Quando Dois Mundos Colidem escrita por Marjorie Justine Alencar


Capítulo 2
Amor é fogo que arde sem se ver


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! :)

Vídeo que acompanha
http://globotv.globo.com/rede-globo/cheias-de-charme/t/cenas/v/cap-1604-cena-cida-flagra-traicao-de-rodinei/1906739/



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Isabelle sentia um misto de alegria e nervosismo. Queria muito uma oportunidade como esta, um protagonismo. A personagem lhe agradou muito, afinal era alguém muito parecido com ela, sonhadora. Por mais pé no chã que fosse, e por mais que tenha sido obrigada a aprender e crescer com os percalços da vida e da profissão, ainda tinha um lado seu romântico, que esperava por aquela pessoa que fosse seu príncipe encantado, como ela mesma tinha já dito em entrevista, ela aguardava e acreditava sim em uma pessoa que fosse aparecer e modificar toda a sua vida apenas com um sorriso. Claro que naquela entrevista ela era mais nova e esperançosa, hoje alguém que não a magoasse e tornasse sua vida ainda mais complicada já era bom.

Carrão estava feliz, depois que terminou o namoro muita coisa mudou, principalmente na questão profissional, estava vendo que valorizavam seu trabalho, e isso era a realização de um sonho. Saber que está fazendo bem o seu serviço o animou a seguir na profissão, e aceitar o novo trabalho. Afinal, depois de viver um carinha gente fina em uma novela das 19:00, que lhe rendeu mais que elogios dos colegas e chefes, mas também amizades com artistas que admirava e muitas fãs, algumas mais atiradas. Sentiu que estava indo muito bem, tanto do profissional quanto no sentimental. Aprendeu bem a lição quanto a namoros, é melhor evita-los. Tinha quase certeza que não teria quem conseguisse prende-lo, lhe limitaria muito. Ele tinha muitos projetos para si, como desde pequeno, não conseguia se ver a fazendo uma coisa só! Ele queria ir longe, voltar a Espanha, fazer cinema, teatro, tocar com a sua banda. Muito poucas garotas entendiam este seu espírito, a maioria curtia o momento e depois eles perdiam o encanto.

Carrão tinha quase certeza que não encontraria alguém que conseguisse prende-lo, teria de ser alguém igual a ele e que aceitasse viver seus sonhos. Não aceitaria alguém diferente, e sabia que não se interessaria por alguém assim. E enquanto isso, aproveitava para se divertir com os amigos, o que não abriria a mão por nenhuma namorada, isso aprendera cedo, não valia a pena.

Quando recebeu o convite para fazer o papel de destaque de um dos irmãos de uma protagonista, e ao mesmo tempo apaixonado por outra, ficou muito animado, afinal a proposta da novela era inovadora, e o personagem era diferente de tudo o que ele já tinha feito. Ele seria um advogado, poderia tirar umas dicas com seu irmão, ia ser o apaixonado bobalhão e não correspondido, diferente dos outros galãs que fez. O ruim é que certamente não seria o par da protagonista, que para sua alegria era Isabelle. Se lembrou do dia da entrevista, a menina que já mostrava para que veio. Ele riu quando soube que ela faria par pela terceira vez com Miguel “Coitado, como deve sofrer. Por mais que queira se livrar de eterno par dela, e de algum sentimento, sempre retorna a fazer par romântico, parece maldição”, pensou consigo na época. E agora ele seria o par dela, o primeiro par diferente desde que deixou de ser Emilia. “Apesar de que, são três os pares, e eu sou o mais improvável de terminar com ela, uma pena” Carrão estranhou o pensamento que acabara de ter, e resolveu focar do texto dos primeiros capítulos que acabara de receber.

Chegou na parte que atuaria com uma das artistas que mais admirava e seria sua irmã, e foi para a parte em que teria cenas com Isabelle.

– Oba! – saiu sem querer, quando ele leu que a Cida beijaria Elano.

Carrão fechou os capítulos e foi procurar algo para comer na cozinha, estava com fome, e talvez um iogurte ajudasse a tirar os pensamentos estranhos sobre Isabelle que acabava de ter.

Isabelle compareceu animada para seu primeiro Workshop de CDC, não conseguia tirar o sorriso do rosto, ia trabalhar com pessoas queridas que conhecia há muito tempo, tia Anastácia, e com estrelas que admirava, como Taís e Cacau. E por fim teria par romântico diferente. Algo que também a deixava nervosa. Até onde sabia teria três pretendentes na novela, e era ao redor do drama com um deles, o príncipe, que seu drama se estendia. Conhecia os atores de vista dos corredores da empresa. O Faro tinham pinta de galã, ao menos agia como, e parecia simpático, e tinha sempre uma namorada para desfilar. Carrão ela lembrava dos boatos de corredor, depois que terminou com sua ex-colega de trabalho, andou mais solto, mais concorrido para trabalhos. Lembrou de como a ex-namorada dele parecia feliz com seu namorado atual, nem se atrevera a mencionar o fato de ter conhecido os dois juntos, ou querer saber o porque do fim do romance. Já o cara parecia ter visto a vida de solteiro como uma benção, tinha fama de pegador nos corredores, mas desses calmos, que não fazem alarde. Apesar de reservado, ele ainda era pego por paparazzis, coitado, detestava quando tentavam vigiar a sua vida, imaginou como devia ser irritante para ele também. E, agora lembrou, tinha o terceiro, o que seria namorado dela desde o inicio da novela, o Jayminho. Sempre muito simpático com ela em Cordel, todos eram, Isabelle sempre virava a queridinha dos bastidores das novelas. A maioria ainda via a menina, e agora, sentiu um frio na barriga, veriam ela num papel mais adulto, mais dono de si.

Isabelle estremeceu com o que pode perceber dos capítulos que já leu, já na primeira semana de novela ela beijaria os três pretendentes. Sendo que o Carrão seria o já no primeiro dia, e depois não veria mais. Porém, era o que mais a preocupou, não por quem se tratava, Isabelle era indiferente ao garoto, mal olhava para ele nos corredores, e quando tinha alguma festa da empresa em que eles fossem, não trocavam mais de duas palavras. Sua preocupação é que sua personagem agarrava o dele, e beijava, uma audácia que ela ainda não teve de mostrar em outros papéis, mas sabia que tinha. Diferente do que pensavam dela, Isabelle já não era mais uma menina.

Entrou no workshop, sentou com colegas e passou a assistir as apresentações, eram muitas pessoas novas, e aprendeu muito sobre estrelas ascendentes. Viu que tinham muitos colegas novos, muitos vindo de um projeto Clandestinos, o que achou ótimo, admirava o trabalho feito por eles, e achava o apoio a estes artistas um avanço. Todos se levantaram, fora chamada para um grupo com a diretora e os personagens principais, com os quais trabalharia diretamente.

Carrão viu a menina entrar e buscar um lugar perto de colegas já conhecidos dela, percebeu que ela já tinha alguma amizade com um dos atores que faria par com ela. Ele achou o workshop interessante, mas como não tinha relacionamento direto com seu papel, mesmo a parte sobre advocacia, pois sabia bastante sobre o assunto graças ao seu irmão, estava interessado em irem falar mais dos personagens e envolvimentos, as primeiras cenas. “Enfim acabou”. Se levantou e aplaudiu, depois viu onde era o local da reunião do primeiro grupo de discussão do núcleo que participaria.

Chegou lá e já viu a Isabelle do lado de Jayminho, todo sorridente para ela, as demais protagonistas o outro par da Isabelle e outros personagens que agora não lembrava bem. Carrão cumprimentou todos com um aceno, a apertou a mão dos colegas já conhecidos. Todos foram se sentar, mas antes que conseguisse um lugar perto de Isabelle, Jayminho e Faro, além de uns colegas amigos dela, já estavam lá! “Ao menos Miguel não está na novela” pensou consigo mesmo, e se percebeu irritado. Sentou umas duas cadeiras atrás, e passou a sua atenção para os diretores e autores, reclamando mais uma vez da sua maldita indecisão “podia ter ido mais rápido, sem tanto medo, estaria do lado dela”.

Os atores se animaram com a boa vontade dos autores e dos diretores. E passaram a tratar de cada personagem, Carrão se animou com o seu, a visão dos autores sobre ele era muito legal, e viu que seria não um desafio, mas agradável fazer, sem mencionar que pelo visto teria muitas cenas com a Cida. Isabelle se encantou com sua personagem ainda mais, mas não gostou dos pares, realmente de todos o melhor parecia ser o Elano, que era quem nunca traria a Cida. Encerrada a reunião, foram passadas as datas das gravações externas e das nos estúdios. Carrão viu que teria algumas cenas externa a serem gravadas já em março, sorriu. Antes dessa gravação ainda tinha a principal, a primeira deles, a do beijo!

Tiveram mais reuniões antes das gravações, em uma delas as empreguetes se apresentaram vestidas a caráter, o suficiente os concorrentes da Cida babarem. Carrão estava impressionado, ela parecia se encaixar com perfeição no papel, era muito nova e inocente como a Cida, mas com força para lutar também, claramente estava tímida naquelas roupas, mas fez tudo como orientado pela diretora e deu seu melhor.

Pouco conseguiu conversar com ela até a gravação do primeiro encontro deles, tudo estava corrido, e ela era bem arredia, por mais animada e extrovertida que ela fosse com seus colegas mais antigos e os mais engraçados, com Carrão ela sempre olhava mais retraída, desconfiada, quando olhava. Fez nascer nele duas duvidas, ou a sua ex-namorada pintou um péssimo quadro sobre ele, o que duvidava, ou ela o estava evitando porque não gostava dele, ou gostava muito dele, Carrão sorriu de novo.

Isabelle estava nervosa. Já tinha gravado algumas cenas nos estúdios, mas aquela era a mais difícil para ela, afinal ela teria que ter mais audácia, e nem sabia como. Quando era com alguém que se conhecia era fácil, mas como discutir e fazer a cena com uma pessoa que mal conhece? Tá certo, as cenas com o Faro foram até que fáceis. Respirou fundo, o Carrão olhava de jeito estranho, mais do que quando percebeu ela observando ele com a namorada na entrevista, Isabelle passou a mão no pescoço nervosa. Ele vinha tentando se aproximar, ser simpático e conversar, ela sempre respondia com monólogos. No dia anterior foi o pior:

– Oi? – chegou Carrão na mesa do lanche em que ela estava com Jayme.

– Opa parceiro, tudo bem? – respondeu Jayme no mesmo tempo que Isabelle disse um fraco oi, e voltou a olhar a comida.

– Oi...amanhã tem a nossa primeira gravação juntos, certo? Alguns tem feito passagem de texto, não sei se vocês vão fazer. – ele perguntou olhando para Jayme desinteressado e uma Isabelle curiosa.

– É, com alguns já fizemos, mas geralmente é na hora ali com a diretora, só para ter certeza. – Isabelle respondeu na sua forma decidida e sem deixar duvidas.

– É cara, se bem que talvez fosse uma boa, tem cenas muito corridas. Poderíamos chamar a Chanelly – “Chandelly” corrigiu Isabelle – isso mesmo, e tentar.

– Uhum, marcamos para chegar mais cedo amanhã? – perguntou Carrão mais animado e olhando para Jayme, evitando o olhar de Isabelle.

– Eu não posso, já vou ter gravação amanhã com Faro. – respondeu ela, ainda decidida, não sabia como, um alarme apitou na sua cabeça com a possibilidade de ensaiar um beijo com o Carrão, mesmo que não fosse mesmo ter o beijo. Afinal era um ensaio, teria o beijo?

Ele a olhou de forma estranha, teria percebido que ela estava evitando? Se bem que era verdade, não poderia ensaiar se já teria outra. Tentou perceber pelas feições dela se tinha medo ou rejeição nos olhos quando falava com ele. Mas não conseguiu, o que era raro, era bom observador. Mas a menina era boa em fingir o que sente, ou ele não quis perceber a rejeição.

– E hoje mais tarde também não dá? – perguntou para Jayme que pensou um instante.

– Acho que não, porque eu tenho gravação, e não faria sentido ensaiarmos separados, afinal, o principal é a nossa briga – deu uma risadinha – você mesmo só ganha o beijo e depois apanha.

– Ah – Carrão riu olhando para baixo, para a mesa – isso é verdade, mas é o meu medo – Isabelle olhou para ele meio surpresa – vai que você me acerta, sabe que é difícil desviar do meu nariz – ele riu, acompanhado de Jayme e de uma risada contida dela, que colocou a mão na boca – coloca a mão na boca não, você tem um sorriso bonito. Vou lá então, amanhã antes da cena trocamos uma ideia.

Carrão saiu da mesa, deixando um Jayme risonho, e uma Isabelle distraída. Belo sorriso, todos diziam isto, mas, não é ele que acha um sorriso que enche o ambiente algo que o conquista?

– Vamos lá Isa, hora do lanche acabou – disse Jayme se levantando e olhando ela sorridente. “A não, outro Miguel”

Dia seguinte, hora de gravar a ultima cena com aquele bendito vestido. E a primeira com Carrão. Suspirou e saiu do camarim, encontrou ele no corredor.

– Vamos lá? – perguntou ele sorrindo, olho brilhando. Isabelle deu um meio sorrido de volta e disse sim com a cabeça e baixinho.

Encontraram Jayme e Chandelly já na cena. Ela era uma menina bem animada, parecia simpática com todas, buscando ser amiga. Ficava sempre perto dos mais divertidos. Como o namorado dela era, um tipo alto que as vezes aparecia na gravação já fazendo piada.

– Ok gente, a cena é simples, nem vamos perder muito tempo, um take só vai servir! Cida, entra e para observando o trabalho do Rodinei. Ele vai ter feito a cena dos grafites e a Brunessa vai dançar de forma sensual para ele, certo Chandelly? – a diretora falou olhando para a pernambucana com sotaque carioca e que nasceu em Minas Gerais – você sabe o que fazer. Cida chega e vê eles, briga, e Brunessa puxa ele para um beijo. Cida separa os dois. Rodinei tenta se explicar e você Chandelly, já vai alfinetando ela de jeito mais debochado – a diretora sorriu para a menina e depois para o resto do grupo – Cida procura alguém se vira e encontra Elano, que só vai estar curtindo a musica desde o inicio da cena, distraído – Carrão sorriu, a cena nem começou mas a narração já o estava animando. Olhou para Isabelle que o olhava e desviou logo para a diretora. Ele murchou o sorriso “idiota, que ninguém tenha percebido” – isso querido, faz cara de bobo – “ótimo, a diretora percebeu que estava apenas antecipando minha interpretação” – Cida o beija, Rodinei assiste um instante surpreso, se irrita e afasta os dois, jogando Cida para trás, que já vai na direção de Brunessa e Rodinei dá um soco em Elano, que vai estar olhando Cida e nem percebe o que vem na sua direção. Depois disso, cenas de brigas, todo mundo batendo um no outro.

– Ok, vamos lá! – Disse Carrão, ninguém respondeu – ainda não?

– Sim, sim! Todo mundo nas marcas – gritou a diretora – fingindo que estão ouvindo D2!

Carrão foi para sua marca. Isabelle foi para a sua. Entrou no personagem. Quando ela encara uma cena ela faz questão de esquecer o que Isabelle sente, e foca no que a personagem sente. O que para Carrão não parecia funcionar. O que um cara curtindo uma musica sente, antes de ser beijado?

Ele tentou pensar em carneirinhos, e um deles pulava em sua direção e vinha de vestido beijá-lo. Parou, tinha que se concentrar, ela já entrou, passou na frente dele e fez a cena com Rodinei, não resistiu, ao menos escutou ela xingando Jayme. Gostou dela falando “seu palhaço” indignada, com sotaque carioca. A concentração e vontade de não se distrair era tanta, que nem percebeu o seu colega do lado tentando interagir na cena com ele, chamando ele para dançar, mais distraído. Ela estava se virando “Olha para cima Carrão, ela vai te pegar de surpresa. Você está curtindo a musica, que, para ajudar, não está tocando. “Assim fica difícil”, frio na barriga, olhinhos brilhando. Sentia que nem o meio sorriso conseguia esconder.

Isabelle seguiu a cena, olhou para os lados, frio na barriga, foi até Carrão, puxou ele para dar um beijo. Mão gelou, ele puxou a cabeça dela para o beijo, não estava escrito que ele continuava o beijo? Não era só ela que agarrava ele, que ficava surpreso? Ele a beijava de volta? Ele passou o braço por trás de sua cabeça. Ela suspirou, quando estava começando a gostar Jayme a puxou forte. Ela saiu meio surpresa ainda, e com um sorriso, que a personagem exigia, obviamente, pois ela tinha se vingado de Rodnei. Carrão e Isabelle trocaram olhares depois do beijo, afinal Elano ficava parado olhando ela, certo? E ela também, mas Chandelly chamou Isabelle pois tinham a cena da briga das duas, fazendo ela voltar para a cena da Cida, enquanto um Elano, interpretado por um Carrão feliz, apanhava de um Rodinei.

Carrão não via a hora das próximas cenas, e as externas. Diretora gritou informando o final da cena, elogiou todos, disse que foram bem, principalmente os novatos. Ele deu um sorriso largo e um aperto de mão em Jayme, olhou para Isabelle. Ela estava com a novata, nem olhou na sua direção. Já saiu para o camarim. Ele quis ir atrás, mas teve receio. Ficou ali, melhor esperar.


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Notas finais do capítulo

(...) Que dias há que na alma me tem posto Um não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como, e dói não sei porquê. ...porque o amor é assim mesmo... Sente-se...apenas!



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