A claridade acertou o rosto de Bucky como um tapa. Ele abriu os olhos e se sentou na cama. Charlotte dormia tranqüilamente do seu lado, agarrada com seu animalzinho de pelúcia ela puxava todas as cobertas para si.

Charlotte era uma pessoa que lidava imensamente bem com as palavras. Se ela quisesse, poderia te convencer a fazer coisas ridículas ou até mesmo assaltar um banco com uma única frase. Bucky já havia formado sua opinião sobre ela. Ela despertava o melhor nele, o lado que ele jurava que o Soldado Invernal havia destruído. Ele gostava de ficar perto dela, a presença dela o acalmava e ao mesmo tempo o deixava eufórico por dentro.

Bucky não gostava disso, não sabia lidar com tal situação. Ele estava acostumado a não ter sentimentos, não se lembrava de ter sentimentos, e agora ele não fazia idéia de como controlá-los.

Por outro lado Charlotte tentava ao máximo manter uma relação profissional com o soldado, mas também não dava certo. Ela já dissera antes que se apega muito fácil às pessoas, e bem, Bucky não era nenhuma exceção. Mas era muito cedo para falar de amor! O último homem que amou tinha sido queimado vivo e ela ainda não tinha feito as pazes com a vida por isso.

Bucky pegou o controle da tv e o encarou por um momento. Ele era diferente do da tv de Charlotte, mas ela dissera que o botão vermelho ligava, bem, esse tinha um botão vermelho. Deveria funcionar certo?

§

WASHINGTON, D.C.

SHIELD-9:25 AM

Steve adentrou na base da SHIELD até então desconhecida por ele com passos largos. Estava irritado, não sabia porque havia sido chamado de última hora e não sabia dessa base até esse instante, tantos segredos assim brincavam com seu humor. Sam vinha logo atrás, sabendo tanto quanto Rogers.

O Capitão América se espantou quando viu que todos estavam presentes na sala de reunião. Dentre os melhores agentes da SHIELD, Natasha Romanoff e Clint Barton se destacavam no centro, até mesmo Nick Fury havia voltado da Europa.

_Há duas semanas começamos a monitorar os sistemas mundiais novamente, infiltramos agentes na HIDRA e, com sucesso, conseguimos as informações que buscávamos. A HIDRA possuí aliados poderosos e influentes, denominados Templários. –Phil Coulson prontamente se pôs a falar. Ele estava sério, parecia tenso.

Sam Wilson estremeceu, ele já ouvira histórias sobre esses caras da boca de uma velha amiga.

–Há três semanas atrás a principal base da HIDRA foi atacada e destruída, pilhas e pilhas de agentes mortos. Ontem foram descobertos mais 15 corpos de agentes em Viena. Uma pessoa está fazendo isso e essa reunião tem como objetivo colocar vocês em alerta –Nick Fury continuou, ele não era mais o diretor da SHIELD, mas parecia não ter se acostumado com essa idéia.

_Tudo bem, esse cara está matando nossos inimigos por nós. Por que ficar em alerta? –Barton disse.

_Porque não sabemos se ele é um aliado ou um inimigo –Coulson respondeu.

_Mas você não acha que poderia ser...-Steve foi interrompido.

_É muito pouco provável que seja seu amigo, Capitão –Maria Hill, que até então estava calada ao lado do Dir. Coulson, respondeu.

_Você deveria mandar algum agente para Viena, a fim de investigar –Natasha disse e Steve achou essa idéia genial, poderia não ser Bucky, mas ele queria procurar e provar que não era –Os corpos foram descobertos ontem, então a pessoa ainda está por lá.

_Creio que eu seria mais útil em Viena –Steve se apressou em dizer. Natasha lhe lançou um discreto olhar desconfiado. Ela sabia das intenções do Capitão América.

_Eu também gostaria de estar nessa missão Dir. Coulson –ela disse.

§

Já passava das 11h e Charlotte ainda dormia. Bucky estava ficando entediado de assistir televisão,e todos os programas eram em alemão, o que não melhorava nada.

_O que foi? –Charlotte murmurou irritada e sonolenta quando Bucky a acordou com um leve cutucão no ombro.

_Achei que você tivesse morrido –ele respondeu com um simples dar de ombros.

Charlotte se sentou na cama com uma cara de sono e olhou para a TV ligada.

_Mentira, é que você não tinha nada para fazer. E quem melhor que moi para te tirar do tédio?- ela deduziu com um sorriso convencido. Se levantou e em passos lentos foi até o banheiro e escovou os dentes.

A assassina levantou sua blusa na parte das costas e olhou no espelho, fazendo uma careta ao notar uma enorme marca roxa na região lombar.

_Merda –falou. Ela poderia jurar pelo reflexo do espelho, viu o soldado lançar um olhar preocupado. Mas era muito pouco provável. Charlotte preferiu acreditar que estava delirando de sono.

_Mas não se preocupe –ela disse mesmo assim –isso vai sumir logo (e acredite, ontem estava bem pior).

Charlotte havia recebido um soro quando sofreu os experimentos da HIDRA. Por conta das lâminas serem colocadas por baixo da pele e cortarem seus pulsos quando forem destravadas. Seu corpo se regenera mais rápido do que o de um humano comum.

Voltou ao quarto, pegou algumas roupas, se dirigiu ao banheiro e fechou a porta.

Charlotte saiu do banheiro trajando um vestido preto justo na parte de cima que destacava sua cintura fina, uma meia calça rendada atraía a atenção para suas pernas definidas e delicadas, e a ankle boot preta de cadarços aumentava alguns centímetros em sua estatura mediana.

Bucky não conseguiu não olhar. Que ela era bonita, o soldado sabia, mas ela estava irresistível.

_Nós vamos sair, tenho uns amigos a visitar –a moça disse fazendo um coque bagunçado em seu cabelo loiro.

{...}

_Tenho uma coisa para você –Disse Petrus Belshoff depois de cumprimentar Charlotte com um abraço esmagador e Bucky com um breve aperto de mão.

Petrus ficou meio receoso com a presença do Soldado Invernal. Como todo mundo, ele assistia noticiários, e sabia de toda a balbúrdia que aquele homem havia causado em Washington. Porém ele confiava na amiga, sabia que ela estava envolvida com alguma coisa, e provavelmente essa coisa traria benefícios aos Assassinos. Mas Charlotte era um ima de problemas, e ele jamais ousaria discordar dessa afirmação.

O homem de 29 anos indicou um sofá para seus visitantes se sentarem enquanto trazia vários papéis e uma pequena caixa em suas mãos.

_Como vão as coisas Petrus?

_Complicadas Charlotte –ele respondeu pesaroso –Como você sabe, a Ordem dos Assassinos em si foi dizimada. Poucos de nós sobreviveram, e menos ainda tentam fazer alguma coisa. Estamos recrutando e tentando nos reerguer aqui em Viena, Yerik Scherbítsky está tentando reanimar a Ordem russa, Jean Cook está trabalhando com mais alguns assassinos na Inglaterra, e Matteo Bertolazzo está realentando a Ordem italiana. E bem, temos você trabalhando nos Estados Unidos e na França.

_Nós vamos conseguir –ela deu um sorriso determinado. Charlotte conhecia todos que foram mencionados, e confiava neles. Todos seus amigos de longa data –agora deixe-me ver o que você separou para mim!

Petrus entregou a pequena caixa para Charlotte, que a abriu e olhou encantada para seu interior.

_É um relógio astrológico de pulso. Ele é maravilhoso.

_Foi mandado para você. Sem remetente. O que me intriga é que de alguma forma a pessoa sabia que você viria.

Charlotte ficou intrigada. Isso era, realmente, bastante estranho. Ela guardou o relógio dentro da caixa e pediu os papéis.

_Nós interceptamos de um templário há dias. Mas é praticamente indecifrável –ele disse.

Bucky se mantivera calado todo o tempo, ouvindo atentamente a conversa. Ele gostaria de ajudar, já que Charlotte o estava ajudando tanto. E ele sabia que ela praticamente deixou sua vida de lado para ajudá-lo. Era hora de retribuir o favor.

_Deus! Isso é uma criptografia impressionante! –A assassina exclamou admirada.

_Consegue resolver?

_Claro que sim! É só encontrar a Chave Criptográfica e...

_Ah desista! –Petrus a interrompeu –isso continua sendo grego pra mim.

Charlotte deu uma risadinha e se concentrou na criptografia. De repente a assassina ficou tensa, sentiu seu estômago congelar.

_Isso são planos para uma guerra –olhou séria para o assassino e o soldado –Uma guerra que foi encomendada há mais de vinte anos –lançou um olhar demorado à Bucky -E a HIDRA está envolvida nisso até o pescoço.