Depois de uma breve apresentação da minha parte, o soldado e eu partimos para o lugar onde eu vivia e treinava, só desse jeito eu consegui convencer o soldado a vir junto (o crédito deve-se à palavra treino).

A mansão de Hugo ficava em uma zona de grandes propriedades na cidade de Washington DC. Era inteira feita ao estilo provençal francês e sua decoração era inteira baseada no luxo exagerado de Luis XV.

Essa mansão fora feita para mim (praticamente rotulada com a minha nacionalidade), era assim que Hugo gostava de presentear as pessoas, você pede um cachorro e ele te dá uma casa. Eu sempre detestei isso.

Hugo era um homem excêntrico e se eu fosse descrevê-lo diria que era a versão fresca do Tony Stark.

Mostrei a casa inteira ao soldado, inclusive o porão.

Duas semanas se passaram e não trocamos nem três palavras ao longo dessas. Ele não saía da sala de treino, desconfio que esteja dormindo por lá também.

{...}

Acordei mais cedo que o normal e calcei minhas pantufas. Agora não vivo mais sozinha, então tive que abandonar algumas manias. Não posso mais dormir confortavelmente do jeito que vim ao mundo (afinal, as pessoas não nascem vestidas e se fosse para ficarem, elas não nasceriam nuas).

Levantei da cama e fui até o quarto de hóspedes ver se James estava dormindo bem. Abri a porta do quarto e entrei. Ele estava se revirando na cama e pronunciando palavras em russo, estava tendo um pesadelo.

_James- o cutuquei. Continuou dormindo. Balancei seu ombro direito de leve, eu estava ficando preocupada –Bucky!

Ele abriu os olhos e seu braço de metal voou para o meu pescoço.

_Bucky... por favor –implorei para ele me soltar. Estava ficando sem ar, minha cabeça começou a girar.

Seus olhos antes desfocados encaravam o nada, se voltaram para mim. Ele se deu conta do que estava fazendo e me soltou me olhando assustado.

Minhas pernas perderam a força e caí sentada com as mãos no pescoço. Levantei-me apoiando na cama.

_Não me chame de Bucky –o soldado disse calmo.

_Mas é seu nome! –exclamei.

Tentei tocar em seu braço de metal, mas ele o afastou bruscamente. Sentei na cama cruzando as pernas como índio.

_Teve um pesadelo?

_Lembrança -respondeu distante se levantando e saindo do quarto.

Bufei e o segui.

_Você ta com fome?-fui até a cozinha e gritei abrindo a geladeira. Ele não respondeu –Ok então, espero que goste de panquecas - disse para mim mesma.

Me concentrei no fogão e a preguiça me atingiu como uma 9mm. Desisti das panquecas e peguei um suco de laranja da geladeira mesmo.

–Hey, pode ligar a TV pra mim? –Falei entrando na sala segurando dois copos de suco.

Bucky ficou encarando o controle remoto.

_É só apertar o botão vermelho! Esse aí. Valeu.

Entreguei o suco ao Bucky, peguei o controle das mãos dele e coloquei em um canal infantil enquanto eu me jogava no sofá.

_OMG Bob Esponja! –exclamei alegre. Bob Esponja é e sempre será meu desenho favorito. Para falar a verdade, qualquer desenho é meu favorito. Porque eu amo qualquer desenho.

O soldado deu uma risadinha da minha criancice e sentou do meu lado me forçando a sentar direito.

Era a primeira vez que eu o via sorrir, e posso dizer, seu sorriso é tão bonito quanto o dono.

Terminei meu suco e coloquei meu copo na mesinha de centro onde o copo de Bucky também estava pousado.

Ele ameaçou se levantar e sair da sala, segurei seu braço e o forcei a deitar a cabeça em meu colo.

_Não vai treinar hoje –falei como uma criança enquanto acariciava os cabelos dele e olhava para seu rosto.

Bucky é um homen lindo, que faria até mesmo outro homem duvidar de sua sexualidade. Ri do meu pensamento.

Ele estranhou minha atitude e me olhou com dúvida.

_Eu estava pensando em te mostrar o mundo atual, sabe? Ou te ajudar a se lembrar de algo, você ainda não leu os arquivos que eu te dei!

Olhei para ele que ainda me olhava estranho. Outch! Ele estava estranhando minha ação de fazer carinho em sua cabeça. Corei.

_É que eu sempre quis ter um cachorro –tentei explicar e ele riu do meu constrangimento.

Fiquei olhando para a mesinha de centro onde meu livro repousava até eu tomar coragem de terminar de lê-lo. Ei! Livros!

_Você gosta de ler? –perguntei levantando e pegando a mão do soldado enquanto o arrastava pelos corredores até a minha biblioteca. Eu tive um ataque de risos quando ele quase caiu das escadas, e eu quase apanhei por isso...haha.

Era engraçado como eu adquiria intimidade rapidamente com as pessoas. Se eu te conhecesse hoje, amanhã eu já te daria apelidos e riria da sua desgraça por ter me conhecido...como melhores amigos fazem.

Abri a porta da biblioteca e corri até as estantes lotadas de livros procurando alguns da época de Bucky, talvez ele tenha lido algum, e talvez ele se lembre de algo.

Indiquei a poltrona que ficava no centro da sala, em frente de uma janela/porta que dava para uma sacada com vista para o jardim.

Peguei vários livros escritos desde 1.750 até 1.940 e os coloquei em cima do tapete, na frente de Bucky.

_Tó –falei colocando mais livros em suas mãos.

Saí da biblioteca e fui até a adega, onde não tinham só vinhos, mas minha coleção de Vodkas e Tequilas.

Eu estava com uma vontade imensa de sentir o álcool brincando com meus órgãos. O dia estava perfeito para se embebedar.

Abri a estante onde ficavam as tequilas e escolhi uma das melhores. Peguei dois copinhos de vidro e voltei caminhando até a biblioteca.

Pousei o Don Julio Real sobre a mesa da biblioteca e enchi os dois copos com seu líquido forte entregando um ao soldado em seguida.

Sentei no chão enquanto bebia minha tequila e observava o soldado bebendo a dele folhear os livros.

De repente ele parou, olhou atentamente para mim e esboçou um sorriso.

_Eu li esse livro!–falou com a primeira edição de O Hobbit entre suas mãos.

Sorri. Eu ia falar alguma coisa, mas uma música do Thirty Seconds To Mars me interrompeu, atendi meu celular.

_Lottie?

_Becca! –exclamei feliz –Conseguiu o que pedi?

_Eu sempre consigo. Os arquivos eu que consegui raqueando a HIDRA estão sendo enviados pro seu celular agora. Charlotte, com o que você está se envolvendo? Não vai criar rolo com super-heróis, nem super-vilões!

_E o dog tag? –desconversei.

Ela suspirou.

_Em Viena. No distrito 13.

_Hietzing?

_Acho que sim. Meu negócio são computadores, não geografia.

Dei uma risadinha.

_Não conseguiu o endereço?

_Nope. Só procure por um colecionador de artigos originais da 2° Guerra...e fã do Capitão América lol vocês vão poder trocar figurinhas!

_Ha-há –dei uma risada sarcástica –Meu lado fangirl está dormindo por enquanto Becca. Achei alguém melhor do que o Capitão América. Mudando de assunto, e você e o Shaun? Vão se casar quando?

_Talvez quando as duas crescerem! –Ouvi Shaun reclamar no fundo, o que me levou à crer que eu estava no viva-voz.

Gargalhei, recebendo um olhar interrogativo de Bucky.

_Então desista!

_Okay Lottie, vou desligar. E de nada.

Rolei os olhos.

_Obrigada Rebecca.

Bucky se sentou no chão, do meu lado.

_Gosta da cidade de Viena? –perguntei com um sorrisinho malicioso.

§

Os dois ficaram sentados no chão conversando e bebendo o resto do dia, dispensando o almoço.

Bucky deduziu que Charlotte teria uma resistência maior ao álcool, pois eles já estavam esvaziando a 4° garrafa de tequila e agora que o álcool começava a mostrar seus efeitos, como se dissesse “olá, está pronta para ficar bêbada agora?”.

Ele se sentiu atraído pela mulher ao seu lado, mas não imaginou que seria culpa da bebedeira. Charlotte era uma pessoa incrível.

Quando a noite começou a se fazer presente cada um foi para seu quarto descansar, afinal, teriam uma longa viagem no dia seguinte. E ele prometia surpresas que ninguém imaginava.