Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 19
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu decidi postar só de quarta. Primeiro: Meu tempo não é tão longo pra escrever, reler e atualizar. Segundo: Escola e deveres em casa. Terceiro: Mais dedicação pros próximos capítulos. Então... É isso. Boa leitura.



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Charmin esfregou a palma das mãos nos olhos e depois na franja, retirando a coberta do corpo e sentando-se na cama, sentindo o chão frio pelos pés. Imediatamente recolheu-os e dobrou as pernas para que ficassem sobre os pés. Olhou para a cama de Sam e viu que não havia ninguém lá; Rose estava no banho e Jenny ainda dormia.

Levantou-se e andou até o armário que as quatro dividiam e pegou suas roupas. Depois de uma semana convivendo com as roupas demasiado afeminadas de Rose, Charlie trouxe a Charmin algumas blusas, calças e até roupa íntima. Pegou qualquer roupa que estivesse menos amassada e o primeiro sutiã acima de toda a bagunça e foi até sua cama, cobrindo-se novamente e colocando as roupas debaixo do cobertor.

Ao sair, viu Rose abrindo a porta. Estava com uma toalha na cabeça e uma no corpo; os ombros e os braços molhados e alguns fios ruivos escapando. Piscou para Charmin e sorriu, indo até o guarda-roupa e, sem mais nem menos, jogando a toalha que estava presa ao corpo no chão e começando a se vestir na frente da morena.

Charmin arregalou os olhos e desviou-os para qualquer outro lugar. A falta de convivência com garotas deixava-a desacostumada com algumas coisas que amigas faziam entre si, como, por exemplo, ficar nuas e começar a se trocar em sua frente. Pegou a jaqueta que estava sobre a cabeceira de sua cama e ao olhar novamente para Rose, a mesma já estava trocada e aproximava-se dela.

– Hoje é o dia de visitas. Sabe se alguém virá te visitar? – Perguntou a ruiva enquanto enxugava a ponta dos cabelos. – Algum parente ou amigo?

Pensou em Will e lembrou que se ele viesse, todo o plano seria estragado, pois ele é muito conhecido entre as pessoas do exército. Então em James, Marc e Kyle e os três eram praticamente defuntos. Seria perigoso demais para eles reaparecerem. Nícolas era um fugitivo e Josh não possuía boa reputação com o exército. Resolveu dar de ombros para Rose como se não possuir ninguém para ver não fosse algo tremendamente desapontador.

– Acho que não. Não possuo conhecidos que possam vir pra cá. – Respondeu enquanto se levantava novamente e ia em direção à porta com as mãos no bolso frontal da jaqueta. – Vou comer. Até mais, Rose.

– Até, querida. – A menina acenou com um sorriso doce e alegre. – Não se preocupe. Eu sei que, lá fora, há alguém que preze por você!

Charmin sorriu enquanto abria a porta e pensou no alojamento e, após passar por todos os meninos, pensou em Collin e deixou que os olhos umedecessem.

***

Estava sentado em sua cama quando olhou o relógio e percebeu que já eram três horas. Levantou-se e foi até James, que dormia com um braço sobre o rosto e a coberta nos pés, a bermuda estava quase no umbigo de tão levantada. Sem Charmin para cuidar dele, James era uma completa bagunça.

– James. – Chamou e mexeu no braço do rapaz. – Está na hora.

James levantou-se num pulo e ajustou a roupa, pegando uma blusa amarrotada que estava sobre seus pés e vestiu-a, olhando para Will. Passou a mão pelo rosto e pelos cabelos, ajeitando-os desleixadamente e calçando um tênis para subir as escadas e ir para fora. Will o seguiu enquanto ele subia e fechou o alçapão atrás de si quando pousou os pés na grama.

– Quando ele chega? – Perguntou James, batendo o pé contra a grama. – Não podemos ficar aqui fora, durante o dia, por muito tempo.

– Paciência, James. – Censurou Will enquanto olhava para os lados, esperando por alguém. – Ele chega daqui alguns minutos.

E, como se fosse magia, ele chegou. Os mesmos cabelos pretos que Will tanto lembrava bagunçar e os mesmos olhos azuis que ele tanto viu durante os longos anos. Trajava um casaco cinza comprido e o rosto estava tampado por um cachecol e um gorro grande. Acenou para Will e se aproximou do rapaz, abraçando-o.

– Como você vai, cara? – Perguntou ao moreno enquanto se afastava. Cumprimentou James com outro abraço e sorriu. – Faz um tempo, não?

– Alguns anos. – Disse Will, soando levemente irônico. – Pouco tempo.

– Bem, eu só vim cumprimentar vocês mesmo. Meu trem sai daqui dez minutos e eu preciso correr para chegar a tempo. – Falou enquanto checava um relógio digital e chamativo. Colocou as mãos nos ombros de cada um. – Deem olá a Joshua e Nícolas por mim, certo? – Os dois assentiram e o rapaz se afastou. – Adeus, amigos.

Enquanto James virava-se para entrar no alojamento, olhou de soslaio para Will e perguntou por quanto tempo o mesmo ficaria ali, observando o outro se distanciar. Deve ser a saudade, pensou enquanto abria o alçapão e pulava para dentro.

***

Ela estava completamente errada. O aperto no coração por não ter ninguém para ver era tanto que ela não aguentava mentir mais para si mesma, dizendo que não se importaria com este detalhe. E agora, que observava Sam e Rose sentadas com suas mães, Dilan com uma senhora que parecia ser sua avó e Jenny com o pai, ela percebeu o quão errada estava.

Foi até uma máquina eletrônica que ficava no canto do refeitório e pegou uma garrafa de refrigerante, colocando algumas moedas emprestadas de Sam. Abriu a garrafa e estava prestes a tomar quando ouviu “Charmin!” ser gritado ao longe. Virou-se, com a garrafa na mão, e ao ver o dono da voz, deixou que o recipiente caísse no chão e fazendo assim com que o líquido se espalhasse pelo chão e pelos sapatos.

Ele estava impressionantemente o mesmo. Os mesmos cabelos negros – iguais aos seus – bagunçados de um modo sedutor, os olhos azuis alegres e ao mesmo tempo sérios. Havia crescido um pouco e estava definitivamente mais forte, o casaco cinza longo ficava justo nos braços.

Correu até Charmin e ao chegar perto dela, repentinamente abraçou-a e ela sentiu os pés levantando-se do chão, as costas sendo apertadas pelos braços fortes. Não sabia, mas apostava que a expressão estava paralisada, assim como seu corpo estava. Ele sorria e murmurava palavras como saudade, falta e diferente. Provavelmente dizia que havia sentido falta dela e que ela estava crescida e bonita.

Mas tudo que ela conseguiu murmurar foi um sussurro baixo e totalmente rouco, como se estivesse falando com uma miragem inacreditável e impossível de ser verdadeira.

– Collin...

Ao ouvir seu nome, o mais velho apertou-a mais forte e ela sentiu seu cabelo tocado pelo rosto dele.

– Sou eu, Char. Sou eu.

Lágrimas finas e salgadas começaram a descer pelo rosto da garota. Estava chorando tanto nos últimos dias que começou a ficar estressada, afastando-se de Collin e passando as mangas da jaqueta pelo rosto, escondendo o sorriso de saudade.

– Por quê? – Murmurou enquanto observava Collin desenrolar o cachecol do pescoço. – Por que, Collin?

– Estava com saudades, ué.

A expressão dela enrijeceu e Charmin cerrou os punhos.

– Você teve quatro anos pra sentir saudade. – Rosnou enquanto agachava-se e pegava a garrafa que derrubara, bebendo o restinho que ainda tinha. – Resolveu sentir saudades só agora, irmão?

Collin desviou o olhar, envergonhado. Charmin achava irritante como ela possuía os mesmos hábitos que ele.

– Eu... Eu não consegui. – Suspirou e olhou para os lados, checando se alguém estava ouvindo-os. – Fui embora não por motivos pessoais, você já é ciente disso. Por muito tempo, acompanharam até minha sombra. As pessoas da A são difíceis de conquistar confiança. Meu telefone havia sido grampeado e ficavam de guarda na minha casa, esperando que eu saísse e fizesse algo que desse a eles motivos para me tirarem do plano. – Sentou-se num banco perto deles e pediu que Charmin sentasse também. Ela o fez, porém ficou afastada. – Não consegui manter contato nem com Will, que foi o responsável por você. Mandei uma carta codificada a James uma vez e descobriram. Quase perdi tudo, pirralha.

Pirralha. Fazia tanto tempo que aquela palavra não saía da boca de Collin que ela se surpreendeu ao constatar o quão familiar e ao mesmo tempo estranho aquela palavra soava saindo da boca dele.

Pacientemente, ouviu toda a história de Collin. O rapaz contou a ela que foi à A com o mesmo objetivo que Will a aceitara no alojamento: fazer a revolução. Anos atrás, antes de abandoná-la, ele descobriu que havia A’s infelizes com o modo maluco que o rei administrava as coisas. Estavam cansados de serem praticamente escravos da monarquia. O mais velho contou que, quando chegou lá, foi recebido num porão por um morador rico da A, coincidentemente o mesmo que Josh entregou os dados para o traficante há alguns meses atrás. Primeiro, havia trabalhado como garçom e em seguida pulou para estagiário numa fábrica, então gerente e administrador. Demorou anos para conseguir sobreviver por conta própria e esconder os costumes e palavreados de B.

– Você sempre soube que eu estive com Will e James, então? – Perguntou após toda a conversa. Resolveu que não perguntaria de Nícolas, ela mesma descobriria tudo sobre seu passado. – Sempre soube que morei no alojamento?

– Tive a noção, sim. Eu presumi que você, mesmo sendo orgulhosa e teimosa como é, pediria ajuda a James. Vocês são carne e unha. – Afirmou enquanto levantava-se e pegava uma garrafa de água da máquina. – Então, como eu havia combinado com o garoto, era só alcançar a idade e ir morar com Will.

Charmin pareceu ponderar o que falar e, ao perceber que não possuía mais perguntas, voltou-se para suas respostas interiores, coisas que sempre quis falar a Collin, mas nunca os disse, porque ele havia deixado-a.

– Sabe... Quando éramos mais novos, eu sempre pensei que você fazia as coisas no meu lugar porque achava que as merdas que planejava eram o melhor para mim. – Desabafou e viu o rosto surpreendido do irmão. – Mas, ao chegar ao alojamento, Will abriu meus olhos e me fez ver que, mesmo tendo feito e armado tudo isso, foi porque você não queria que eu ficasse em perigo por sua causa. – Virou-se para Collin e crispou os lábios, em seguida sorrindo. – Obrigada por tudo isso, Col.

– Fico feliz que você tenha entendido meu lado. – Passou os dedos pelos cabelos bagunçados. – Charmin, eu sempre fiquei com medo de que, quando e se eu voltasse, você me rejeitaria e alimentaria um ódio por mim. Eu estou realmente mais aliviado que isso não tenha acontecido.

– Pra ser sincera, eu pensei em te bater quando vi você entrando por aquela porta.

Collin engasgou com a água e deu uns tapas no peito para parar. Em seguida riu, fingindo que não estava ofendido.

– Entendo porque quis fazer isso.

Em seguida levantou-se e olhou ao redor, percebendo que havia um garoto apontando para eles – para Charmin, mais exatamente. Estreitou os olhos e se virou para a garota, mas ao fazê-lo, ela já havia se levantado e parecia estressada.

– Quem é o sujeito? – Arriscou perguntar enquanto observava o estranho novamente. – Arranjou um rolo, irmãzinha?

– É só um cara que me ajudou. Nada demais. – Respondeu enquanto dava uma empurrada no ombro de Collin. – Ciúmes?

– Sou seu irmão, garota. Tenho o direito de espancar qualquer um que ouse se aproximar da minha pirralha. – Passou o braço no pescoço de Charmin. – Só não fiz isso com Nícolas porque não estive aqui na época. – Em seguida tampou a boca e ao ver a expressão despreocupada de Charmin, entendeu. – Então você já sabe.

– Faz alguns dias.

– E?

– É bom saber que já tinha me apaixonado por aquele egocêntrico uma vez. Entendi o porquê de ter acontecido.

Collin riu em divertimento. Nunca pensou que ouviria a própria irmã falando de paixão. Muito menos de garotos.

– Bem, parece que o cara que te ajudou está tentando chamar você. Vamos lá?

Charmin deu de ombros, sorrindo despreocupada.

– Fazer o que, né.

Juntos, os irmãos andaram até Dilan e a senhora e os cumprimentaram, Charmin recebendo um abraço apertado da mulher e um beijo molhado na bochecha.

– Olá, docinho. Eu sou a avó do Dilly – Dilly? Charmin disfarçou o riso enquanto ouvia a avó do garoto. – Você que é a namorada do meu neto?

Dessa vez foi Charmin quem engasgou. Dilan ficou desconcertado e Collin riu, meio com raiva e meio em divertimento pelo constrangimento de todos.

– Vovó! – Censurou Dilan enquanto tentava disfarçar o vermelho no rosto. – Ela não é minha namorada! É só uma amiga, lembra?

– Amiga... Você não fala dela como se fosse uma amiga, meu querido. – Sorriu a senhora enquanto apertava a bochecha de Dilan. – Me desculpe por meu neto.

– Não, tudo bem. – Charmin balançou as mãos e em seguida olhou para Dilan, como se dissesse “conversaremos depois.” – Seu neto é um ótimo rapaz. Me ajudou quando fiquei ferida.

– Ele sempre cuida de todo mundo. Mas, cuidar de si mesmo... – Balançou a cabeça enquanto olhava em reprovação para o neto. Charmin sorriu. Nunca conhecera a avó. – Bem, eu preparei um almoço. Por favor, juntem-se a nós.

Repentinamente, Charmin olhou para os lados e pôde ver vários cadetes, a maioria com um pai ou mãe ou até mesmo com irmãos, como ela. Mas, a única pessoa que conheceu durante a semana e não viu no refeitório foi Jack. Olhou para Collin e, pedindo licença, retirou-se do salão e foi em direção ao jardim secreto.

Observou a quantidade de gente que estava no campo de treinamento e um pouco longe, avistou Charlie com uma criança em cada braço e uma mulher loura rindo a sua frente. Lembrou-se do homem falando dos filhos e da alegria e saudade na voz. Charmin sorriu ao ver a cena e voltou a andar quando alguém bateu em seu ombro, empurrando-a.

– Ah, meu deus, me desculp... – Uma cabeleira morena se afastava enquanto as mãos mexiam no ar. – Ah, Charmin!

– Jenny. – Charmin sorriu enquanto passava a mão no ombro dolorido. – Indo almoçar com Rose e Sam?

– Sim. As mães delas são uns amores. – Elogiou enquanto ajustava o cabelo.

– Elas parecem se dar muito bem.

– Bem, elas têm que se dar. – Respondeu, dando de ombros. – Afinal, são sogras.

E mais uma vez, engasgou.

– Mesmo? – Perguntou incrédula. – Rose e Sam são...

– Namoradas? Sim. – Respondeu enquanto pegava uma latinha vazia que derrubara no chão. – Bem, eu vou indo. Até mais!

Charmin acenou para Jenny e seguiu o caminho. Cada vez mais longe, as pessoas iam diminuindo e chegou uma hora que ela não ouviu mais nenhuma voz ou passo, somente o barulho do vento e após alguns segundos, das folhas sendo levadas por ele.

Jack estava do mesmo jeito. Os cabelos castanhos caíam sobre o rosto e ele estava com as mãos atrás da cabeça, fazendo um encosto. Apoiado ao tronco da árvore, as pernas estavam esticadas e ele respirava calmamente, provavelmente dormindo.

A garota aproximou-se dele e curvou-se sobre Jack, observando-o enquanto ele respirava e os cabelos eram levantados. Era engraçado vê-lo, porque Jack parecia tão diferente dormindo que o jeito irônico e fechado dele trocava-se por uma calma angelical.

– Dez dólares. – Murmurou enquanto abria os olhos e tirava os cabelos do rosto. – Por agora, me deve dez dólares.

Charmin afastou-se num solavanco e tropeçou aos próprios passos, caindo no chão e sujando a calça com terra e grama. Irritada, passou a mão para tirar a sujeira e olhou para Jack, que ria em divertimento da raiva da garota.

– Você tem que parar com essas coisas de falar do nada, Jack.

– Você se lembra do meu nome.

Olhou para ele, intrigada com a resposta, e levantou-se, limpando a jaqueta.

– É claro que eu me lembro. – Respondeu como se fosse algo óbvio. – Cadê sua visita? Por que se separou dela?

Jack voltou a fechar os olhos e virou para o lado, apoiando o rosto contra a madeira. Estranhamente, ele se calou e não falou mais nada por volta de talvez dez minutos. Charmin aproximou-se e agachou ao lado de seu rosto, esperando que ele abrisse os olhos.

– Agora são vinte dólares, garota. – Murmurou e abriu os olhos, arqueando as sobrancelhas. – Precisa de algo?

– Onde está sua visita?

– Vou fazer que nem dá última vez e fingir que você não existe. – Falou e então voltou a fechar os olhos. – Dá o fora.

Charmin sentou-se e encarou-o com tanta intensidade que Jack sentiu-se incômodo e abriu os olhos.

– Se me disser onde está sua visita, te deixarei em paz.

Grunhindo, Jack virou-se para o outro lado e murmurou algo para Charmin. Não entendeu, mas foi algo como “nãtemvisit”. Ela engatinhou até o lado dele e encarou-o novamente. Ele abriu os olhos em raiva e Charmin arqueou uma das sobrancelhas, finalmente esperando uma resposta.

– NÃO TENHO VISITA! – Gritou e então levantou estressado. – Céus, como você é irritante.

Em passos rápidos, Jack começou a andar e em seguida, Charmin levantou-se num pulo e seguiu-o. Ele deu a volta pelo exército e foi até os dormitórios, entrando no corredor e percorrendo-o, chegando ao fundo e virando-se, olhando para Charmin.

– Vai ficar me seguindo, sombra? – Rosnou enquanto abria a porta com uma chave e entrava. Charmin deu um passo à frente, mas Jack foi mais rápido e fechou a porta na cara dela. – Não, não. Fique quietinha aí, seja uma boa menina e vá embora.

– Não sou um cachorro, Jack.

– Não é muito diferente, se quer saber. – Cantarolou enquanto afastava-se.

Charmin emburrou e começou a bater na porta, fazendo um estrondo forte e chamando a atenção de algumas pessoas que estavam em volta. Não ligando, aumentou a intensidade das batidas e só parou quando Jack abriu a porta totalmente em fúria. Puxou a manga de sua jaqueta e fez com que ela entrasse, fechando a porta com raiva e pressa.

– Você é teimosa, insistente e chata como um cachorro. Se eu fosse seu dono, já tinha te abandonado na rua de tão insuportável. – Bufou e foi então que Charmin percebeu que Jack estava sem a camisa. Ela desviou o olhar e o rapaz sorriu maliciosamente. – Fique parada aí antes que eu perca a paciência.

– T-tá.

Jack caminhou até o armário e abrindo uma das portas, pegou uma blusa preta, colocou-a, e Charmin voltou a olhá-lo. Em seguida foi a uma cama e pegou uma jaqueta de couro, colocando-a e aproximando-se de Charmin.

– Vai abrir a boca ou o que?

Charmin colocou as mãos na cintura e sorriu ironicamente.

– Eu não deveria existir, deveria?

– Não. E por mais que sua existência deixe-me chateado, você está no meu quarto e está causando um tumulto lá fora. Então ou abre a boca ou eu te expulso com um pé na bunda. A escolha é sua, garota.

Após alguns minutos batendo o pé, Charmin ponderou a pergunta e soltou-a, como se fosse uma grande confissão.

– Por que ninguém veio te visitar?

Jack estreitou os olhos e balançou a cabeça em falsa reprovação. Passou a mão pelos cabelos e suspirou, provavelmente não estava acostumado com alguém insistindo em falar com ele. As pessoas geralmente desistem de gente complicada que nem ele.

– Não tem ninguém pra me visitar. – Respondeu e então abriu a porta, checando os corredores. – Vem ou não, cachorrinho?

– É Charmin.

– Não preciso saber seu nome. É só passar pelos corredores desse lugar que todo mundo tá falando de você, garota. – Voltou o corpo para dentro e apontou para Charmin e para a porta. – Vamos. Fora.

– Não tem pais?

Jack insistentemente apontou para a porta e ao perceber que Charmin não sairia, fechou-a e escorou sobre a parede, ajeitando as mangas da jaqueta e o cadarço do tênis. Ela estava sendo realmente insistente e o rapaz não sabia ao certo se era bom ou mau.

– Não. Mortos.

– Avós?

– Mortos também.

– Tios? Tias? Irmãos?

– Não, não, filho único.

– Amigos?

Jack riu secamente e apontou para seu rosto.

– Eu tenho cara de ter amigos?

Charmin revirou os olhos e, agarrando a manga de Jack, puxou-o e abriu a porta, passando e forçando-o a passar junto. Apesar de magra, Jack observou, Charmin era muito forte e ágil. Passou puxando-o por várias pessoas e não trombou em nenhuma. Até tentou pará-la minutos atrás, mas ela puxou-o com mais força e guiou-o até a porta do refeitório, repentinamente parando.

– A avó de Dilan fez almoço e acha que eu sou a namorada dele; Meu irmão está aqui para me ver e acho que adoraria conhecer alguém masculino não intitulado como meu namorado. – Largou sua manga e cruzou os braços com uma careta. – Então você vai entrar por essa porta e se alegrar, entendeu? Não quero essa cara séria.

– Você não manda em mim, Charmin.

– Quer que eu comece a chamar atenção de todo mundo novamente?

Jack a encarou e ao ver o olhar duro e teimoso da garota, bufou novamente e abriu a porta, procurando por Dilan e sua avó. Ao achá-los, olhou para Charmin a apontou com a cabeça para a mesa onde localizavam, começando a andar em direção ao lugar.

Logo atrás, Charmin o seguia e cercava-o, certificando que ele não tentaria fugir.

– Collin, senhora. – Chamou Charmin ao chegarem à mesa. A avó de Dilan estava em pé, colocando arroz para Dilan e reclamando que ele comia muito. Collin estava rindo da cena e, ao observar Charmin chegar com Jack, parou de mastigar e olhou para os dois. – Esse aqui é o Jack, um amigo meu e do Dilan que passará o almoço e o dia com a gente.

– Hey, Dil. – Jack acenou para Dilan e em seguida, estendeu a mão para a senhora. – É um prazer conhecê-la, senhorita.

A avó sorriu envergonhada e estendeu a mão também. Charmin revirou os olhos ao perceber que Jack possuía gentileza, mas não a usava com ela. Então estendeu a mão para Collin e o mesmo o cumprimentou; ambos trocaram um olhar estranho e, após, olharam para Charmin.

– Venha sentar. – Collin falou enquanto voltava à posição antiga e pegava um garfo. – A comida está realmente boa.

Charmin sentou-se ao lado de Collin e uma violenta nostalgia surgiu em sua mente. Era exatamente assim que se sentavam: um ao lado do outro. E, relembrar aquilo estava sendo tão impressionantemente bom que ela esqueceu-se da raiva que ainda estava sentindo.

Jack pegou talheres e um prato e sentou-se ao lado de Charmin, encostando propositalmente sua coxa na dela.

– Poderá me agradecer depois. – Charmin fitou-o e murmurou enquanto engolia um pedaço de carne. – Eu deixo.

– Agradecer pelo quê?

– Por fazer você sorrir.

Jack riu pelas narinas. Mas, de fato, sorriu.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da visita do Collin? Já estava óbvio? Eu não sei se deixei isso tão na cara, mas tentei ser o mais discreta possível. Não se esqueçam de comentar, favoritar ou, se puderem, recomendar. Espero vocês na próxima quarta :3



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