How to live? escrita por America Mellark


Capítulo 7
A Garota que estava em chamas




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Há duas semanas eu estava em casa, com minha mãe, com Johanna, no meu aniversário. Tenho desconfiado de alguns projetos de Paylor, ela pretende colocar três pessoas no poder, juntos, eles vão decidir as leis, aplica-las e julgar. Só que tem muitas tabelas com muito dinheiro em jogo, muito desse dinheiro devia ter sido usado para as reformas dos distritos, mas não foi, ainda está desaparecido. Ela quer colocar as novas atividades econômicas para as indústrias implantadas e vender os produtos no comércio.
Meus resultados do teste vão sair hoje, muito atrasados, por causa de uma falha. Essas duas semanas eu e Peeta temos visitado hospitais, escolas e parques da Capital. As crianças estão traumatizadas e tentando reviver. Até mesmo tenho pena da neta de Snow, ela realmente quer reencontrar seus pais e irmãos. Mas eles não sobreviveram, há dois meses que eles se foram, Paylor disse que eles iam passar por uma cirurgia para voltarem a falar e andar.
— Katniss! Seus resultados saíram! — diz Effie com sua eterna animação.
— Me dá aqui! — grito saltando do sofá.
Bem, meu sangue tem excesso de açúcar e falta de ferro. Comer feijão selvagem seria a solução perfeita. Tudo perfeito, a não ser um exame a mais por trás de todos os outros. Lá estava, um grande número de hormônios, atraso de menstruação, falta de fome e enjôo. E no final lá estava uma palavra com letras enormes POSITIVO. Jogo o papel longe gritando. Minha pele fica como papel, Peeta segura minhas mãos geladas e pergunta várias vezes o que aconteceu.
— Leia... — digo estendendo o papel.
— Katniss você! — ele exclama.
Digo que sim com a cabeça.
— É Peeta, estou grávida. — digo.
— Vamos ter um bebê?! — pergunta ele pulando no sofá.
— Vamos ter um bebê. — digo.
Não pareço muito animada. E Peeta sabe disso. Assim mesmo ele me abraça, me beija e faz tudo que eu imaginei que faria. Não sei se um bebê agora seria bom, talvez não, talvez sim, mas a questão é como vou cuidar de uma nova vida se nem a minha eu posso cuidar sozinha?
****
Quando ponho os pés no quarto, lá está Peeta, me esperando sentado na poltrona com os olhos colados em mim.
— O que foi? — pergunto sentada a beira da cama.
— Eu sei que você está lidando mal com isso. — começa ele. — porque não começa a dar uma chance ao bebê e deixá-lo mostrar que você pode ser à ele uma mãe como foi uma irmã para Prim. A melhor de todas.
— Eu não sei Peeta.
— Vamos, será bom termos um bebê juntos e finalmente ter algo em carne e osso que simbolize o nosso amor e tudo que passamos para chegar aqui. — diz ele. Seus braços me envolvem e ele dá uma especialidade para minha barriga.
— Eu vou tentar. — digo.
E se ele estiver certo? Serei a mãe que minha mãe foi, e nunca vou me ausentar. Ser como a irmã que fui para Prim, eu cuidei dela como minha filha, talvez Deus esteja me dando uma chance de salvar e de dar a vida à uma que eu deixei ir embora. Posso estar carregando uma grande chance de proteger quem eu nunca pude. A esperança está em lugares que há vida, e aqui dentro de mim, há vida. Tem algo vivo em outro vivo, e esse será o rosto da minha ultima esperança. Meu filho, filho de Peeta, nosso amor convertido em carne e osso. Um pedacinho de mim e dele dentro de um só.
— Então temos que adiantar esse casamento. — diz Effie entre sorrisos e lágrimas.
— Então vocês dois já tomaram coragem e fizeram isso logo? — Haymitch, em plena manhã, já está bêbado.
— Haymitch! — repreende Effie.
— Deixa ele Effie. — defende Johanna. — Adoro ver as bobagens que ele faz quando está assim.
— Eu vou me lembrar disso quando estiver sóbrio. — diz ele cambaleado para a direção dela.
— Sei, toma mais um copo. — ela abre uma garrafa e enche um copo de vidro com o líquido cor de mel.
— Enfim, vamos ter o casamento semana que vem. Quando voltarmos para a Capital.
— Ótimo. — diz Peeta.
— Ótimo - repito.
********
Meu vestido está caindo para os lados e estou com medo de mostrar mais partes do que deveria. Peeta diz que vamos ficar bem, como imaginaria que em uma semana eu já sentiria o que mamãe sentiu quando ficou grávida de Prim? Minha cabeça girava e o estômago dava cambalhotas.
A cerimônia foi demorada e basicamente chata. Mas eu observei Peeta o tempo todo me olhando. Seus olhos estavam perdidos pelo salão e por todo meu vestido e o cabelo preso a maquiagem. Por mais que a festa durasse eu só pensava em voltar para casa e contar para mamãe.
Peeta segura meu braço e andamos por todo o corredor enfeitado com tecidos brancos e flores vermelhas. Acho que já estava claro que flores brancas seriam a pior opção. A festa foi logo em seguida, duas mesas cheias de pratos, luzes coloridas e fogos de artifício.
— Comi demais. — digo.
— Eu vi. — diz Peeta.
— Acho que vou vomitar. — minha garganta começa a secar e sinto algo passar por meu estômago e empurrar minha faringe.
Peeta me leva até a copa onde há um espaço cheio de baldes. Ele puxa um tão rápido que a costura do seu terno não agüenta e se rompe. Ponho o jantar para fora, Peeta segura meu véu e a parte solta do meu cabelo artificialmente cacheado.
— Obrigada. — digo.
— Não agradeça, é isso que eu faço, cuido de você. — diz ele limpando meu rosto de parte da maquiagem e da água, com um pano úmido.
Somos chamados por uma equipe da Capital, parece que eles tem uma homenagem para mim e para Peeta.
Todos estão prestando atenção em um telão preso à um casarão.
"Katniss Everdeen, a garota em chamas! Ela passou por tudo, entrou em um campo de batalha, sem acreditar que ia vencer. Lutou. Perdeu muitos símbolos significativos lutou e fez coisas que ninguém faria para salvar o amor da sua vida. Lutou no Massacre e foi vítima de um plano elaborado sem saber que Peeta Mellark estava fora do alvo de salvação. Ela foi a garota que estava em chamas. Mas por trás disso ela só queria salvar sua família, fez coisas sem saber suas consequências, derramou lágrimas e sangue por sua família, mesmo assim não conseguiu. Os amantes desafortunados foram por água a baixo."
Então me vejo dizendo coisas que nem me lembrava, durante minhas conversas com Prim, com Finnick e enquanto eu dormia. Algumas delas eu dizia para Grease Sae.
" Esse é nosso mundo? Eles não são só mais alguém, eles são gente! Eu me olho no espelho tentando não lembrar de todo meu terror. Tento ver eu mesma, sem os jogos. Eu tentei salvar minha família e olha o que aconteceu. Eu fui a garota que estava em chamas. Eu era os amantes desafortunados, será que eu realmente queria que ele fosse? Ele se foi. Vejo essas marcas e lembro dela, deles. Eu tento entender, a peça que não se encaixa, essas mãos cheias de sangue, pessoas sabendo de mim mais que eu. Meu coração batendo forte e quase não batendo. Eles tentam me destruir com Peeta na mão da Capital, mas eles conseguem. Porque vocês me salvaram!? Eu disse Peeta! Não eu! " todas as frases, a dor, quem eu era e quem eu sou.
Até hoje eu tento entender como vim parar aqui. Quero saber porque eu estou assim. Ainda me olho no espelho tentando entender as coisas mais simples que eu não consigo desenrolar. As cicatrizes das queimaduras se apagaram, a não ser duas, e elas são suficientes para me fazer chorar. Não pela feiura física, mas pela lembrança que elas carregam.
Uma pontada forte me atinge nas costas, na primeira cicatriz, depois ela percorre por todo meu corpo. Atinge a cabeça e depois o abdômen. Chega dentro do estômago, depois desce e fica mais forte. São facadas como as de Clove. Como seu eu tivesse levado aquele tiro que Rue levou com a lança de Marvel. Ouço Peeta falar e me fazer um questionário. Percebo que estou agachada, com as mãos apertando a barriga as lágrimas escorrendo e arquejando de dor.
— Peeta! O bebê! — grito.
— O que você sente!? — sua voz fica mais desesperada ainda.
— Dor. Muito forte, como se tivesse atravessada por uma faca. — tento respirar fundo e levantar, mas já é tarde para algo acontecer.
Peeta me carrega até um divã. Milhares de pessoas se preocupam e nos cercam, Effie abre espaço e chama um médico o mais rápido possível.
— Peeta... — estou quase perdendo a consciência.
Se eu morrer eu quero ter visto Peeta comigo pela ultima vez.
— Estou aqui. — ele diz apertando minha mão.
— Fique comigo... — sussurro perdendo a voz.
— Sempre. — diz ele beijando minha mão.
As palavras me deixaram sentir aquela sensação de conforto e proteção, pelo menos pela última vez. Estou vestida de uma camisola longa branca. Vejo uma neblina suave passar por meu rosto, ouço som de flautas e violinos. Meu nome está escrito em um compartimento dourado logo depois da sinfonia. Todos estão cobertos com tecidos leves brancos. Uma luz e uma paz imensa me perseguem como se eu nunca tivesse que sair dali. Só que eu ainda desejo ver Peeta. Mas isso não me deixa angustiada. Na verdade minha calma e paz é tanta que nem me lembro de como eu era antes. Vejo uma criança, uma menininha de olhos azuis e cabelos louros. Não é Prim, não é nenhuma menina que já vira antes. Ela corre na minha direção como se eu fosse a única coisa que ela quisesse tocar no mundo.
—Mamãe! — diz ela. — Queria te tocar pelo menos uma vez antes de morrer! Eu amo você. Porque você me deixou ir? Isso não importa, papai veio com você?
— P... Peeta? — gaguejo.
— Esse era o nome dele? Ah, que nome bonito! — ela parece tão feliz. — Eu não deveria estar desse tamanho, mas papai do céu disse que eu tinha morrido muito nova e precisava andar pelas nuvens. Ele é muito bom e justo. Que bom que Ele deixou você ficar comigo! Mas eu queria que papai estivesse aqui também...
Sinto uma dor inimaginável. Olho em minhas próprias mãos e as vejo sumindo aos poucos, mas a menina está olhando diretamente para mim, seu sorriso se desmancha e eles tenta segurar minha mão, mas ela não pode.
— Mamãe fica comigo! Não vai embora. – seu sorriso se converte em lágrimas.
— Me desculpe. Não posso mudar isso. — digo entre minhas próprias lágrimas.
Já não vejo mais aquele lugar e não sinto mais aquela paz, na verdade sinto dor. Estou em um lugar vazio e negro, sozinha, chorando. Ouço passos, vindos de longe. Agacho e abraço os joelhos para chorar. Sinto uma mão tocar meu ombro. Macia e delicada, apertando meu ombro com amor.
— Katniss! — diz ele. É a voz de Peeta.
— Peeta? — digo.
— Katniss acorda por favor. Só abre os olhos, eu estou aqui. Sempre estarei aqui. É só você abrir os olhos.
Acordo desesperada pulando nos braços de Peeta. Ele me beija e eu o respondo. Ficamos por volta de dez minutos assim, mas para mim ainda é pouco.
— Peeta, como está nossa filha? Está tudo bem com ela? — pergunto.
— Katniss... — ele faz uma longa pausa. Meus ossos tremem. — Fique calma.
— Peeta! Onde está nossa filha!? — começo a chorar de desespero.
Meu peito começa a queimar e a cabeça a latejar, o que me lembra muito que como eu me senti quando perdi Prim, e quando soube do Massacre. Quando Peeta foi levado. Quando ele voltou telessequestrado.
— Katniss, por favor. — Peeta não consegue ficar quieto, ele não guarda um segredo de mim. Suas lágrimas começam a escorrer. — Nós não teremos mais um bebê.


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