Unfinished Business escrita por Laís


Capítulo 5
The Bloody Killer - Part1


Notas iniciais do capítulo

Olá p você que também ta sofrendo de abstinência de seriados, tudo bem?
Então, antes de tudo eu quero agradecer publicamente a Amy Holmes, que escolheu ser gentil comigo, veio aqui e comentou em todos os capítulos, me deixando saltitante de tanta felicidade com todos os elogios. Obrigada, Amy!
Ah gente, ela também escreve uma fanfic super legal de CM, vocês deveriam dar uma passadinha: http://fanfiction.com.br/historia/508819/Somewhere_Only_We_Know/. Porque doses de Spencer Reid nunca são suficientes.
E, mais uma vez, agradeço a Beatriz Zamperlini pelas sugestões maravilhosas e por todo o impulso no meu processo criativo. Obrigada, viu sua italiana sortuda?
Espero que o capítulo esteja bom e nas notas finais eu explicarei algumas coisinhas sobre ele. Boa leitura, srta(s). Gubler.



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(...) Se uma avalanche nos enterrar, quando se está soterrado por toda aquela neve, não dá para dizer o que está em cima ou embaixo. Nós queremos nos desencavar, mas se escolhermos o caminho errado vamos entrar mais fundo até morrermos.

Khaled Hosseini.



–Ainda? - a voz emergira quase como em um sonho, abafada e distante, talvez devido ao sono que ainda enuviava minha mente. Virei o pescoço a tempo de ver Reid adentrando a sala.

–O que você disse? - estreitei os olhos e me empertiguei na cadeira. Estávamos na sala de reunião e esperávamos a chegada dos outros. Era domingo e, supostamente, não deveríamos estar trabalhando.

Uma semana se passara desde o meu retorno, nesse período resolvemos somente dois casos, pois o último nos custura mais tempo do que o imaginado graças aos recursos quase ilimitados do assassino. Era um promotor de cidade pequena que guardava a todos no bolso depois de comprá-los, matara cinco juízes, dois advogados e um deputado por vingança, expondo os corpos em seus próprios gabinetes. Confesso que ficara explícito depois de um curto tempo que o promotor cometera os crimes, apesar de todo o cuidado que teve em construir álibis e não deixar vestígios na cena do crime, entretanto nesse caso tivemos que lidar com algo que geralmente deixamos para as delegacias locais, promotorias e juris: a burocracia. A BAU fora chamada graças ao pânico gerado na cidade em ver seus grandes ícones sendo mortos, um a um. Quem iria garantir que o assassino pararia? E, se nem os poderosos puderam se defender, como a população simples o faria?

Dois casos e eu ainda tinha meu emprego.

–Vi esse livro na sua bolsa semana passada e você ainda não terminou?

Ele se referia ao romance de Patrick Süskind que eu tinha em mãos, A Pomba.

–Desculpa, mas nem todo mundo consegue ler 20.000 palavras por minuto - guardei o livro e prossegui - além do mais, acho que há muito mais prazer em uma leitura lenta, onde você lê e absorve as palavras tão cuidadosamente como se estivesse guardando cada uma dentro de si e, antes que você diga qualquer coisa, sim, eu sei que você literalmente guarda as palavras dentro de si graças a sua maravilhosa memória fotográfica.

–Memória fotográfica não é necessariamente o termo correto… - ele começou a despejar as palavras, porém o interrompi.

–Memória eidética. Sim, Spencer, eu sei disso. Também sei que além de ler 20.000 palavras por minutos, você fala 20.001 por minuto - ele comprimiu os lábios e abaixou a cabeça. Comecei a rir - Ei, relaxa, não é como se eu estivesse brigando com você ou coisa do tipo.

–Você já leu O Perfume? - ele tinha um entusiasmo selvagem no olhar, como uma criança que fala do seu desenho favorito.

–Um narcisista que tenta a todo custo externar o seu interior, por não achar que exista algo mais perfeito. Sim, é um dos meus favoritos.

Esperei que ele dissesse algo, citasse uma página inteira do livro ou me corrigisse de alguma forma, contudo Spencer simplesmente emudeceu, voltando a falar somente alguns minutos depois.

–Às vezes, quando tomamos uma decisão, quebramos um espelho, Agnes. Esse espelho se espatifa - sua voz era um lento murmúrio rouco - se fragmenta em inúmeros cacos de vidro e pode cortar se você não tomar cuidado. O problema com espelhos quebrados é que eles não podem ser remontados, por mais que você procure cada pedaço e cole, não volta a ser o que era antes.

Semicerrei os olhos e abri a boca para respondê-lo, porém sem encontrar as palavras que queria ou deveria dizer.

–Você é autossuficiente demais, insubordinada e não sabe trabalhar em equipe. Deixou isso bem claro novamente em dois casos.

–Espera aí, você está me comparada com Grenouille?

Jean-Baptiste Grenouille era o personagem principal de O Perfume - A História de um Assassino.

–Ele matou 15 pessoas em sua autossuficiência e você 10. Os números são bem próximos.

Abri e fechei a boca, sem encontrar nada para responder. Spencer não era cruel, não falava para machucar, isso não era do seu feitio e eu me assustei com aquela declaração em sua forma tão bruta. Soltei o fôlego rápido demais, o que fez parecer um muxoxo, e me recostei na cadeira, como se quisesse afundar. Como se argumenta contra a verdade?

As pessoas vivem falando por aí que passado é passado. “Isso passa”, dizem eles. Não, não passa. O passado é presente e futuro, determina seu caminho e, acima de tudo, o que você é. E quanto mais enterramos, sufocamos, mais ele volta vorazmente à superfície em busca de ar.

–Mas, se houvesse um lugar onde espelhos quebramos pudessem ser restituídos a sua forma original, eu ficaria muito feliz em ser seu amigo de novo.

Levantei o queixo, de forma quase arrogante, contudo não era arrogância que eu estava tentando transmitir.

–Mas não há, não é mesmo?

–Não - respondeu sem nenhuma rispidez e eu podia jurar que havia tristeza em seu tom, como se ele realmente lamentasse a forma como as coisas deveriam ser.

Foi Morgan quem chegou primeiro, em seguida Rossi, J.J e, por fim, Garcia chamara Hotchner em sua sala. Quando estávamos todos reunidos, ela iniciara a galeria de horror que tínhamos naquela manhã.

–As fichas já estão na mesa e espero que ninguém tenha tomado o café da manhã porque nem ver vídeos de gatinhos no Animal Planet vai tirar isso da minha cabeça tão cedo. Sacramento, Califórnia. 2 pessoas mortas e, lá vem a parte esquisita, foram encontradas sem os órgãos internos e o sangue drenado quase por completo.

–Alguma coisa que ligue as vítimas? - Hotcher perguntou.

–Uma grávida, morta em sua própria casa. Uma mulher de 38 anos… Ahn, ok, vai ser difícil até falar isso. Ele atirou em ambas e os legistas encontraram evidências de que ele fizera sexo com os cadáveres. As vítimas não se conheciam e não parecem ter nada em comum.

–Ele atira nelas, não há sadismo. A pior parte vem depois, quando elas já estão mortas - apontou Rossi.

–Uma execução - completou J.J. - As vítimas morreram rápido, ele não encontra prazer em vê-las sofrendo.

–A retirada dos órgãos internos pode indicar canibalismo, mas a drenagem do sangue… Quer dizer, o que ele faz? Bebe? - especulei sem acreditar muita na força daquela possibilidade.

–Os crimes não são planejados nem meticulosos, parecem ser aleatórios e, se ele não faz isso por prazer em assistir as vítimas morrendo, talvez estejamos lidando com um unsub paranóico - disse Reid.

–Digamos que ele seja paranóico. O unsub anda na rua e pensa que todos o estão perseguindo, porque matar uma grávida e uma mulher de meia idade? Porque não alguém que usa um uniforme ou coisa do tipo? Alguém que realmente pareça ameaçador? - argumentei.

–Talvez porque ele precise de alguém fácil para ser subjugado - foi Morgan quem respondeu.

–O que indica insegurança - finalizou Rossi - e que, se esse assassino mata a esmo, sem distinção de suas vítimas, talvez tenha matado antes, mas sem seguir esse modus operandi. Talvez nunca mate assim novamente.

–Seguindo a ideia da paranóia…

–Ahn, desculpe interromper o brilhantismo do Dr. Reid, mas nós temos mais uma vítima. Oh, meu Deus, são vítimas. No plural, isso mesmo - Garcia tinha os olhos esbugalhados de terror ao ler a mensagem em seu notebook - Allison Matthews foi encontrada morta em sua casa, juntamente com seu filho e sobrinho, a carteira e o carro foram levados.

–Mas isso se parece mais com um assalto comum que…

–Não terminei, docinho - ela cortou o argumento de Morgan - o filho de Allison fora encontrado sem boa parte do sangue e os órgãos internos.

–Uma criança dessa vez - J.J tinha o tom de voz baixo, como se tivesse medo de pronunciar as palavras. - Mas a mãe ficou intacta.

–Partimos em 30 minutos.

–x-

Passamos a viagem inteira argumentando e contra-argumentando, levantando e destruindo hipóteses, contudo no final do voo não tínhamos muito material com que trabalhar.

–Se ele é um predador sexual, porque Allison não fora violentada? Porque escolher a criança? - perguntei - Isso descarta vingança ou humilhação, ele não quer que elas sofram. Atira e depois…

–Não, não. Esse não é o caminho - Reid fez um meneio com a cabeça e espremeu os olhos, como se estivesse se forçando a ver algo que tinha deixado passar - O unsub entra na casa, mata Allison, mas deixa seu corpo incólume, contudo… O sangue… Os órgãos…

–Não pode ser tráfico de órgãos, ele não desperdiçaria Allison e o sobrinho. De três pessoas, somente a criança mais nova - Rossi divagou, era mais um pensamento alto que uma especulação.

–Ele come os órgãos - falei - bebe o sangue…

–Esquizofrenia. Já vi casos assim no hospital, um dos pacientes acreditava que seu sangue viraria pó a qualquer momento, talvez o unsub pense dessa forma e por isso… - Reid concluiu e, de certa forma, me senti desconfortável porque sabia que sua mãe sofria da doença e não gostava de vê-lo tendo que lidar com uma outra face, obscura e cruel, da situação.

–Mas por acaso é comum que pacientes com esquizofrenia apresentem o mesmo delírio? - Hotch questionou e Spencer deu de ombros, o que era peculiar, já que o doutor sempre tinha milhares de coisas a apontar sobre, basicamente, todos os assuntos. - Vou pedir para Garcia checar pacientes que receberam alta da ala psiquiátrica ou que foram levados para casa pelas famílias.

Todos os nomes provenientes da lista se mostraram infrutíferos como viemos a descobrir. Reid e J.J foram falar com os familiares e nenhum dos enfermos poderia ser o unsub de maneira alguma. Procurávamos alguém que ainda não tivesse sido diagnosticado e provavelmente morava sozinho.

Rossi e eu fomos a casa de Allison Matthews e, ao chegarmos, os peritos já haviam tirado todas as fotos necessárias e permitiram nossa entrada. A busca não revelou nada de novo: três execuções não planejadas, uma criança mutilada, carro e carteira ausentes.

As marcas de sapato nos rastros de sangue chamaram minha atenção.

–Preciso que analisem essas pegadas - solicitei para um policial local.

–Por que? Por acaso o tamanho do pé vai dizer quem é o suspeito? - ele nem se esforçara para disfarçar os desdém na voz.

Estávamos acostumados com isso, a maioria das pessoas acha que nosso trabalho é um “luxo desnecessário”, pensavam que distinguir um criminoso como organizado ou desorganizado, louco ou cruel, dava justificativa para os atos. Na mente dessas pessoas, só existiam assassinos e todos eles matavam por serem caras maus.

–Analise as pegadas e me informe do resultado - pronunciei as palavras lentamente, dando ênfase em casa uma. O policial me encarou por um tempo, provavelmente ponderando se eu tinha alguma autoridade ou se ele poderia se insubordinar. No fim, decidiu acatar o pedido. - Talvez possamos ter uma média da altura do assassino pelo tamanho do pé - expliquei para Rossi.

–O que auxiliaria a ideia da submissão. Se for um cara baixo, isso explicaria a escolha das vítimas: mulheres e crianças.

Assenti e apontei para a porta da casa, onde uma mulher era contida por outro policial.

–Senhora… Senhora, não pode entrar aqui - o oficial barrava a entrada com o corpo, mas a mulher espraguejava e empurrava.

Rossi e eu caminhamos até a entrada da casa.

–FBI. Sou o agente David Rossi e esse é Agnes Weston. Você era vizinha da Sra. Matthews?

Fiz um meneio com a cabeça para o policial e ele desobstruiu o caminho, deixando que nós guiássemos a mulher para o pátio.

–Sim, Allison e eu devíamos nos encontrar para jogar pôquer, fazíamos isso todos os domingos, mas eu me atrasei. Oh, meu Deus, Tommy?

Supus que Tommy fosse uma das crianças. Balancei a cabeça negativamente.

–Sinto muito.

–Minha nossa! - o corpo da mulher fora tomado por espasmos enquanto ela agarrava-se a Rossi, apertando e torcendo seu paletó com as mãos - Como… Meu Deus, ele era só uma criança!

–Rachel! Rachel!

O grito veio do outro lado da rua. Um homem aproximava-se correndo de onde estávamos.

–Cadê a Emily? - a pergunta ofegante fora dirigida para a mulher, que conseguira interremper os soluços para responder.

–O que? Ela não está em casa?

–Não, já procurei em todos os lugares, ela disse que vinha…

Lembro do olhar perdido daquele homem. Fitou a casa interditada pelas faixas amarelas da polícia, entreviu o sangue na sala de estar e, em um segundo, desvendou o que tinha acontecido. Negou aquela verdade e tentou pensar em outra alternativa, mas eu pude ver, naqueles olhos, uma espécie de rendição. Era um desespero tão profundo que chegou a me perturbar. Ainda consigo enxergá-lo se fechar os olhos e toda vez que lembro, sinto um arrepio na espinha. Era um grito mudo, sem forças.

–Rossi, chame a equipe. Nós precisamos de um perfil.

Sim, nosso trabalho era um luxo desnecessário, até o momento em que precisassem encontrar alguém em poucas horas. Porque naquele instante iríamos filtrar, separar e catalogar perfis, tudo isso o mais rápido possível para trazer uma criança de volta para seus pais.

Com vida, desejei. Por favor, que seja com vida.


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Notas finais do capítulo

Então, que tal?
Se alguém aqui também acompanha Hannibal, vai perceber que a metáfora do espelho foi baseada na metáfora da xícara (último episódio da segunda temporada). Amo/respiro Hannibal e não resisti.
O unsub dos próximos capítulos é inspirado no Vampiro de Sacramento, só baseado, viu gente? Mas se alguém quiser saber mais sobre a história desse e de outros assassinos em série bem peculiares, recomendo a leitura de "Serial Killer, louco ou cruel?" da Ilana Casoy. Tem análise psicológica e tudo mais, é como ler a um episódio de CM.
É isso gente, nos próximos capítulos teremos perfil, perseguições e talvez algumas brigas e revelações.
Bjss