Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 18
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Enfim estamos aqui. Bem, coloquei uma dose mais masculina nesse capítulo, espero que gostem :3



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Charmin coçava os pulsos nervosamente enquanto ouvia a mulher ensinar sobre o combate corpo a corpo que teriam. Com uma voz dura e fala rápida, explicava sobre os pontos mais importantes a serem atingidos e sobre as posições favoráveis que deveriam usar. Então lembrou o quanto de trabalho deu a Will para ensiná-la simples ataques.

A treinadora então mandou que fizessem uma fila de duas pessoas e selecionou cada um para uma direção. Dilan, Rose e Sam foram para a esquerda; Charmin, Jenny e o amigo de Dilan à direita. Ao passar por Charmin, o garoto encarou-a por alguns breves segundos e ajeitou o cabelo, prendendo-o com um elástico gasto. E novamente o anel chamou sua atenção.

Depois de organizar as filas, a mulher mandou que, em ordem, os soldados se encontrassem e praticassem juntos. Por sorte (Ou talvez azar) Charmin ficou com Dilan. O garoto sorriu após perceber quem seria seu par e esticou as mãos enquanto ela se aproximava.

– Sabe alguma coisa de defesa pessoal? – Perguntou Dilan enquanto ajeitava os coturnos. – Alguma técnica ou golpe?

Charmin lembrou-se dos treinamentos de Will e de como era ruim neles. Ao contrário de James, que possuía incrível facilidade pra luta, ela demorara muito tempo para aprender a somente desviar de algum golpe fácil que Will dava. Apesar de ter agilidade com as facas e uma boa mira para elas, combate e luta não eram suas melhores habilidades. Tantas vezes ralou os membros por cair no chão repetidamente e quase quebrou uma perna certa vez por ter aterrissado de modo muito errado. Riu sozinha com o espanto de Will ao vê-la caindo mole.

Resolveu dar de ombros e não falar nada, deixando que a imaginação de Dilan respondesse à pergunta dele.

– Vamos ver, então.

Dilan posicionou-se em ataque, afastando as pernas e dobrando-as, enquanto levantava os punhos e deixava um para proteger o rosto. Charmin imitou-o, com a sobrancelha arqueada em dúvida e até medo; O garoto era um armário perto dela, deveria ser até mais alto que Will.

Rapidamente, Dilan aproximou um dos punhos próximo ao rosto de Charmin como se fosse socá-la, então movimentou uma das pernas e fez com que a garota caísse, as coxas bateram contra o tapete do local e ficaram vermelhas com o impacto. Ela xingou-o mentalmente enquanto passava a mão pelo local onde doía.

Rindo, o rapaz ofereceu a mão para ajudar Charmin a se levantar; Ela bateu no braço dele, recusando a ajuda com raiva e levantou-se, ficando novamente na posição de ataque. Estava muito, muito brava. Como ele foi capaz de derrubá-la sem que ela estivesse totalmente pronta? Não era possível!

Cerrou os punhos e levou-os ao encontro do peito de Dilan; Ele desviou e ela acabou por acertar a superfície do ombro esquerdo dele. Grunhiu e levou o outro punho na direção do rosto do garoto, que pegou sua mão e virou-a, fazendo com que Charmin ficasse de costas para ele. O rapaz chutou levemente a dobra das pernas de Charmin, e assim ela caiu de joelhos e deixou-a incapacitada por alguns minutos e após o tempo, soltou-a e caiu de bruços no chão.

– Você precisa parar de lutar com o lado sentimental e usar o racional, Charmin. – Disse Dilan. – Não use a raiva ou estresse como motivo dos golpes. Isso só fará com que você tenha má mira e noção.

– A culpa não é minha se você resolveu me dar uma rasteira do nada. – Exclamou com a voz abafada. – Eu só agi como achei que deveria.

Dilan sorriu calorosamente e cruzou os braços enquanto assistia Charmin respirar irregularmente.

– A vida nos dá rasteiras repentinas muitas vezes. Nem por isso nós saímos socando tudo.

Ofereceu a mão a Charmin novamente. A garota aceitou-a e levantou, ajeitando a calça que estava suja e a blusa que havia subido. Claramente evitava olhar nos olhos de Dilan, estava envergonhada por ter sido tão facilmente derrotada e ainda por cima ter recebido o sermão.

Esperou que Charmin voltasse à posição de ataque e assim que ela o fez, Dilan aproximou-se e colocou a mão sobre o punho direito dela. Alinhou-o mais à frente e em seguida aproximou o esquerdo perto de sua boca. Agachou-se e afastou as pernas da garota, flexionando mais os joelhos.

– É assim que você deve ficar. – Explicou enquanto apontava para o centro de seu peito. – Atinja-me aqui.

Após alguns segundos, Charmin socou o lugar mandado por Dilan e antes que atingisse o local, a mão do rapaz empurrou o punho dela e segurou seu braço; Ela voltou à posição e esperou mais algum tempo, esperando que Dilan voltasse também. Após isso, usou o punho direito para socar o ombro do rapaz e antes que ele notasse, atingiu o peito com o esquerdo, fazendo com que ele cambaleasse para trás.

Surpreendido, Dilan olhou para ela orgulhosamente e piscou, voltando a se aproximar e esperando outro golpe. Charmin aproximou o punho de seu rosto e assim que Dilan pegou-o, arrastou o pé sobre os do rapaz e derrubou-o, fazendo com que ele caísse no chão.

Ela sorriu vitoriosa enquanto o garoto bagunçava os cabelos e apoiava o braço sobre o joelho, visando-a.

– Não se pode sair socando tudo e todos, mas devolver a rasteira não é proibido.

***

Fechou o zíper da jaqueta e calçou o tênis, abrindo a porta do banheiro e sentindo uma brisa fria vir do dormitório. Olhou para Rose e Sam, que conversavam sentadas na cama e em seguida virou o rosto para ver Jenny dormindo abraçada ao travesseiro.

Imediatamente lembrou-se de Nick e de como ele dormia na mesma posição. Sempre abraçava o travesseiro de forma apertada e um tanto desesperada, como se estivesse segurando algo tão precioso que se afrouxasse um pouco o aperto, algo ali escaparia. Sorriu com a visão dos cabelos levemente cacheados e os olhos claros e especiais em sua mente e imediatamente ficou séria ao lembrar-se das coisas que descobrira sobre os dois nos poucos dias que estava ali.

– Vou... Hm... Dar uma volta... – Sinalizou para a porta enquanto murmurava respostas desajeitadas. – Volto daqui um tempo.

– Está bem. – Disse Rose. – Só não volte muito tarde. Nós temos treinamento psicológico amanhã.

Charmin assentiu e se dirigiu à porta, flagrando a si mesma colocando a mão na madeira e prensando o nada, como se ali tivesse algum apoio para ela segurar. Piscou os olhos algumas vezes e balançou a cabeça e girou a maçaneta, saindo dali.

– Se toca Charmin. Você não tá mais no alojamento. – Disse a si mesma enquanto enfiava as mãos nos bolsos e sentia um frio repentino vindo de seu peito. – Por muito tempo você não vai mais subir aquelas escadas.

***

Depois de alguns dias caminhando por todo o acampamento, descobriu que havia uma espécie de área que era mais como um jardim reservado e muito bem escondido de todos os cadetes. Havia um gramado não muito extenso que cobria a região e uma árvore de tronco largo que ficava no meio do lugar, algumas flores cresciam aqui e ali.

Olhou ao redor, certificando-se de que não havia ninguém ali e sentou-se na grama, encostando ao tronco da árvore e sendo coberta pela sombra feita das folhas. Suspirou lentamente, inspirando o cheiro da grama e das folhas e sentiu um vento bagunçar alguns fios de cabelo. Tudo estava tão calmo que ela não acreditava ser um momento da própria vida.

Meses atrás sentou num local parecido com esse com Nick. No dia, o garoto estava apoiado em seu ombro, a respiração do mesmo batia em seu braço, os cabelos encostados em seu ombro. Era tão tranquilizante tê-lo ao seu lado e agora Charmin já não tinha a mesma sensação. Tudo que envolvia Nick a fazia ter um turbilhão de sentimentos.

– Ah, eu não sabia que mais alguém vinha aqui.

Charmin olhou para cima e pôde ver o mesmo garoto que estava sentado com Dilan no dia do refeitório. Os cabelos estavam atrás da orelha e ela percebeu que ele possuía um piercing de engrenagem na orelha direita, os olhos com um ar interrogativo.

– Ah... O quê? – Perguntou Charmin, confusa. Desde quando ele estava ali? – Me desculpe. Não ouvi.

O garoto bufou e revirou os olhos, dando ás costas.

– Deixa pra lá. Vou achar outro lugar pra ficar.

A garota levantou-se imediatamente e puxou a manga do rapaz, fazendo com que ele parasse. Lento, ele virou-se e olhou do braço para ela, pedindo que ela soltasse. Charmin apontou para a árvore e deu de ombros, olhando para ele.

– Não me incomoda ter a presença de alguém ali.

Me incomoda.

– Finja que eu não existo. Não é tão difícil.

Bufando novamente, ele dirigiu-se para a árvore e sentou, cruzando os braços e colocando-os atrás da cabeça. Enquanto Charmin sentava ao seu lado e um pouco afastada, observou que ele fechou os olhos e relaxou o corpo, provavelmente começaria a dormir.

Relutante, Charmin olhou para o garoto e observou-o enquanto ele dormia. O rosto era angulado e as maçãs do rosto ficavam um pouco sobrepostas, os cílios eram incrivelmente longos e mais claros que os cabelos castanhos que chegavam um pouco abaixo dos ombros. Os ombros eram largos e os braços eram fortes, deveria estar no exército há um tempo. A pele um tanto clara e algumas cicatrizes grandes preenchiam a região inteira dos braços. O anel no indicador brilhava e uma cruz preta se destacava no centro.

– Se for pra ficar olhando, eu vou começar a cobrar. – Murmurou o rapaz enquanto abria os olhos lentamente. – Eu não vou te ferir ou algo assim, se é isso que está pensando.

Assustada, Charmin pulou e acabou por sujar as pernas de terra, algumas gramas grudaram em sua calça e no tênis. Pigarreou enquanto tirava a sujeira da roupa e murmurou algum xingamento para ela mesma.

– Estava me perguntando qual seria seu nome. – Falou e reajustou a postura. Levou a mão ao pulso e começou a coçá-lo. – Você é amigo de Dilan, certo?

– É Jack, garota. – Respondeu enquanto colocava o cabelo para trás da orelha. – Não preciso saber seu nome, antes de dizer qualquer coisa.

– Quem disse que eu ia dizer meu nome? – A voz afinou-se novamente. Ele deixava-a brava como Nick fizera no dia do alojamento.

– Porque é algo automático. – Olhou para ela e sorriu levemente. – Mas eu não preciso saber seu nome.

– Mas...

– E você me disse para fingir que não existe. Certo? – Completou e voltou a fechar os olhos e abaixou a cabeça. – Então faça o seu papel direitinho.

Charmin bufou e deitou-se na grama, olhando para o céu. Não havia muitas nuvens e o sol está um pouco fraco, provavelmente choveria mais tarde. “Existe um azul mais bonito que o do céu?”, se perguntou novamente enquanto sorria ao lembrar que Nick respondera aquela questão do jeito mais lindo e engraçado que poderia ter sido feito.

Percebeu que olhar para o céu perdia a graça se você não tinha um braço grudado ao seu; Cabelos misturando-se à grama ou pés afundados na água. Sentia muita falta de Nícolas, mais do que pensou que sentiria. Desde que descobrira as coisas que eles haviam passado juntos, Charmin achou que ficaria instantaneamente brava, como aconteceu com Will e Josh. Mas, ao contrário dos dois casos, ela sentiu um imenso vazio em si e uma bomba no lugar do coração, prestes a explodir de nervosismo e estresse. Nada seria como antes. Ela não seria como era antes.

Claro, faltavam muitas peças no quebra-cabeça que sua mente se tornou, e ela possuía tão poucas que não formavam nem as bordas. Mas, já era algo saber que por conta de uma resposta ousada dela, Nick cravou seus olhos na garota e decidiu conquistá-la. E, por causa dela e de uma brincadeira estúpida e infantil, perdeu parte da memória e o conhecimento sobre sua antiga paixão.

No fim, tudo havia sido causado por ela. Desde o começo, quando confrontou o garoto e o fez entregar flores; Quando mostrou a ele que nem tudo se resolvia com violência e quando fez com que Nick percebesse que ele era muito melhor do que mostrava ser. No fim, ela havia feito com que Nick fosse... Nick.

Começou então a assobiar uma melodia qualquer e ao ouvir um grunhido impaciente e raivoso de Jack, parou imediatamente e levantou-se, tirando a grama das roupas e ajustando o cabelo bagunçado. Deu um aceno rápido a Jack e afastou-se, seguindo para o dormitório.

– Ainda não consegue ficar parada, Charmin? – Murmurou Jack enquanto esticava as pernas. – Você não mudou nada.

***

– O que nós vamos fazer sobre eles, Will? – Perguntou Kyle enquanto teclava um código no computador. – Parecem doentes.

– Eles meio que estão. Não estão? – Will olhou para Kyle com uma dúvida e um pouco de pena. Odiava ter que ver aquela cena. – Sentem falta dela e temem que ela esteja morta. Eu ficaria do mesmo jeito se fosse um de vocês.

Kyle voltou a olhar para a cama de James. O garoto passara praticamente o dia inteiro analisando fotos e sorrindo do nada, logo depois desfazendo o sorriso e tomando o ar triste novamente. Então olhava para Nícolas e o via segurar a flor com as mãos de um modo tão urgente que parecia que, se a soltasse, estaria soltando a própria alma. Era deprimente ver o estado dos dois.

– Eu preciso fazer alguma coisa. – Falou e então levantou, pegando duas canecas que estavam com um pouco de suco dentro. – Não vou deixar os dois mofando enquanto Charmin está lá dentro. Vou fazer isso por ela.

Andou até o meio do alojamento – onde se localizavam as camas – e repentinamente bateu uma caneca contra a outra, produzindo um som metálico, estridente e irritantemente alto. Com o susto, Nícolas deixou a flor cair e olhou para Kyle como se ele fosse um louco sem tomar remédios; James simplesmente observou-o enquanto juntava as fotos: Já sabia o motivo daquilo.

– Vocês dois. – Chamou Kyle enquanto parava o som. – Ambos irão à feira e comprarão mantimentos para a gente. Depois, à farmácia para comprar bandagens e água boricada e então darão uma volta pela floresta para movimentar esses corpos enferrujados e voltarão determinados. – Endureceu a voz como um comandante fazia ao ficar bravo com seus cadetes e por fim, exclamou: – Entenderam?!

De olhos arregalados e clara surpresa, Nick assentiu e pousou a pervinca em seu travesseiro, pegando uma jaqueta de couro preta e calçando botas de escalador, olhando para James e apontando com a cabeça para as escadas. James assentiu e calçou um tênis, colocando uma camiseta, cobrindo o peitoral e os braços.

Ambos se levantaram e andaram até as escadas, Nick primeiro e James depois. Ao sair, Nícolas encolheu os ombros ao constatar que estava frio e ventava um pouco; James cruzou os braços e começou a andar em direção à cidade, esperando por Nick enquanto o mesmo puxava as mangas da jaqueta para cobrir as mãos.

– Acha que ela está bem? – Perguntou James após alguns minutos de caminhada. – Quer dizer, você já esteve lá, deve ter noção de como as coisas são.

– Não podem matá-la. – Afirmou enquanto chutava algumas pedrinhas no caminho. – Mas podem torturá-la para conseguir informação e quando perceberem que não conseguirão... Bem, deixarão que ela seja treinada e vá para uma guerra, com a esperança de que ela entregue informações aos colegas. – Olhou para James de soslaio e sorriu confiante. – Ela é uma garota forte. Vai suportar tudo e ainda pisar em todos como se fossem migalhas de pão. Conheço minha Charmin.

Sua Charmin? – A voz afinou e uma pontada de ciúmes e raiva surgiu. – Desde quando ela é sua?

– Foi um modo de dizer, cara! – Ergueu as mãos em defesa e em seguida assumiu um sorriso cínico no rosto. – Mas, você sabe...

– Não. Não quero saber da relação de vocês. – Abanou a mão no ar como se espantasse os pensamentos sórdidos de Nick. – Bem, pelo menos eu confiei a Charmin ao cara certo. Não gostaria que o coração dela pertencesse a outro cara a não ser você, sinceramente.

– Me sinto honrado por isso.

Mesmo em meio à tristeza que Nick estava sentindo por ter consciência do que Charmin passaria no exército, o sorriso dele pareceu tão alegre e brilhante que ofuscou toda a parte negativa.

***

Já era seu quinto dia ali e Charmin ainda não havia conseguido se ajustar ao modo que as merendeiras agiam. No primeiro dia, quando fora obrigada a sentar-se com Dilan e seus amigos, ela tentou ser o mais gentil possível para arrancar delas algum sorriso. Mas aquilo parecia simplesmente impossível. Elas não demonstravam nada. Colocavam as comidas na bandeja e a dispensavam com um “próximo!” alto e insensível.

Resolveu então deixar para lá e simplesmente pegar sua comida, indo para a mesa das meninas que, estranhamente, começaram a se sentar com Dilan e os outros. Aproximou-se do local e ao perceber que quase todos os lugares estavam preenchidos, viu-se obrigada a sentar-se do lado de Jack. Ele estava com o rosto apoiado pelas mãos e os cabelos caíam sobre elas.

Não que não gostasse dele, mas possuía uma sensação estranha dele. Como quando conheceu Josh e o assemelhou como uma montanha-russa assemelhava Jack como um tiro no escuro. Não se sabia para onde foi mirado, mas com certeza algo seria atingido.

Olhou para a bandeja de Jack e viu somente uma garrafa de água e uma maçã vermelha intacta. Então olhou para a sua e viu uma maçã, um mingau com flocos estranhos, uma gelatina incolor e uma caixa de suco. Pegou a gelatina e depositou na bandeja de Jack, em seguida pegando a colher e começando a comer o mingau.

– Não preciso disso. – Ele murmurou devolvendo o recipiente.

– Fique. Só... Fique.

Pensou que Jack recusaria e falaria algo grosseiro, mas, para sua surpresa, ele pegou a gelatina e a colher que vinha anexada e começou a comê-la.

– Não conte a ninguém que disse isso a você, mas... Obrigado. – Falou enquanto fechava o potinho de gelatina e deixava na bandeja dela. – Você até que não é tão chata como parece.

Percebeu, então, que ele não era um tiro no escuro, mas sim uma das possíveis vítimas. Tudo que ele precisava era de uma mão, ajudando-o a levantar e guiando-o. Mas, é claro, não seria fácil fazer com que ele aceitasse essa mão e acreditasse que estaria seguro, havia todo um processo antes disso.

– Sabe... Eu observei você hoje, lutando com Dilan. – Começou enquanto tomava a água. – Se quiser eu posso te ensinar um pouco e mostrar como humilhá-lo.

– Ele parece muito bom em luta. – Respondeu Charmin enquanto abria a garrafa de suco. – Não sei se você consegue fazer com que eu o humilhe.

– Acho que posso, já que fui eu quem ensinou a ele tudo sobre luta. – Deu de ombros e após dar um gole, fechou a garrafa e levantou-se. – Mas, você decide. Sempre treino às cinco horas. Se quiser, vá lá e eu te ajudarei. – Colocou um maço do cabelo atrás das orelhas e as mãos dentro dos bolsos do jeans. – Adeus.

Jack virou-se e começou a caminhar para fora do refeitório, abrindo as portas e silenciosamente passando por elas, todos na mesa não haviam percebido que ele se fora e Charmin voltou seus olhos para sua bandeja e comeu a maçã, observando o potinho onde estava a gelatina. Não havia nenhum sinal de que ele havia sido usado para colocar o doce, nem mesmo um rastro. Por um momento, Charmin perguntou a si mesma se ele estava realmente com fome, ou se somente estava desacostumado a receber gentileza.

***

Charlie respirou lentamente e após terminar, abriu a porta. A sua frente estavam sentados os quatro investigadores que estavam cuidando de Charmin, todos com o olhar raivoso e impaciente. Separou alguns papéis mais importantes e olhou para eles, esperando que algum dos quatro começasse a rebelião.

– Ela é impossível! – Gritou um deles – Turner, se não estava enganado – enquanto batia a mão contra a mesa e mostrava relatórios. – Não nos disse nada! Só ficou com uma cara espantada ao falarmos sobre Tourmaline.

– Ela parece não se lembrar dele o tanto que era pra lembrar. – Justificou enquanto pegava alguns papéis. – Ficou incrédula ao saber que ele tentou matá-la no lago anos atrás. E também pareceu bastante surpresa com as fotos das câmeras. Pelo jeito a cirurgia dela gerou sérias sequelas.

– Não nos interessa! – Disse um dos homens, a gravata vermelha estava bem ajustada ao pescoço e era balançada quando ele movimentava o corpo. – Se essa menina não abrir a boca, nós não saberemos se há ou não uma falha no sistema da A.

– É claro que há uma falha, senhor Langdon. Nada é perfeito.

Langdon riu em escárnio.

– Não me venha com essa merda, Spencer. Todos nós sabemos que, se há alguma falha, ela é tão difícil de alcançar que nem o próprio rei deve saber.

– A senhorita Charmin foi quase capaz de enganar um guarda ao tentar passar para a A. – A voz de Charlie era séria. – Só foi reconhecida por causa dos olhos que, devo dizer, são mesmo muito chamativos. Aqueles olhos foram a única coisa que a fizeram ficar. Então, se há um erro, eles sabem.

– E o que o senhor acha que devemos fazer?

– Deixem-na. Deixem que ela conviva aqui, seja treinada e, se houver chance, mandem-na pra algum confronto ou viagem.

Recolheu todos os papéis da mesa e arrumou-os, guardando-os em uma pasta e colocando o item abaixo de seu braço. Apertou a mão de cada um dos homens e agradeceu a visita deles. Langdon queria falar algo para ele e começar outra discussão, mas Charlie somente o dispensou com a mão e deixou-o falando com as paredes.

Andou até a porta e lentamente abriu a maçaneta. Virou-se para os homens novamente e, olhando para além da janela, do campo de treinamento e dos enormes muros e portões do exército, imaginando a floresta, usou a voz mais calma e séria, como se estivesse falando com os filhos.

– Acreditem, ela não vai ficar aqui por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar caso haja algum erro e sintam-se livres e impulsionados a me dar um olá. Não esqueçam de acompanhar a fic e, se quiserem, favoritá-la. Conto com vocês nos próximos capítulos s2



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