Eu não conseguia falar, eu estava cansada demais pra dar uma de rebelde, então apenas dei as costas de volta pro meu quarto ,lá eu desabei na cama, e comecei a chorar, até dormir. Acordei umas três horas depois, com o marido da minha mãe em casa, me xingando em alto e bom som, qualquer vizinho podia ouvir aquilo, e a partir do momento que eles sabiam sobre minha automutilação, se afastavam de mim, e diziam palavras de consolo pra minha mãe, e de repulsa para meu padrasto. Eu não era um exemplo de filha, e todos adoravam passar isso na minha cara, e mostrar pra minha mãe que qualquer pessoa podia ser melhor que eu.

Uma pequena lembrança veio, sobre o real motivo para eu odiar minha vizinhança...

“ Quando chegamos nessa vizinhança eu tinha dez anos, houve uma festa de boas vindas, feita por famílias que residiam, haviam uns oito a dez casais, todos muito felizes e perfeitos com seus filhos lindos e perfeitos, que esbaldavam de riqueza, beleza, inteligência e atletismo, e meus pais comigo, uma garota desengonçada e estranha, ouvi risos e comentários maldosos sobre mim assim que entramos na enorme casa principal, mas eles foram adoráveis com meus pais, e as crianças não queriam brincar comigo, e riam por eu não saber falar alemão e perguntavam se podiam pintar meu cabelo de loiro, como o delas e riam do fato de eu não poder fazer isso. Eu não queria estar ali, e falei para minha mãe, mas ela mandou eu ser paciente, e me enturmar, fiquei sentada atrás do sofá escondida de todos ate a festa acabar, assim que todos foram saindo, me levantei e fui pra perto dos meus pais, eles me olharam com uma cara emburrada e depois fomos embora. Minha mãe quando chegou em casa ,já reclamando por eu ser tão antissocial e não ter feito amizade com nenhuma criança, nem alguma família, que eu não tinha sido criado daquele jeito e que todos eram muito simpáticos . Fui pro meu quarto, e comecei a me culpar sobre não ser legal o suficiente para fazer amizades. Nesse dia eu sabia que nada seria igual, nada seria muito feliz naquele lugar, mas não só foi por esse motivo que eu comecei a ficar com depressão...havia muito mais, pra todos eu deveria ser mais agradecida, ser feliz pois eu morava em um bom lugar e estudaria em uma nova escola, onde apenas ricos estudavam, mas eu apenas era um ser vestido de preto andando por ai, e por esse motivo eu era dita como estranha, um ser não desejado. Aquilo era bem claro.”

Aquela lembrança me deu repulsa, e eu não queria ouvir as vozes na sala, coloquei os fones, e escolhi uma música no mp3 e fiquei assim por muito tempo, ate minha mãe entrar no quarto e me mandar comer algo. Na cozinha tudo era silêncio, nenhum ruído, sem ser o de garfos batendo nas porcelanas, assim que terminei, me levantei e fui em direção ao quarto, eu vivia lá, não tinha um lugar no mundo que eu ficasse mais que meu quarto, enquanto jovens da minha idade viviam em baladas ou lanchonetes com os namorados, eu viva no quarto trancada... ouvindo rock.

Depois de alguns dias em casa, havia chegado o dia de ir pra “escola de depravados” como todo mundo chamava, eu fazia parte de uma escola normal, com garotos e garotas normais, onde as pessoas eram lindas e ricas, desejadas e populares e tinha eu... o câncer da escola, não me enquadrava nos padrões, ate os nerds riam de mim, o que era estranho.