Quando Dois Mundos Colidem escrita por Marjorie Justine Alencar


Capítulo 3
É solitário andar por entre a gente


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não tem um video pra acompanhar, pois demorou muito pra ter cenas Cilano depois do primeiro beijo :/ Mas no próximo tem! Espero que gostem ;)



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Carrão saiu para seu camarim, de início com ar mais sério, outro dia de trabalho, normal. Aos passos que ia dando até o camarim, com a cabeça gradativamente se erguendo, foi mordendo o lábio, e sem perceber, sorrindo. Colegas passando por ele no corredor, e ele rindo. Chegou no camarim, tinham mais dois colegas ali, mas mal olhou. Procurou um canto mais reservado, foi ler de novo as cenas dadas para ele, ainda sorrindo. “Droga, nenhuma cena de beijo com a Isabelle. Mal tem cena com ela.” Sorriso sumiu um pouco do rosto.

Deitando-se num sofá no canto do camarim, ficando com a cabeça de costas para a porta e para os colegas, Carrão relaxou. Colocou as cenas no próprio peito e voltou a sorrir. Não tava pensando em uma piada, e nem deu vontade de sorrir, é que quando você tem algo que transborda em você, algo bom, felicidade, era isso, trazida por um momento, ela derrama pela face, dá brilho aos olhos e mais dentes ao sorriso. Era inevitável. Não raro alguém andando na rua lembra de um desses momentos, e mesmo estando no seu pior dia, sorri, sem notar, dia fica mais bonito. Carrão estava lembrando de um desses momentos.

– Cara, que cê tem? – falou Malheiros, que foi pegar sua mochila perto do sofá e percebeu o sorriso – haha você está rindo abraçado as falas. Tem coisa boa aí é? Engraçada?

– Rindo? Eu não to rindo – falou um Carrão com um sorrido de orelha a orelha.

– Haha tá rindo sim, vai lá, conta a piada.

– Tem piada nenhuma, não to rindo mesmo, que isso – ele falou tentando não sorrir, pressionando os lábios um contra o outro – agora me deixa que tenho umas cenas para amanhã.

– Tá, fica aí rindo sozinho.

Carrão não resistiu, sorriu, estava feliz. Fechou os olhos pretendendo fingir que dormia, só para lembrar mais daquilo que provocava esse riso eterno. A sensação de que uma descarga elétrica transpassava seu corpo voltou, não com a mesma força, mas ele sentiu, efeito retardado do beijo. Em nenhuma cena antes tivera aquilo, de repente era a oportunidade, ia beijar a menina. Mas, ele tocou os lábios dela e isso o dominou, alertou cada célula dele. Curiosamente, a descarga elétrica desligou seu cérebro, pois por um instante Carrão era quem beijava a Cida, ou será que a Isabelle não estava participando? Ele sentiu algo da parte dela, seu sorriso aumentou, ela estava abrindo mais os lábios...quando Jayme resolveu lembrar que aquilo era uma cena de novela.

Já na hora ele percebeu que não fora o único a sentir algo mais com o beijo, o jeito dela depois, olhou para ele com um brilho nos olhos. “Ela tá afim, não pode ser que não. Haha, isso mesmo Carrão, menina cresceu e tá afim”. Ele abriu o olho e levou um susto, que tirou seu sorriso. Olhando para ele estava um dos maquiadores da novela, o mais gay.

– Hummm queria saber o que se passa na mente de alguém que abraça as próprias falas e com sorriso de bobo e olhos fechados. – ele falou olhando para um Beto já sentando no sofá. – Vamos lá querido, desconverse e diga que tava pensando em mim, e não em alguma colega daqui, porque esse seu jeitinho não nega que era soinho boooom hahahaha.

– É...bom, você sabe que não sai da minha mente – Carrão piscou, e sem graça se levantou, pegou a mochila rápido, mas não a tempo de se livrar de escutar.

– Sonha comigo querido, quero saber os detalhes amanhã. – falou o maquiador, um tipo alto, cerca de 10 cm a mais que Carrão, de regata roxa, mostrando bíceps e peitorais malhados e bronzeados, uma calça justa cor vermelho escuro, o cotovelo esquerdo apoiado no braço direito, segurando um pincel de maquiagem perto do rosto, rindo. Ele era um tipo loiro de cabelos cacheados, mas de tão curtos mal se percebia, com luzes, olhos azul esverdeados claros, de deixar qualquer um Rosa Chiclete. Disse tudo isso na frente do pessoal do camarim, que riam da cena. Carrão se juntou a brincadeira.

– Pode deixar. Se for muito pesado, peço para as crianças saírem da sala – Carrão disse apontando os colegas que riam ,e saiu até o estacionamento, esperando ver alguém no corredor. Mas a pessoa já tinha ido.

Ele entrou no carro, pôs o cinto...e sorriu. Foi assim que ele passou pelo caminho de casa. Entrou, deu um beijo na mãe, sentou no sofá e resolveu relaxar. No dia seguinte tinha trabalho da faculdade, mas antes ele podia fechar os olhos de novo, e lembrar. Quando que ele ia imaginar que a Isabelle um dia ia fazer isso com ele. Já admirava ela, todos na empresa amavam. Mas agora, ele tava começando a enxergar mais.

Isabelle acordou, tinha que ir trabalhar. Amou o trabalho novo, a novela tava exigindo muito dela, e isso a ajudava a enfrentar mais sua timidez, mas depois de ontem, talvez não fosse uma boa idéia.

Ela sempre soube separar bem real de ficção, mas no meio do beijo de ontem. O que foi aquilo? Tá que o garoto fazia muitas das amigas suspirarem, até ela já havia se encantado, mas pela fama de namorador dele, bom, nunca foi opção. E ela grava aquela cena, ele dando tantos sinais de que tava interessado nela. Como não resistiu? Não sabia o que aconteceu. Ela estava lá, a cena rolou como deveria, e foi aos finalmente, mas ele a puxou, algo como que esquentando o sangue nas suas veias e amolecendo os seus músculos passou pelo seu corpo, ela teve vontade de abrir os lábios, e abriu. Sorte a sua que antes de mais nada a cena teve o fim com o Jayme a puxando. Não tinha duvidas, de agora em diante teria de se vigiar com o beijos, controlar cada um. Ainda mais com Carrão.

Mas se era algo tão ruim, por que vinha uma vontade de sorrir quando lembrava? A sensação boa do beijo, ela tinha vontade de ficar lembrando para ter de novo. Nenhum dos namoradinhos escondidos dela conseguiu isso. Nem parceiros de ficção, ou seja, Miguel. Sorte que não teriam mais cenas de beijo tão cedo com o Carrão. Sim, pois assim que ela saiu da cena, com a novata do lado, menina simpática, ela foi ao camarim pegar as falas, e confirmar o que já havia percebido antes, tão cedo Elano e Cida não ficariam juntos. Assim como quando percebeu isso no camarim, Isabelle suspirou. Isso era bom, dava mais tempo para estar preparada para ele. Até lá beijaria outras vezes os outros parceiros de cena. Mas, e se nem tivesse outra vez? No workshop não ficou bem claro com quem Cida fica. “Melhor assim”, Isabelle voltou a se enganar e plantar na mente que uma situação que não a agrada, por ferir menos, era a melhor para ela.

Se arrumou e sua mãe deixou ela no serviço. Chegou quando tinha gente ainda lanchando na cafeteria. Carrão não havia chegado, ele fazia faculdade de manhã, alguém contou para ela. Foi até a mesa do maquiador que ela mais gostava, Cássio. Ele estava sozinho, era um tipo difícil de as pessoas se agradarem, só com Isabelle ele era mais simpático, um fofo.

Ela se aproximou e colocou as mãos tampando os olhos dele.

– Humm...mãos delicadas, cheirinho de bebe, e virgem, é a Belinha – ele disse a ultima parte mais baixinho.

– Para, nossa. Ó parei com você – Isabelle disse se fazendo de indignada. Por mais que não gostasse das pessoas debatendo sua privacidade, sabia que ele falava de forma amigável.

– Ai Flor, tu sabe que disse isso porque te amo. Do contrário teria mandado você enfiar essas mãos...enfim – ele disse sorrindo para a menina, ali em pé, com aquele sorriso e olhos brilhando. – Menina, como você está linda hoje, nem vou precisar te maquiar. Vai assim, de mulher feliz gravar, nem vão notar sua cútis quando verem essa pele corada, sorriso largo e esses faróis nos olhos. Hummm, acho que você não tá com cheirinho de bebe, é bofe! Hahahahaha

– Paara – ela disse dando um tapinha e ficando mais séria, enquanto colocava o celular novo em cima da mesa, e a bolsa na cadeira do lado – nada a ver, só to animada com o trabalho, e por ver alguém que gosto tanto. – Ela se voltou ao celular para postar uma foto para os fãs no twitter, e ver como estavam suas redes sociais.

– Ih, vai ficar de bode comigo? Para você – ele pegou o celular dela – não quer falar, não fala. Mas você vir com esse vestidinho florido, sandalinha mais altinha e dando saltinhos, tem todo um significado, que só meu radar consegue captar! Hahahah Mas se não quer falar, amor, não precisa... – ele foi interrompido, uma garota novata sentou na mesa, tirou a bolsa da Isabelle da cadeira (licença, posso tirar?) e sentou ali com eles.

– Oi, tava te procurando Isabelle. So meio nova aqui (Cássio rio quando escutou nova), não tenho coragem de ir nas outras mesas.

– Que isso Chandelly, pode sentar aí com a gente. Você já pegou algo para lanchar? – falou toda amável. Cássio tinha tanta ternura por aquele ser, como ela era ingênua.

– Não, tava tentando me animar. Você vem comigo?

– Sim, só espera eu guardar meu celular. Devolve, Cássio?

– Sim bebê – ele devolveu para a Isabelle com um olho na querida, e o outro da bendita intrusa.

– Nem sei o que pegar, noooossa, isso que você tá comendo é o que? Tudo isso em cima é Kétchup? – perguntou apontando para o prato do Cássio, um calzone com bastante molho, que ele gosta bem apimentado.

– Não – ele olhou com um sorriso irônico para a “menina” – meu lanche tá menstruando.

Isabelle não resistiu, deu um gritinho de riso, amava quando ele aprontava das dele. Chandelly, deu um meio sorriso e já foi saindo. Isabelle se virou para segui-la. Esbarrou em Carrão. Ele estava ali perto deles fazia um tempo, esperando ela se levantar. Quando viu ela se levantar, pensou em seguir o mesmo caminho, ir comprar algo, mas ela demorou. Ele chegou nela antes de conseguir fingir que andavam no mesmo caminho. Mas a tempo de ouvir o risinho dela, achou meigo.

– Opa – ele disse rindo, aquele sorriso que não saía desde ontem – oi.

– Oi – Isabelle engoliu em seco – vou lá comprar algo, licença e desculpa – ela saiu bem rápido.

Carrão ficou decepcionado. Saíra mais cedo da faculdade. Deixou professor e uma ficante esperando, precisava ver como dispensar ela, só para chegar mais cedo e ver a Isabelle, e ela nem notou que ele estava ali. Ainda fugiu quando ele chegou perto. Ele queria saber como ela se sentiu com a cena de ontem, mas ela pelo visto nada percebeu.

Ele pensou isso parado, do jeito que a Isabelle o havia deixado quando acompanhou a garota nova. Quando saiu de seus devaneios é que ele notou, na sua frente, sentado com um meio calzone cheio de Kétchup na boca, e uma sobrancelha arqueada sob um olhar cheio de zombaria, o maquiador de ontem. “Droga”.

– hummm... – disse o maquiador, botando o restante do calzone no prato, limpando a boca e falando ainda mastigando – ainda sonhando, to vendo que o sonho foi bom ontem. – ele falou olhando pro Carrão, e depois na direção da Isabelle.

– É, beleza então, vou nessa – Carrão deu um aceno e saiu. Já era o suficiente por hoje. Ia pro camarim manter o papo de que precisava pesquisar mais sobre advocacia e passar texto com colegas.

Cássio rio do garoto. “Tadinho, já vi tantos com essa carinha para a Isabelle. Mas, dessa vez, ela pareceu mais abalada, quem sabe.” Ele observou a amiga voltando com a metida. Não sabia se era seu signo de escorpião gritando com seu instinto que aquilo ali não ia prestar, mas não gostou daquela aproximação forçada. Elas sentaram, sorrindo.

Isabelle olhou na direção que Carrão saiu. “humm ela viu para onde ele foi, tava prestando atenção no menino. Que lindinha o meu bebê”.

– Não é estranho isso? Carrão aqui? Ele não tinha faculdade pela manhã? – falou Isabelle, pela primeira vez, interpretando muito mal.

– Sim, muito estranho. Mas foi pro camarim, tão murchinho, parecia ter vindo mais cedo para conseguir algo, e não conseguiu. – Isabelle olhou o amigo com cara de disfarçada interrogação. Chandelly nem olhou, estava com um calzone cheio de Kétchup indo garganta abaixo.

O fato é que Isabelle não gostou do claro sexto sentido do amigo. Puxa, ela achou que tivesse sido bem controlada até. Quando viu ele, o estomago deu duas voltas. Ainda mais assim perto, correu para longe, como se fosse algo normal. Ela nem havia visto ele perto, até porque, tinha certeza que ele não estaria. Agora já era, melhor ele não ter percebido. A ultima coisa que ela queria, é ter mais um colega de cena confundindo as coisas. Isabelle suspirou, e começou a comer sem vontade o lanche, observada pelo amigo. Que pegou um gole de suco, e suspirou depois da menina.


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