentariam em volta, colocando papéis, gráficos e alguns desenhos. Marc e Kyle alternavam entre teclados e códigos enquanto James e Josh arrumavam o alojamento em geral. Todos pensavam na garota e em como deveriam ter cuidado com as palavras.

Contado os quinze minutos e mais alguns que Charmin tinha o costume de ultrapassar, a garota saiu do banheiro arrumando a blusa. Os rapazes acompanharam seus passos, esperando algum movimento agressivo, mas ao invés disso ela só colocou a toalha no pescoço.

– Então. Sobre o que nós iremos conversar? – Perguntou, sentando-se na cama. – E pra que esse monte de papel?

– Nós vamos conversar sobre a A, gatinha. – Respondeu Will, sentando-se. – Lembra-se quando nós fomos ao norte e ao leste e pegamos aquelas informações sobre as pulseiras de acesso?

Charmin assentiu e então Marc e Kyle levantaram-se, virando o centro das atenções e apontando para as telas.

– Esses códigos são os que são colocados dentro do chip que dá passagem para a A. – Começou Kyle. – Mesmo não sendo um habitante da A, se você possuir este chip em bom estado e com identificação, automaticamente a entrada será liberada.

– Esses são modelos de pulseiras fabricadas e como as peças são encaixadas. – Apontou Marc para outro visor. – Se nós conseguirmos somente alguns fios, um chip e uma boa fita isolante, teremos livre passagem para a A. Como se usássemos uma pulseira real.

Charmin arregalou os olhos, surpreendida. Queria fazer tantas perguntas que não conseguia as organizar dentro da cabeça.

– Então aqueles modelos complicados de pulseiras são só forma e não conteúdo?

– Exatamente, gatinha. E tudo que nós precisamos agora é de um chip, o código nós temos. – Levantou o mais velho, pegando algumas fichas. – Vê esses homens? São traficantes e contrabandistas. Eles compram chips novos de alguns funcionários de fábricas da A, trazem para a B e vendem para cidadãos que pensam que sabem usar. E, bem...

– E nós sabemos como. – Completou Charmin, sorrindo e cruzando os braços.

– Sim.

– Então qual o plano, Will? – Zombou James, posicionando-se ao lado de Charmin. – Nós vamos lá, batemos em uns caras e roubamos esses chips, colocamos os códigos e viramos As? Felizes para sempre?

– Isso mesmo. Só que vai demorar um pouco o: “felizes para sempre”. – Falou Will. – Eu planejava negociar alguns chips primeiro como um experimento e depois roubaríamos mais para todos nós.

– E quando você vai negociar o tal chip?

– Daqui alguns dias. Eu vou amanhã falar com eles e perguntar o que querem em troca, então nós ativamos o plano. Aí nós construiremos uma pulseira fajuta e daremos para...

– Mim. – Completou Charmin, sorrindo. – Senão qual o outro motivo de eu estar aqui?

– Que bom que você entendeu gatinha. – Sorriu ao ver que ela não estava tão brava quanto deveria aparentar. – Se houver incômodo com isso, nós podemos refazer a rota...

– Não, eu quero fazer isso. Quero ser útil pelo menos uma vez na vida, Will. – Levantou-se, ajeitando o tênis. – Cansei de ser um estorvo.

– Charmin! – Protestou James.

– Vocês entenderam o que eu quis dizer. E vocês sabem a resposta. – Olhou para cada par de olhos na sala, séria. – Eu vou fazer isso, nós vamos virar As. Definitivamente seremos As.

– Marc e Kyle explicarão para você tudo sobre a Zona A, desde seu funcionamento até costumes e regras. Eu irei comprar uma roupa realmente boa para você, alguns acessórios e maquiagem. – Will pegou o casaco na mesa e caminhou em direção ao alçapão. – Você irá se transformar na A mais linda que existe.

– Tirando o fato de ser heterocromática e não ter etiqueta alguma, eu parecerei uma A. –Balançou a mão no ar em descaso. - Mas se eu me sentir ameaçada, vou sair chutando todo mundo, ok?

– Você já faz isso sem ser ameaçada, gatinha. Imagine quando sentir-se, vai ser uma pancadaria maravilhosa na vizinhança. – Gritou, subindo as escadas. – Vejo vocês mais tarde! Não façam bagunça!

Charmin caminhou até os gêmeos e puxou uma cadeira ao lado de Marc. O mesmo sorriu para ela e voltou-se para os papéis. Deu alguns para a garota e puxou outros.

– Muito bem. Esses aqui são alguns exemplos de loja e mercados perto do lugar onde iremos abrigar você. O seu hospedeiro vai cuidar de tudo, você só vai chegar e botar o plano em ação.

– E quem é meu hospedeiro?

Kyle trocou um olhar com Marc que Charmin notou que só eles saberiam.

– Quando chegar lá vai descobrir.

– Que ótimo. E onde eu vou ficar na casa do misterioso?

– Um porão.

– Melhor ainda! – Exclamou, levantando as mãos. – Tá, e como eu vou passar pra A?

– Depois que nós construirmos o Chip e colocarmos em seu pulso, arrumaremos você da forma superficial que as pessoas da A ficam e guiaremos você, através de um microfone em sua orelha, como chegar aos portões e passar sem suspeitas.

– E se suspeitarem de mim, Marc?

– Não vão. Eu garanto.

– Tá bom. E como você vai fazer essa pulseira? Quer dizer, se não for parecida os caras vão suspeitar.

– Nós vamos fazer uma mesma estrutura, só que com alumínio e acrílico ao invés de cristal e aço. Então colocaremos o chip codificado e os fios. – Pegou um papel que Kyle examinava e mostrou para a garota. – Tá vendo esse lugar aqui? É onde inserimos o chip e ligamos os fios.

Agora de perto Charmin pôde ver a pulseira, era mais como um bracelete. Feita de aço nas bordas e em cima do interior de cristal, algumas curvas e traços que pareciam ser inspirados no estilo vitoriado, no centro um círculo com o símbolo da monarquia. Pelo cristal era possível ver os fios conectados ao chip e como ele era pequeno, quase invisível.

– Amanhã você irá numa feira na cidade com Nick e James para comprar os materiais necessários e também comida. Está tudo se esgotando com esses esfomeados! – Disse com a voz falsamente ofendida. – Bem, por hoje é só isso. Não há muita coisa para falar até que Will chegue.

– Eu vou dar uma volta pela floresta, pode ser?

– Vá, mas volte. Will odeia que fiquemos na floresta.

– Sim senhor! – Bateu continência ao levantar. – Eu volto antes de ele surtar.

– Vai lá.

Marc piscou para Charmin e Kyle virou-se, dando um aceno. Apesar de quase não falarem muito, quando o faziam era realmente bom para a garota. Fazia com que se sentisse confortável. Eles não eram o tipo de gente que perguntava a cada frase falada, somente assentiam e escutavam e apesar de Charmin ser o tipo de garota que mais escuta do que fala, eles a faziam gostar de falar e ser escutada.

Andou em direção ao alçapão, mas antes olhou para a cama de Nick e pôde ver o garoto de bruços lendo um livro. Ao ver o rosto de Nícolas apoiado no travesseiro e a expressão do garoto as pernas automaticamente mexeram-se, levando-a até onde ele estava.

Ao perceber a sombra, Nick olhou para cima e pôde ver o rosto de Charmin avermelhado, os olhos estavam evitando contato. Ele fechou o livro e sentou, sorrindo. Simplesmente adorava ver a vergonha expressada em todo o rosto dela.

– O que a traz aqui, magrela? – Perguntou, usando o adorável apelido. – Ouvi falar que vão te colocar na A como um experimento. Você concorda com isso?

– Concordar não seria a palavra certa, Nícolas. – Respondeu, sentando-se. – Acho que “conformar” seria mais apropriado.

– Eu posso ir com você, se quiser.

– De onde veio essa gentileza? – Perguntou fingindo espanto. – Desceu alguma bondade em você, Nícolas?

Os olhos pareceram estreitar-se e encherem de raiva, os dentes rangiam. Depois revirou os olhos e percebeu que até agora não havia demonstrado tanta gentileza a ela e deu razão ao comentário maldoso de Charmin.

– Vamos sair. Você ia fazer isso, não?

– Claro...

– Ótimo, vamos então.

Nick levantou e colocando uma jaqueta de couro preta simples, puxou a mão de Charmin em direção as escadas rapidamente, sem olhar para trás. Não que não fosse por acaso a mão ser puxada, mas o toque de Nick era firme, confortante e estranhamente... Familiar.

Fazia com que os dedos frios de Charmin ficassem quentes cercados pelo os de Nick; Fazia com que ela ficasse confortável e quente. Ao subirem as escadas Nick ainda não havia soltado a mão de Charmin e só parou de andar quando chegou à cachoeira que visitara outro dia com Josh.

Ao soltar, Charmin sentiu que violentamente os dedos tornaram a ser frios.

– Tá bom aqui?

– Aham.

Charmin sentou na grama perto do lago, tirou os sapatos e colocou os pés dentro da água. Olhou para Nick, tombou a cabeça e em seguida agarrou a mão do garoto, obrigando-o a sentar a seu lado. Nícolas também tirou os sapatos e molhou os pés.

– Esse lugar é realmente lindo, não? – Perguntou Charmin, deitando-se. – Faz com que esqueçamos tudo e apenas concentremos em ficar olhando o formato das nuvens.

– Eu sou uma pessoa que não consegue ficar parado por muito tempo. – Deitou também. – Mas em alguns casos eu posso ficar o dia inteiro.

O som da água ensurdecia os ouvidos de Charmin e deixava-a aérea como se não estivesse na situação que estava. Ouvia Nick mexer em alguns ramos perto de sua perna e aquilo ajudava mais ainda na calma dela. Inspirou até sentir o cheiro de terra, grama e água salgada e respirou, retirando o ar dos pulmões. Estava tudo tão calmo e bom que Charmin virou-se para comentar com Nícolas sobre a claustrofobia que abandonava seu psicológico e então...

Então os dois viraram o rosto ao mesmo tempo e os narizes encostaram. Os olhares pararam e fixaram-se um no outro até que a tensão aumentasse tanto que um dos dois desviasse o olhar. Charmin focou os olhos na água, sentindo a cabeça queimar pelo olhar de Nick.

– Desculp...

– Tudo bem, Charmin.

– Enfim. – Olhou para cima. – Você já percebeu que há poucas nuvens hoje? Isso realmente faz com que...

Nick pigarreou.

– Eu descobri.

– Descobriu o quê?

– Um azul mais bonito que o do céu.

Novamente os olhos se encontraram. Os dela, interrogativos e os dele, indecifráveis. Charmin sorriu em dúvida, esperando a resposta e observou enquanto Nick comprimia os lábios.

– Qual? O da água?

Após alguns segundos olhando, Nick sorriu para Charmin e fechou os olhos.

– O de seu olho.

Charmin riu, olhando para ele com divertimento e fechando somente o olho preto.

– Essa cantada convenceria mais se eu tivesse os dois olhos azuis. – Disse Charmin. – Mas mesmo assim, obrigada pelo elogio. É sempre bom saber que pelo menos uma pessoa gosta da cor de um dos seus olhos.

Ambos riram fracamente e ao abrir os olhos Nick pôde ver que Charmin novamente voltou a olhar para o céu, evitando contato com ele. Então colocou uma de suas mãos no rosto da garota.

– Charmin...

Os olhos arregalaram-se e passavam da mão em seu rosto, para o dono da mão. Ambos estavam calmos, porém era notável o nervosismo tanto na expressão de Nick, quanto no tremor de seus dedos.

– Você poderia...

Súbita e dolorosamente, Nícolas lembrou os acontecimentos da noite passada e não queria ver Charmin dormindo na floresta novamente. Não por agora, enquanto poderia impedir as coisas de seu jeito. Passou a mão pela bochecha dela e empunhou algumas folinhas, desviando o olhar e abaixando a mão para o chão.

–...Tem uma grama no seu rosto. – Disse, por fim. – Eu estava tirando, desculpe se incomodei.

– Ah, obrigada.

– Tá.

– Hm... Está na hora de levantar. – Tirou os pés da água. – Will vai me matar por ficar fora por tanto tempo.

Charmin estava prestes a levantar quando a mão de Nick – novamente –, puxou a sua e a fez deitar, em cima do ombro do garoto. Perto demais. Olhou para ele como se perguntasse o que diabos ele estava fazendo e Nick simplesmente deu de ombros, balançando os pés na água e encarando a água.

– Já se foram quatro horas fora daquele lugar. – Sussurrou. – Que mal vai fazer mais uma?

– Mas eu...

– Só mais um pouco. – Interrompeu. – Eu estou pegando cada vez mais claustrofobia de ficar lá. Você não?

Um dos braços passou pelos ombros de Charmin. Mais perto.

– Acho que... Tudo bem.

Com a proximidade, Charmin pôde sentir o cheiro de Nick e a textura na camisa. Ao contrário de James ou até mesmo Will, Nick não cheirava a colônias cítricas ou algum outro cheiro forte. Ele cheirava a sabonete caseiro, mais camomila e roupas secadas sobre o Sol.

– Já aconteceu de você ter um segredo importante, mas nunca achar que a hora pretendida para contar era a certa, Charmin?

– Por quê?

– Não é nada. Foi só uma pergunta.

– Mesmo?

– Mesmo.

Charmin suspirou enquanto pensava na questão repentina de Nícolas. Não soava como somente uma simples pergunta.

– Bem, eu acho que diria para a pessoa mesmo se fosse algo ruim. No futuro o segredo pode não sair de minha boca e será muito pior.

– Mas e se for algo muito importante? Algo que mudasse o sentido da sua vida?

– Hm... Isso torna as coisas diferentes mesmo. Mas, se a pessoa confiar em você, tudo ficará bem. Mesmo que demore.

Nícolas observou-a de soslaio e sorriu com o canto da boca. No fim, ela sempre conseguia estar certa.

– Tá... Hm... Tomara que você se saia bem na A.

– Eu espero também. Dizem que os Bs que são pegos tentando entrar são presos ou levados para o exército.

– Eu nunca te contei como fui parar no exército, contei? – Disse, a voz parecia magoada. Charmin negou e Nick suspirou. – Tinha uma garota... Sabe? Ela era bem especial. Ainda é, na verdade. Eu acabei fazendo algo por ela que, no fim, acabou parecendo muito suspeito e a única testemunha que podia contar a história verdadeira me traiu. Era um dos meus melhores amigos.

– Nossa! Você tem amigos! – Exclamou, em seguida gemeu com a dor pelo tapa. – Perdão. – riu levemente. - Mas enfim, o que aconteceu depois?

– Acabei brigando com ele no meio da rua. Chamei atenção demais dos guardas e por outros problemas do passado, acabaram me reconhecendo e eu reagi contra eles. Lembro-me de ter ferido três ou quatro guardas só por raiva. – Suspirou. – Eu sou menor de idade então me colocaram no exército para “aprender minha lição”.

– Wow... –Exclamou. - E como você fugiu?

– Eu sou um ótimo analista. Então depois de alguns meses analisando olhares, gestos e falas, consegui armar uma briga falsa espalhando rumores e como muitos de lá se juntaram pra socar uns aos outros, consegui guarda baixa e fugi.

– Devo dizer, caro Nícolas, que estou realmente impressionada.

– Eu sou impressionante.

– Narcisista.

– Você sabe que eu sou impressionante, Charmin. – Piscou. – Bem no fundo, eu sei que você tem uma queda pelos meus olhos penetrantes.

– E o seu cabelo enrolado que é mais hidratado do que uma mulher? – Debochou, mordendo os lábios. – Ou sobre como você é sensível para a cura de machucados?

– Vai se ferrar! – Sorriu. – Vamos embora antes que eu enfie grama na sua boca.

Nícolas levantou, esfregando os pés sobre a grama para tirar a água e recebeu um sermão de Charmin e jurou a ela que lavaria o chão do alojamento quando chegassem. Ela sabia que teria de limpar mesmo assim, mas não deixou de rir pelo humor desesperado dele. Novamente, o rapaz passou um dos braços por seus ombros e Charmin percebeu que, apesar de todos os aspectos irritantes de Nick, ela poderia formar um laço com ele tão forte como o que tinha com James.

***

As botas pesavam enquanto Will andava até a mesa dos computadores. Colocou a mão sobre o ombro de Kyle e esperou que o garoto encontrasse seu olhar.

– Você acha que ela consegue?

Kyle olhou para Charmin que estava sentada conversando com James e sorriu orgulhoso dela. A garota havia feito um enorme progresso desde o mês em que chegara e estava realmente surpreendido que um corpo feminino como o dela tivesse aguentado todo o treinamento rígido e cansativo de Will.

– Ela tem bom vocabulário, corpo e beleza. Isso é o necessário para fingir ser uma A.

– Mas e se ela tiver um colapso sentimental ao ver...

Kyle negou, cortando a frase de Will.

– Charmin é madura o suficiente para encarar isso, Will. Nós conseguiremos os manuais e materiais necessários. Mudaremos a forma de tratamento e romperemos as barreiras.

– Você tem razão. – Will sorriu esperançosamente e encarou Charmin. Acima de Kyle e até de James, era o que mais estava orgulhoso da determinação dela. - Afinal, o que pode dar errado?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hum... Eu odeio pedir por isso, mas você(s) bem que poderiam comentar, né? Pode ser só um "oi" ou uma crítica (De preferência construtiva). Não acho que tenham tantas pessoas acompanhando mas gostaria de vê-las vivas e saber que ainda há seres pensantes lendo isso.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zona B" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.